Xeque Mate escrita por Utopia49


Capítulo 13
Jackpot - Promessa sem volta.




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Muitos anos atrás. Douglas tem sete anos. Seu pai é engenheiro mecatrônico na Noruega. Seu passatempo favorito é montar autômatos com o filho. A mãe dele tem pequenos distúrbios mentais. Nada muito grave até aquele dia de junho. 7 de Maio, mesmo dia no qual O Carta e ele fizeram o primeiro ataque mortal em nosso jogo. Um simbolismo em referência ao que contarei agora.

Naquela tarde, sem razão aparente, a mãe de Douglas entrou na oficina onde ele construía mais um autômato. Viu todos eles como demônios. Julgou que o filho era um perdido, uma apóstata, e com a faca que tinha na mão, disse que o ensinaria a nunca mais criar tais aberrações. Segurou o filho pelos cabelos e começou a cortar a pele do rosto profundamente na região da boca. A dor era excruciante.

O pai dele, por providência, havia chegado em casa mais cedo naquele dia. Ouviu os gritos do filho e correu para a oficina. Viu o sangue, e choro do filho, e atacou a amada esposa para salvá-lo. Ela o cortou na região do tórax, e tentou investir contra ele para matá-lo, alegando que ele começara a tal “demonolatria” na casa dela. Sem opção, em legítima defesa, com grande pesar, ele desviou do golpe e virou a faca na direção do coração dela.

Correu, ligou para o pronto-socorro por seu filho, e em seguida para a polícia. Em pouco tempo chegaram juntos, e viram a cena do cadáver da mãe, e o pai abraçando o filho que ainda chorava, e dizendo que ia ficar tudo bem. Que tudo daria certo e aquilo ficaria para trás.

De fato, legalmente, tudo ficou para trás. O enterro foi feito, em segredo, no qual compareceram apenas pai e filho. O pai passou a dedicar mais tempo de suas noites com seu filho, tentando suprimir a solidão e a dor. Porém, aquelas cicatrizes profundas afugentavam as outras crianças. Então, para proteção dele mesmo, seu pai o pediu para que usasse sempre um lenço no rosto, cobrindo do nariz para baixo. E é por isso que ele usa até hoje.

Ele se tornou muito isolado. De vez em quando, nos domingos, tentava sair de casa, contudo as outras crianças o excluíam quando o viam, por lembrarem das cicatrizes. Ele então se especializava cada vez mais em construir seus autômatos. E estudava programação pela internet, com um pouco de ajuda de seu pai e de um professor particular.

Certo dia, uam família nova se mudou para a cidade de interior onde ele morava. O casal recém-chegado tinha duas filhas, loiras e lindas. Chamavam-se Milena e Sarah, respectivamente primogênita, e caçula. Elas conheceram a Douglas em um domigo, quando ele estava sozinho em um banco. Elas se aproximaram dele, pois não conheciam ninguém, e ele parecia esquecido. Elas começaram a conversar com ele, e cada uma se sentou de um dos lados.

– Oii? - Milena começou.

– Oii. - Douglas respondeu, hipnotizado por aqueles olhos azuis.

– Oii! - Sarah disse também.

– Oii. - Douglas respondeu cordialmente.

– Qual seu nome? - Milena perguntou.

– Douglas. E o de vocês?

– Eu sou Sarah, e ela é a Milena.

– Prazer em conhecer vocês.

– Prazer em conhecê-lo também. - Milena respondeu.

– Por que você usa esse lenço? - Sarah perguntou.

– Por isso... - Douglas respondeu triste, abaixando o lenço, e já preparado para que elas se assustassem.

– Nossa, que legal! Você tem super dentes? - Perguntou a pequena Sarah, ao ver as cicatrizes.

– Claro que não, Sarah! Ele foi um grande guerreiro! - Milena entrou na brincadeira.

– E contra o que você lutou, Doug? Monstros? - Sarah perguntou, com um brilho nos olhos.

– E contra cavaleiros furiosos, defendendo as outras crianças, certeza! - Milena respondeu.

– E eu construo autômatos! - Ele comentou.

– O que é isso? - Perguntaram ambas.

– Venham, eu as mostrarei! - Ele disse sorrindo, com o lenço abaixado, e de mãos dadas com elas.

As duas meninas o seguiram até a oficina, e se maravilharam de todos os seres construídos por ele. Eram como crianças menores, que graças a chaves, moviam braços, cabeças, pernas, dependendo de qual autômato era. Um dos que ali estavam era um no qual Douglas desenhara um sorriso na sua cabeça de latão.

– Esse aqui é feliz. - Sarah comentou.

– Montei esse com meu pai há alguns dias.

– Você pode nos ensinar a construir também? - Milena perguntou.

– Claro. Venham aqui, vou estar aqui todas as tardes. - Ele respondeu sorrindo.

Mais tarde, o pai de Douglas chegou em casa e viu o filho desenhando algo em uma folha com os seus gizes de cera. E o lenço estava abaixado.

– Filho, o que está desenhando? - Perguntou curioso sorrindo.

– Minhas novas amigas. Elas são muito bonitas. Acha que estão bonitas? - Ele respondeu mostrando o desenho.

– Estão lindas, filho. Qual o nome delas?

– Milena e Sarah, pai! São nomes lindos, não?

– Sim. Filho, quer construir um autômato novo hoje à noite?

– Sim, pai! E elas gostaram dos autômatos!

– É mesmo? Você as trouxe aqui?

– Sim, pai!

– Legal! O que acha de no fim de semana que vem nós conhecermos a família delas?

– É uma ótima ideia, pai! Obrigado. - Ele disse sorrindo mais do que nunca.

O filho foi para a oficina, e o pai pegou o desenho e começou a olhar. A criança havia se desenhado sorrindo, com as cicatrizes à mostra. Finalmente aceitara quem era e como se tornara. Pai e filho começaram a construir um autômato simples, a pedido de Douglas, para que pudesse ensinar as amigas a construir um também. Antes de dormir, o filho foi orientado a pegar o endereço delas no dia seguinte. E naquela noite, o pai dormiu sem preocupações, feliz após tanto tempo.

A tarde seguinte foi como um cronograma de todas as outras: após o almoço, as três crianças encontravam-se, brincavam juntas no parque ou dentro da oficina, e começavam ou continuavam a construir um autômato. Douglas pegou o endereço delas, seu pai passou pessoalmente e conversou com os pais delas, e como prometido, no fim de semana eles jantaram na casa de Milena e Sarah. Tudo correu bem por cerca de cinco anos.

Infelizmente, no dia 19 de junho, eles foram para uma tarde no parque, como normalmente faziam antes de ir para a oficina. E lá então, houve um acidente que marcaria os dois para sempre. Na hora de irem para a oficina, Sarah quis apostar corrida. Ela era a mais nova, todavia era a mais rápida entre eles. Disparou na frente. E quando estava atravessando a rua, um carro, que estava em uma velocidade muito acima do permitido não só naquele ponto, mas em toda a cidade, a atingiu.

Douglas e Milena pararam imediatamente, sem reação. Lágrimas começaram a rolar quando viram o corpo de sua amiga e irmã atirado, sem vida, enquanto o maldito carro ia embora sem nem tentar prestar socorro algum. Outras crianças e adultos que estavam por perto vieram ver o que acontecera. Não obstante, era tarde demais. Milena e Douglas choravam inconsoláveis. Quando os pais de ambos chegaram ao local, avisados por telefone, encontraram seus filhos com os olhos vermelhos de tanto chorar.

O enterro de Sarah foi tocante. Crianças, adultos, idosos, mesmo que não a conhecessem, compareceram. Os pais de ambas as crianças não conseguiam se conformar. Douglas deu um beijo no rosto de Sarah e colocou em sua mão uma chave de fenda, sua ferramenta favorita na oficina, antes de a tampa do caixão ser pregada para sempre. Milena deu seu colar favorito, que Sarah havia feito para ela. Foi como uma devolução permanente e irreversível.

Na semana seguinte, Douglas e Milena, que agora tinham doze anos, ainda construíam juntos e conversavam na oficina, porém não parecia a mesma coisa sem Sarah por perto. Milena muitas vezes começava simplesmente a chorar, ao se ver em qualquer dos espelhos da oficina ou do banheiro de sua casa, dada era sua semelhança com sua irmã mais nova. Pensando nisso, Douglas um dia conversou com sua mãe e bolou um plano para o aniversário de Milena.

Alguns dias antes do aniversário dela, a mãe de Milena cortara os longos cabelos que tanto amava. Milena não compreendera, contudo nada perguntou. No dia de seu aniversário, a garota foi surpreendida com um autômato diferente. Tinha cabelos loiros, na altura que Sarah usava, a altura de Sarah, o vestido preferido dela, e estava com o rosto pintado o mais próximo suficiente da cor de pele delas.

Então Douglas se aproximou e disse:

– É para você. Eu e sua mãe fizemos em segredo. Para que a Sarah sempre esteja entre nós.

– Gente... vocês podem por favor sair da sala? Menos a mamãe e o Douglas. - Milena pediu tentando segurar as lágrimas.

Os outros convidados saíram, e então, quando a mãe fechou as portas, lágrimas rolaram e Milena a abraçou primeiro, e em seguida deu um abraço em Douglas que parecia durar séculos.

– Obrigada, obrigada.... - Ela dizia o segurando naquele abraço, com lágrimas rolando.

– Eu vou deixá-los a sós. - A mãe disse rindo.

– E Milena, eu consegui fazer um mecanismo que rodando apenas uma chave ela consegue andar e mexer os braços. E se quiser mexer os braços dela sentada, é só travarmos aqui. - Ele mostrou a ela após o término do abraço.

– Douglas, eu... eu... eu não tenho como o agradecer. Muito obrigada. - Ela agradeceu, ainda tentando tirar as lágrimas do rosto, que a cada momento surgiam em maior número.

– De nada. - Ele respondeu sorrindo, e passando levemente o dedo indicador e retirando uma lágrima específica.

Milena o abraçou novamente. Eles permaneceram no abraço por um tempo, até que então ela o soltou, segurou a mão direita dele e abriu a porta. O tímido Douglas teve que se ver diante de todos os outros presentes, incluindo seu pai e os pais dela, de mãos dadas com ela. Ao mesmo tempo que estava ficando cada vez mais vermelho de vergonha, aquele era o momento mais feliz de sua vida. Seu coração batia totalmente descompassado, quase explodindo, e um sorriso dominava toda a sua face, sendo possível perceber que sorrira mesmo com o lenço cobrindo o rosto.

Após aquele dia, os pais já conversavam, longe dos filhos, é claro, sobre a possibilidade de que seriam uma só família. O pressentimento deles pareceu estar concretizado e lavrado em pedra quando após dois meses, Milena levou Douglas em sua casa um dia, e mesmo sem ter conversado nada disso com ele, anunciou aos pais que estavam namorando. Ele ficou muito vermelho, ainda que sorrindo. Os pais dela aprovaram a união que se formava, e o pai dele estava orgulhoso.

O namoro durou quatro ótimos anos, até que surgiu uma oportunidade para ela de estudar em Londres. Ela arriscou a sorte e aceitou a chance que lhe foi oferecida. Douglas a levou até o aeroporto, e antes de ela partir, deu um último abraço e um beijo, e disse que sempre estaria a esperando voltar, sendo somente dela. E ela disse que seria apenas dele.

Todavia, caro leitor, se tens boa memória, sabes o que houve naqueles dias em Londres. No ano em que ela esteve lá, conheceu a Hyden, que logo se tornou seu amor e sua obsessão. Ela não contou nada a Douglas durante o tempo em que lá esteve, apenas quando retornou. O coração de Douglas sentiu como se uma arma estivesse apontada naquela direção, disparando sem piedade em todo tempo. Aquilo não fazia sentido algum. Em apenas um ano, ele perdera o amor de sua vida com quem já estava há quatro anos.

Em um acesso de ira e tristeza profunda, ele a contou sobre o projeto que estava desenvolvendo em segredo, de construir e criar Sarah. Uma mente que pensasse por si mesma, que fosse viva em um corpo robótico, para que ela tivesse sua irmã de volta. Ele chorava enquanto contava aquilo para ela, que era para ele a mudança das estações, a vida, a morte. Especialmente naquele momento, a morte.

Os pais de ambos os lados ficaram muito tristes com a notícia. O pai de Douglas via como se seu filho tivesse perdido a única oportunidade de ter uma família, e os pais de Milena consideravam loucura perder uma pessoa tão boa em detrimento de outra que estava em outro continente, a milhões de milhas de distância, nas palavras deles.

Douglas continuou o projeto por si mesmo, e Milena tentou reconstruir a amizade que tinham. Ele não tinha como ser rude ou ignorá-la. Não conseguia a magoar de forma alguma. Então em questão de dias, eles andavam juntos novamente, apesar de que cada momento com sua velha amiga era agora como uma faca enfiada em seu coração, que girava e retalhava o pouco que tentara se regenerar do impacto inicial da notícia.

E certo dia, dia esse que nos leva para mais próximos de quando a história começa, Milena descobriu onde Hyden morava graças a um amigo que fizera, Clark. Clark também havia sido um discípulo do mestre estrategista, e ele e Milena conversaram muito. A fim de usá-lo para ter uma chance de se aproximar de Hyden, ela fingiu um interesse por ele e se tornou uma de suas amantes. Apenas Douglas sabia que isso não era verdade. Afinal ela contava-lhe tudo.

Como parte do plano dela, antes de ela se encontrar com Hyden novamente, ela apresentou Douglas a Clark, e fez com que trabalhasse para ele e para Hyden, tornando-se um conhecido de todos. O plano começava a se formar, as peças do quebra-cabeça a cair em uma mesa, e ela, a construir as cordas e colocar as peças juntas, de forma que seria a mente, o ventríloquo, por trás do que ocorreria. Fez com que lentamente, Clark desenvolvesse uma rivalidade contra Hyden, e plantou a semente de um jogo psicopata e mortal. Vidas deveriam ser perdidas, e uma das que estavam na mira de sua mente afiada era a de Hallerie.

Caro leitor, lembre-se sempre que mulheres sempre sabem de tudo antes que você as conte. Especialmente se forem stalkers. E outro fato sobre elas, é que sempre saberão fingir qualquer coisa para atingir seu fim. E foi assim que Milena fingiu, naquela manhã que reencontrou Hyden, que ainda não sabia do casamento dele com Hallerie. E assim ela fingia tratar muito bem Hallerie, sendo que sua vontade maior era a morte daquela linda mulher de olhos verdes que roubara Hyden dela.

E agora, voltamos ao presente, na manhã que se seguiu aos acontecimentos do capítulo anterior a este. Hyden acordou satisfeito, entretanto sentindo uma culpa infernal. Havia sido tão fácil assim substituir Hallerie de sua vida? Saiu da cama tentando não acordar Milena. Estava com uma pequena dor de cabeça, e se lembrou que não seria ali, no quarto dela, que acharia suas roupas, e sim, na sala do primeiro andar, em volta do divã dela. Provavelmente em meio às roupas dela, que também estariam ali.

Vestiu-se, e então foi para a cozinha. Viu um queijo gorgonzola com uma placa ao lado que dizia: “Como começamos, lembra?”, alusão ao dia em que ela atacara o queijo gorgonzola dele, e que para ela, marcava o início do relacionamento deles como um casal. Ele sorriu, e fez waffles e café. Ela acordou pouco tempo depois, desceu envolta em um pijama, deu-lhe um beijo de bom dia. E naquele momento, ele percebeu que era ela. Que não havia mais volta em seus sentimentos. A avalanche de sentimentos que sentira em Londres retornara, mais poderosa do que nunca. A onda que nunca morrera, transmutara-se em um avassalador tsunami.

– Eu a amo, Milena. - Ele disse genuflexo perante ela.

– Eu o amo, Hyden. Sempre, desde que nos conhecemos, e amá-lo-ei, em todos os momentos.

Ele se levantou e a beijou. E aqui terminamos a história deles. Hyden mais tarde naquele dia, foi para o escritório e ficou sabendo da morte de Clark. O dinheiro recebido pela vitória no desafio total foi doada para Kimberly. Afinal, ele, sendo bilionário, e Milena sendo milionária, não precisavam de mais dinheiro em seu ponto de vista.

Todavia, para a história terminar, uma última coisa precisava ser feita. Naquela noite, Milena disse a Hyden que iria apenas resolver algo, e não demoraria muito. Ele deu um beijo de boa noite, e disse que a esperaria. Afinal, estava morando no lar dela agora. Douglas a buscou em sua mansão, e no carro também estava Sarah.

Era o momento da eliminação. Os torres iriam se enfrentar pelo prêmio de cortesia: cem mil dólares. Foram conclamados a um cassino secreto, desativado, onde iriam se enfrentar, e quem vencesse, levaria o prêmio. Contudo, o plano real dela, era eliminar ambos. No caso, eliminar aquele que matasse o outro. Sem vivos, sem necessidade de pagar tal prêmio. Uma emboscada perfeita.

Johnny estava vestido normalmente, camisa social, calças jeans, e armado com dois revólveres. Hurley, mercenário profissional, estava com colete à prova de balas, sub-metralhadoras, pistolas, óculos de visão noturna e câmera infravermelho. Estava decidido a vencer, e caso o ser invisível aparecesse, poderia ter uma chance de vê-lo e atingí-lo.

O ambiente possuía duas portas. Sarah levou Johnny pela porta da esquerda, e o deixou na sala escura, entregando-lhe uma lanterna. Carta levou Hurley para a porta do outro lado da sala, e assim que ele entrou, colocou os óculos de visão noturna. Não foi muito difícil encontrar Johnny, apenas seguiu a luz. Johnny foi surpreendido com tiros que o erraram, propositalmente, mas que o assustaram.

Ele tentou atirar de volta, segurando a lanterna à sua frente, no entanto, Hurley já havia mudado de posição. Estava apenas se divertindo. Então, o cronômetro do mercenário começou a tocar. Johnny começou a tentar seguir o som, e quando virou para o corredor central, a sub-metrlhadora praticamente arrancou seu braço direito, no qual estava o revólver, de seu corpo.

– Hora de morrer. - Hurley disse se aproximando. Mirou no coração e disparou com a pistola, e então mirou na cabeça e fez mais um disparo no centro da testa.

As luzes do lugar se acenderam, e Carta veio andando até ele com uma bolsa. Jogou a bolsa no chão à frente dele e disse:

– Está aí seu prêmio.

– Importa-se se eu checar antes?

– De forma alguma. - Carta respondeu.

Hurley abriu a bolsa, e de fato estavam maços de dinheiro. Então fechou o zíper, e a colocou nas costas. Nesse momento, Carta, que estava com uma pistola na mão esquerda, atirou rapidamente no mercenário, disparando contra seu torso. Seu colete à prova de balas era bem mais resistente do que um normal, então ele pôde se arrastar até atrás de uma das várias máquinas que ali estavam. Carta começou a se mover na direção do caminho, enquanto na surdina, Hurley preparava a sub-metralhadora para liquidar mais um.

Contudo, algo totalmente inesperado aconteceu. Sarah veio por trás de Carta, o derrubou com uma coronhada na cabeça, chutou rapidamente sua arma, de forma que Hurley viu que havia sido desarmado, todavia não se moveu um centímetro. Apenas ficou ouvindo. Sarah arrancou a máscara, revelando, caso algum leitor ainda não entendeu, que O Carta é Milena. Então Sarah pisou no pescoço dela e apontou um revólver para sua cabeça.

– Sarah... o que está fazendo? - Tentou falar, enquanto tentava com os braços retirar o pé de Sarah de seu pescoço. Tentativa inútil, dado o fato de Sarah ter cinco vezes a força de um humano.

– Justiça. Você achou que poderia fazer tudo isso, manipular a todos, e sair ilesa? Não...

– Sarah! O que você está fazendo? - Douglas entrou gritando na sala, com o smartphone na mão esquerda.

– Vingando-te, Doug! Já chega! Lembra quando você dizia que nada poderia fazer sobre? Eu posso e vou.

– Sarah! Solte-a!

– Não! Não é justo! Milena, sua maldita, ele deu tudo por você, ele fez tudo por você, sempre que você precisava de algo ele estava lá para você, e você o deixou de lado por todos esses anos!

– Sarah! Solte-a! - Douglas dizia enquanto se aproximava.

– Não posso... Ela tem que morrer! Ela te trocou por alguém que nunca fez nada por ela! Ela o esqueceu e o tratou como um nada. Ela não te ama como você a ama, ela só o usou!

– Eu sei. - Ele disse colocando a própria cabeça na mira da arma de Sarah, interpondo-se. - Eu sei. Ela fez tudo isso. Mas eu a amo. Se for mesmo matá-la, se estiver determinado sem volta, mate-me primeiro. Ela será punida, mas não será assim.

– Douglas... - Sarah disse com uma lágrima se formando, lágrima que não foi derramada, lágrima como uma cachoeira, com a mão trêmula. Então jogou a arma do outro lado da sala.

– Obrigado, Sarah. - Ele disse. Agora tire o pé. - Ela relutantemente retirou o pé de cima do pescoço de Milena, e se afastou. Ele então se levantou, pois estava ajoelhado ao lado dela enquanto intercedia, estendeu-lhe a mão e a levantou. Então a abraçou e disse:

– Eu a amo, Milena. Se cuida, tá? Porque a partir de agora, você está proibida de entrar em qualquer dos meus esconderijos e covis. Assim como naquela sala secreta que apenas eu e a Sarah podemos entrar, você não terá acesso a nenhum lugar. Sua assinatura de polegar e córnea já foram retiradas do sistema. Você nunca mais voltará. Espero que tenha valido a pena. - Ele disse com pesar, e então a abraçou, deu um beijo na testa, e mandou que ela saísse da sala e esperasse fora.

– Hurley. Pode vir. Não irei o matar. Estou totalmente desarmado.

Ele saiu rapidamente apontando a sub-metralhadora na direção dele e de Sarah, por precaução. Ao ver que não ofereciam riscos, abaixou a arma.

– Pode levar a bolsa. O prêmio é seu, velho amigo.

– Obrigado, Douglas. Se algum dia precisar de mim, estarei à sua disposição.

– De nada. Vá em paz.

O Hacker então levou Milena para sua mansão, e seguiu para seu covil central. Deixou o carro na garagem subterrânea, e entrou com Sarah na sala central, a que possuía um elevador no centro, e que tinha quatro caminhos que o levavam a todos os esconderijos e salas secretas. Então Sarah quebrou o silêncio e disse:

– Você a ama?

– Sim. Ainda. Lembra-se do que eu a apresentei? O projeto Kriptós?

– Sim. O que tem a ver?

– Tem a ver que é através daquilo que eu me curarei dessa queda que sinto há anos.

– Para onde estamos indo? - Disse ela ao entrar com ele no elevador.

– Apreciar a vista que criamos.

Eles então foram até a sala na qual apenas eles podiam entrar, e se assentaram no sofá que havia na sala, de onde podiam ter uma vista perfeita de tudo o que haviam feito ali. Douglas colocou seu braço direito a envolvendo e a puxando para perto, e ela virou seu rosto com sua mão esquerda, com a direita abaixou o lenço que cobria sua boca, e o beijou.

Na sala, havia uma árvore gigante feita de metal retorcido, com profundas raízes e vários galhos. Era a Árvore dos Enforcados. Em cada um dos galhos, estava enforcado um autômato, com um nome escrito, e a data de sua morte, escritos em vermelho. Estavam ali representações de Khardin, de Jack e Jacke, pendurados de mãos dadas e com uma flecha que atravessava os corações dos dois, de Johnny, que aparentemente estava predestinado, pois a data era a daquela noite, e do outro lado da árvore estavam Zetos e Charlotte, Tiffany e Hillary, Herbert, Clark, e Clarisse, que estava com vários pequenos chifres de prata, uma pequena brincadeira de mau gosto.

E no centro, estavam mais dois corpos pendurados. Eles estavam de mãos dadas. Um dos autômatos estava com uma gravata vermelha pintada, e o outro, com uma carta de baralho desenhada sobre o coração. Ambos estavam com a mesma data, um dia ainda no futuro. Seriam Hyden e Milena.

Douglas interrompeu o beijo, e olhando nos olhos de Sarah, disse:

– Será feito.


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Notas finais do capítulo

Sim, esse é o capítulo final de Xeque Mate. Porém, contudo, todavia, se muitos leitores tiverem gostado de como foi, quem sabe eu não faço um livro continuando a história para vocês? Afinal, o universo de Xeque Mate é o mesmo de outros livros meus como "Memórias e Relíquias" e "Sangue, Trevas e Engano" (que ainda será postado aqui, futuramente). Contudo não há um livro que seja uma continuação própria de Xeque Mate, pelo menos por enquanto.



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