Yago, apesar de ter estudado ate tarde, acordara cedo na manha de terça-feira, foi ate a cozinha, revirando os olhos ao ver a sujeira que os irmãos deixaram la, e tomou cafe da manha apressado, se arrumou, pegou suas coisas e ao passar pela sala, viu alguns objetos não muito estranhos naquela casa, como calcinhas, sutiãs, camisinhas, viu também uma mulher sem roupa, coberta pelo lençol, dormindo no sofá enquanto Marcelo, um de seus irmãos, afanava sorrateiramente a carteira dela.

Yago: Bom dia – Disse entrando no quarto de Ester, que estava dormindo, espalhada na cama e de barriga para fora, ele deu um risinho, pegou o uniforme da garota e jogou no rosto dela, acordando a garota

Ester: Hmmmmmm – disse sonolenta. – Bom dia, Yah –deu um beijinho no rosto do irmão e foi para o banheiro levando o uniforme.

Yago aproveitou o tempo que a irmã tomava banho para arrumar o quarto dele, tirou os bilhetes mal- humorados dos irmãos, forrou a cama, e organizou os desenhos na parede, ele gostava de desenhar, e era muito julgado entre seu pai e seus irmãos por causa disso. Se olhou no espelho, ele era alto e magro, sua pele era de um tom branco quase doentio, e tinha o cabelo preto que ficava caindo no olho, isso o irritava profundamente mas quase nunca tinha tempo para cortar, e como Ester, ele puxara os olhos de sua mãe, grandes de um tom negro hipnotizante. Ele usava calcas jeans desbotada e a blusa do colégio com casaco branco por cima.

Ester saiu do banheiro chamando a atenção do garoto, a Irmã ja estava pronta e pegava sua bolsa no quarto.

Ester: Vamos?- ela perguntou e sem esperar a resposta do irmão, puxou seu braço para a porta.

Yago: Tá – disse colocando uma barrinha de cereal na bolsa da irmã, e uma na sua bolsa.

Eles pegaram o ônibus vazio, como de costume, e seguiram para o colégio, Ester revisava mentalmente todas as formulas de matemática e Yago olhava as musicas do celular da irmã. Eles chegaram no colégio uns 15 minutos depois e se depararam com Nani já impaciente na porta.

Nani: Bom dia Yago! – falou a menina animadamente dando um beijinho no rosto do garoto.- posso roubar Ester? Ah, claro que posso. – disse dando um beijo do outro lado do rosto do garoto e puxando Ester para o banheiro feminino.

Yago passou a mão pelo rosto, o lugar que Nani havia tocado estava quente, e apesar de o garoto não ter reparado, ficara com duas marcas de batom, uma em cada bochecha. Ele entrou na sala e sentou no seu canto, Ligou seu Ipod e ignorou as conversas dos colegas. Não demorou muito para o professor entrar na sala e Yago desligar seu brinquedinho.

Ester estava na sua sala, ainda remoendo o que Nani lhe dissera, a baixinha reclamara indignada da tarde do dia anterior, perguntou diversas vezes se ela estava com alguma coisa no rosto que afastasse as pessoas, e logo começou a falar de outras coisas fúteis. “ Se fosse diferente, não seria Nani...” pensou Ester, enquanto sorria e acenava com a cabeça para tudo que a menina dizia... Mas realmente era estranho, Vitor era louco por Nani, e qualquer um que visse os dois juntos poderia notar isso, mas por que o garoto não aproveitara a oportunidade da tarde anterior?

Falando no ruivinho, o garoto naquele exato segundo estava encarando a nuca de Ester, se perguntando se Nani havia contado algo para ela, como as garotas costumam fazer, se perguntou também se a baixinha falava dele, imaginou-a deitada no colo de Ester contando todos os segundos que já passou do lado dele, e começou a viajar. O professor começou a entregar as provas, fazendo Ester e Vitor esquecerem, temporariamente do assunto.

Igor acordara no susto, com uma fiscal de prova lhe entregando a avaliação, ele olhou-a de cima a baixo e deu aquele sorriso tão de Igor, a menina o encarou por alguns segundos e abriu um sorriso de conquistada. “ pfff fácil, fácil...” pensou o garoto, já garantindo a diversão do dia. Nani havia reparado a cena, e se controlava para não rir, a mesma fiscal que se derretera por Igor, virou-se sem paciência para ela.

Fiscal: Algum problema?- perguntou com a voz de pato. A garota abanou negativamente a cabeça e se concentrou em seu teste.

Intervalo. Yago saíra da sala já com seus fones, e dava a volta no prédio 2 em direção ao campo, que era o lugar que ele passava seus intervalos, quando uma menina do primeiro ano, com uma trança que ia ate a cintura e olhos azuis esbarrou com ele no caminho. Sim, era o novo brinquedinho de Igor.

Yago: Desculpa- Disse meio sem jeito, sem nem olhar para ela. A garota lhe lançou um olhar de desprezo e saiu andando sem dizer nada, Yago, que já estava acostumado com pessoas assim, deu de ombros e foi para o campo, com seu livro. Aumentou mais ainda o volume do seu Ipod.

!: Yaguitoooooo! – dava para ouvir aquela voz de longe, Yago tirou os fones e olhou para a frente. – oi, amor! – disse Lara sorrindo. Lara.... bom, Lara era uma menina do primeiro ano, loira do olho castanho, cabelo liso e espetado que ia ate os ombros, e muito bajulada pelos meninos da escola, ela tinha essa mania de ficar chamando Yago de “ paixão” e “amorzinho” coisa que deixava um menino um tanto sem graça, mas ele fingia que estava ignorando, e funcionava.

Yago: Oi Lara... – disse o garoto sem emoção na voz, igual a irmã.

Lara: O que e isso no seu rosto, coração? –e ela limpou a marca de batom de Nani.– posso deixar uma também? – e veio se aproximando. Yago ficou mais vermelho que nunca. – to brincando, paixãozinha... – disse Lara, sentando-se do lado dele e começando a tagarelar, ela falava sobre a menina que acabara de esbarrar em Yago, sobre como ela era vadia, como destratava todo mundo. Yago gostava de Lara, ela era uma boa amiga, ele ouvia com paciência e atenção tudo que ela dizia, mas fazia isso com todo mundo, por isso todos gostavam muito do garoto.

Mas ele não sabia, ou pelo menos só desconfiava, que Lara gostava de verdade dele, e só não se aproximava mais com medo de perder a “ amizade”, e ela sempre tentava descobrir mais sobre o garoto, uma vez que ele quase não falava nada sobre ele. Nunca. Ela sabia que ele sempre ajudava todo mundo mas se negava a pedir ajuda, a se deixar levar. Conquistar o coração daquele menino era uma missão dificil, e a loirinha estava disposta a tentar, mas ela não tinha cogitado a ideia de que aquele coração tao fechado, podia já estar ocupado.

Fim do intervalo. Todos voltando para a sala com cara amarrada, desejando logo o segundo intervalo e depois os fins das aulas, mas ainda era terça-feira,e ate a tão sonhada sexta, era um longo caminho. Igor estava voltando ainda animado com a sua aventura com a fiscal atras da sala dos professores e quando vira Nani de longe correra para abraçar a baixinha.

Igor: Bom dia gatinha! – disse abrindo o seu sorriso – como foi a prova, princesa?

Nani: foi ótima, conseguir fazer sem olhar para a bunda da fiscal... – disse ela se referindo ao fato do garoto não parar de olhar para a fiscal na prova toda.

Igor: Porra, tava na cara assim? – perguntou ele, ela acenou com a cabeça e os dois entraram na sala.

Lara se despedira de Yago e dera de cara com Ester quando estava indo para a sala. A garota encarou aqueles olhos negros por alguns segundos, depois abanou a cabeça e saiu andando, pensando naquele olhar marcante e feroz, igual ao de Yago. Toda vez que ela se imaginava com Yago, imaginava seus filhos com os olhos assim. O olhar de Yago era um dos motivos para Lara se sentir tao a vontade com ele,ele tinha olhos que pareciam de felinos, ou sei la o que, mas quando se concentrava melhor neles, dava para ver a emoção la dentro, ja nos dessa menina que ela encontrara, ela nao vira nada, so sentiu-se hipnotizada e invadida por aquele par de olhos negros.

Era verdade que a maioria da escola achava que Ester e Yago eram bruxos, que invadiam a mente das pessoas so com um olhar, mas eles nem ligavam, Ester as vezes se divertia com isso, aterrorizando umas menininhas do primeiro ano, ao encara-las diretamente e durante muito tempo, elas saiam depressa do lugar e não voltavam la nem tao cedo, Nani morria de rir com isso, no inicio ate sentia um pouco de medo da amiga, mas agora, ajudava ela, dizendo quem a encarava , e ria alto quando Ester começava a assustar os outros.

Já Yago não fazia nada, nem mesmo dizia que não era bruxo, só ignorava e continuava sua vida, surpreendentemente, a maioria das pessoas se sentia muito a vontade com ele, algumas pensando que ele realmente era bruxo, outras eram muito cautelosas com ele, mas ainda sim, havia um grupinho de meninos do colégio, que não perdiam a oportunidade de zoar ele quando Yago passava “ Tipico” pensava o menino lembrando de seus irmãos.

Quando o ultimo sinal tocou, indicando o fim das aulas daquele dia, Lara correu para a saída, na esperança de ver Yago, que estava do lado de fora com a sua irmã, Nani, Vitor e Igor. A baixinha estava discutindo alguma coisa com Vitor e Yago estava abracado com Ester. Lara não sabia do parentesco dos dois, então lhe subiu uma raiva quando o menino tirou o cabelo do rosto da menina, e foi andando para avaliar melhor, era a mesma menina que ela esbarrara no corredor e que a assustara com um olhar, Yago viu Lara, e ficou olhando a garota sem emoção, como sempre fazia.

Lara olhou para ele e depois para Ester, deixando bem clara a duvida em seus olhos, e quando o garoto continuou fitando ela sem emoção, a loirinha saiu correndo, crente que Ester era alguma coisa dele.

Yago ignorou a situação, ate por que não entendera, ou não quisera entender o que acontecera, e voltou a prestar atenção na discussão de Nani com Vitor.

Nani: Claro que fio dental e melhor que palito de dente! –ela dizia com raiva na voz e tendo que levantar a cabeça para encarar Vitor.

Vitor: Só que não! Palito eu posso usar a qualquer hora, fio dental machuca e tem que ter um espelho.

Nani: Eu vou enfiar um palito no teu olho, ai a gente ve o que machuca.

Vitor: Se tu tiver usando calcinha fio dental na hora, eu ate penso em deixar.

Igor: porra, vamos encerrar essa DR de hoje, que ta foda vei...- mas ele mesmo já tinha rido muito da conversa dos dois

Vitor: que DR o que? –o ruivinho disse aquilo mas parou de falar.

Nani olhou para Yago e deu língua para ele, que sem graça deu um sorrisinho sim, aquilo era bem raro vindo de Yago

Nani: Ohhh Yaguiiiiinho, ta tímido ééé? – disse passando um braco pela cintura do menino, adorava ver ele sem graça.

Ester: Nani, tadinho do meu irmãozinho, tao fofinho....- isso deixou ele mais sem graça ainda.

Yago: Minha nossa – ele estava constrangido e fitando o chão, Nani foi para o seu olhar, por baixo dele, e o encarou.

Nani:posso me casar com teu olho?

Yago: Não. – E desviou o olhar.

Nani: que maldosoooooooooo – disse fazendo um biquinho. Ele riu e passou um braço pelo ombro dela.

Nani: eu vou andando... vamos Vits?

Ela se despediu de todo mundo e virou para Yago

Nani: Pera... eu quero um beijinho de Yagooooo – disse ela

Ester riu alto, coisa rara, pois sempre que Nani estava em sua casa, ela fazia essas brincadeiras com Yago, o deixando muito sem graça, e agora, na frente de todo mundo, o garoto parecia um pimentão. Alguns alunos da sala de Yago olhavam para ele, esperando pra ver sua reação.

!: PORRA YAGO, VAI AMARELAR?- gritou um deles, fazendo os outros rirem.

Nani ficou na ponta do pé, esperando, quando Yago viu que ela estava falando serio, se abaixou e encostou os lábios na bochecha da garota, muito sem jeito.

!!: uhhuuuuuuuuuuul – gritavam os meninos.

Vitor: Não gostei, estou de olho, viu? – disse Brincando com Nani, que deu língua para ele, e os dois foram embora.

Yago se virou para irmã, e na hora soube que ela sabia, a menina o encarava, sem sorrir, sem emoção alguma, quando eles ficavam com esse olhar, significava que estavam pensando, ou entendendo algo. Somente Yago e Ester sabiam disso, então o menino teve calafrios ao ver aquele olhar no rosto da irmã.

Yago: Vamos – disse encarando o chão, e não levantou a cabeça pelo resto do caminho.