Uma nevoa cinzenta cobre toda a prisão. Não havia muito barulho, todos ainda dormiam. Glenn demorou pra despertar, imaginava que era o primeiro em querer estar de pé, mas olhou para o lado. Maggie estava enrolada no cobertor, olhando atentamente um bloco de notas em suas mãos com a testa franzida. Olhou-a com a mesma paixão e admiração de sempre.

Ele coça os olhos, afastando a preguiça matinal que sempre lhe visitou. Olhou por alguns instantes para a cerca, havia zumbis amontoados, mas não muitos. Nada que eles resolvem. Como sempre foi. Maggie deixa a caneta de lado e olha fixamente para a parede cinzenta e quebrada da torre.

— Você parece distraída. — ele fala colocando para trás uma mecha de cabelo que lhe cobria o rosto.

— Caminhantes na nossa porta. Pouca comida enlatada, duas semanas e meia sem uma gota de chuva. — ela diz provocando-o. — Nossa! O que mais estaria em minha mente?

Glenn tenta retonar com um sorriso, mas o resultado parece pálido e fraco no seu rosto. A velocidade em que o tempo está passando, toma conta de todo o grupo, a seca está destruindo os vegetais plantados com tanto esforço pelo novo fazendeiro, Rick.

— Está tudo bem. Nós resolvemos isso. — ela afoga seu bloco de anotações na almofada e beija delicadamente seu noivo. — Nós sempre resolvemos.

— Não é só isso. Você está distraída há algum tempo. Seja o que for, você pode me contar, você sabe, talvez eu possa corrigir. — ele diz.

— Estou atrasada.

Glenn simplesmente congelou. Não sabia o que falar. Um bebê não estava nos seus planos de sobrevivência. Lori. Ele não gostaria de perder Maggie como Rick perdeu Lori. Não há mais ninguém na vida de Glenn a não ser ela. Tudo o que ele faz é por ela.

— Mas... Eu achei... Que você tomasse suas pílulas. — ele gagueja depois de um tempo.

— Pílulas vencem, querido! Você sabe que pílulas vencem, não é?

— C-Claro. — ele suspira pesadamente.

Glenn afogou a mão no cabelo enquanto observava-a. Tentou imaginar algo para falar, mas não houve nada. Sua preocupação era maior. Beijou suavemente sua testa e partiu numa busca por mantimentos.

Maggie não sabia o que fazer. Sentia em seus ossos que esperava por um filho. Viu Glenn se afastar e levantou. Tinha coisas para fazer. Coisas para ocupar sua cabeça. Mas era obvio, àquele problema não sairia nem tão cedo de sua cabeça.

Nas suas contas, isso aconteceu numa diversão na torre. Não imaginou que uma simples transa lhe traria problemas. Tornou as mãos paralelas sobre a barriga quando sentiu tontura. Era tarde. Fazia um calor desgraçado. Ela tentava controlar seus enjoos repentinos.

— Maggie? — a voz de Carol lhe trouxe de volta à realidade. — Você está bem?

— Estou... Só um pouco cansada. — respondeu sorrindo.

As duas iniciaram uma conversa breve sobre plantações. Isso afastou um pouco seus pensamentos furtivos.

[...]

Era um inicio de noite. Todos ficaram abatidos com a morte de Zack. O grupo que saiu pela ronda viera quase sem nada, coisas que no mínimo, daria para um mês. Mas a prisão está cheia de pessoas. Eles precisam de mais na próxima vez.

Glenn estranhou ao chegar em sua cela e não encontrar por Maggie. Jogou o corpo mole na cama e esperou preocupado e curioso pela namorada, que logo chegou. Não havia expressão em seu rosto, o que Glenn não conseguia entender.

— Estou grávida.

Houve silêncio por uns 30 segundos. Não houve reação dos dois. Ele, depois de um tempo, puxou-a para um abraço apertado. Suspirou pesadamente e encarou a parede cinza, na qual, ela pela manhã, estava encarando.

— Você quer ficar com ele? — ele perguntou.

— Você não? — Maggie afastou seu rosto, perplexa.

Ele acenou com a cabeça.

— Acabei de descobri que quem vai carrega-lo e entrega-lo é você, então eu deveria deixar a escolha para você. Mas eu quero ficar com ele.

Maggie sorriu e enterrou o rosto em seu peito. Glenn podia sentir suas lágrimas molharem sua camiseta e abraçou-a ainda mais. Gravidez!

— Eu estava com tanto medo de te dizer, eu não sei por que, mas eu pensei que você não iria querer isso. Que não devemos trazer um bebê para esse mundo. Eu... Eu não sabia o que fazer.

Glenn empurrou para trás e segurou seu rosto entre as mãos e beijou-a.

— Nós não seremos bons pais, mas poderemos dar o nosso melhor. Nós vamos protegê-lo. Vai ficar tudo bem! — Maggie olhou para ele com o rosto coberto de lágrimas e sorriso aguado.

— Então, você quer dizer? — ela sorria.

Glenn beijou então; lenta, suave e intimista, e abraçou-a contra ele. Ela segurou-se desesperadamente, com força, como se ela nunca iria deixar ir e nunca quis.

— Nós vamos ser uma família!