Pelo vidro do carro olhei pela primeira vez o prédio âmbar. Parecia bem mais morto do que meus pais haviam dito. Por que mudamos para esse condomínio mesmo?Lembrei, papai perdeu o emprego outra vez, e nós perdemos nossa bela casa, confortável e toda pintada de azul turquesa no bairro mais bonito da cidade.

Minha mãe é uma pessoa muito boa. Trabalha muito todos os dias cuidando de mim e de meu pai. À noite, quando a cidade toda está em silêncio, eu ouço minha mãe cozinhando e limpando a casa enquanto sussurra uma bela melodia.

Eu nunca achei muito estranho que minha mãe nunca dormisse. Eu achava que era assim que as mães eram… Muito mais que humanas.

Ela nem mesmo reclamou quando o meu pai chegou em casa, e disse que tinha perdido o emprego e precisávamos nos mudar. de novo. Ela aceitou sem nem mesmo uma lágrima, perder tudo aquilo que ela cuidou durante anos com tanto carinho.

O céu estava cinza, combinando com o meu humor. Olhei para o prédio mais uma vez, e suspirei antes de entrar.

–milly, traga suas caixas para o apartamento. gritou meu pai.

–Já vou! Disse eu com certo tom de antipatia na voz. Nossa, às vezes os pais conseguem mesmo ser irritantes.

Minha mãe havia chegado antes, e limpado o apartamento durante a noite, antes do expediente. Ela era incrível, sempre tão trabalhadora.

Enquanto meus pais arrumavam nosso novo lar, decidi dar uma volta pelo condomínio e ver se tinha alguma criança da minha idade para brincar.

Estranho, pensei. Parece que não mora mais ninguém aqui.

– Oi, eu sou o raphael. Prazer em te conhecer.

Virei a cabeça e vi um menino,pouco mais de dois anos mais velho que eu, me estendendo a mão.

– milly, o prazer é meu.

Raphael me explicou que a maioria dos vizinhos não aparecia durante o dia, e ele era a única criança que morava lá, pelo menos até que eu chegasse.

–Mas não se preocupe, os adultos aparecem todos às 9 horas, e passam a noite limpando seus apartamentos e cantarolando uma bela melodia.