Encanto escrita por Odd Ellie


Capítulo 1
Prólogo I - Carta de Valentina para Clarissa




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Minha querida Clarissa,

Como você requereu em nossa partida estou lhe escrevendo para contar que todos nós chegamos em boa saúde na ilha, eu estou feliz de estar aqui, embora isso se dê em grande parte pelo puro alivio de não ter mais que dividir uma cabine com nossas irmãs.

Manuela ficou insuportável durante a viagem, choramingando e reclamando o tempo todo de como o balançar do navio a deixava enjoada, como estava quente demais, cheio demais, que ela queria estar em casa, parecendo bem mais uma criança de cinco anos ao invés de uma moça de dezesseis; no entanto nas duas últimas semanas de viagem quando todos os seus enjôos como um milagre passaram assim que ela conheceu um rapaz que fazia parte da tripulação do último navio que embarcamos para chegar aqui, isso não fez ela deixar de ser insuportável, apenas a mudou para uma nova categoria, porque os suspiros apaixonados dela depois de um tempo se tornaram quase tão irritantes quantos os gemidos de enjôo, e quase todo o seu tempo em nossa presença ela dedicava em falar sobre o rapaz, sobre como ele já tinha viajado, sobre como era engraçado e longas e melosas descrições da aparência física dele, como o sorriso dele é brilhante, como a pele dele é escura, e os seus olhos dourados; A menção dos olhos me deixou um tanto curiosa como talvez te deixe também, pois há um tempo li que há alguns séculos atrás um grupo de elfos de uma das terras além fizeram a travessia nessa região e aqui ficaram por quase uma década e deixaram para trás um número razoável de crianças nascidas da união entre eles e diversos homens e mulheres locais, e como os olhos deles tinham cores incomuns de amarelo e vermelho. Isso me interessou porque eu nunca conheci nenhum praticante de magia élfica, mas Manuela me disse que embora ele seja realmente um dos descendentes que ele não tinha nem um pouco de magia em si, apenas os olhos para encantar jovens viajantes. Quando eu comecei a escrever essa carta ela me perguntou o que eu estava fazendo e eu a informei que estava escrevendo pra você e ela disse que provavelmente vai fazer o mesmo, então em breve você deve receber uma carta com vários longos parágrafos descrevendo floridamente as mãos, os olhos, a clavícula ou qualquer outra parte do corpo do sujeito que ela esteja obcecada no momento (eu posso praticamente ver o sorriso maldoso que você deve ter dado ao ler a última frase, sob circunstancias normais eu te reprovaria pela sua mente suja, mas não me surpreenderia se o relacionamento dos dois evoluísse para aspectos carnais).

Outro motivo pelo qual eu estou feliz pela nossa chegada é que finalmente vamos poder voltar a estudar adequadamente, porque cada um dos capitães das embarcações que viajamos vieram fazer visitas especiais a nossos pais para dizer que eles não aprovam magia sendo feita a abordo e que a qualquer sinal de pratica que eles vissem que nós seriamos convidados a desembarcar no próximo porto sem refundo monetário. É claro que isso não os impediu um deles de vir pedir a nossa ajuda quando uma tempestade forte veio. Essa foi a única vez que eu pude usar magia forte de verdade ao longo da viagem, e francamente a minha parte favorita mesmo que tudo que tudo que eu e Antônia tenhamos feito realmente foi acumular e passar energia para nossa mãe (Manuela para variar não estava se sentindo bem e não pode nos ajudar). Eu tenho um pouco de vergonha de dizer que embora eu conseguisse ver os usos práticos de magia de clima foi apenas depois desse incidente que eu acho que eu entendi porque esse tipo de magia é considerado tão perigoso, e o motivo dos olhares de espanto quando são informados que essa é uma das especialidades de nossa mãe, mas naquele dia vendo os ventos mudando e a maré se acalmando por causa da vontade e ações de nossa mãe eu fiquei bem impressionada.

Antônia provavelmente já te informou a respeito disso, durante um dos dias que vocês se comunicaram no navio ela me perguntou se tinha alguma coisa que eu desejara lhe contar, eu disse que não mas isso foi uma mentira, a verdade é que eu estava com um pouquinho de ciúmes; eu sei que é um tanto infantil mas eu não consigo evitar, eu consigo praticamente ouvir o nosso pai dizendo que magia é um presente dos deuses e eles tem seus motivos para dar habilidades especificas para certos indivíduos, ou da nossa mãe dizendo que se eu não gosto do estado atual das minhas habilidades eu devia simplesmente praticar mais e melhorar, o que me fez pensar por mais tempo do que eu me orgulho de como os deuses são cruéis (ou talvez apenas estúpidos) e como é frustrante como essas coisas vem tão facilmente para ela enquanto eu tenho que me esforçar tanto.

Eu passei os últimos dois meses com isso preso no meu peito, eu entendo os seus motivos para ter decidido ficar e em alguns níveis eu até os admiro, mas eu realmente gostaria que você tivesse vindo conosco.

Amor, Val


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