Todos Iguais escrita por Mi Freire


Capítulo 18
Gabriela e Natália


Notas iniciais do capítulo

*Lembrando que sempre que o capítulo for dividido entre dois narradores, o primeiro nome do título será sempre o primeiro a narrar. No caso, agora, começa pela Gabi. Assim fica mais fácil.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/530365/chapter/18

Acordei no outro dia e quando olhei para os lados vi que estava sozinha em uma cama de hospital ligada a aparelhos médicos. Eu não sabia dizer como exatamente havia chegado ali. E nem quem poderia ter me ajudado. Mas tinha a leve impressão de ter escutado a voz do Rafael, bem distante. Ou eu estava alucinando novamente, como nas ultimas horas.

Eu não saí de casa só porque queria chamar a atenção. Eu saí de casa porque realmente precisava de um tempo. Eu não poderia suportar conviver de baixo do mesmo teto daquela mulher que se dizia minha mãe sabendo que ela estava se deitando com outro homem na mesma cama que ela divide com o meu pai todas as noites, apesar de todos os altos e baixos do casamento deles. E também, estava cansada do balde de gelo que meus amigos estavam jogando na minha cabeça todos os dias só para me punir de algo que eu não me arrependo, mas que reconheço ter pegado pesado.

Saí de casa apenas com a roupa do corpo, sem nem pensar onde eu poderia ficar por um tempo. Eu não tinha um plano. Apenas agi por impulso, cansada de tudo a minha volta. Mas deixei um bilhete, para tranquilizar o meu irmão que no momento é o único com quem me importo, além do coitado do meu pai que vem sendo traído e nem sabe disso.

Eu seguia tranquilamente pelas ruas movimentadas da cidade naquela tarde nublada após o colégio quando me deparei com o Augusto e seus amigos pelo caminho. Por um momento fiquei feliz por serem eles ali e não os meus amigos que poderiam arruinar os meus planos. Augusto e seus amigos vinham me tratando muito bem ultimamente, quase como se estivessem me acolhendo quando eu mais precisava. Não pensei duas vezes quando ele sugeriu que eu fosse com eles a um lugar.

Era uma espécie de galpão abandonado onde eles escondiam suas mercadorias, em um lugar bem distante da minha casa. Isso pra mim já era ótimo, assim ninguém me encontraria tão facilmente. Fiquei de longe, apenas descansando após aquela longa caminhada, enquanto Augusto e seus amigos davam risadas e fumavam maconha.

Eu estava muito quieta ainda refletindo sobre as minhas atitudes – o que não é comum e nem normal para mim – quando Augusto e seus amigos se aproximarem e sentaram-se ao meu lado. E assim começaram a perguntar o porque de eu parecer tão para baixo. Pensei por alguns segundos antes de contar meus verdadeiros motivos para estar ali.

Augusto disse que ali eu estaria segura e poderia ficar o tempo que fosse necessário, o que me deixou verdadeiramente feliz. Pelo menos agora eu tinha um lugar, eu tinha novos amigos, novas companhias e distrações. Não sabia por quanto tempo ficaria ali, mas previa que seria bastante tempo até eu ter coragem de enfrentar os problemas da minha vida.

Já estava escuro, o lugar tinha pouca luz e caia uma garoa fina lá fora, quando Augusto me levou até uma salinha nos fundos e disse que eu poderia dormir ali, já que era mais quentinho e reservado. Ele até me arrumou um cobertor velho, mas que serviria para amenizar o frio daquela noite. Peguei o tal cobertor e voltei para perto dos outros que ainda fumavam e conversavam, agora também tomando cerveja. Eu me uni a eles, bebendo e fumando meu último cigarro. Até que eles me oferecem algo novo, algo que eu nunca tinha experimentando e nem visto em toda minha vida.

Eu poderia muito bem não aceitar, até porque eu desconhecia aquele pozinho branco, não sabia as consequências que aquilo me traria e também ninguém me obrigou a nada. Mas por outro lado eu não tinha nada a perder naquele momento, nada para fazer e estava me sentindo muito sozinha mesmo rodeada de gente nova que eu acabara de conhecer.

— Se você está com problemas, esse é o remédio certo. – disse Augusto, com um sorriso largo no rosto. Eu adorava a sardas ruivas espalhadas por seu rosto pálido. — Isso – ele sacudiu o saquinho em mãos, deixando o pó branco em evidencia. — vai te ajudar a esquecer o que você quiser, vai amenizar a sua tristeza e os seus problemas.

Naquele momento, aquilo era tudo que eu queria: esquecer-me de tudo, nem que fosse só por uma noite. Eu estava sem amigos, agora sem mãe, sem família, sem um lar e sem rumo. Não me pareceu nada mal pelo menos experimentar, saber se eu realmente poderia esquecer tudo só por causa de um pozinho branco sem graça.

— Passa isso aí. – pedi. — Vamos ver se isso realmente funciona.

De inicio não funcionou, não obteve nenhum efeito sobre mim. Eu até arranquei gargalhadas de todos quando disse ao Augusto que ele me fizera uma propaganda enganosa. Então continuei a experimentar tudo que via pela frente, por curiosidade e também desejando que funcionasse. Usei tudo o que eles também estava usando e parecia ser normal, natural.

Até que por volta das onze da noite, quando boa parte do grupo já tinha ido embora para suas casas, de volta para suas famílias eu comecei a me sentir ainda mais solitária, ainda mais imprestável e problemática. Eu comecei a chorar, reclamar da vida e o Augusto me abraçou, sendo bem educado comigo e também bem prestativo em me ajudar.

Por fim ficamos só eu e ele naquele galpão fedorento e abandonado, no mesmo estado em que eu me encontrava horas depois. Não sei bem quando tudo aconteceu, mas de repente eu comecei a me sentir meio tonta, não sabia se ria ou chorava, comecei a ver coisas, a alucinar, a ter pena de mim mesma por ser tão imbecil ao ponto de achar que usar drogas era a melhor opção naquele momento.

De repente eu não vi mais nada, caí dura feito pedra no chão frio. Não sabia se estava dormindo, tirando apenas um cochilo ou cansada. Só não conseguia raciocinar muito bem e nem mover o corpo. Senti apenas quando o Augusto fez o maior esforço para me pegar nos braços e me levou até a salinha nos fundos, me cobriu com o cobertor velho que ele me arrumou e me deixou ali, apagando todas as luzes ao sair.

Inconsciente ou não – eu não sabia ao certo - comecei a pensar que o Augusto até poderia ser um garoto que se envolve com coisas erradas com tão pouca idade e que poderia ter feito o pior comigo, já que nem me mexer eu conseguia. Mas ele não fez nada comigo, nem me obrigou a nada, de certa forma ele só me ajudou. Eu, na verdade, era a única culpada por tudo que estava acontecendo comigo.

Fiquei desacordada por longas horas que mais pareciam anos, mas nenhuma droga existente me faria esquecer completamente tudo que me afligia nos últimos dias.

***

Foi um alivio e tanto quando o Rafael entrou em contato com a gente pelo grupo no WhatsApp e disse que havia encontrado a Gabriela, mas que agora estava a levando as pressas para o hospital mais próximo.

Deixei o Lucas com o Leandro que estava nos fazendo uma visita aquela noite mesmo sendo tão tarde - já que ele é de casa, pai do meu irmão e melhor amigo da minha mãe – e fui correndo para o hospital, onde encontrei o resto do pessoal na sala de espera.

O Pedro e a família estavam falando com o médico e só alguns minutos depois ele se aproximou para nos dar informações. Por um lado ele parecia bem melhor agora que irmã havia sido encontrada pelo melhor amigo, mas por outro lado ele parecia arrasado por ela estar inconsciente, sobre efeito de drogas, assim como explicou o medico. Mas ele garantiu que ela acordaria a qualquer momento e ficaria bem melhor após uma serie de cuidados. No momento teríamos que esperar.

Ao meu lado o Felipe parecia bem nervoso ou ansioso, mexendo as pernas e roendo as unhas da mão. A minha frente o Rafael olhava para o nada, meio pensativo, enquanto a Bianca o abraçava de lado, com a mesma expressão. Estávamos todos bem orgulhosos dele. O Pedro e sua família ainda tentavam obter mais informações sobre a Gabriela com as enfermeiras pelo corredor. E por fim a Luiza, não muito longe dali, digitava distraidamente e rapidamente algo em seu celular.

Com quem ela poderia estar falando a àquela hora?

A uma e meia da manhã o Pedro voltou a se aproximar e todos nós voltamos os olhos curiosos para ele.

— Galera, obrigado por estarem todos aqui. Mas não há previsões que a Gabi acorde essa madrugada. Então, por favor, vão para suas casas, descasem e assim ela acordar eu aviso vocês.

Boa parte de nós assentiu e se levantou, se despedindo do Pedro com um abraço, algumas palavras de conforto e apertos de mão.

Eu fui a ultima da fila, dando-lhe apenas um abraço e um sorriso.

Naquela noite mal consegui dormir, pensando no quanto eu gostaria de poder estar ao lado do Pedro em todos os momentos que ele precisasse de mim, ou de alguém. Coisa que parecia impossível. Não só por ainda estarmos brigados depois daquele mal entendido, mas que também às vezes a minha presença seria apenas mais um incomodo. E a ultima coisa que eu queria era ser um peso a mais em sua vida conturbada.

Às três da tarde daquele sábado o Pedro enviou uma mensagem de texto dizendo que a Gabriela enfim havia aberto os olhos. Tomei um banho quente, vesti um jeans qualquer, um moletom branco estilo canguru e meu All Star. Deixei os cabelos curtos e vermelhos soltos mesmo, colocando apenas uma presilha na lateral. Passei um pouco de maquiagem, peguei meu celular, o RG e enfiei tudo no bolso da blusa de frio.

Cheguei ao hospital e encontrei o Pedro e o Rafael conversando baixinho na sala cheia de espera. Os demais ainda não estavam presentes, sendo assim me aproximei, com certa cautela. Os dois ergueram o olhar na minha direção e eu sorri sem jeito.

— Eu vou ver com ela está. – anunciou o Rafael, levantando-se e depositando um beijinho na minha bochecha antes de se afastar.

Sentei-me em seu lugar, ao lado do Pedro. Ele não disse nada, muito menos eu. Estávamos muito distantes ultimamente. Não tínhamos conversado desde aquele dia em que ele disse que queria ficar sozinho, no mesmo dia em que a Gabi havia sumido. Aquele ainda não parecia ser o momento certo para ter aquela conversa, mas eu não aguentava mais adiar.

Não queria me sentir tão desconfortável perto do meu namorado.

— Pedro, acho que precisamos conversar.– disse, sem olhar diretamente para ele. Estava fitando as minhas unhas, descascando ainda mais o esmalte claro das minhas unhas curtas. — Eu quero concertar as coisas entre nós. Por favor – suspirei fundo, reunindo coragem para olhar para ele. — me escuta, ta?

— Não, Nati. Agora não, por favor. – ele me encarou de volta, os olhos verdes frios e duros sobre mim. — Você não percebe que a minha vida está uma confusão? A minha irmã poderia ter morrido, se não fosse pelo Rafael. Agora eu só quero que as coisas fiquem bem e voltem ao normal. As coisas que realmente me importam. Acho que essa conversa entre nós pode esperar por mais algumas horas, ou por alguns dias.

Antes que eu pudesse protestar, contrariada por ele ter praticamente dito – não diretamente – que o nossa crise não era importante, os outros resolveram chegar naquele momento, bombardeando-o com perguntas sobre a melhoria do diagnostico da Gabriela.

***

Eu só queria sair dali logo. Não suporto me sentir inferior, a coitadinha, a doente, a problemática, a drogadinha que necessita de cuidados, da piedade dos outros. Sinto vontade de vomitar quando me olham daquele jeito, cheios de pena, como se eu fosse um caso perdido.

Não houve escolhas. Eu precisei ficar ali, naquele quarto deprimente todo branco, ligada a aparelhos, durante o dia inteiro e comendo aquela sopinha horrível de hospital. Além de ter que suportar as enfermeiras entrarem no quarto de cinco em cinco segundos só para perguntar se eu me sentia bem, tive também que receber visitas. Não só da minha família, como também das pessoas que se diziam meus amigos.

Nunca vi o Pedro tão preocupado e prestativo comigo, meu pai por outro lado parecia estar em um funeral – o meu funeral – sempre com lágrimas nos olhos enquanto passava a mão no meu rosto, a minha mãe me deu varias broncas e eu não queria nem olhar pra ela. O Rafael quando entrou no meu quarto pela primeira vez só faltou se ajoelhar ao pé da cama e me pedir em casamento. Soube que foi ele quem me encontrou e me trouxe a esse lugar, acho que ele nunca se achou tanto. Teve também a visita do Felipe, que me olhava de um jeito estranho, sem dizer nada, quase como se estivesse olhando para um bebê que acabara de nascer, os olhos cheios de paixão. A Natália também entrou no meu quarto, já ela foi à única que não fez eu me sentir tão esquisita. Bianca e Luiza apesar de estarem lá fora – eu ouvi boatos – não se deram ao luxo de entrar. Agradeci mentalmente.

Nunca em quinze anos tive um final de semana tão horrível.

Recebi alta no domingo à noite. O médico – aquele senhor patético sem cabelos – me fez prometer que nunca mais usaria drogas e deixaria minha família tão preocupada. Prometi a ele só para me ver livre dali logo, mas não é como se eu tivesse tanta certeza disso.

Eu estava melhor, de saúde, mas ainda muito brava com todos. Sendo que eles quem deveria estar bravos comigo. Mas isso não importa, eu ainda não perdoei meus amigos pelo mal que me fizeram nas semanas anteriores e nem sei se algum dia vou poder perdoar a minha mãe.

Ser considerada uma doente era bom e ruim. Bom por estar recebendo tudo na mão, de uma hora para outra meus pais resolveram ser os melhores pais do mundo, me dando até comida na boca. Meu irmão estava disposto a fazer tudo que eu pedisse, até se jogar da janela. O lado ruim é não ter mais privacidade e nem a confiança de ninguém. Como se quando eles fossem me deixar sozinha, eu fosse pegar algo cortante e enfiar na minha própria pele até o sangue jorrar para todos os lados.

Isso não é brincadeira.

Eu definitivamente estou ferrada. Acho até que meus pais vão me mandar para um internato longe daqui de segurança máxima. Ou para um convento ou me trancar no alto de uma torre pelos próximos mil anos.

— Eu sei que você precisar descansar – Pedro sentou-se na minha cama, quando papai e mamãe enfim resolveram me deixar em paz. — mas eu realmente preciso saber por que você fez isso, Gabi.

Revirei os olhos impacientemente. Mas isso só se agravaria ainda mais se eu ficasse de bico fechado, reclusa a conversar. Então decidi que aquele era o momento certo para se abrir com o meu irmão. Provavelmente o meu único e melhor amigo para toda a vida.

— Fecha a porta. – pedi a ele, ajeitando-me sobre o meu colchão. Já de pijama, o cabelo amarrado e com o meu cobertor favorito.

Lá fora estava um frio tremendo.

— Pedro, o que eu vou dizer agora vai destruir a nossa família. – começo, olhando dentro dos olhos dele. Meu irmão é tão lindo! Como ele consegue ser assim até mesmo com aquela ruguinha no meio da testa indicando que ele nunca esteve mais curioso? — Mas já que você quer saber, eu vou contar. Eu preciso contar!

— Caramba, Gabriela! Fala logo, você está me deixando assustado. – ele pediu, impaciente. Eu ri, achando uma gracinha. Mas logo me recompus, voltando a ficar sério. Aquilo é grave e não é hora de brincadeiras.

— Pedro, eu não saí de casa só porque estava chateada com vocês, especialmente com você ou porque estava apenas cansada de tudo isso. Eu não queria só um tempo longe de tudo. A verdade é que eu não queria ter que olhar mais para a mamãe. Nunca mais. – essa confissão o fez ficar ainda mais bonitinho, com o cenho franzido e os olhos grudados nos meus. — Alguns dias atrás quando eu cheguei em casa e pensei estar sozinha, eu não vi e nem ouvi ninguém, então subi para o meu quarto. Mas antes que eu pudesse chegar até a minha porta eu vi a mamãe praticamente nua... Com outra cara. – o queixo dele caiu e os olhos se arregalaram. — Não, você não entendeu errado, Pedro. A mamãe anda traindo o papai. É isso.

O silencio que se estendeu entre a gente pelos próximos minutos começou a me deixar muito preocupado. Agora que ele também sabia a verdade, não se movia e parecia quase ser ar, achei que ele ia desmaiar ou coisa do tipo. O que seria bem gay. Mas totalmente compreensível.

Além de ter ficado uma fera com a mamãe mesmo ela tentando me enganar com suas desculpazinhas esfarrapas com o que eu tinha acabado de ver, depois que me tranquei no meu quarto aquela noite eu só conseguia chorar, pensando no quanto àquilo parecia injusto com o coitado do meu pai que pode até não ser o melhor do mundo, mas que não merece algo assim. Ou melhor, ninguém merece ser traído de tal forma.

— Pedro, que cara é essa? Não me diga que você vai desmaiar?

— Não! Claro que não! Eu vou é – ele levantou-se, meio desajeitado. Parecendo sem chão. — descer lá em baixo agora e saber que história é essa.

— Pedro, não! – o puxei pelo braço, antes que fosse tarde. — Não faça nada. Prometa! Pedro, pensa só como o papai vai ficar arrasado. Não podemos fazer isso com ele, não assim. Só seria pior.

Fiz uma careta. Ele suspirou.

— Gabi, isso não pode ficar assim. – ele voltou a se sentar, assim eu pude me acalmar mais. — O que vamos fazer então?

— Eu não sei. Não sei! Por enquanto nada. Mas eu prometo que vou pensar em alguma coisa. Essa mulher não vai ficar impune.

***

Durante toda a aula de Física daquela de terça-feira de manhã fiquei me perguntando o que mais o Pedro poderia ter por ainda parecer tão arrasado mesmo quando sua irmã já estava melhor, recuperada. Ela estava até saltitando pelos corredores, alegremente como antes.

Eu olhava para ele á algumas carteiras a minha frente, na fileira do lado, e sentia um aperto no coração com aquela carinha de quem não dorme há dias. Ele estava muito mal, era evidente. Distante e pensativo com alguma coisa. Já não sorria lindamente como antes, os incríveis olhos verdes pareciam cansados e o cabelo preto brilhante estava opaco, quase sem vida. Era impressão minha ou ele também estava mais magro?

Passamos o intervalo inteiro calados. Nós dois. Eu tentava não ficar olhando todo o tempo para ele em busca de respostas silenciosas, enquanto o resto de nós conversava naturalmente. Até mesmo o Felipe parecia bem entrosado, ele que raramente falava. Pedro estava bem na a minha frente naquele instante, tomando seu suco de caixinha.

Quando o sinal para o termino do intervalo enfim tocou, eu tentei alcança-lo antes que ele entrasse na próxima aula. Segurei o pulso dele e ele rapidamente virou-se para mim, sem qualquer tipo de expressão.

— Vamos conversar? – perguntei e para minha surpresa ele assentiu. Despreocupada o guiei até um banco vazio no pátio e ali sentamos perto um do outro para finalmente ter aquela conversa.

— Pedro, se você tá assim porque ainda tem duvidas do meu amor por você, eu só queria que você soubesse que aquilo que você viu naquela na quinta-feira passada entre mim e a Luiza foi apenas um mal entendido. – eu olhava para ele enquanto falava, mas ele não olhava para mim. — Eu amo você. Eu quero estar com você.

Ele ergueu os olhos na minha direção e eu quase parei de respirar por um momento.

— Eu não estou assim por causa da gente. – ele admitiu sério. — Mas já que estamos aqui tendo essa conversa, eu quero que você me esclareça algumas coisas. E dessa vez eu quero toda a verdade, Natália.

Pela forma dura como ele pronunciou o meu nome eu soube que ele ainda estava muito chateado comigo. E a culpa é toda minha.

— O que exatamente você quer saber?

— O que existe entre você e a Luiza, afinal? – ele continuava me encarando de uma maneira negativa. Eu tinha medo de contar a verdade a ele, mas tinha ainda mais medo de perdê-lo por não contar.

Eu tinha duas escolhas, acabei optando pela mais sensata.

— Ela me beijou algumas vezes. Duas vezes, na verdade. Uma delas aconteceu em um passeio pelo parque, antes mesmo da gente... Transar. Você se lembra? Mas Pedro – toquei o braço dele, amedrontada por estar sendo sincera com ele. — nenhuma delas foi especial ou significativa para mim. Não para mim! Eu sempre gostei dela, mas como amiga. Só que pelo visto ela não sente o mesmo. Mas não é como se eu pudesse fazer algo a respeito para ajuda-la. Inúmeras vezes eu tentei dizer a ela que eu amo você, eu gosto de você, que eu estou com você. Mas ela não parece entender isso. No inicio eu já não sabia mais o que fazer além de me afastar, mas agora parece que ela superou isso e já não é tão insistente. Nada mais aconteceu entre nós desde então. Eu juro! Pedro, eu amo você.

— É bom finalmente saber a verdade. – ele finalmente sorriu. Um sorriso bem pequeno, quase inexistente. — Eu queria que você tivesse me contado antes. Teria facilitado muitas coisas. Olha, eu também fui um babaca você muitas vezes. Também peço desculpas por isso. Eu te amo muito, Nati. Muito mesmo. E tenho medo de te perder. Por isso, antes de qualquer coisa quero que você me diga se você gosta dela ou não.

Naquele momento eu entendi que aquela não era uma pergunta simples. Ele não queria saber se eu gostava dela como amiga, mas sim como algo a mais. E pela primeira vez em muito tempo eu tive medo dos pensamentos que rondavam a minha cabeça.

— Não, Pedro. Eu não gosto dela. Não assim, meu amor. – entrelacei meus dedos nos deles e tentei sorrir. — Eu só quero ficar bem com você.

— Eu também quero! É tudo que eu mais quero agora. – vi seus olhos cheios de lágrimas, o que me surpreendeu um tanto. E logo depois ele me pegou ainda mais de surpresa, praticamente se jogando em meus braços e me apertando forte, como se não fosse me soltar nunca mais.

Correspondi ao seu abraço, ficando por um tempo calada sentindo aquela sensação única que era estar com ele.

Como se eu estivesse inteira, agora, com ele comigo.

— Então agora estamos bem? – perguntei quando nos afastamos, com um sorriso de orelha a orelha.

— Sim, agora sim. Nós vamos ficar bem. – ele também sorriu, beijando meus dedos carinhosamente a seguir. — Acho que precisamos voltar para a aula agora. Antes que nos peguem aqui.

— Não, não agora. Não antes de você me dizer o que de fato está te magoando. Não esconda de mim, Pedro! Porque só de olhar para você eu sinto que há algo a mais de errado.

Ele sorriu torto, apertando forte meus dedos finos.

— Eu adoro saber que existe alguém que me conheça tão bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que vocês têm a me dizer sobre esse capítulo? Sobre o envolvimento da Gabriela com drogas? Ou sobre o triângulo amoroso entre a Natália, Pedro e Luiza? Comentem, ta? É importante!