Minha carreira de cantora ia de mal a pior, cantando em bares sujos até as três da manhã, tentando fugir de velhos tarados e de mulheres bêbadas que queriam arrumar briga sem motivo algum.

Por isso naquela madrugada, enquanto eu cantava um cover qualquer — até porque jamais desperdiçaria minhas músicas em um lugar como aquele — e vi aquela garota, que parecia mais jovem do que eu, tinha o cabelo loiro abaixo das orelhas e uma roupa branca, com poucos detalhes amarelos. Ela não se encaixava naquele cenário de bêbados e drogados sem esperança, e quando meu número acabou ela foi a única a aplaudir.

Um homem cheirando a bebida veio me abordar assim que desci do palco, eu tentei escapar, mas ele segurou uma das minhas tranças e me prendeu na parede.

Eu não era forte, e não tinha nada para me defender, senti vontade de gritar, mas ele tampou minha boca antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, com os olhos marejados mal pude ver ela se aproximando, e apenas reconheci o formato da arma apontada para a cabeça do homem.

— Solte-a, ou você não vai querer saber o que acontece depois. — A voz dela era firme e um pouco aguda.

O bêbado a provocou e ela disparou no pé dele. O primeiro aviso. “O segundo será no seu precioso”. Ele fugiu, e eu caio no chão com medo.

Ela tinha estendido a mão para mim e dado um sorriso sincero, e apesar de ela ter uma arma na outra mão, eu confiava naquele sorriso mais do que tudo. Ela me disseque era da policia, e por isso estava policiando aquele bar naquela noite.

Começamos a sair como amigas, mas não demorou a virarmos amantes. Foi tão difícil quando ela me deu o primeiro beijo, e eu a evitei de todas as formas possíveis, mas nem uma semana se passou quando eu percebi que a falta dela me matava e que eu precisava dela.

E aquele dia no meio do tiroteio quando você me revelou todas suas mentiras, sua real idade, você tinha quase trinta, sua real “profissão”, assaltante de bancos, e até mesmo seu verdadeiro nome, você tinha me dito que era Clara, mas na verdade era Rin Kagamine.

Você me deu a opção de fugir pelo porão e nunca mais te ver, seus olhos estavam marejados, você realmente não queria que eu fosse não é? Que egoísta. Mas eu não fui, não me importava se tudo o que eu sabia sobre você fosse uma mentira, se fosse verdade que você me amava eu ficaria ao seu lado para sempre. Se você fosse o demônio, eu seria Lilith.

Ao invés de correr como eu sempre fiz, peguei uma arma do seu cinto e com a falta de experiência que eu tinha, não acertei um alvo sequer e ainda acabei machucando minha mão com o gatilho.

Naquela noite enquanto você cuidava dos meus ferimentos nós rimos da minha falta de habilidade. E foi naquele momento que eu selei meu contrato com o demônio com um beijo.

Eu comecei minha vida de Bonnie e Clyde.

Mas nós nunca devíamos ter ido naquele banco, você tinha dito que não ia ter policia em volta, mas teve, e nós viramos reféns da policia. Meu cérebro não conseguiu processar muito bem quando aquela bala entrou atravessando a janela e se alojou perto do seu coração.

Suas últimas palavras ainda ecoavam na minha cabeça; — Miku, por favor, ignore isso. Ignore minha morte, finja que esse período que estivemos juntas nunca existiu. Viva sua vida, escape daqui! Vire a grande cantora que eu sei que você...

Você cuspiu sangue, e então seus olhos não tinham mais a vida de antes, sua roupa estava suja com o próprio sangue e com minhas lágrimas. Desculpe Rin, mas eu não vou te obedecer essa vez.

Quando eu sair por aquela porta e as balas me atravessarem, nós poderemos estar juntas no inferno.

Minha Clyde.