Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 25
Rafael e Pedro


Notas iniciais do capítulo

Queria dedicar esse capítulo a Taylor Somerhalder por ela ter compartilhado a história dela comigo por MP. Foi bem interessante pra mim saber um pouquinho mais sobre coisas que eu não entendo tanto e não tenho muita experiencia. Obrigada, viu? De coração. Eu gosto muito de saber mais sobre vocês, então se sintam sempre a vontade para conversar. Eu adoro essas coisas! E também queria aproveitar para dar boas-vindas as novos leitores, que ainda não se manifestaram, mas eu sei que estão por aqui. Obrigada a todo mundo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530365/chapter/25

Aquela era a minha ultima aula do dia: Educação física. Por sorte duas aulas consecutivas. Estar correndo pelo campo de futebol junto com o meu time, mesmo todo suado debaixo do sol escaldante daquela tarde, era como poder respirar em paz sem ter que ficar pensando o tempo todo na confusão que é a minha vida.

Olhei para a arquibancada quando ouvi a Maria Eduarda gritar por meu nome, com a Tatiana, sua melhor amiga, ao lado acenando histericamente para chamar a minha atenção. Acenei de volta, abrindo um largo sorriso e passei o dorso do braço na testa para limpar o suor que escorria na minha testa e caia nos meus olhos.

Maria Eduarda é linda. Loira, alta, tem um corpo maravilhoso, olhos acinzentados incríveis e um sotaque caipira muito bacana. Ela é uma deusa, em todos os sentidos. O tipo de garota que todo garoto gostaria de poder tirar uma lasquinha. Mas que incrivelmente ainda não havia me dado o que eu tanto eu queria. Pelo visto ela é bem mais esperta do que pensei.

Nós estamos ficando há algumas semanas. Nem por um momento paramos para conversar sobre exclusividade. Ou seja, ela pode ficar com quem quiser e eu também, como eu gosto que seja. Nada de muito sério. Nada de compromissos. Apenas uma aventura ou um passatempo.

Mas às vezes eu tenho uma leve impressão de que ela espera mais de mim, assim como muitas outras garotas. Ainda existem aquelas que não entendem. Talvez eu devesse ser mais direto com ela, ou com elas, e dizer na lata o que exatamente eu quero e espero disso tudo. Isso não inclui pedido de namoro, aliança, exclusividade, relacionamento sério, conhecer os pais, dar presentes ou levar para sair. No fundo eu só espero que elas entendam que eu não sou um cara que leva alguma coisa a sério sem precisar magoar ninguém. Assim seria fácil para todo mundo, não concordam?

Quando o jogo termina vou até elas, enquanto tento tirar a minha camiseta. Estou quase derretendo. Ao me aproximar as duas me avaliam com os olhos curiosos, me cumprimentam com um beijinho e um abraço. Porém, Duda é mais ousada que a amiga, beijando-me na boca e mordendo meu lábio enquanto Tatiana nos olha cheia de malicia.

Solto uma risada.

— Vai com calma, gata. – umedeço os lábios com a língua molhada, estou morto de sede. Só preciso de alguns litros de água e uma boa hora de descanso. — Quem sabe, poderíamos continuar com isso mais tarde...

As duas riem, se entreolhando.

Tudo bem que juntas as duas são como cúmplices, como se com uma simples trocada de olhares elas já soubesse o próximo passo a dar. Mas eu ainda estou tentando entender porque a Bianca e a Gabriela implicam tanto com as elas. Não seria mais fácil se todos fossem amigas?

Nosso grupo sempre foi muito grande, mas também eu sempre achei que cabe sempre mais um. Ou mais duas. Não importa. O que importa é que quanto mais, melhor. Mas isso parece estar longe de acontecer.

— Toma isso. – Duda me entrega um papel bem dobrado com a folha cor-de-rosa de seu caderno. Parece um bilhete. — Leia depois.

Quando as duas saem eu vou para o vestiário, onde tiro o uniforme, tomo uma ducha gelada, tomo água e coloco minha roupa limpa de antes. Aproveito que estou sozinho – por ser um dos últimos – e resolvo dar uma olhada no bilhete que a Maria Eduarda me entregou minutos antes.

No bilhete ela pede que eu me encontre com ela no bar da esquina, perto do colégio, pois precisarmos ter uma conversa séria.

Fico tenso no mesmo instante.

O que será que ela quer?

Sinto pavor só de pensar que ela possa sugerir que... Não quero nem pensar nisso! Talvez ela finalmente tenha decidido me dar uma chance e quem sabe até a gente termine a noite juntos, em uma cama.

Atravesso o portão do colégio com pressa, morrendo de curiosidade. Encontro com a Duda onde ela marcou, em uma mesinha no canto, na parte de fora do bar, onde ela está bebendo um suco de laranja.

O bar é tão pequeno e decadente, que antes mesmo do céu escurecer já está cheio de bêbados em volta. O tipo de lugar que meu pai frequenta, mas que não imaginei que a Duda pudesse pisar ali alguma vez na vida.

— Sente-se. Fique a vontade, Rafael. – ela sorri torto e eu me sento na cadeira de frente a ela ao deixar minha mochila no chão. Estou começando a suar frio. — Você veio rápido.

— Pois é. Estou curioso! – sorrio ainda mais, colocando meus cotovelos sobre a mesa velha. — Sobre o que você quer conversar?

— Sobre nós. – ela é bem direta, não está tímida nenhum pouco. Posso dizer que o sorriso diabólico dela me assusta um pouco. — Na verdade, é só um pedido. – ela pausa e eu arqueio uma sobrancelha em sua direção, lançando-lhe um olhar para que ela continue a falar. — Eu quero que você pare de falar com a Gabriela.

Não consigo me conter e solto uma gargalhada alta, chamando a atenção de dois senhores bebendo próximos a nós em uma mesa mais atrás.

— O quê? Acho que não ouvi direito. – eu estou rindo, mas ela parece bem brava nesse momento. Mas não me intimido. Ela é só uma garota cheia de poses que não vale nada, assim como eu. — Como assim...?

— É isso mesmo que você ouvi. Eu não estou de brincadeira! – ela passa a me olhar com os olhos cinza enfurecidos e mandíbula travada. — Pare de se engraçar com ela ou...

— Ou o quê? – interrompia-a, sorrindo de lado. — Vai terminar comigo? – rio outra vez. — Nós nem somos namorados, Duda. Nós não somos nada, se você quer saber. Estamos apenas ficando. Quem você pensa que é para me dar ordens?

Entreolhamos-nos raivosos por alguns segundos.

— Sou a sua namorada! - ela praticamente grita e eu sobressalto sobre a desconfortável cadeira velha de madeira.

Dou risada outra vez. Mas agora uma risada mais curta e logo volto a ficar sério. Achando aquilo tudo uma louca. Acho que estou tendo um pesadelo horrível. Nesse momento eu só quero acordar.

Garota maluca!

— Ou você quer que eu saia contando para todo mundo que seu pai é um bêbado e que no passado chegou a bater várias vezes na sua mãe na sua frente? E o mais incrível é que mesmo depois de tudo isso ela continua com ele, cuidando dele, aturando ele e a você também!

Fico assustando com tudo que ela acabou de dizer.

— O quê? Mas como você sabe de tudo isso? – olhei fixamente para ela, contrariado. Mas agora era a vez dela sorrir. — Isso é mentira! Você está blefando! E mesmo que fosse verdade, você não teria coragem...

— Você tem certeza? – ela me interrompeu, depois rio. — Ah, Rafael. Você realmente não me conhece. E isso é só o começo. Porque eu sei de muito mais. – ela ria como uma megera. — Ou você se finge de meu namorado a partir de agora ou todo mundo vai saber a verdade sobre você. E imagine só o que as pessoas diriam se soubesse que o garoto mais bonito e mais cobiçado do colégio esconde um grande segredo familiar?

Eu não tinha escolhas. Eu não tinha saídas. Eu deveria ter ouvido a Bianca. Ou a infeliz da Gabriela. Agora era tarde. Eu estava nas mãos daquela garota diabólica e tudo que ela sabe sobre mim. Eu sei que não deveria ter vergonha dos meus pais, da minha família, da minha vida longe do colégio e das festas. Mas eu tenho. E foi por isso que eu tentei esconder isso por tanto tempo. Não é agora que vai ser diferente.

Eu não quero que ninguém saiba sobre o meu pai.

Ninguém.

***

Pelo visto eu sou o ultimo que ficou sabendo que o meu melhor amigo está namorando a Maria Eduarda. Mas essa não é a maior surpresa. A maior surpresa nisso tudo é que eu nunca – nunca mesmo – pensei que o Rafael chegaria a esse ponto. É até engraçado. Eu pensei que iria morrer, mas que nunca iria ver algo assim: ele tendo algo sério com alguém.

Ela é bonita, eu admito. Bonita até demais. Qualquer um se sentiria sortudo no lugar dele. Mas fala sério, o Rafael já ficou com tantas garotas bonitas nessa vida. Porque ele escolheria justamente ela? Eu ainda não sei. Mas quero ouvir isso diretamente dele e não dos outros.

Nós somos amigos, não somos? Porque ele esconderia isso justamente de mim? Porque de repente eu tenho a sensação de que estou sendo passado para trás pelo meu melhor amigo? Porque eu acho que a nossa amizade nunca será mais a mesma?

Estaria eu com ciúmes? Não, isso não pode ser. Mesmo que ele nunca tenha dito que apoia totalmente o meu namoro com a Natália, ele também nunca foi contra e nunca disse nada desagradável a respeito. Às vezes a gente brinca, ele me diz que não tenho mais tempo para ele ou que eu o esqueci. Talvez só agora eu entenda exatamente o que ele quis dizer com isso.

Procurei o Rafael à manhã inteira por todo o colégio. Saí andando para todos os lados e perguntei por ele para um milhão de pessoas. Todos o conheciam, mas não sabiam onde ele estava. Ele também nunca foi de faltar, mesmo não sendo um exemplo de bom aluno.

Ao entrar na sala de Informática depois do intervalo eu me deparei com a Maria Eduarda. A única que estava ali, já sentada em seu lugar na primeira fileira, esperando pelos outros e pelo professor. Não sabia que ela era uma aluna tão aplicada e fiquei um tanto surpreso por ela não estar nem com sua mais nova melhor amiga, a Tatiana.

Eu ia sair dali para procurar o Rafael na quadra, antes mesmo que ela pudesse me ver, quando me lembrei que nesse momento talvez ela fosse a pessoa mais indicada para me ajudar a encontra-lo.

— Duda? – a chamei, aproximando-me devagar. Ela ergueu os olhos claros de um azul acinzentado na minha direção.

— Oi, Pedro. – ela sorriu para mim, passando uma mecha do cabelo solto e dourado para trás do cabelo.

Nós não somos muito de nos falar. Na verdade a gente só se vê mesmo no colégio e em algumas festas. E só nos cumprimentamos mesmo por educação. Mas sempre que ela se aproxima para puxar conversa, sinto umas sensações estranhas, me sinto até um tanto incomodado. Talvez seja porque ela olha muito para mim, até mais do que deveria. Sorri demais, meche muito no cabelo e fica muito perto quase como se quisesse insinuar alguma coisa que eu ainda não captei. Eu posso até sentir seu perfume doce e o sabor de seu hálito. Eu não sei se ela sabe se eu tenho namorada ou se ela se faz de desentendida.

Talvez sejam só coisas da minha cabeça.

— Por acaso você sabe onde tá o Rafael? – pergunto, sentindo-me inteiramente desconfortável por estarmos sozinhos naquela sala. Afinal, onde estava o resto do pessoal da turma?

— Hum... Não. – ela respondeu, ao se levantar. — Faz um tempinho que não o vejo. – ela caminha até mim. Fico tenso. Qual era a necessidade daquilo? — Por quê? Será que eu poderia te ajudar em alguma coisa?

Eu poderia até ter considerado aquela ultima pergunta, se ela não tivesse me olhando cheia de segundas intenções, enrolando uma mecha do cabelo claro no dedo e sorrindo torto, olhando-me como se estivesse avaliando alguma hipótese.

— Ah, não. Esquece. Deixa pra lá. Não é nada. – tento sorrir, antes de deixar aquela sala praticamente correndo o mais rápido possível.

No final do corredor cruzo com o Rafael enfim. Quando me ver ele tenta disfarçar, quase como quem está fugindo de algo e tenta dar um passo pra trás quando eu o alcanço, e o empeço.

— Qual é, Rafael? Tá fugindo de mim? – pergunto bem humorado. Apesar de ele estar agindo bem estranho. — Isso tudo é só porque agora você está namorado a Duda e não me falou nada?

Não era como se ele me devesse alguma explicação, mas poxa, ele pelo menos deveria considerar a nossa amizade de anos.

Somos quase como irmãos.

— Ah, você ficou sabendo é? – ele perguntou, enfim olhando-me nos olhos. Ele sorriu também. — Pois é. Eu só não sabia como falar sobre isso com você. Se é que você me entende. – eu tive que rir.

— Claro que entendo, amigão. Mas não precisava falar muito, mas pelo menos me avisar que você tinha mudado. Não custa muito, não é?

Rimos juntos.

— Você tem razão. Foi mal. – ele deu de ombros, indiferente. — Mas agora que você já sabe, isso não é mais um problema.

— Não, não é. Eu só... Ainda não consigo acreditar nisso. – eu ri de novo. — O que deu em você? Porque mudar assim tão de repente? Você gosta mesmo dela? Eu nunca pensei que...

— Não. – ele me interrompeu. — Não é bem assim. É tudo muito novo pra mim ainda. Eu não sei nem o que pensar sobre isso. – impressão minha ou ele não estava tão feliz quando deveria? — Mas também não quero ficar conversando com você sobre isso como se fossemos duas menininhas.

Dito isso ele bagunçou o meu cabelo por eu ser alguns centímetros menores que ele, como de costume. E passou o braço sobre o meu ombro, conduzindo-nos para a nossa próxima aula juntos: matemática.

***

Durante o intervalo percebi que o mundo a minha volta parecia estar no mudo. Eu não conseguia ouvir ninguém, nem mesmo os meus próprios amigos. Eles tagarelavam sem parar sobre algum assunto qualquer e a única coisa que eu conseguia sentir era a insistência de meus olhos querendo se fechar... Bem devagar. Por mal ter conseguido dormir noite passada.

Cheguei a casa por volta das três e meia da manhã. Maria Eduarda ainda estava me ameaçando com os segredos da minha família e acabou praticamente me obrigando a ir com ela em uma festa do outro lado da cidade de um pessoal que ela tinha acabado de conhecer no curso de inglês.

Nunca antes me senti tão mal por estar em uma festa. Não que não estivesse divertida. O pessoal parecia bem legal, a musica tocava alto, havia muitos tipos de bebidas e garotas assanhadas dando em cima de qualquer garoto. Basicamente tudo que se encontra em uma festa hoje em dia. O problema é que eu estava sozinho, mesmo acompanhado por minha mais nova namorada de mentirinha, a Duda, e sua melhor amiga, a Tati.

Não preciso nem dizer que meus amigos nem sabiam da existência daquela festa. Muito menos foram convidados. Duda também não permitiu que eu os convidasse. Foi tudo muito chato. Não só porque eles não estavam presentes, mas também porque eu fui praticamente descartado pela maluca da Duda, enquanto ela dançava sem parar com a Tati.

Sem contar que toda vez que eu ia levantar para pegar uma cerveja ou dar uma volta para conhecer melhor o pessoal, ela me olhava de jeito mórbido, como se fosse capaz de me matar apenas com um olhar. Com esse olhar ela meio que queria dizer sem exatamente abrir a boca: “Nem ouse a se levantar daí. Fique sentadinho, enquanto eu me divirto. Ou eu acabo com você em um piscar de olhos.” Eu já a conhecia o bastante para temê-la.

Fiquei sentado à noite inteirinha, esperando ela se divertir com os novos amigos. Ainda tento entender porque diabos ela fez tanta questão que eu fosse. Para rir da minha cara ou me exibir como seu mais novo troféu para as amigas? Porque na verdade eu estava me sentindo um daqueles cãezinhos pequenos que ficam amarrados por ter feito algo de errado.

É, eu estava na merda. Literalmente.

Agora estou aqui, no colégio contra a minha própria vontade, morrendo de sono, me sentindo cada vez mais distante dos meus amigos e o próprio bichinho de estimação da Maria Eduarda que por sorte hoje resolveu ficar em casa dormindo. Vocês não fazem ideia do quanto eu odeio essa garota. E eu que pensei que ela era um anjinho.

Levanto-me quando não aguento mais. Todos param para me olhar, como se esperassem alguma explicação. Apenas me retiro, muito calado e sigo em direção ao jardim do colégio, onde deito na grama, debaixo da sombra de uma arvore e fecho meus olhos, para descansar pelos próximos vinte minutos de intervalo. Eu nunca quis tanto dormir por anos.

— Então é mesmo verdade? – ouço uma voz despertando-me. Abro meus olhos com dificuldade e vejo os olhos inconfundíveis da Gabriela sobre os meus. — Você está mesmo namorando a vadiazinha caipira? – ela soltou uma gargalhada sádica. — Eu ainda não consigo acreditar! Você, Rafael Cardoso, que passou metade da vida correndo de relacionamentos sérios agora está caidinho pela loirinha caipira. Isso só pode ser brincadeira!

E ela continuou rindo, irritando-me de um jeito que eu cheguei muito perto de sufoca-la com as minhas próprias mãos.

Ela tinha que ser sempre tão intrometida? E porque diabos ela resolveu me tirar esse momento de paz para falar justamente disso? Que tipos de problemas mentais a Gabriela tem afinal? Garota maluca!

— Sai fora, Gabi. – praticamente rosno, já sem paciência. — Me deixa em paz, tá legal? Eu estou muito cansado. E meio sem tempo pra você.

— Pelo visto a noite de ontem foi espetacular. – ela continuou, ignorando a todos meus pedidos anteriores. Sorrindo diabolicamente.

Antes que eu pudesse abrir a minha boca para sugerir gentilmente que ela se retirasse do meu espaço antes que eu resolvesse agir sem dó ou piedade, o sinal toca, dando fim ao sossego que eu tanto desejei.

Levantei-me em um pulo e andei apressadamente para a próxima aula, onde muito provavelmente eu poderia deitar minha cabeça sobre a mesa e dormir como um anjo.

Por Deus, isso não é pedir demais, não é mesmo?

Enquanto isso a doida da Gabriela continuava a me perseguir, gritando loucamente pelo corredor cheia de provocações. Irritando-me ainda mais, minha cabeça estava muito perto de explodir. Sorte a dela e principalmente sorte a minha a Duda não estava presente no colégio essa manhã ou iria acabar com a raça de nós dois. Disso ninguém duvida.

***

Natália estava agindo de um jeito muito estranho comigo ultimamente. Como se estivesse me evitando a todo custo. Na verdade, de repente todo mundo resolveu agir bem estranho. Não só comigo e sim em relação a tudo.

Ou isso são só coisas da minha imaginação?

Primeiro a minha irmã pirou, depois a Bianca mudou radicalmente de estilo e voltou a ficar com um amor do passado, o Felipe começou a ficar mais soltinho e bem mais falante, a Luiza assumiu seu namoro com outra garota, meu melhor amigo está namorando e agora minha namorada está cada vez mais distante. Mas não é como se fosse à primeira vez. Digamos assim que o nosso namoro é bem mais complicado do que parece.

Se tratando de amor as coisas deveriam ser mais fáceis, vocês não acham?

Na real não é bem assim.

Eu não poderia simplesmente fingir que nada estava acontecendo, mesmo que ela evitasse conversar abertamente comigo seja lá por quais motivos ela se afastou de mim desde que dormimos juntos na noite da festinha do Felipe. Particularmente considero aquela noite uma das melhores do nosso relacionamento. Foi intensa, repleta de amor, paixão e companheirismo e nos completamos de uma forma que poucas vezes acontece sem alguma interferência.

Na tarde de hoje ela havia saído mais cedo do colégio, alegando estar se sentindo mal. Mas ela também não quis me dizer o que exatamente estava sentindo, apesar de toda a minha preocupação. Ligaram para a mãe dela e em minutos ela foi para casa, para descansar melhor.

Eu pensei em ligar diversas vezes, só para saber o que estava acontecendo. Eu, mais que qualquer um, tinha o direito de saber. As poucas vezes que liguei ela não me atendeu, mas também resolvi não insistir tanto, certo de que ela precisava descansar para ficar melhor.

Não parecia ser nada muito grave, pelo que eu soube dos outros. Foi só um mal estar e logo lá estaria bem novamente. Pelo menos, assim espero.

Ainda assim não deixei de me preocupar e mal conseguir prestar atenção nas ultimas duas aulas com os pensamentos longe.

Não pensei duas vezes em dar uma passadinha em sua casa depois da aula, para ver de perto como as coisas estavam. Mas acabei me surpreendendo bastante, quando dei de casa com a Maria Eduarda quase em frente à casa da Natália como se desde o inicio aquilo tivesse sido premeditado.

— O que você tá fazendo aqui?

— Eu? Hum... Nada. Só estava meio perdida.

Não sei por que, mas algo no olhar dela me impedia de acreditar em suas palavras.

Para piorar ainda mais a situação, eis que a Tatiana praticamente brota do chão, toda eufórica, correndo em nossa direção com os braços pra cima, como se tivesse acabado de encontrar um baú de tesouros.

— Duda, você não vai acreditar. Acho que descobri...

Ela não terminou a frase tão cheia de mistérios quando me viu parado ali, muito confuso, olhando para as duas em busca de explicações.

— Nós temos que ir. – Duda resolveu agir primeiro, evidentemente embaraçada com o que acabo de presenciar. A loira puxa a morena pelo braço, arrastando-a para longe dali. Mas eu sou muito mais rápido.

— Será que você pode me explicar o que tá acontecendo aqui? – pergunto, olhando dentro dos olhos nebulosos dela.

A aquela altura a Tatiana correu para bem longe dali como se eu fosse capaz de persegui-la e mata-la friamente, deixando Maria Eduarda sozinha para trás para se resolver comigo.

— Eu já disse: eu estava meio perdida. E no desespero por não conseguir encontrar o caminho para casa, já que sou nova por aqui, eu liguei para a Tati, para ela vir me buscar aqui. – ela explicou praticamente tropeçando nas próprias palavras. — Mas é isso.

Tá, ainda não me convenceu. Mas aquilo também não era da minha conta.

— E você pelo visto veio ver com a sua namoradinha está. – ela lançou um olhar para a casa da Nati mais a frente e eu me perguntei como ela sabia que ela morava ali se tinha acabado de me dizer que era nova e estava meio perdida por aqui. Apesar de está bem mais confuso agora do que antes, não pudesse de deixar de notar o tom de voz que ela usou para dizer “sua namoradinha”.

— É isso que os namorados fazem, não é mesmo? – rebati, fazendo-a voltar a me olhar de um jeito bem peculiar.

— Você é tão tolinho, Pedro. Eu esperava que você fosse mais inteligente. – ela riu e eu continuei sem entender absolutamente nada. — Você ainda não se deu conta, não é? Não se deu conta de que a sua namorada não gosta tanto de você quanto gosta de uma de suas amigas.

Ouvir aquilo só me fez ter a certeza do que eu já deveria ter suspeitado: Maria Eduarda é venenosa, perigosa e cruel. E eu estou longe de querer por perto pessoas assim como ela. Pessoas que desejam o mal para as outras.

— Não fale da minha vida, das nossas vidas, como se você nos conhecesse o bastante para dizer o que bem entender.

Dito isso abri o portão da casa da minha namorada e entrei, deixando aquela cobrinha falando pelos cotovelos. E só quando parei em frente à porta da Nati - antes mesmo de bater - que eu pensei na furada que o meu amigo Rafael havia se metido ao aceitar namorar aquele tipinho de garota.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam do namoro da Duda com o Rafa? E o interesse dela pelo Pedro? Comentem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Todos Iguais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.