Coração de Lata escrita por Jupiter


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Hey! Tive a ideia ouvindo "Hanging On", da Ellie Golding, então, Ellie, obrigada. É minha primeira Oneshot e Songfic, espero que gostem.Aconselho ler ouvindo a música.Link:http://www.youtube.com/watch?v=Ap-A0RKhi2s



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530756/chapter/1

A lucidez aos poucos voltou à Amanda. Abriu os olhos lentamente, e levou às mãos para esfrega-los. Porém, durante o trajeto, viu, em vez de duas mãos delicadas, pálidas e perfeitas, duas mãos de metal, frias e sem vida.

O metal refletiu uma face também prateada. No lugar de olhos, duas câmeras. Sentou-se, sobressaltada, e percebeu seu novo corpo. A verdade caiu sobre Amanda como chumbo. Ela virara um robô.

Olhou para os lados. As pessoas, ou melhor, robôs, estavam, assim como ela, deitadas em macas. Seus braços estavam conectados a carregadores, e Amanda olhou para seu próprio braço, e num impulso, retirou o fio.

Quem fizera isso a ela não tinha este direito. Ninguém tem o direito de tirar a vida de alguém e trocar por uma bateria e alguns parafusos.

Ainda sem muito controle sobre seus membros, Amanda começou a correr um pouco destrambelhada. “Mais rápido,” ela pensou. Num instante, de seus pés, saíram chamas e a mulher começou a ser propulsionada para frente. Logo que conseguiu controlar o apetrecho, voou, passando por uma enorme janela aberta.

Sobrevoou a cidade, vendo prédios espelhados e carros voando um pouco acima do chão. Por quanto tempo esteve desacordada?

Seguindo o curso do rio, poluído e pútrido, achou sua casa.

Não podia ser verdade. Estava em destroços. Pregada ao que restara de uma das paredes, uma placa dizia, em letras garrafais e pouco amigáveis:

PROPRIEDADE DE R&M

TERRENO DESAPROPRIADO PARA

CONSTRUÇÃO DE PRÉDIO RESIDENCIAL

CÓDIGO DE REGISTRO: 200125210711231908

Amanda choraria, se conseguisse produzir lágrimas. Pulando a pequena mureta, olhou para o pouco que tinha se sua antiga vida. Lembrando-se, procurou um local específico no cimento do chão, onde havia uma espécie de compartimento secreto.

Abriu-o, retirando a tampa com uma ferramenta que surgiu de sua mão, que recordava vagamente uma pinça. Sorriu, aliviada, e viu a pequena caixa de marfim que seu marido trouxera de um lugar longínquo como aqueles que ela sonhava um dia conhecer.

Tirou a caixinha com cuidado. Dentro dela, havia um broche com uma borboleta, seu animal preferido. “As borboletas não são apenas as belas asas. Elas são uma lição de vida. Ao passarem pela metamorfose, de lagarta para borboleta, nos ensinam que todos mudamos. Devemos ser pacientes, as coisas melhorarão. Interprete como quiser, ela dizia, e seu amado, Carlos, ria, desviava o olhar e a beijava apaixonadamente.

Agora Amanda não possuía roupa para abotoar o broche. Era metal, metal, metal.

Na caixa, também havia um CD. Na sua capa, uma bela foto que Carlos, um fotógrafo incrivelmente talentoso tirara de sua esposa no jardim, plantando uma pequena roseira. Mas agora ela não existia mais, bem como o jardim inteiro. Ao verso da capa, uma lista de músicas que eles ouviam juntos.

1. Love will remember - Selena Gomez

2. Atlas - Coldplay

3. Magic - Coldplay

4. It’s Time - Imagine Dragons

5. Like a Stone - Audioslave

6. Hanging On - Ellie Golding

7. Love Story – Taylor Swift

Um espaço em seu braço se abriu, e Amanda depositou o CD, que começou a tocar.

Continuou a ver o que lá havia, ouvindo as músicas do CD. Havia uma câmera feita de biscuit, que ela dera a Carlos no aniversário de 23 anos dele, na época em que ainda eram namorados.
O último item era outra foto. Desta vez, não fora Carlos quem a tirara. Ele trajava um elegante terno preto, e ela um simples e bonito vestido. “Quero algo leve,” ela disse para a consultora na loja de vestidos, “algo que me dê a sensação de voar, como uma borboleta.” E assim fora. O seu véu, longo e delicado, a deixava tão bonita...

Lembranças a inundaram.

Ela acordou animadíssima. A madrinha de seu casamento, Ione, dormira em sua casa. Era sua melhor amiga, não a trocaria por nada. O tempo antes da cerimônia parecia não passar, apesar das ocupações do dia: tomar banho, fazer o penteado, maquiagem, colocar o vestido, sapato, ir ao salão, passar pelo corredor. Ah, essa foi a pior parte. Com o braço enlaçado ao de seu pai, cada passo era como um movimento de lesma. Seu desejo era correr para junto de Carlos e beijá-lo logo.

Pacientemente, caminhou até o pequeno altar. O pai entregou sua mão à de Carlos e juntou-se à mãe de Amanda, cujos olhos brilhavam. Fizeram os votos, e por fim, beijaram-se. No começo, docemente, mas depois assumindo um tom mais apaixonado e desesperado, como se fosse seu último beijo.

A festa fora um sucesso. Dançaram uma maravilhosa valsa, e essa era sua memória mais bonita. A que mais emocionava Amanda.

Toda a vida, o amor que se foram por causa da R&M, que lhe tirara a vida para transformá-la em robô, separando-os. Numa cidade enorme como aquela que habitava, com acharia Carlos?

Até que ela notou algo. No verso da foto de seu casamento.

"Minha amada Amanda,

Não deixei que me transformassem em robô. Eu não desejo viver assim, como uma máquina, nem num mundo assim. Desculpe se terei que te deixar. Espero que entenda. Eu te amo muito, mas não suportaria viver em algum lugar onde você não fosse a mesma, onde tivessem te mudado."

“Eu não mudei,” ela pensou, “minha essência não, pelo menos.” Continuou:

Me despeço com pesar em saber que te deixarei. Esperava que eu nunca tivesse que fazer. No entanto, as circunstâncias são outras. Eu sempre te amarei, e no meu coração seu nome estará gravado eternamente, Amanda.

"Com o amor que eu queria te dar em maior quantidade,

Carlos"

Amanda não poderia aguentar. Fechou a caixa, depositou-a no chão e chutou, bateu, esmagou o que havia ao seu redor.

Num ato de desespero, sentou-se no chão, abriu um compartimento no peito, retirou a bateria vital, em forma de um coração vermelho, e colocou rapidamente a caixa de marfim em seu lugar. A música ia parando aos poucos, assim como seu sistema. Entre pequenos espasmos, seu corpo despencou no chão e toda a vida esvaiu-se de Amanda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada e parabéns se leu até aqui. Que tal deixar um review? Só leva alguns minutos. Foi muito gratificante escrever essa fic, e interessante, então espero que tenham apreciado essa coisinha linda que eu fiz -q.Kissus