Ando ao lado de John, ambos estamos atentos o suficiente para notar qualquer walker a nossa volta. Todo cuidado é pouco, ainda mais num apocalipse zumbi. Os dois homens andam um pouco atrás de nós, eles falam algo uma vez ou outra, já nos disseram onde bateram o carro, e nós prontamente estamos nos dirigindo para a direção contrária.

– Deveríamos ir para o telhado, dar uma olhada em tudo por cima e ver por onde podemos sair sem sermos vistos. - digo.

John balança a cabeça concordando e logo tratamos de subir as escadas para o telhado. John diz que vai primeiro, é claro, ele e seu ego de macho alfa. Reviro os olhos. Ele revista rapidamente o local e nos chama, dizendo que está tudo limpo. Subo as escadas com os dois homens atrás de mim. Eles estão bem quietos agora.

– Ah, só pode estar de brincadeira comigo! - John murmura irritado, olhando da beira do telhado para o chão lá em baixo. Esse homem vive irritado, incrível. Vou até ele e enfim entendo sua irritação. Mas que merda!

Estou olhando para a rua que vimos ao abrir a porta dos fundos pouco antes. Está salpicada de walkers. Uns quinte, vinte, vinte e cinco talvez. Mas que ótimo! Ando até o outro lado do telhado, mais walkers. Caminho para o terceiro lado, mais walkers. Arregalo os olhos e fico boquiaberta. Como eles se juntaram tão rapidamente? Tudo isso foi por causa da batida do carro dos caras, ou eles já estavam ali? Atravesso o telhado e vou até o lado onde fica a entrada da creche, onde deixamos o carro. Já tinhámos visto poucos walkers batendo contra a porta de vidro, mas parece que a quantidade aumentou um pouco. Merda!

Olho ao redor, para os outros. Parece que todos já puderam ver a gravidade da situação em que nos metemos. O homem mais alto, o que bateu o carro, está sentado no chão abraçando seus joelhos, parecendo uma criança com medo da tempestade. O homem mais baixo, está olhando para o horizonte, parecendo pensativo. John está andando de um lado pro outro, olhando de novo e de novo para o mar de walkers que nos cercam dos quatro lados, ele parece não acreditar. Maldita hora para tudo isso acontecer, temos que levar a fórmula para o bebê de Ana. Ponho minhas mãos no rosto. Droga de apocalipse.

– Como é que vocês conseguiram fazer esse estrago todo? - John começou, gesticulando para os dois caras. - Quem dirige chapado no fim do mundo? Que tipo de idiota faz isso? - ele começa a passar a mão na nuca, parecendo nervoso. Já já ele começa a gritar. - Porra, olha no que vocês nos meteram! Eu e a America só iamos pegar umas malditas fórmulas para o bebê que acabou de nascer no nosso grupo. Só iamos fazer isso e voltar. Só isso! Mas sempre tem que ter uns babacas como vocês para complicar as coisas! Seu tipo existia antes do mundo ir a merda, e é claro, que ainda existe. - ele completa olhando para os caras com uma raiva que pulsava dele. John, definitivamente, não é um homem tranquilo, tolerante e relax. Ele é estressado, muito estressado.

Reviro os olhos e ponho as mãos na cintura, abaixando a cabeça. Que situação! Como meu dia ficou tão agitado assim?

– Que bebê? - o cara mais baixo pergunta franzindo a testa.

– O bebê da Ana. Recém nascido. - respondo. - Perdemos a mãe para conseguir trazê-lo ao mundo, e sem as fórmulas, ele morre, já que não tem o leite materno para se alimentar. - faço uma pausa, olho para o cara. - Ele vai morrer de fome por nossa causa, principalmente de vocês.

Ok, admito, estou estressada, assim como John. Talvez eu tenha sido um pouco cruel falando isso para os caras, mas eles realmente ferraram bem as coisas para nós, para todo mundo. Paro e penso na terrível possibilidade disso acontecer ao bebê, um inocente bebê. Estremeço só de imaginar. Os dois caras se entreolham. É horrivel pensar nisso, até para eles. Pensar que uma criança pode morrer de fome porque não chegamos a tempo, ou porque não vamos chegar a tempo. Pensar que tal culpa pode ser deles, e nossa, corrói.

Ficamos todos em silêncio. Ninguém pode dizer nada que faça a situação se descomplicar, então pra que tentar? Me sento na beira do telhado, de costas para os outros, de cara a rua da frente. Permaneço ali por minutos, quieta, como todos. Sinto alguém se sentar a meu lado. Me viro para ver quem é. John, é claro. Ele vira sua cabeça para mim e ficamos nos olhando por alguns longos segundos constrangedores. Segundos, aliás que pareceram minutos, eternos minutos. Posso dizer que me perdi nos olhos de John, no verde escuro deles que me diziam que tudo iria se resolver. Eu queria tantos acreditar em seus olhos.

– Ele não vai morrer de fome. - John quebra o silêncio. - Não posso deixar isso acontecer. Não de fome.

Corcordo com a cabeça ainda olhando para ele.

– E como você pretende não deixar isso acontecer?

– Eu não sei, mas ficando aqui sentado sem fazer nada, não vai ser. - John se levanta e estende uma mão para mim. - Vamos lá America. Você tem o nome da nossa nação por algum motivo, não é? Não é pra desistir quando as coisas ficarem feias, é pra se levantar e mostrar que é forte.

Aceito sua mão e sorrio para John.

– Não sabia que você era um cara tão motivador.

– Você ainda não viu nada. - ele me sorri de volta. E tenho que acrescentar, que belo sorriso John Maddox tem, que belo sorriso.

Nos viramos para os dois caras, eles conversavam baixinho entre si, pareciam estar discutindo sobre alguma coisa importante. Franzi a testa. Só falta eles quererem nos matar e nos usar como distração para os walkers, enquanto eles fogem. O cara mais baixo anda para longe do mais alto, para perto de nós. O cara mais alto o olha meio desesperado, mas continua calado. O baixinho pára a nossa frente e logo trata de falar.

– Vou ficar para trás e me usar de distração para os walkers, enquanto vocês fogem. - ele diz rapidamente, mal nos dando tempo para digerir o que ele disse. Arqueio as sobrancelhas.

Caramba, por essa eu não esperava...