The 69th: For What I Believe In escrita por Luísa Carvalho


Capítulo 5
Boas novas?


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capítulo quentinho, vindo direto do forno! (analogia cocozenta pra começar a leitura de vocês, rs)



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(POV June)

Atenção, atenção. Aqui é o maquinista comunicando que estamos nos aproximando da Capital.

Presto atenção ao comunicado, mas a informação que ouço não me provoca reação. Continuo com as mesmas ansiedades de antes, que conseguiram ficar tanto tempo excluídas de meus pensamentos até que uma ordinária reportagem da Capital fez com que voltassem à tona.

Não. Ordinária, não.

"E lembrando que June retornará à sua família sem seu irmão, Cameron Haylon..."

Como se fosse preciso um anúncio de Caesar Flickerman para que todos se lembrem de minha situação. Pelo visto, não bastaram as imagens transmitidas a toda Panem de meu desespero ao ver o corpo sem vida de Cameron; ainda seria preciso escrever "IRMÃO MORTO NA ARENA" em minha testa para facilitar a compreensão por terceiros.

Aqui é o maquinista novamente. Peço para que a vitoriosa June Haylon se destranque do quarto... mais uma vez.

Levo alguns segundos para perceber que a voz nos altos falantes do trem não vem realmente do maquinista, mas sim de Burton, que provavelmente se apoderou do microfone como uma tentativa de me tirar do cômodo em que tanto me enfurnei dia após dia ao longo do mês.

Um barulho ecoa depois que aperto o botão no controle remoto ao meu lado, o que me indica que o quarto está aberto. Burton não demora muito a entrar e, quando o faz, as portas se fecham automaticamente. Estou com os olhos inchados e não me sinto cem por cento confortável em deixá-lo me ver assim. Porém, acabo ignorando isso ao me lembrar de que Panem inteira me assistiu na Arena. Vendo dessa forma, olhos pós choro não são o pior aspecto que minha aparência pode adquirir.

– Como você está? - Ouço a voz dele ao meu lado. Estamos os dois sentados em minha cama.

Não hesito em responder. Me alivia soltar tudo o que quero de uma vez e fazer como antes: não pensar antes de abrir a boca. Apenas confesso.

– De verdade? - começo. - Me sinto péssima. Não aguento ter que ouvir de fora o que tanto me atormenta por dentro. - Suspiro e abaixo a cabeça. Depois disso, minha voz adquire tons oscilantes sobre os quais não tenho controle. - Me diz como raios eu posso olhar nos olhos dos meus pais sem ter Cameron ao meu lado. Me diz como vou ser vista por meus irmãos depois de tudo isso. Me diz, Burton, me diz! São tão pequenos, tão ingênuos...

Espero que um silêncio se estabeleça no recinto devido ao assunto que joguei no ar. Mas acabo sendo surpreendida por um peso que sinto sobre meus ombros.

Um abraço de Burton. É rápido, e em um piscar de olhos não está mais ali. Mas é um abraço e sei muito bem disso.

– Como vai fazer essas coisas, confesso que não sei. Isso é com você - ele diz, e obviamente não me sinto reconfortada. Obrigada, Burton; como se eu já não soubesse disso.– Mas se sei muito bem de uma coisa é de que você não tem culpa nenhuma, June. Você se ofereceu porque achou que era isso o que tinha que fazer. Agiu guiada pelo que acredita e não há nada errado nisso. O problema é que Cameron tinha duas características que não se davam muito bem juntas: ele era teimoso e te amava demais. O que ele fez foi uma decisão inteiramente dele, e você ainda fez o que pôde para protegê-lo.

É aí que volto a chorar. Não sei exatamente se é porque ainda não estou pronta para ouvir sobre Cameron sem desabar ou porque sei que Burton está certo e que tudo o que meu irmão fez foi por amor.

O mais provável é que sejam as duas coisas ao mesmo tempo.

E agora tenho que ser forte, sei que sim. Cameron se foi, e essa é uma realidade que eu talvez nunca seja capaz de aceitar. Mas, seja lá o jeito como as coisas andarão daqui para frente, não posso deixar que todos os traumas influenciem meu futuro para sempre.

A partir do momento em que sair dessa porta, juro a mim mesma que serei digna de meu título e que alcançarei esse sucesso de meu próprio jeito. Que Cameron e todos os outros que perdi só me façam mais forte. Caesar Flickerman que o diga: sou uma Vitoriosa um tanto... Peculiar.

– Espero que todos tenham bem claro o quanto eu o amei - afirmo, deixando claro que a imagem agora em minha cabeça é de meu irmão. - Que o vejam em cada tributo desajeitado, que qualquer amor de irmão traga a eles sua memória.

Ele suspira, e é quase como se, ao meu lado, eu pudesse ver o ar quente saindo de sua boca.

– E como trará - concorda.

**

(POV Burton)

O jeito como June amadurece rápido quanto às lembranças de seu irmão é impressionante. Aos poucos, as lágrimas dão espaço a uma motivação e força semelhantes àquelas que mostrou a Panem durante os Jogos. Em cada uma de suas palavras, sinto-a mais forte do que antes.

Mesmo assim, decidi me arriscar em sua barreira: me aproximei dela no silêncio e, lentamente, coloquei um de meus braços ao seu redor. Ela não se move desde então, se não contarmos o jeito como pareceu se render ao meu aperto e apoiar a cabeça em meu ombro. É bom poder reconfortá-la desse jeito. June pode dizer o quanto quiser que ainda não é capaz de confiar em mim, mas nada vai mudar o fato de que ela está ali, quase entre meus braços, enquanto os minutos passam e o silêncio paira no cômodo.

Mas ouço um ruído vindo da porta e não demora muito até que a mesma se abra. Estranho a “invasão” a princípio, mas logo raciocino que o mais sensato a se fazer num trem desses é manter uma chave externa para impedir que o tributo se tranque no quarto eternamente.

Como já poderíamos ter previsto, é Elise quem entra. Desde o momento em que pisa no carpete pela primeira vez até o em que leva as mãos ao rosto, vejo cada milésimo de segundo da preparação para um grito capaz de ecoar pelo trem inteiro. Por sorte, tenho tempo de lançar-lhe um olhar indicando que o melhor é permanecer calada.

Mas o que acontece é que não consigo conter mais do que um grito estridente. Elise apenas pula essa etapa, optando por ir direto ao típico comentário desnecessário.

– Parece que vamos ter pombinhos chegando à Capital! - exclama enquanto corre em nossa direção, transformando nossa situação em um abraço coletivo.

Porém, no momento em que June olha nos olhos de Elise, sua expressão parece esclarecer que o que está acontecendo não nada como o que parece.

– Não foi uma boa hora...? - pergunta, sem graça. Vai, por fim, afastando-se de nós aos poucos. - Só vim avisar que estamos chegando e... Bom, vou indo para que continuem com... É, seja lá o que estejam fazendo.

As portas abrem e fecham rapidamente e, quando percebo, Elise não está mais no quarto.

June se desfaz de meu abraço aos poucos até, enfim, levantar-se totalmente.

– Obrigada, Burton - diz, e para por aí. Sei exatamente o que ela está agradecendo, apesar de não dizer em voz alta.

June não é de ferro, ainda que seja Vitoriosa. E ainda que seja June.

– Não precisa nem encarar como um favor - respondo, dirigindo-me à porta. - Agora vai se preparar. Não vai demorar muito até chegarmos à Capital.

**

– Elise Werbern! - grito quando chego ao vagão da sala e vejo que a madame está sentada no sofá. - Eu juro que vou...

Mas ela me interrompe.

– Ah, Burton, eu sabia desde o começo! - Um grande sorriso estampado em seu rosto denuncia seu semblante de felicidade. - Sabia que você era apaixonado por ela! Só não imaginei que ela fosse corresponder...

Opto por ignorar a última parte.

– Eu disse que não é o que parece! - insisto com a mesma intenção raivosa. Porém, Elise não parece estar disposta a ceder, não importa o tom de voz que eu escolher.

– Ah, querido, eu sei que vocês não estavam... Você sabe. - Sei exatamente do que está falando, e é por isso que não paro de fita-la como se fosse louca. June literalmente acabou de descobrir que não sou um idiota. Tipo, hoje de manhã.– Mas não precisa esconder o romance de vocês de mim. Depois de tudo isso, vocês devem me enxergar como uma amiga, e...

As portas do vagão se abrem de repente.

– O que raios está acontecendo a ponto de fazer render essa gritaria toda de manhã?!

Fennie, estilista de June, está parada em nossa frente vestindo pijamas e nos fuzilando com o olhar. Ainda assim, vale comentar, não deixa de parecer fabulosa padrão Capital.

– Fennie, querida, são quase uma da tarde - Elise informa com cuidado, como se estivesse falando com uma criança. O que só deixa mais claro que Fennie é do tipo rabugenta durante a manhã - ou seja lá o horário em que acorda. - Mas as boas novas são que Burton e June estão juntos! Ele não quer admitir, mas eu os vi abraçadinhos no quarto dela, não tem como negar.

Volto a gritar; afinal, já acordamos o bicho.

– Você não viu que June estava chorando?!

– Mas é claro que vi! E você, como o bom namorado que é, a estava reconfortando.

Reviro os olhos e estou prestes a sair do cômodo sem mais explicações quando ouço um comentário de Fennie.

– Finalmente! - ela agradece, fazendo um gesto com as mãos apontadas para o alto. - Eu já não aguentava mais ver você babando na minha estrela.

– O quê? - começo, mas logo decido deixar toda aquela loucura de lado e voltar para o meu quarto o mais rápido possível.

– Pode negar o quanto quiser, querido! - Fennie grita atrás de mim. - Mas todo o tempo que você passou encarando June de longe não mente.

Já atravessei a porta da sala quando escuto seu último comentário. E, infelizmente, não consigo negá-lo.


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Notas finais do capítulo

June com menos mimimi, Elise divando e Fennie sendo Fennie. Gostei bastante de escrever esse capítulo, e espero que tenham gostado de lê-lo! Elogiem, critiquem (por sinal, obrigada ao Tiago Pereira por ter me feito repensar meu jeito de escrever) e, se estão acompanhando a fic, não parem! O próximo cap sai muito em breve (:



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