1000 Meere escrita por Bytesot


Capítulo 1
1000 Meere




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“ Ruas vazias

Sigo cada sopro da noite

Os ventos são frios

O sol está congelado

O mundo perdeu toda a luz

Levo a tua imagem bem dentro de mim

Através de 1000 mares

De volta a você...”


–-----


Acordei desnorteado numa rua vazia. Senti um vento frio bater contra meu rosto. “Onde estou?” falei pra mim mesmo olhando em volta. Tudo era preto e branco. Não me lembro de nada. Espera. Me lembro de um rosto. Uma garota de cabelos escuros e longos sorrindo. Quem é ela?

Olhei nos bolsos da minha jaqueta. Nada. Olhei nos bolsos da calça. Uma foto. A mesma foto da minha memória.

Comecei a andar pela rua. Totalmente vazia. Dobrei a esquina e vi uma luz saindo que uma das casas. Andei até mais perto. Era um bar. Entrei, e o sino que fica em cima da porta bateu, fazendo todos do bar olharem pra mim por menos de um segundo. Então voltaram a fazer o que estavam fazendo.

Sentei em uma cadeira na ponta do balcão e fiquei quieto tentando escutar o idioma daquele lugar. Todos falavam um idioma diferente um do outro, mas se entendiam. E eu também os entendia.

– Olá. – Olhei pra frente e vi uma mulher usando um corset e uma saia longa, com o cabelo todo penteado para a esquerda. Ela era magra, mas com seios fartos, bem fartos. Ela exalava um perfume floral, misturado com cigarro. Eu via e sentia tudo isso, mas não via nenhuma cor.

– Olá. – Respondi dando um sorriso simpático, por educação.

– Vai querer o que?

– Nada, obrigado. Err... Você pode me dizer que lugar é esse?

Ela respondeu, mas não consegui ouvir. Pedi que repetisse, mas não ouvi. Agradeci e desci do meu banco.

Olhei em volta e avistei uma placa indicando o banheiro. Me dirigi até o local indicado. Entrei e encarei o espelho. Meus cabelos estavam um pouco bagunçados e minhas olheiras estavam enormes. Estranho, sentia que havia dormido bem. Mesmo que não me lembre de nada que aconteceu antes de acordar.

Sai do banheiro, e me sentei em uma mesa de frente pra porta. Peguei um guardanapo e comecei a desenhar. Olhei pra minha mão. “De onde veio essa caneta?”. Balancei a cabeça e voltei a desenhar.

Senti alguém sentar na cadeira a minha frente. Era a mulher do bar.

As luzes começaram a pisca enquanto ela falava algo. Parecia que ela falava invertido. Ela parou de falar e me olhou. Piscou duas vezes e começou a falar normalmente:

“...Conheço um lugar. Vamos encontrar um pequeno lugar para ti e para mim...Confia em mim...”


Ela pegou minha mão, e me levou pra fora do bar. No momento em que saímos, um raio relampeou no céu. E o que era uma cidade, virou uma estação de trem. Sentamos numa mesa, um de frente pro outro. Ela me encarava. Queria perguntar alguma coisa, mas minha boca simplesmente não abria. Então, uma luz branca e forte começou a piscar rapidamente. Olhei em volta, mas não descobri de onde ela vinha. Voltei a olhar a mulher. Seus olhos mudavam de posição conforme a luz piscava e sua cabeça se movia de um lado para o outro num ritmo rapido. Ela abriu a boca e começou a cantar uma melodia invertida. A luz piscou uma ultima vez e se apagou. Ela parou de cantar. E eu ouvi o barulho de uma buzina de trem. A luz se ascendeu e eu olhei de novo para a mulher. Ela sorria.

– Vamos?

Ela se levantou e entrou no trem. E eu a segui. Entramos no primeiro vagão. Não era exatamente um vagão, era como uma cabine com uma poltrona de frente pra uma janela grande. E não havia um vagão para o condutor. Aquele era o primeiro vagão mesmo. Atrás havia vários outros vagões, mas eles eram como vagões de trem normais.

Fiquei de frente para a mulher, que estava de costas para a porta da cabine. A porta começou a fechar e o vagão a se mover. Num piscar de olhos a mulher não estava mais dentro da cabine, e sim na plataforma, acenando.

Me sentei na poltrona e soltei um suspiro profundo. Tentei dormir. Mas minha tentativa foi interrompida por uma luz forte. Abri os olhos e vi um farol e em baixo dele, o mar.

Fiquei apavorado, afinal, eu estava num trem. Apertei os braços da poltrona e apertei minha mandíbula tenso. Apertava tão forte, que minha cabeça parecia que iria explodir.

O trem se aproximava cada vez mais do mar. Suspendi a respiração e fechei meu olhos quando o trem bateu na água. Fiquei esperando. Mas no meio do silencio ouvi uma risada baixinha, que me fez lembrar a foto. Abri os olhos e vi que o trem andava sobre a superfície da água, como se existissem trilhos invisíveis. Relaxei, voltando a respirar normalmente. Me acomodei melhor na poltrona e adormeci.


“...1000 Oceanos vastos

1000 anos intermináveis morreram

1000 estrelas passam por nós

1000 vezes contra uma interminável maré

Vamos ser livres...”


Acordei sentindo uma brisa bater em meu rosto. E abri os olhos quando ouvi alguém sussurar:

  - “..Por favor não te afastes de mim

Por favor não te afastes de mim...”

Não vi ninguém. Mas eu não estava mais no trem. Eu estava deitado em uma pedra perto de um penhasco. E atrás de mim, havia uma floresta. Ao invés das arvores serem verdes, elas eram cor de rosa. A única cor que eu via.

Senti uma brisa soprar nas minhas costas. Fechei os olhos e abri os braços, deixando que ela me levasse. Ouvi o vento soprar, mas no meio do barulho ouvi alguém sussurrar. Abri os olhos e cai em meio as folhas que estavam no chão.

– Você esta bem?

Olhei pra cima e vi a garota da foto. Meu queixo caiu. Senti meu corpo quente. Um arrepio passou pela minha espinha. Cerrei os punhos tentando controlar meu desejo que aumentava a cada instante por causa do vento que me trazia o cheiro doce dos seus cabelos.

Ela sorriu e estendeu a mão. Eu a peguei e ela me puxou.

  - “...Não percas a tua confiança e a tua crença

Confia em mim...

... Conheço um lugar

Vamos encontrar um pequeno lugar para ti e para mim..."

Ela começou a andar, me puxando pela mão.

Não falamos nada durante toda a caminhada. Não por vergonha ou falta de assunto. Assim era mais confortável. Não sei ela, mas eu tinha medo de estragar aquele momento.

Chegamos numa clareira com uma cabana de pedra e telhado de palha. Portas e janelas de madeira e uma chaminé.


 - “...Não vamos sentir a falta de nada nem de ninguém

E um dia vamos olhar para trás sem nos arrependermos...”

Ela falou se virando pra mim e entrando na cabana de costas.

Lá dentro havia uma mesa de madeira com uma jarra de barro e um copo, uma lareira e uma cama. Ela se sentou na cama e deu um tapinha no lugar ao lado dela. Andei até a cama e me sentei. Ela sorriu e se levantou pra ascender a lareira. E conforme a luz das chamas se espalhavam pela cabana, as cores também faziam o mesmo.

– Deite-se. – Ela mandou, e eu obedeci. Ela sorria enquanto fazia o mesmo. Ficamos apenas nos olhando. Por um longo tempo. Até que comecei a me sentir fraco. Não sentia mais meu pulso. Tentei lutar, mas acabei fechando os olhos. E de olhos fechados, me vi voando sobre o mar, com a lua cheia no horizonte. Senti alguém pegar minha mão. Olhei pro lado, e vi a garota. E então ela começou a cantar:

 – “...Deixamos o nosso bater do coração guiar-nos pela noite

Confia em mim

Temos que atravessar 1000 vastos oceanos

1000 anos escuros quando o tempo tiver morrido

1000 estrelas passam por nós

Temos que atravessar 1000 vastos oceanos

1000 vezes contra uma interminável maré

Vamos ser livres para viver a nossa vida…”



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Notas finais do capítulo

8D Muito obrigada, por ter lido.