Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 44
Bianca


Notas iniciais do capítulo

Enfim de férias.



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Acordei nesse sábado de manhã me sentindo maravilhosamente bem, não só porque o sol resolveu voltar a aparecer, apesar de ter chovido forte a noite inteira de ontem. Mas também porque vou ter uma manhã cheia de coisas para fazer com a minha melhor amiga, como nos velhos tempos.

Hoje o céu está azulzinho e tem tantas nuvens branquinhas no céu. O ar está fresco e mesmo morando no centro da cidade mais barulhenta do país ainda consigo ouvir o barulho dos pássaros voando por aí. Levantei-me da cama, espreguicei-me e fui direto para o meu banheiro, onde tomei um bom banho rápido. Em meu closet optei por um shortinho jeans branco e uma blusinha de seda na cor verde primavera. Para os pés optei por uma havaianas branca, já os cabelos prendi em um coque frouxo.

Fiquei de me encontrar com a Luiza lá em baixo, no hall do prédio, para irmos juntas ao meu salão de beleza favorito.

Hoje seriamos só nós duas.

Felipe e eu resolvemos dar uma folga uma para o outro. Não que já tivéssemos enjoado um do outro. Mas eu realmente achava necessário, já que nos víamos todos os dias, não só no colégio, mas também aqui, no prédio onde moramos. Não quero ser aquele tipo de namorada grudenta, que fica todo o tempo no pé e perde a própria identidade só porque finalmente encontrou o amor de sua vida. Eu realmente acho que todo casal precisa de espaço e limites. Afinal, não é só porque estamos namorando que precisamos passar o resto dos dias juntos, como se o mundo lá fora não existisse ou como se não tivéssemos amigos e outras coisas para fazer.

Mesmo considerando no nosso mundinho particular um lugar calmo, seguro e tranquilo eu não queria ser egoísta ao ponto de achar que nada mais tem graça só porque o meu namorado não está por perto. O Felipe, assim como eu, precisa do seu espaço, das suas coisas, dos amigos, de sua família e tudo que ele tem direito. Hoje será um dia só de meninas e eu quero aproveitar ao máximo esse dia antes de ter que sair correndo de volta para os braços dele.

Inclusive, eu não vejo a hora de vê-lo. Eu estou morrendo de saudade. Sim, parece exagero, mas só quem está apaixonado sabe como o tempo parece pouco perto de quem amamos. Só que esse reencontro só acontecerá amanhã, no domingo. Ele nunca me cansa e eu realmente me sinto melhor perto dele, de todas as formas possíveis. Sinto-me preenchida e completa. Como se não precisasse de mais nada.

Peguei minha bolsa, joguei dentro tudo que eu precisaria e quando desci a Luiza já estava lá esperando por mim. Com um shortinho jeans e uma regata preta básica. Também usando apenas chinelos, porém com os cabelos longos sempre soltos. A Luiza que também já não desgrudava mais da Natália, resolveu dar um tempo. Mesmo eu achando que esse tempo só estava acontecendo porque a Nati precisou viajar com a mãe para visitar a família no litoral e entregar os convites do casamento. Mas tudo bem, não importa. O que vale é a intenção e eu estou feliz por ela ter me procurado ontem depois da aula e sugerido que saíssemos juntas.

Marcel, o motorista, nos levou ao Espaço Beleza, um dos meus lugares preferidos em todo mundo desde meus nove anos de idade.

Ao chegarmos lá fomos super bem recebidas, como sempre. Primeiro nós lavamos o cabelo e deixamos na hidratação, enquanto isso sentamo-nos para fazer as unhas das mãos e dos pés. Tudo isso acontecia naturalmente, enquanto conversávamos uma ao lado da outra, ou víamos revistas sobre moda, assistíamos a televisão ou ouvíamos música.

Depois uma das cabeleireiras sugeriu que fizemos outro processo para melhorar as condições dos nossos cabelos. A essa altura nossas unhas já estavam prontas. As minhas pintadas de rosa com branco e as da Luiza de um vermelho muito vivo. Enquanto deixávamos aquele novo procedimento em nossas madeixas, nós fomos convidadas para um momento spa, onde fizeram massagem na gente. Aquilo fez muito bem para o meu corpo, uma hora depois eu me sentia bem mais leve e renovada.

Voltamos a lavar o cabelo e eu até pedi que contasse as pontinhas ressecadas. A Luiza nunca deixava tocarem no cumprimento do cabelo dela, o que parecia um exagero, já que o cabelo dela estava quase batendo na bunda. Mas era lindo, admito. Nem liso, nem cacheado, castanho-escuro natural e cortado em V. Para finalizar fizemos escova e depilação.

Voltei pra casa me sentindo de certa forma mais limpinha e mais bonita. Como eu não tinha nada marcado para o resto do dia, muito menos a Luiza, nós demos uma pausa para ao almoço que a Lídia preparou. Meu tratamento com a doutora Alice estava me fazendo tão bem, que eu até conseguia comer um pouquinho mais. Claro que nada muito exagerado ou extravagante. Mas conseguia comer arroz, salada e um pedaço de filé grelhado. E também bebia um copão de suco natural de laranja.

A Luiza pareceu bem surpresa com essa minha nova mudança, mas ainda assim não tive coragem de dizer a ela como eu consegui chegar a aquilo. Ainda não estava preparada para me abrir a esse ponto. Na verdade, eu estava cheia de mudanças ultimamente, então ela nem insistiu muito nas perguntas. E eu sabia que mais tarde, um dia, ela entendia meu silencio da mesma forma que entendi o dela quando ela ainda não se sentia bem para conversar sobre sua opção sexual.

Já tínhamos terminado de comer a uns dez minutos, mas estávamos ali conversando sobre qualquer bobagem que ouvimos no salão. Até que a minha prima querida resolveu aparecer para o almoço, em um estado horrível, como se ela não tivesse conseguido pregar os olhos durante a noite inteira. Eu, claro, não estava nem aí pra ela. Eu apenas me levantei, puxei a Luiza comigo e deixei a mesa todinha só para ela.

Fomos para o meu quarto e passamos o resto da tarde assistindo filmes românticos.

Por volta das sete da noite a Luiza disse que deveria ir embora, pois ficou de jantar com os pais dela, como também não fazia há um bom tempo. E eu aproveitei o tempo livre para colocar meus deveres de casa em dia – meu mais novo hábito graça ao Felipe – enquanto ouvia o ultimo CD lançado no ano passado da minha cantora favorita: Avril Lavigne.

Fui dormir muito cedo aquela noite, por falta do que fazer. Fiquei um bom tempo deitada da minha cama, já no meu quarto escuro, pensando em ligar para o Felipe, mas não queria atrapalhar o programa que ele estava tendo com o Rafael e o Pedro, apesar de bem lá no fundo estar um pouquinho preocupada e com um ciúme bobo.

Mas apesar de tudo eu sabia que ele merecia ser feliz, sem mim ou comigo. E que de preferência fosse ao meu lado.

O céu de domingo não amanheceu muito diferente do de sábado, já estava sol e o céu estava fantástico, azul e com poucas nuvens. Por ter dormindo cedo noite passada, acabei acordando mais cedo que o normal. Aproveitei aquele tempo para descer até a academia e correr um pouco na esteira - mas sem exageros dessa vez – enquanto ouvia os álbuns mais antigos da Avril Lavigne.

Às dez horas fui tomar meu café da manhã. A doutora Alice sugeriu que eu comprasse um caderninho para anotar tudo que eu comia durante todo o dia, sempre que fosse possível. Não para me deixar ainda mais neurótica, mas sim para eu me sentir melhor mais tarde quando fosse ver a evolução que estava tendo. Aquela manhã eu tomei outro copão de suco, só que dessa vez de morango. E comi duas torradas integrais.

Às onze horas, sentada no sofá da sala, enquanto a Lídia limpava os moveis em volta e o resto dos empregados já estava a todo vapor na cozinha preparando o almoço, eu resolvi ligar para o Felipe, só para ter certeza se ele ainda iria querer fazer o que tínhamos combinado para hoje.

Enquanto chamava vi a minha prima descer para o café da manhã, acho que ela finalmente tinha aprendido que nunca, em hipótese alguma, deveria estar no mesmo ambiente que eu se ela pudesse evitar. Por isso tínhamos todos esses desencontros. Mas me surpreendeu ela ainda parecer tão mal aquela manhã, ainda pior que ontem. Será que ela estava com algum problema? Bom, não importa.

O Felipe finalmente resolveu me atender. Confesso que só de ouvir sua voz, ainda mais assim de manhã com sua voz rouquinha de sono, meu coração dava um pulinho dentro do peito.

— Eu te acordei? – soltei uma risadinha de constrangimento. — Oh, me desculpe. Eu não tive a intenção.

— Não tem problema, meu amor. – ele pareceu sorrir do outro lado da linha. — Já estava mesmo na hora de acordar.

— E como foi à noite de ontem? – resolvi perguntar, assim como quem não quer nada. Ao perceber que eu tinha segundas intenções naquela simples pergunta, ele riu. Porque não é bobo nem nada e já me conhece bem.

— Foi... Boa e normal. Não precisa se preocupar, não aconteceu nada de mais. Pelo menos não da minha parte. Mas você conhece o Rafa, né? Ele adora meter a gente em situações constrangedoras.

— O importante é que vocês se divertiram. – eu sorri. — Mas então, nós ainda vamos ao parque mais tarde? Ou você está muito...

— Não, não. – ele foi logo me interrompendo. — Claro que ainda vamos. Nós combinamos, não combinamos? Eu não vou furar com você, nunca. E também estou ansioso para te ver.

Eu ri, um pouco encabulada.

— Você falando assim, até parece que a gente não se vê há semanas. – eu brinquei, porque é claro, também queria muito vê-lo logo. Mas é sempre bom fazer um charmezinho.

— Bom, uma noite sem você já é um sacrifício e tanto. Então sim, parece que eu não te vejo há dias e estou ansioso por isso.

Depois combinamos o horário que sairíamos e desligamos para prepararmos tudo.

Já no corredor dos quartos, lá em cima, quando eu ia entrando no meu quarto... A mamãe me surpreendeu, chamando-me.

— E então filha, será que podemos ter aquela conversa ainda hoje?

— Hoje? Ah não, mãe. Eu sinto muito. Mas eu vou sair.

— E eu posso saber com quem?

Fiquei surpresa por eçla perguntar aquilo em tom de divertimento e não de advertência. Mas o mais surpreendente ainda foi ela simplesmente ter perguntado, como se realmente se importasse. Ela nunca perguntava essas coisas. Ela nunca agia assim. Nem ela e nem o pai. Eles estavam mesmo muito estranhos desde que souberam dos meus... Probleminhas.

— É um garoto, mãe.

— Um garoto? – ela arqueou uma das sobrancelhas louras bem delineadas e continuava com aquele sorrisinho intrigante. — Que garoto, Bia? Você nunca falou sobre um garoto com a gente!

— E vocês nunca perguntaram esse tipo de coisa pra mim. – eu rebati, tentando levar tudo pelo lado da brincadeira. — Mas enfim, é uma longa história. A gente conversa sobre isso um dia.

Antes de fechar a porta do meu quarto eu ouvi ela dizer:

— E eu espero que seja logo, hein. Estarei ansiosa aguardando.

Resolvi esquecer aquilo e fui logo tomar um banho para não me atrasar para o meu encontro com o Felipe.

Enquanto pensava em qual roupa eu usaria, resolvi ligar meu Ipod e coloquei Smile para tocar, da Avril Lavigne, sem sombra de duvidas.

O dia lá fora estava muito pedindo por um vestidinho de verão e sapatilhas, mas o que eu e o Felipe combinamos de fazer no parque não daria muito certo com saia ou vestido. Por fim, acabei optando por um jeans Skinny de lavagem escura e uma blusinha clara mais soltinha que deixava meu ombro a mostra. Para os pés optei por meu All Star cor-de-rosa mais antigo e deixei os cabelos soltos mesmo.

E como maquiagem: apenas um rímel.

Um minuto antes de entrar no elevador mandei uma mensagem de texto para o Felipe, dizendo que eu já estava descendo. Ao parar no andar dele, ele foi o único a entrar no elevador. Usando também um jeans mais surrado, uma camiseta branca com uma estampa bem colorida da Marvel e All Star. Como éramos os únicos ali, ele mal deixou que o cumprimentasse e foi logo me pressionando contra a parede do elevador e me tascou um beijo muito, mais muito quente.

— Eu disse que estava ansioso para te ver. – brincou ele, com um sorriso travesso ao se afastar de mim e entrelaçar nossos dedos.

Eu sugeri que o Marcel fosse nos levar ao parque, mas ele achou melhor que fôssemos de trem, que era mais rápido e prático. E eu estava mesmo começando a gostar daquilo.

Ao chegarmos ao Villa-Lobos demos primeiro uma volta pelo parque, para ver a movimentação. Depois paramos para tomar um sorvete e a seguir fomos direto para o que: andar de patins. Isso mesmo! Víamos planejando isso há dias, mas o Felipe sempre inventava uma desculpa.

E hoje, só hoje, enquanto colocávamos os patins eu descobri o porque.

— A verdade é que eu nunca aprendi a andar nisso. – ele revelou, vermelho não só pelo sol, mas também por estar constrangido.

Eu com toda a minha habilidade e prática, já com meus patins nos pés, levantei-me para abraça-lo.

— Não tem problema, Fê. Eu te ensino. – disse com um sorriso, olhando diretamente nos olhos dele. — Só vamos sair hoje daqui quando você finalmente conseguir andar de patins.

Enquanto o ajudava a calçar os patins, contei bem rapidamente a ele uma parte da minha infância, quando eu fugia da Lídia, a empregada, para descer até a área de lazer do prédio – isso muito antes dele vir morar aqui – só para andar de patins com as minhas amiguinhas da época.

Depois de tudo isso acho que ele começou a se sentir mais confiante, e esse era o primeiro passo. Não era uma coisa tão difícil, bastava estar seguro do que estava fazendo. Nossos primeiros passos sobre o patins foram bem devagar, eu a todo tempo segurando suas mãos e lhe dando dicas.

Felipe não era o único ali a não saber a andar. O legal de estar ali, entre tanta gente andando de patins, é que o pessoal não tinha vergonha de não saber andar bem como um profissional, ou de cair e rir de si mesmo. Ali éramos todos iguais em busca de diversão.

E foi divertido. Passamos a primeira hora indo devagar e com calma e só depois achei que ele estava pronto para tentar sozinho e sem ajuda. E ele tentou. Caiu algumas vezes? Sim, ele caiu. Mas parecia que tudo que ele fazia era fofo, até mesmo a forma como ele caia. E nós rimos a beça. Eu até ensinei a melhor forma de cair, com as mãos no chão para não nos machucarmos seriamente, apesar de estarmos com todo o equipamento de segurança, na cabeça, cotovelos e joelhos.

Por fim, após inúmeros tombos e pratica, ele acabou pegando o jeito e até me desafiou em uma rápida corrida até certo ponto. Por volta das três e meia eu já não aguentava mais ficar de baixo daquele sol forte, já estava cansada e morrendo de sede.

Foi difícil convencer o Felipe – justamente quando ele estava se saindo bem – a darmos uma paradinha. Mas ele acabou aceitando numa boa e nós fomos comprar água. Depois procuramos por um lugar calmo e menos movimentado, onde deitamos na grama mesmo com ela pinicando por toda parte e ficamos calados, ainda ofegantes, voltados para o céu azul.

— Obrigado por ser tão paciente comigo e tão persistente. E por não ter desistido. Agora posso finalmente dizer: eu sei andar de patins.

Eu ri com o comentário dele.

— Não precisa agradecer. – olhei para ele por um momento e lhe dei um rápido beijinho. — É por isso que esse namoro funciona, não é mesmo? Estamos aqui um pelo outro, independente de qualquer coisa.

Passamos o resto da tarde trocando beijinhos, carinhos e declarações espontâneas de amor. No fim da tarde, um pouco antes de voltarmos para casa, quando o sol já estava se pondo, Felipe sugeriu que fossemos ao Subway fazer um lanchinho da tarde por conta dele.

Quando cheguei em casa naquela mesma noite meus pais estavam no sofá. Papai lendo uma revista qualquer e a mamãe ao lado mexendo em seu notebook de trabalho. Eles saiam do trabalho, mas o trabalho não saia deles por mais que eles tentassem ou se esforçassem.

Foi só eu entrar para os dois viraram-se ao mesmo tempo na minha direção com aqueles olhinhos curiosos como se esperassem que eu dissesse como foi meu dia, onde eu fui e com quem estava. Eu, claro, não ia dizer nada ou pelo menos não entraria em muitos detalhes caso eles perguntassem. Não era como se eu estivesse habituada àquilo.

Quando ia passar direto para subir para o meu quarto, eles me chamaram, os dois ao mesmo tempo. Na certa para ter aquela conversinha que eu adiava há tanto tempo. Mas eu estava começando a me cansar daquilo, estava na hora de colocarmos as cartas sobre a mesa.

— O.K. Vamos lá. – sentei-me na poltrona de frente a eles. — O que vocês querem tanto conversar?

— Bom, primeiro queríamos dizer que estamos muito orgulhosos de suas mudanças. Você acha que não percebemos que você tem comido mais e até tirado notas melhores no colégio? – era a minha mãe que estava falando, com o sorriso maior do mundo. — O diretor ligou um dia desses para dizer que você estava se saindo muito bem e adoraríamos saber os motivos, ou o motivo, para tantas mudanças.

Quase engasguei de tanta surpresa.

— Quer saber? Tive uma ideia melhor. – acabei dizendo assim, sem pensar muito a respeito. — Que tal termos essa conversa todos juntos quando um dos principais motivos dessas mudanças estiver presente?

— Você está sugerindo um jantar? – meu pai perguntou, fechando a revista e a deixando de lado.

Bom, não foi exatamente o que eu quis dizer, mas ele até que me deu uma grande ideia.

Porque não acertamos os pontos todos de uma só vez? Um jantar provaria a eles que estou melhorando e me esforçando, quanto aos meus distúrbios alimentares. E ainda poderia apresentar o meu namorado a eles, o principal motivo de eu querer estar a cada dia melhor.

— Sim, ótimo. Um jantar. Mas eu cuido de tudo, tudo bem?

Eles assentiram. E eu dei aquilo como conversa encerrada, pelo menos por um tempo... Até o tal jantar. Mas quando mencionei me levantar, minha mãe resolveu abrir a boca novamente.

— Mas isso não é tudo, filha.

Meus olhos se voltaram para os dois.

— Soubemos também que você tem conversado com a psicóloga do colégio com frequência, mas na verdade nós adoraríamos que você se consultasse com uma amiga nossa.

Primeiro: eu nem sabia que eles tinha um amiga psicóloga.

Segundo: com tanto trabalho eles têm tempo para ter amigos?

Terceiro e ultimo: eu não quero me despedir da doutora Alice.

— Tudo bem pra você? – minha mãe continuou. — Não só seria melhor para você ter um tratamento mais avançado e eficaz, como também seria melhor para nós podermos acompanhar isso mais de perto, como uma família. – vendo que eu não estava nenhum pouco contente com aquilo ela resolveu acrescentar: — Mas você pode continuar conversando com a psicóloga do colégio, sem problemas algum. Nós só queríamos...

Se isso fizesse com que eles parassem de pegar no meu pé...

— Tudo bem, eu aceito. – levantei-me. — Posso ir agora?

— Claro, meu bem. Tenha uma boa noite.

Antes de dormir liguei para o Felipe e resolvi comentar com ele não só a troca de psicóloga, como também sobre o jantar com meus pais que eu prepararia. Claro que ele ficou apavorado, todo nervoso, dizendo que não conseguiria e que não estava preparado ou que eles não iam gostar dele, o achariam muito esquisito e patético por não estar a minha altura.

— Para de ser bobo, Fê. – eu disse, entre risos. — Eles vão adorar você. E mesmo se eles não gostem, o que importa é que eu amo você. E eu sei que você sempre será o melhor pra mim. Sempre.

Tentei não ficar pensando muito nisso, pois confesso que eu também estava um tanto apavorada. Depois da aula, na segunda-feira, aproveitando que não tinha nenhum dever de casa, sentei-me com a Lídia para começarmos a planejar o tal jantar.

Ela era ótima em tudo aquilo e eu também não queria nada muito exagerado, afinal era um jantar. Eu não queria e nem precisava da aprovação de ninguém para amar o garoto mais incrível desse mundo. Eu já o amava de todas as formas possíveis, mesmo tendo quem gostasse ou não.

Marcamos o jantar para quarta-feira a noite, lá em casa mesmo.

Coloquei um vestidinho todo delicado de cor preta e com florzinhas brancas e para os pés optei por sapatilhas. Fiz um trança embutida no meu cabelo e passei uma maquiagem bem leve. Não me esqueci do perfume preferido do Felipe, um mais doce e suave.

Na sala de jantar já estava tudo pronto. Lídia cuidou perfeitamente de tudo pra mim. Fiquei esperando o Felipe chegar sentada na sala de estar, enquanto meus pais terminavam de se arrumar lá em cima.

Felipe chegou pontualmente no horário que marcamos: às oito da noite.

Ele estava tão adorável em um jeans mais novo de cor preta, uma camiseta azul clarinho e All Star cinza. Os cabelos bem penteados, perfumado e um sorriso nervoso nos lábios.

— Você está encantador. – disse eu, após dar-lhe um beijo.

— E você mais linda do que nunca. – ele sorriu timidamente.

Eu o conduzi até a sala, como se ele nunca estivesse estado ali antes, e tentei descontraí-lo pelo resto do tempo até meus pais descerem.

Quando minha mãe pisou no primeiro degrau lá de cima, Felipe pressionou minha mão com mais força.

— Tenha calma, eles vão adorar te conhecer. Eles disseram isso todo o tempo, desde domingo, quando souberam da sua existência. – sussurre em seu ouvido, enquanto meus pais desciam juntos a escada.

Papai e mamãe enfim se colocaram em nossa frente quando já estávamos de pé. Mamãe estava linda como sempre, em uma vestida cor pêssego não muito curto e muito menos longo. Seus cabelos claros estavam presos e ela também não estava muito maquiada. Afinal, não era uma festa. Já o meu pai usava jeans e uma camiseta bem passada de cor escura e seus habituais sapatos social.

— Mãe, pai, esse é o Felipe, meu namorado. – resolvi apresenta-los.

Mamãe deu um abraço carinhoso e fraternal no meu namorado, meu pai apertou sua mão e por fim os três trocaram sorrisinhos.

— Você não mora aqui no prédio? – meu pai perguntou, meio brincalhão. — Acho que já te vi algumas vezes lendo umas revistinhas de super-heróis.

— Ah, é. – Felipe baixou o olhar e sorriu torto, todo vermelho. — Sou eu mesmo. É prazer conhecê-lo, senhor. – ele ergueu o olhar para olhar para minha mãe. — A senhora é muito bonita, Dona Isadora.

— Oh, muito obrigada, Felipe. Você é um amor! E por favor, me chame só de Isadora. – disse ela tocando levemente seu braço com um sorriso muito exagerado, porém verdadeiro.

— Sabe – meu pai foi logo passando o braço pelo ombro do Felipe, que era só uns cinco centímetros menores que ele. — quando eu era mais jovem eu também adorava essas revistinhas, eu tinha uma coleção delas. Hoje em dia não tenho mais tempo pra essas coisas, mas...

Enquanto ele falava com o meu namorado, o conduzia até a sala de jantar. E eu observava de longe, impressionada com tudo aquilo. Não só pela intimidade do meu pai que acabou de conhecer o meu namorado, como também por ele revelar algo que eu nem fazia ideia que ele gostava. Bom, pelo menos eles têm algo incomum.

— Seu namorado é uma gracinha. – sussurrou a mamãe, ainda sorrindo muito. — Mas então, vamos jantar?

Eu assenti, ainda meio desnorteada com todas essas novidades.

Durante todo o jantar, tanto meu pai quanto a minha mãe tentaram manter a conversa com o Felipe. Ambos falando sobre uma diversidade de coisas. Eu permaneci calada durante todo o tempo, comendo em silencio ao lado do meu namorado e me divertindo com tudo aquilo. Não imaginava que seria assim, tudo tão descontraído. Abria a boca apenas para completar algumas coisas e saborear o jantar que eu tinha organizado.

Meus pais não deixaram de elogiar o quanto tudo estava bom.

E foi durante a sobremesa que eles resolveram nos pegar de surpresa.

— Que bom que você não está mais acanhado, Felipe. Estamos muito felizes por conhecê-los essa noite. E mais satisfeitos ainda por você estar fazendo nossa filha tão feliz. Ela está tão mudada: tirando notas boas, cuidando da saúde e vive sorrindo a toa. É bom saber que ela pode enfim contar com uma pessoa que a faça verdadeiramente bem. A Bianca é uma garota incrível e você parece reconhecer isso.

— Eu a amo muito. – disse o Felipe, segurando a minha mão e olhando-me como se seus olhos pudessem sorrir por si só. — Eu a farei uma pessoa muito feliz do mundo, pode ter certeza.

Estava admirada pela coragem dele de dizer aquelas palavras na frente dos meus pais. Posso dizer que fiquei emocionada, só não chorei ali mesmo porque na certa estragaria tudo. Apenas sorri e apertei firme sua mão.

Voltei-me para os meus pais e aproveite aquele momento para dizer que o Felipe era o melhor aluno de todo o colégio, falei também de todas suas qualidades e de todo o bem que ele me fazia, ajudando-me com os estudos, com o tratamento e tudo que fosse preciso.

Nunca vi meus pais tão atentos a tudo que eu dizia, alternando o olhar entre mim e o Felipe. Como se pudessem enxergar que nós nos completávamos de uma forma inexplicável.

Mais tarde esperei que eles se despedissem e levei o Felipe até a porta, para nos despedimos com mais privacidade. Primeiramente eu o abracei forte, por pelo menos dois minutos. Depois segurei seu rosto e o beijei, verdadeiramente agradecida por ele ter feito daquela noite a única. E por fim, segurando suas mãos enquanto ele sorria para mim eu disse:

— Eu não falei que eles iriam adorar você? Você é quase como um filho para eles agora. Vai ter que se acostumar a isso.

— Acho que isso foi muito melhor do que eu imaginei. – disse ele, todo bobinho. — É uma pena que não posso dizer o mesmo quanto aos meus pais. Eles parecem não entender nada do que eu faço.

Eu jamais permitiria que os pais deles estragassem aquela noite.

— Se você me amar e eu te amar, não precisamos da aprovação de ninguém para ficar juntos. Não acredito que qualquer coisa, por mais forte que seja, seja capaz de destruir um amor tão limpo e bonito.

Só para frisar aquele momento, eu beijei novamente seus lábios. E ele, como quem concorda plenamente com o que eu digo, mas não tivesse palavras para expressar o que sentia, enlaçou minha cintura e beijou-me de volta.


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Notas finais do capítulo

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