A Mercenária - Crônicas escrita por Maria Beatriz


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Bom, o texto está sujeito a alterações... ou não e.e Pode conter spoilers, ou não e.e



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Correu, porém, não tinha coragem o suficiente para olhar para trás. Atravessou o pasto que ficava ao redor de sua casa, a lua pairava no céu. Mas por sorte, a noite não era tão escura. Adentrou a floresta a frente, não sabia o que fazer, estava completamente desorientado.

Mas o que queria, afinal, era apenas uma criança.

Tinha dez anos, seus cabelos loiros e rebeldes grudavam em sua testa, o rosto era de pele pálida. E precisava chegar até os trilhos do trem, necessitava fugir. Estava ofegante e seus olhos heterocromáticos – azul e verde – percorriam o local onde passava. Corria. Ainda corria o mais que conseguia. Apertou com força o papel que carregava em suas mãos, fora a única coisa que conseguira salvar.

E então, foi à vez de cair. Tropeçou em seus próprios pés ao enroscarem-se nas raízes das árvores, acabou rolando e parou somente ao chocar-se contra um caule, em uma clareira. Sabia que os trilhos do trem ainda estavam longe. Mas sentiu seu corpo ficar dolorido, enquanto ofegava e sentia calor por ter corrido por um longo espaço. Ainda sentia medo, o que vira antes... Estava assustado. Fixava o chão, sentou-se e dobrando seus joelhos afundou seu rosto, como se alguém ali iria vê-lo chorar.

Estava sozinho.

Porém, o que se seguiu.

Deu-se por si apenas com a luz que iluminou a clareira.

E então ergueu seus olhos, não acreditando no que via. Era a imagem de uma águia, formada por uma luz de cor verde, que mudava para o azul, se seguia essa transição. Iluminava toda a clareira, refletindo em seu rosto. Mas a forma de uma águia... Não entendia o que aquilo significava, e por incrível que poderia parecer, não temeu. Apenas observou a imagem a sua frente, o animal formado por fulgor era grande e tomava quase todo o espaço da clareira com as asas abertas, além de que, encarava-o também.

— Diga-me, criança, qual seu nome? — Aquele ser ainda falava?! A voz masculina e grave, era séria e estranhamente, não lhe causava medo. Mas como ter medo? Já perdera tudo, não havia o que temer.

— Enzo... — Sibilou rouco, seus olhos ainda estavam inchados e seu rosto rosado por ter chorado.

— Prazer em conhecê-lo, Enzo. Meu nome é Gorus. — A criatura no ar falou, as cores que tinha eram hipnóticas. E estranhamente, poderia considera-las bonitas.

— E o que você é? — Arriscou perguntar, embora temesse a resposta.

— Um youkai.

Seguiu-se o silêncio.

E após isso, Gorus transformou-se em uma esfera de luz, reunindo todo o fulgor e emitindo uma claridade mais fraca. Enzo apenas encarou aquilo, ainda sem entender muito bem. Já ouvira falar daquele nome... Aquela palavra, youkai.

E então, foi à vez da esfera de luz erguer-se no ar, seguiu-a com os olhos, até o momento em que se chocou contra si. Entrando em seu peito e fazendo com que a luz apagasse por completo. Pensou em gritar, porém, não havia dor. E de suas mãos, viu a mesma luz mesclada com verde e azul exalava. Encarou suas palmas sem entender o que aquilo significava.

O que estava acontecendo?!

Você é um domador agora. — Era a voz de Gorus? Mas ela vinha de dentro de sua mente... Como aquilo poderia acontecer? O que estava acontecendo com ele?

— Eu sou o que?

Tem duas almas agora, sou sua segunda. E você é um domador.

Pensou em correr novamente, porém, aquilo agora vinha de dentro de si, não haveria como fugir. Mas mesmo assim levantou-se, observou a clareira ao redor. Não sabia exatamente onde estava, mas agradecia por estar longe de casa. Contudo, viu uma sombra mexer-se entre as árvores, e som de galhos sendo pisados e quebrados. Observou-a de longe, não sabia o que aquilo significava, porém, só viu realmente o que era quando o animal deu um passo adentrando a clareira.

Deveria ter dois metros de altura, a forma de seu corpo, lembrava a de um lobo, porém, a pelagem era de um azul sujo. O rosto tinha estranha mistura felina e, em suas costas, os ossos eram saltados e cobertos pelo couro. Os olhos completamente negros, observando-o, as fileiras de dentes demonstravam a expressão faminta. Reconhecia aquele tipo de animal, já vira imagens, porém, nunca um de perto.

Mas não lembrava seu nome.

Somente que, a melhor ideia naquele momento era correr.

E foi o que fez, novamente.

Adentrou as árvores que havia mais a frente. Sabia que se seguisse em linha reta, correndo cerca de dois quilômetros encontraria os trilhos do trem que atravessavam as terras que pertenciam a sua família... Mexeu sua cabeça negativamente, não poderia pensar neles naquele momento. Iria apenas desespera-lo mais, e isso, faria com que aquele monstro que o perseguia conseguisse pega-lo.

Eleve sua aura... — Mais uma vez, aquela voz ecoou em sua mente.

— O que?! — Falou quase que em um sussurro, enquanto corria e era perseguido pelo animal.

Tem poderes agora. Eleve sua aura.

Ainda não entendia o que aquilo significava, contudo, viu de suas mãos a mesma luz que alternava entre verde e azul exalar. Poderes?! Aquilo eram poderes? Não entendia. A cada momento ficava mais confuso, estava assustado. Olhou para frente, sabia que ainda não deveria ter chegado sequer na metade de seu caminho.

E teria de fazer algo, necessitava de coragem, enquanto aquele animal demoníaco o seguia.

Então, parou de correr, não sabia o que perpetrar. Virou-se e afrontou o animal que se aproximava. Observou suas mãos ainda atônico, o que era aquilo que emitia delas? Resolveu gesticula-las no ar, algo deveria acontecer.

E o animal parou de correr. Como se uma espécie de campo gravitacional o mantivesse parado e tudo o que havia ao seu redor. O monstro parecia mais uma estátua, enquanto os galhos, terra e folhas que eram jogados quando corriam, também mantinham-se parados no ar. Enzo encarou aquilo, enquanto apontava suas mãos que exalavam aquele brilho na direção do animal. Era sua aura? Aquela cor verde e que alternava com o azul, era uma aura? Como elevar seu poder?

Concentre-se. — A voz mandou.

Enzo obedeceu.

Concentrou-se, pensando que poderia fazer com que a aura multiplicasse seu tamanho. E foi o que aconteceu. Sua quantidade exalada expandiu, ao ponto das cores também tomarem seus olhos. Mantinha o animal parado a sua frente. Instintivamente, ergueu suas mãos, o animal levantou no ar. Embora o tamanho maior do que ele, não parecia ser pesado. Então ainda erguendo suas mãos, direcionou-as para a esquerda, lançando o animal para outro lado e o derrubando no chão, bateu-o e em seguida, fez o mesmo para a direita.

Porém, aquela “magia” toda, falhou. A aura sumiu e o animal voltou a se mexer. Levantando-se, mesmo que cambaleante, quase que imediatamente saltou sobre o garoto. Não lhe dando tempo de fugir.

E aquela coisa acima de si, parecia sugar sua energia vital ao encara-lo com os olhos negros. E gritou, gritou desesperadamente. Pensando seriamente em chamar por Gorus, embora mal soubesse o que aquele ser era. Continuou gritando, até o momento em que sentiu que aquele animal parara de sugar sua vida. Sua voz fugira, queria clamar por ajuda, porém, sentia medo. E o animal o encarou por um instante, pressentia a respiração quente vinda daquele monstro bater em seu rosto. Seus olhos heterocromáticos mantinham-se arregalados de medo.

Contudo, ouviu o som de outro disparo. E o animal acima de si virou o rosto na outra direção, notou também que uma lado de suas costelas sangrava, o sangue era azul. Alguém havia atirado naquele monstro. O que significava uma coisa: não estava completamente sozinho.

Em seguida viu a figura de casaco marrom sair dentre as árvores, correndo e tomando impulso, saltou sobre o monstro com a imagem de um lobo marrom atrás de si, era formado por uma luz de cor ocre. A figura tinha em suas mãos uma aura da mesma cor exalada e, ao saltar sobre o animal, cravou-as em seu crâneo. Afundando-as no mesmo e empurrando o animal, a ponto de deixar Enzo poder sair.

Era como se...

Aquela estranha, era como se suas mãos estivessem quentes ao ponto de derreter a cabeça do monstro. E era o que fazia, sujando-se com o sangue azul e os fluidos do animal, enquanto forçava seu corpo para não deixar o monstro derruba-la. Tentou ver o rosto de sua salvadora, porém, a única coisa que viu foi os olhos tomados pela luz de cor ocre, sua face era coberta por um cachecol preto. E após segundos que pareciam durar eternidades, viu o resto do animal se tornar pó.

O que estava acontecendo ali?!

Ela é outra domadora, Enzo. Assim como você. — Não conseguiria responder nenhuma pergunta naquele momento.

— Mas que merda você estava fazendo, garoto? — A mulher perguntou, enquanto seus olhos não brilhavam mais, de suas mãos, a aura sumia. Porém, não conseguia ver o rosto dela ainda. Embora a silhueta não fosse tão alta, podia constatar que seus cabelos castanhos ficavam acima de seu ombro e tinha uma franja lhe caindo o rosto. No qual, ainda não conseguira ver claramente a cor da pele. Calçava botas, calças pretas e justa, o casaco era comprido e marrom. Carregava presa em sua cintura uma pistola, que viu a cor de cobre refletir com a claridade da lua.

— Você é mudo? — Enzo poderia jurar ter visto que naquele momento ela fizera uma careta. Embora, não pudesse dizer com certeza.

— O que... Era aquilo? — Ainda estava sentado no chão.

A mulher, no entanto, pegou de dentro de um dos bolsos de seu casaco um cantil, abriu-o e tomou alguns goles de whisky. Sempre levava aquilo consigo, era um hábito que adquirira nos últimos tempos.

— Uma fera. Um demônio de sangue azul. Um monstro azul... Tem vários nomes. Os adultos se transformam em pó quando morrem, os filhotes não. E após a maldita Guerra Azul, eles passaram a ter definitivamente uma evolução nova, que pode sugar a energia vital de seu corpo.

— E quem é você?

— Meu nome é Pallas Westenberg. E o seu, pequeno pirralho?

— Enzo... Enzo Eutore.

— Prazer em conhece-lo. — Caminhou até o outro lado e sentou-se em frente a uma árvore, abaixando o cachecol que tampava seu rosto, exibindo a aparência jovem e os brincos de argolas prateadas que usava. Deveria ter uns vinte anos. — Mas fala aí, o que estava fazendo fugindo de uma fera?

— Eu não estava fugindo...

— Não? — Arqueou uma sobrancelha. Enzo preferiu ficar calado, não sabia quem era ela e tinha medo de confiar. Pallas notou, aquele garoto deveria ter passado por algo pior antes de chegar ali. Mas não conseguia decifrar o quê.

Ele é um domador, Pallas. — A voz feminina de seu youkai observou.

O que está dizendo , Revo?

Esse garoto, Enzo. Ele tem um youkai.

Se é o que você diz...Irei perguntar, acho que ele não faz a menor ideia disso.

— Ei, Pequeno Pirralho, você é um domador? — Estreitou os olhos, Enzo tentou ver a cor deles, porém, não conseguia devido a sombra.

— O que é um domador, exatamente?

— Alguns lunáticos gostam de chamar de guerreiros demoníacos, e embora seja uma denominação bem legal, não é muito bem vista por crentes. Mas domares são pessoas de duas almas, ou, almas compartilhadas. Seu corpo é dividido com um youkai, que é um espectro, que ficou vagando aqui em Tempus a procura de um corpo de mente e alma semelhantes. Domadores tem poderes sobrenaturais, eles são diversos. E o meu, é esse. — Em suas mãos fez com que a aura ocre exalasse, afundou-a no caule da arvore ao seu lado e a derreteu. — Posso elevar a temperatura de meu corpo ao ponto de derreter as coisas. Ou, ao ponto de fazer com que um objeto fique quente o suficiente para fazer isso.

Pallas ficou em silêncio por um instante, esperava uma resposta enquanto analisava Enzo que apenas a encarava.

— Fale garoto, você é ou não um domador? — Sua voz era mais séria e obrigou-o a falar.

— Eu... Não sei. — suspirou. — Acho que sou sim.

— E o que faz aqui?

— Não tenho para onde ir.

— É órfão?

Enzo se calou. Aquela palavra era umas das dolorosas realidades.

— De hoje em diante... Sou sim. — Era um fato dolente de se constatar.

Pallas mais uma vez se calou. Havia abrangido o que aquilo significava.

— Entendo. — Era mais calma. Levantou-se ajeitando o casaco comprido que usava. Tentou limpar os restos de sangue azul que tinha em suas roupas, porém, não fora muito eficaz — Me mandaram aqui para matar uma fera que andava por essas redondezas... Estou indo para cidade Fantoe agora, quer vir?

Estranhamente havia simpatizado com aquele garoto. Pensava em ajuda-lo, notara que o mesmo deveria ter passado por algo complexo. No entanto, Enzo não a respondeu e resolveu que não seria uma boa ideia ficar insistindo, não tinha aquele costume. Então apenas caminhou em linha reta mais a frente, se o garoto quisesse ficar, que ficasse, não iria leva-lo a força. Contudo, após se afastar um pouco, adentrando as árvores, viu-o se mexer, aproximando-se com certa cautela.


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Notas finais do capítulo

Duvidas? Criticas? Elogios? Já sabem estamos aqui para isso o/



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