A Dança dos Bruxos escrita por Ravenclaw


Capítulo 1
Capítulo 1




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Quando Harry Potter abriu seus vívidos olhos verdes naquela nebulosa terça feira, a casa ainda estava adormecida. Tudo estava um pouco embaçado, mas Harry conseguia distinguir os pálidos raios de sol que se infiltravam no quarto. O rapaz esfregou os olhos, colocou os óculos e se levantou silenciosamente, sem acordar Gina, que dormia placidamente ao seu lado.
Afastou a espessa cortina cinzenta da janela e espiou a rua. Havia uma leve névoa no ar, predizendo o temporal que viria. Sem falar uma palavra, Harry observou o dia amanhecer.
Ele desceu as escadas e preparou um chá. Quando a caneca fumegante estava em suas mãos e ele, à mesa da cozinha, permitiu-se relembrar o tão conhecido pesadelo. Hogwarts em ruínas, corredores encharcados de sangue e corpos. Corpos em todos os cantos, se amontoando e formando uma pirâmide humana. Rostos de amigos e conhecidos, congelados na rigidez da morte, um olhar vítreo em todas as faces. E a risada cruel e fria de Voldemort ressoando, como o sibilar de uma cobra. O corpo escamoso de Nagini se esgueirando pelo castelo, entre as vítimas da guerra. Entre estas, seus pais, Dumbledore, Sirius, os Weasley, Hermione, Luna, Neville e outros tantos. A dor era insuportável, o frio, lancinante. Quando a cobra dobrava a última esquina e Harry encarava os reptilianos olhos vermelhos de Voldemort, ele acordava, suando frio.
Esse pesadelo era recorrente e depois de muitas noites insones, Gina se ofereceu para morar com ele e lhe fazer companhia. Isso ajudou, tanto que essa era a primeira vez que tinha o pesadelo desde que a ruiva se mudara. As olheiras já não eram mais tão acentuadas na pele pálida e um pouco de cor já voltava às bochechas. Mas em breve esse descanso iria acabar, já que Gina Weasley iria seguir seu sonho e virar uma jogadora de quadribol profissional. O Harpias de Holyhead já a havia contratado e a jovem só esperava o início da nova temporada para viajar para o país de Gales. Um olheiro em Hogwarts entrara em contato com a neta da lendária apanhadora Dulce Griffiths, avisando sobre o talento da garota Weasley, e em pouco tempo ela já fora contratada.
Harry esfregou seus olhos e bebeu o chá. Gina entrou na cozinha. Mesmo depois de meses juntos, o coração do menino ainda batia descompassado toda vez que ele a via. Seus cabelos ruivos estavam embaraçados, a pele branca, arrepiada. O roupão tinha deslizado por um dos ombros e Harry conseguia ver as sardas no colo dela. A menina beijou o topo de sua cabeça e desviou para o fogão, indo fritar os ovos e o bacon para o café da manhã. Harry pegou a garrafa de suco de abóbora e colocou a mesa.
–Então, os jornalistas já chegaram? perguntou Gina.
– Ainda não, mas daqui a pouco vão chegar. respondeu Harry, olhando o relógio acima da geladeira.
–Então vamos pegar logo o pó. retrucou a menina, com um brilho nos olhos.
Ela se levantou e pegou uma caixinha prateada em cima da bancada. Abriu-a e retirou uma pitada do pó negro. Harry subiu as escadas e foi trocar de roupa, enquanto a ruiva se prostrava à janela. Quando pontinhos cor de carne surgiram no final da rua, ela atirou o pó escurecedor instantâneo do Peru pela janela e em instantes todo o Largo Grimmauld estava imerso em sombras. Harry desceu as escadas correndo, um sorriso de orelha à orelha nos lábios. Abotoou a capa e deu um selinho em Gina.
–Não se esqueça: jantar hoje na casa de mamãe! Gritou a ruiva, sorrindo.
–Não vou me esquecer! Disse Harry, enquanto atravessava a porta e se misturava às sombras. Um sonoro estalo percorreu a rua e o bruxo desapareceu.
Gina fechou a porta de casa e murmurou um feitiço. A rua voltou a ser banhada pelos raios de sol e os repórteres se entreolhavam, confusos. A bruxa sorriu satisfeita e subiu para tomar banho.

* * *

Harry se encontrou com Rony em frente ao Ministério e ambos desataram a conversar.
– Recebi outra carta de Hermione hoje. Ela disse que Hogwarts está quase inteira novamente. Parece que McGonagall encontrou um jeito de restaurar a Sala Precisa. Não entendi muito bem como, mas parece que foi bem complicado. - ia dizendo Rony, enquanto esperava a sua vez de entrar em um dos boxes.
–Também, com todo aquele fogo maldito fiquei surpreso que tivesse reparo. -murmurou Harry sombriamente.
Cada um dos rapazes entrou em um box e pôs os pés dentro do vaso sanitário. Acionaram a descarga e rodopiaram até aparecer em grades de lareiras no Átrio. Continuaram a conversar enquanto se dirigiam ao elevador. Quando finalmente chegaram ao segundo andar, se reuniram aos outros aprendizes de Auror, que aguardavam a chegada do treinador Robards para abrir as portas do Quartel.
– Muito bem, cadetes! uma poderosa voz masculina ressoou e todos os aprendizes se viraram para olhar a chegada de Gawain Robards. O resultado do teste de Esconderijos e Disfarces chegou e não foi nada satisfatório!
O homem de cabelos grisalhos se adiantou e puxou uma pesada chave de ferro do cinto. Destrancou e empurrou a pesada porta de carvalho e entrou.
– Ainda faltam dois anos e meio dessa maluquice. - gemeu Rony.- E por que diabos ele fica nos chamando de cadetes?
– Eu acho que ele lê muitos romances trouxas.- sussurrou Harry.
– PSSIU! chiou o treinador. Suas bochechas estavam vermelhas, o que só ressaltava as feias cicatrizes que cobriam seu rosto.
O bruxo lembrava a Harry Olho-Tonto Moody. Afastando essa memória, ele e Rony entraram no Quartel General dos Aurores. O lugar cheirava igual ao quarto dos gêmeos Weasley n'A Toca: Pólvora. Dezenas de aurores passavam por lá, alguns carregando caixas, outros, relatórios. Outros treinadores instruíam seus aprendizes, ensinando-os os métodos mais eficazes de identificar, se aproximar e atacar um bruxo das trevas.
O treinador Robards os levou a uma antessala.
– Muito bem, cadetes.-falou, enquanto esfregava as mãos calejadas uma na outra. Hoje nós vamos simular a captura de um maldito comensal da morte. Não pensem que isso é uma aulinha de capturar bichos-papões, porque não é! Depois vocês receberão o resultado do teste anterior.
Robards os dividiu em duplas e chamou uma por uma para atravessar as portas. Quando foi a vez de Harry e Rony, eles empunharam suas varinhas e entraram. O treinador lhes deu uma piscada e falou " humanis imago creatio".
A sala se dissolveu e de repente os dois estavam nas ruas de Londres. A ilusão era tão real que eles podiam tocar as paredes sujas dos edifícios ao seu redor e inspirar o ar frio da cidade. Avistaram um vulto encapuzado à frente, que se esgueirava por um beco.
Apressaram o passo para alcançá-lo, mas quando chegaram ao beco não viram ninguém. Relutantes, avançaram, os nós dos dedos apertando firmemente as varinhas. Chutaram algumas caçambas de lixo e dobraram a esquina, indo parar em um beco.
–Não tem ninguém aqui. Vamos procurar nas lojas.- disse Harry.
Rony concordou com a cabeça e ambos deram meio volta. Escolheram uma loja com a fachada marrom, um sininho tilintando ao entrarem. Centímetros de poeira espessa cobria o chão e Rony espirrou. Ouviram um ruído abafado no andar de cima. Se entreolharam. Harry foi na frente, enquanto Rony cobria a retaguarda.
As escadas gemeram um pouco e eles pararam para escutar. Não ouviram nada, então deram de ombros e continuaram. Chegaram ao primeiro andar e o moreno parou em frente a uma porta de madeira. Exalando silenciosamente, empurrou-a lentamente.
Entraram no quarto. O vulto encapuzado se virou e Harry estancou. Era Belatriz Lestrange. A imagem de seu padrinho Sirius Black atravessando um véu diáfano e negro cruzou a mente do menino. A bruxa ergueu sua varinha e se preparou para dizer o feitiço que poria fim à vida de Harry. Rony se adiantou e gritou expelliarmus.
Harry se refez do choque e se adiantou, dizendo petrificus totallus. Rony apanhou a varinha nodosa da bruxa, enquanto o parceiro conjurava cordas grossas e amarrava a bruxa bem apertado. Um sorriso cínico e sujo cintilou no rosto de Belatriz e ela falou com sua voz nasalada:
–Black manda lembranças, neném.
O garoto enrijeceu e conjurou um pano para amordaçá-la. Rony olhou preocupado para o amigo, que procurava a todo custo evitar os olhos negros da bruxa.
A ilusão se desfez e Harry se viu olhando o rosto severo e cheio de reprovação do treinador Robards.
– O que diabos foi isso, Potter? -berrou o treinador na cara dele. Você estava indo bem e do nada congelou! Se Weasley não estivesse lá para salvar a sua pele você estaria morto! Morto, entendeu? No mundo dos aurores, cada segundo é precioso! Se você hesitar por um instante, por mais ínfimo que ele seja, você morre! Aqui não é Hogwarts e você não está seguro. Ainda tem muitos bruxos das trevas soltos por aí e é nossa função capturá-los.
Harry encarou o treinador e balançou a cabeça, envergonhado. O homem o encarou por mais uns instantes e depois disse:
–Bom trabalho, Weasley. Estão dispensados. Peguem seus testes com o treinador Brad e vazem.
O menino estava tão triste com seu desempenho na aula que nem o O que tinha recebido pelo trabalho foi capaz de animá-lo. O fato de Rony ficar se virando para olhá-lo também não ajudava em nada.
–Cara.... Relaxa, foi só um teste bobo. Era o seu primeiro e você não estava preparado para ver a .... - um silêncio se instalou entre os dois.- Enfim, você ainda vai ter muito tempo para recuperar essa nota. Enquanto isso, vamos jantar.
Um tantinho mais feliz, Harry concordou e os dois saíram do Ministério da Magia. O céu já estava escuro e ele consultou seu relógio. Já eram sete horas. Os rapazes aparataram n'A Toca. Ouviram um grito de eles chegaram! e a Sra. Weasley apareceu, enxugando as mãos em um pano de prato. Baixinha e rechonchuda, ela apertou Harry entre os braços.
– Harry, querido! Fazia tanto tempo que você não aparecia!
– Mãe, ele veio aqui semana passada. Gina anunciou sua presença.
Ela o beijou diante do olhar desaprovador de Rony e eles entraram. Depois de um jantar animado com os Weasley, Harry e Gina voltaram para o Largo Grimmauld, já bem tarde. Eles tomaram banho e foram se deitar.
Com Gina nos braços, Harry adormeceu calmamente e teve uma noite sem sonhos. E há cinco meses a cicatriz de Harry não o incomodava mais.


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