Crônicas de Um Cadáver escrita por LuhScaglione


Capítulo 9
Entre Desejos e Pesares




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Começava a escurecer e eu sabia que Mona trabalhava no turno da noite. Sendo assim corri para o bar o mais rápido possível. Não queria perder nem um minuto do show. A entrada era um pouco cara e eu tive que burlar a segurança para poder entrar. Nada muito difícil afinal eu era experiente em entrar nas festas sem pagar.

A casa estava lotada. A luz era fraca e o palco era no mesmo nível dos expectadores, era do tipo em que as moças mexiam com a platéia. Procurei ficar mais afastado e numa área com menos iluminação, não queria ser visto. Havia uma mulher loira dançando, nada que me interessasse.

Passei alguns minutos esperando ansiosamente pela minha beleza de olhos negros. E finalmente ela apareceu. Usava uma linda lingerie negra com detalhes azulados. Ela estava maravilhosa. Mas não chegou sequer a tirar o sutiã. Em sua primeira volta pelo poste metálico no centro do palco perdeu o equilíbrio e caiu com estrépito no chão. Isso porque ela me viu.

Enquanto as outras moças da casa e alguns clientes ajudavam-na a se levantar eu a vi claramente passar o dedo pela garganta e apontar em minha direção, um gesto claro de "você está morto", metaforicamente falando um vez que eu não posso morrer denovo. Eu saí arrasado do estabelecimento, andando ouvi uma voz furiosa atrás de mim:

- Seu cadáver maluco! - era Mona. Eu parei para que ela pudesse me alcançar. Agora usava roupas normais. - Você pirou foi? - Ela me perguntou.

Eu baixei a cabeça e continuei andando. Não queria conversa. Mas ela era insistente e me pentelhou o caminho todo. Finalmente chegamos à portaria do prédio. Nunca aquele caminho me pareceu tão longo.

- Quer saber? Eu não sei o que está acontecendo com você! Esteve estranho a semana toda Dimitri!! - Eu continuava ignorando-a - Será que você poderia demonstrar alguma reação?

E em pensar, pela primeira vez desde que acordei de meu descanso eterno, me deixei levar por meus sentimentos: eu a beijei. Não sei dizer por quanto tempo, mas foi uma das melhores coisas que me aconteceram naquela semana estranha. Quando a soltei Mona me encarava como se não me conhecesse. Achei que ela fosse gritar comigo ou até mesmo me bater. Porém ela só me encarou, eu a encarei de volta e ficamos assim até que ela se retirou subindo as escadas ainda meio aparvalhada. Eu resolvi deixá-la ir na frente. E foi meu pior erro.

Encontrei a porta aberta e do corredor eu podia ver Mona estática encarando algo que não podia enxergar daquela posição. Pelo seu rosto de perfil pude ver seus olhos arregalados, a boca entreaberta.

- Mas o que...? - Eu não cheguei a terminar a frase. Ela me olhou da porta, as lágrimas escorrendo.

Corri ver o que estava acontecendo e dei com o corpo do Sr. Willians estirado no chão. A casa inteira estava bagunçada, até as almofadas haviam sido rasgadas. Havia uma grande quantidade de sangue na parede atrás do corpo do pai de Mona. Haiva um buraco em sua testa, mostrando exatamente onde o tiro fora dado. Procurei abraça-la numa tentativa de consolo, mas ela me afastou.

- Onde está o meu irmão? - Me perguntou, a voz muito fraca.

- Eu...eu não sei. - respondi, temendo o pior. - Talvez ele tenha saído...

- Me ajude a ver o resto da casa. - Ela foi em direção à porta lateral que separa os quartos da sala. Seus passos estavam vacilantes.

Eu fui olhar a cozinha e a área de serviço. Mas não tive tempo de tirar conclusões, ouvi um grito desesperado. Corri procurar Mona que estava à porta do quarto de Bob que agora não passava de uma massa sangrenta no chão. Ela ajoelhou-se ao lado do irmão, seu choro era desesperador. Dessa vez não me contive, abracei-a com força e ela desabou nos meus ombros.

- Vai ficar tudo bem - Eu dizia sem realmente acreditar em minhas palavras. - Não se preocupe.

O mais importante agora era decidir o que fazer. Mas naquele momento nenhum dos dois se deu conta do sumiço da Sra. Willians.

Depois de chamarmos a polícia, porque afinal tivemos que fazê-lo, fomos levados à uma espécie de sala de interrogatório. Mona ainda estava muito abalada. O policial fez alguma perguntas de pouca relevancia e em seguida se retirou. Algum tempo depois um homem grandalhão de terno preto entrou e trancou a porta.

- Dimitri Smith? - Eu me assustei ao ver que ele sabia meu nome. - O senhor está preso pela morte de Doug e Bob Willians. Venha comigo ele me puxou com força e eu fui obrigado a levantar. - Quanto à senhorita Willians, sua mãe está aqui para levá-la para casa. - Seu tom era frio e tinha sorrisinho malicioso.

- Espere aí! - Mona parecia ter acordado de um transe - Eu conheço você! - Mas ela não pode dizer mais nada, o homem saiu da sala e eu fui arrastado junto, ele apertava meu braço com muita força, porém não sentia dor, já que estava morto.

O grandalhão me levou para fora da delegacia. Um carro preto estava parado à porta e eu fui jogado violentamente no banco de tráz. Havia um outro cara de terno, ele jogou uma sacola preta em minha cabeça e eu não vi mais nada.


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