Xeque Mate escrita por Utopia49


Capítulo 11
Batalha da Catedral.




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O mês seguinte passou rápido, e suscitou diversas dúvidas. Quem eu seria? De onde eu vim e qual minha finalidade em entrar no jogo deles? O medo de que eu pudesse em qualquer momento aparecer e eliminar qualquer um assombrava a todos, até mesmo aos hackers. Sarah era a única que aparentemente não me temia. Ao invés disso, ela tinha e tem um respeito enorme pela minha pessoa e por minhas decisões e ações.

O dia finalmente chegou. Combinei de almoçar com Sarah, e ela simplesmente saiu sem dar satisfações a Douglas ou ao Carta. Nos encontramos em um restaurante francês, e como manda o clichê, almoçamos crepes.

– Por que me chamou aqui? - Sarah quebrou o silêncio quando se sentou em frente a mim.

– Para conversar, creio eu. E também para que você passe a Douglas o endereço e o horário para o próximo jogo. Duas peças cairão.

– Tudo bem. Sobre o que quer conversar?

– Por que você se apaixonou pelo Douglas?

– Eu... eu... - Sarah ficou vermelha e abaixou a cabeça.

– Está tudo bem, Sarah. Não vou julgá-la. Já conheci outros seres em condições mais constrangedoras quando se refere ao amor.

– Então por que pergunta?

– Apenas pela curiosidade. Você é aos olhos deles uma moça linda.Poderia se enamorar com qualquer um.

– De fato. Porém é por ele que sinto o que sinto. Ele me criou peça por peça. Ele deu atenção a mim mesmo antes de eu estar pronta. E ele diz que gosta da minha presença, de ficar conversando comigo... ele não tem ciúmes... se preocupa comigo. Ele me ama e eu o amo também.

– Ele a ama? Faça um teste final. Quando o jogo acabar, tente matar a garota que ele ama. Você sabe quem é. Tente. Vamos ver qual ele ama mais.

– Mas se ele a amou, não vai me deixar fazer isso, ela ainda é importante para ele.

– Depois de tudo o que houve? É mais do que merecido, não concorda?

– Sim...

– E então você toma o lugar dela de fato, como quem o ama, quem ele ama, e quem nunca o irá trocar por ninguém.

– É uma ideia interessante... vou considerá-la.

Passei a ela então o endereço e o horário. Às dez horas da noite, naquele mesmo dia, na Catedral Sonard. Essa catedral foi feita para enterrar os pais de Hyden, e Clark também havia solicitado que seus pais fossem enterrados ali. E assim seria feito. Logo, se antigamente a via de regra era atacar e utilizar nos jogos lugares que tivessem ligação com ambos, tinha-se agora uma localização mais que perfeita pensando nesse fim.

O duelo seria composto de que os bispos se enfrentariam no último andar, o andar do sino, sendo que um dos bispos de cada equipe poderia utilizar um canivete, e o outro iria lutar corpo a corpo. Quaisquer formas de ataque eram válidas, em qualquer área do corpo. E ali, com a iluminação natural do luar, filtrada pelos vitrais, os duelos seriam emocionantes.

Nada de câmeras, nada de mediadores. Só as peças em confronto direto. E eu assistiria ali, invisível, despercebido deles todos, e imparcial. O que fosse para acontecer, aconteceria naquela noite. A ordem era a de que assim que o primeiro das peças fosse mortalmente ferido, a equipe inimiga deveria se retirar. Sob pena de represálias por minha parte. E convenhamos, ninguém estava afim de me pôr à prova.

Zetos e Charlotte passaram sua tarde juntos, aproveitando novamente, certos de que conseguiriam vencer. A estratégia deles era que Zetos derrotasse Kimberly, e então ao dar o golpe final nela, ambos deixariam o lugar, de acordo com minhas ordens. A tarde foi agradabilíssima, sem nada que pudesse interferir em seus momentos conversando juntos, ficando nos jardins, e assistindo novamente o pôr-do-sol juntos novamente. Havia dado certo uma vez, por que haveria de falhar?

Já Kimberly e Khardin passaram a tarde treinando. Kim ensinou Karl a se defender um pouco ou pelo menos se esquivar de alguns tipos de golpes, enquanto também tentava ensiná-lo alguns contra-ataques. Não foi muito efetivo, no entanto, eles se divertiram. Então, pouco antes do horário combinado, jantaram juntos em uma lanchonete, e passaram no apartamento de Khardin.

Assim que entraram, Kim o derrubou no sofá e se deitou junto com ele. Começaram a se beijar, e o ímpeto jovem e fervente de seus corações não foi reprimido em momento algum. Dez minutos antes do início do jogo, eles ainda estavam saindo do apartamento, colocando as camisetas e tentando arrumar o cabelo desarrumado que deixava mais do que claro o que havia ocorrido ali.

Horário marcado. Zetos e Charlotte já estavam lá, no topo da torre da Catedral Sonard. Kim e Karl chegaram vinte minutos atrasados. Assim que se encontraram no topo da catedral, Zetos e Kim ficaram finalmente frente a frente, ele usando um canivete novo, recém-comprado, e ela com o seu clássico. Khardin e Lotte ficaram frente a frente, e estavam de punhos cerrados, esperando a ordem incial. Sem saber onde eu estava, apenas ouviram minha voz, que disse:

– E que comece a Batalha da Catedral!

As hostilidades e investidas então começaram. Zetos assumiu uma postura mais defensiva, tentando atingí-la nos contra-ataques, enquanto entre Karl e Lott a situação era exatamente oposta. Os golpes dos dois lados eram perigosos, e enquanto os desarmados tentavam dirigir seu oponente em direção ao sino ou em direção aos vitrais, para matar pela altura, os armados lutavam entre si no centro do ambiente.

Em certo momento, Khardin empurrou Lott para trás, fazendo com que ela caísse e atingisse algumas caixas do lugar. Então virou-se rapidamente e deu um soco no rosto de Zetos, que estava logo atrás dele. O soco o desequilibrou, e Kim aproveitou a vantagem e tentou atingí-lo no tórax. A tentativa de defesa dele fez com que o canivete dela atingisse então sua mão direita, o que ocasionou a derrubada de seu canivete, que foi chutado por Karl na direção do sino e caiu de lá de cima.

Lotte voltou então rápido e pulou sobre Khardin, derrubando-o, e quando Kim a chutou para o lado, Zetos viu nisso a oportunidade de se atirar sobre ela e a derrubar também, dando chance ainda de que Lotte se recuperasse e voltasse para seu duelo contra Karl. Kimberly feriu a Zetos nas costelas com um golpe que passou por de raspão, e no bíceps esquerdo, profundo, causando a ele dor, e deixando-lhe com uma desvantagem ainda maior contra ela.

Lotte e Karl estavam em um duelo equilibrado. Em certos momentos o contra-ataque dele a empurrava para trás, e a forma de defesa dela caída no chão era um poderoso pontapé com sua bota pontuda. Em certo momento, quando ambos estavam em pé, ela conseguiu atingí-lo no joelho, e então quando o reflexo da dor o fez se abaixar, e levar as mãos à área atingida, ela o golpeou com o joelho em seu rosto. Caído, ela chutava suas costelas, e então ele segurou a perna direita dela e a derrubou, dando chance de reação.

A situação de Zetos ia piorando cada vez mais. Agora, já tinha sofrido cortes superficiais no rosto também, e na mão esquerda havia um corte profundo, no qual a ponta da lâmina do canivete de Kim havia atravessado e saído do outro lado de sua mão. Em certo momento, sofreu um chute na canela e tomou um golpe com a faca que passou e cortou sua pálpebra esquerda e fez um ferimento sobre a testa direita, dolorido.

O duelo parecia ganho, não obstante, um acidente aconteceu. Charlotte empurrou Khardin para se proteger em certo momento em que Zetos estava indo para trás ao mesmo tempo. Kim não estava prestando atenção no que ocorrera entre Karl e Lotte, e atirou seu canivete na direção de Zetos. Teria sido um corte perfeito no pescoço, porém, Karl, que havia sido empurrado para trás, trombou em Zetos, empurrando-o para a esquerda.

O canivete então acabou atingindo o ombro esquerdo de Zetos, e ambos caíram. Em um movimento rápido, ele tirou o canivete com a mão direita e o enfiou no coração de Karl. Kim e Lotte ficaram atordoadas com o acontecido, e então Zetos se levantou e saiu correndo em direção à escada. Lotte o seguiu, e Kim correu em direção a Khardin, se ajoelhou ao seu lado e tirou a lâmina.

– Karl! Karl! Karl! Fala comigo! - Ela gritava em desespero.

– Des...culpa... amor... - Ele tentava ainda balbuciar, enquanto sentia a dor excruciante e perdia muito sangue.

– Karl! Karl! Fica comigo! Não vá! Por favor! - Ela gritava em desespero, pedindo algo totalmente ilógico e com lágrimas caindo.

– Eu... te... amo... - E com essas últimas palavras, fechou os olhos e sua cabeça caiu para trás.

Zetos e Lotte desceram as escadas o mais rápido possível. Porém, no térreo, eu já o aguardava. Assim que ele abriu a porta da catedral, uma bala atravessou seu coração. Um ferimento exato como o corte que causara. Um segundo tiro foi efetuado por mim, na cabeça, para consumar sua morte. Lotte segurou o corpo de seu amado, que já caía morto, e chorava incontrolavelmente. Eu a teleportei para a mansão de Clark, e então retornei e teleportei Kim para a mansão de Hyden.

Aquelas não foram as únicas perdas daquela noite. Momentos antes da chegada de Kimberly, Hallerie começou a se sentir com tonturas, e caiu no chão da sala. Hyden estava ali perto, descendo as escadas da cozinha, e apressou o passo ao ver a queda dela.

– Halley! O que houve?

– Amor... eu acho que chegou minha vez... - Ela disse quase sem fôlego.

– Do que está falando? - Ele perguntou confuso.

– Disso... - Ela mostrou uma cicatriz, no cotovelo.

– O que é essa cicatriz?

– O veneno mortal... eu me cortei sem querer...

– Halley, não! Não... pode ser! - Ele respondeu, entrando em desespero.

– Amor, desculpa...

– Por que não me contou, Halley?

– Porque eu não queria que você sofresse... por antecipação...

– Mas eu poderia ter feito tudo ser muito melhor se soubesse...

– Amor... o que nós temos... como somos espontâneos... isso já foi perfeito...

– Halley, eu não quero te perder. - Ele dizia com lágrimas rolando por sua face.

– Desculpa, amor... eu te amo... sempre te amei... incondi... - Ela fechou os olhos sem terminar a palavra final.

– In...Incon... Incondicionalmente... - Hyden terminou de dizer entre lágrimas.

Kimberly então chegou ao lugar onde ele estava, e pegou uma arma que estava em uma gaveta próxima, carregada, e apontou na direção de Hyden.

– Dê-me uma ótima razão para eu não te matar agora mesmo.

– Não tenho nenhuma. Puxe o gatilho.

A mão direita, que segurava a arma, estava trêmula na direção de seu mestre. Então eu me aproximei, invisível, e sussurei no ouvido esquerdo:

– Não o mate. Diga-lhe que a vida será o seu aguilhão, sua pena. Está condenado a sofrer. Que sofrimento é maior que a perda de seu amado?

– Hyden. - Ela começou. - Você merece a morte, infeliz. Você nos guiou à morte! Perdi Khardin! Sabe o que é isso? Claro que sabe, está sentindo isso agora. Nada mais que justo, maldito. Está feliz em ter sacrificado todos que amava? Espero que esteja. Porque vai viver para acordar todos os dias solitário, lembrando-se de seus erros.

– Só... faça. Kimberly. O erro também foi de vocês. - Ele retrucou tentando enfurecê-la. - Vocês também aceitaram entrar no jogo. Não obriguei nenhum de vocês.

– Não jogue para mim a sua culpa. - E após ter dito isso, Kim se virou e desceu as escadas, deixando a Mansão Hyden e indo para sua casa.

Kimberly entrou em casa e fechou a porta após si. Apoiou as costas na porta, e começou a chorar sem controle. Suas mãos estavam sobre a barriga e a boca, tentando controlar seus soluços, enquanto cada lágrima parecia ser uma lembrança de seu amado. Como viveria agora sem seus momentos divertidos, sem sua companhia? Como poderia voltar a dormir sozinha, agora que já havia se acostumado a dormir junto ao seu amor? O que seria de seu futuro agora, que tinha imaginado tantas vezes com filhos dele e, principalmente com ele? Como seria agora, sem ele?

Lotte praticamente perdera a vontade de viver. Zetos era tudo para ela, mesmo quando ela ainda era amante de Clark, mesmo quando ele não fora totalmente dela. Ele a ensinara a ver o lado bom da vida em todos os dias, até os mais escuros. Como viveria agora sem seu farol que iluminava a escuridão de sua vida?

Definitivamente, esse ainda não é o fim. Um último jogo está para vir. Um duelo final. Preparem suas músicas favoritas. O final épico está a caminho – e com ele, o vencedor final, o rei sempre de pé. O verdadeiro estrategista. Apesar de que, o fim não dependerá de estratégias. A arma suprema final... será o ódio incontido. Figurativamente, as peças fora do tabuleiro gritam por vingança. Qual equipe será atendida em seu desejo de ver até a última gota inmiga derramada sobre o pó?


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