A única. escrita por Reby Roraito


Capítulo 4
Uma narração sobre Sarah


Notas iniciais do capítulo

Entãão, eu demorei muito pra postar esse capítulo, pois estavam pedindo capítulos maiores. Eu até poderia deixa-lo maior que isso, mas aí demoraria mais, então.. É isso.
Nesse cap. terão trechos em inglês, mas a tradução está na nota final /o/
Boa leitura :3



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–Sarah? Sarah...- O dia começou com a mãe de Sarah interrompendo seus sonhos

–O que? - Gemeu Sarah, virando-se e botando a mão no rosto - Por queeee? - sofreu a adormecida

–Você perdeu o horário, Sarah! Veja as horas! 10:30 da manhã! E eu estou acordando uma menina que era para ter acordado ás 6!

Sarah deu um gemido

–Tá passando mal, Sarah? - Disse a mãe, ainda mal humorada, batendo o pé no chão

Sarah soltou outro gemido

A mãe saiu, e Sarah virou-se de novo, tentando voltar ao sono profundo que estava antes. Quando estava quase lá, sentindo tudo virar, sentindo-se flutuante, só pode ser acordada pela cachoeira fria que inundou sua cama

–Acordou agora? -Disse num tom nervoso e impaciente, Lina, mãe de Sarah.

–Mãe! -Sarah gritou, com a boca aberta, braços para cima

–Levanta e bota sua roupa de cama pra lavar! Nem precisa tomar banho, apenas trocar de roupa. Não precisa agradecer -Lina deu um sorriso sarcástico

***

–"Eleanor Rigby died in the church and was buried along with her name… Nobody came... Father McKenzie wiping the dirt from his hands as he walks from the grave… No one was saved…" Sarah cantarolava enquanto acariciava sua gata .

"...Eleanor Rigby picks up the rice in the church where a wedding has been
Lives in a dream…" -
Sarah cantou um trecho anterior da música

–Sarah? - Sua mãe bateu na porta de seu quarto - Estou saindo, e demorarei no máximo meia hora... Tudo bem?

–Sim, mãe. -Sarah ainda estava um pouco chateada com que sua mãe fizera de manhã. Mas isso já estava passando.

Enquanto a menina acariciava seu felino, lembrou-se de Diana, sua outra gata, diferente de Hallo, que era negra como a noite e continha um olho azul como o céu, e o outro alaranjado como a luz da lua. Diana era branca com manchas marrons, continha o olho como num castanho, sempre foi uma boa companheira, e sempre estava alerta. Certo dia, a gata foi perseguir Sarah que ia para o mercadinho logo perto por ordem da mãe. Quando a filha fora atravessar a rua, a gata foi junto, mas o caminhão não a avistou. E essa imagem traumatiza e roda na cabeça de Sarah cada vez mais. Um choro ameaçou sair em disparada, mas pobre garota, não conseguia chorar. O máximo foram lágrimas escorrer em seu rosto, e depois alguns gemidos.

–Eu sinto falta de Diana... - Sarah disse para Hallo, sua gata - você sente? Ela era uma boa amiga, não? Uma boa gata... Eu sempre a prevenia de tudo que fosse perigoso, assim como faço com vocês, e todos os animais que já tive... Mas acho que ninguém previne a morte... previne apenas se matar, não? - Sorriu Sarah - Mas agora estou morta. Prevenia minha morte desde que Diana chegou. Agora? Já era. - Depois de alguns momentos olhando para a lua pela janela e acariciando Hallo na cama, Sarah voltou a falar e deixar lágrimas escaparem novamente - Eu me perguntava se as coisas poderiam piorar... não que tenham piorado, mas não melhoraram. Não reclamo por isso, agradeço, na verdade. Seria pior se piorasse, não? - Sarah inspirou e expirou o ar, com agressividade - Eu sinto falta de rir até o estômago doer, - a menina olhou para cima, lembrando de sua infância - sinto falta de ir para a escola sem ter que me preocupar com a nota que o professor irá entregar. Eu sinto falta, Sarah, - ela começou a falar consigo mesma, como sempre - sinto falta de antes. Sinto falta de tudo. Sinto falta de nunca sentir falta, sinto falta de ser feliz. - a menina cuspiu as últimas palavras tão involuntariamente, que ficou em choque por apenas um segundo, por ver que tinha botado para fora uma verdade que nem ela mesma sabia. Depois de mais alguns segundos, continuou. - Queria voltar no tempo. Quando eu tinha festas para ir, festas de crianças que nem mesmo me conheciam direito. Ser criança é tão bom. Ser criança é querer se divertir com o que tem, querer se divertir com quem lá for, querer ter amizades de um segundo á amizades de anos.

Depois de quase uma hora, Lina voltou para casa, e viu que sua filha já estava dormindo, sem aparentemente nem tomar banho ou escovar dentes. Apenas deitou e se aprofundou na terra de sonhos.

–O caminho é este... - O sussurro vinha de longe, inundando todo o local aquela voz.

–Mas... -Uma menina pálida de cabelos negros se perdia naquele nada

–O caminho é este... - repetiu a suave voz, um pouco mais nervosa

A menina começou a flutuar, de olhos fechados, a sensação de cair no sono, num sono profundo, no sono mais profundo possível...

–Na... morte? - Sussurrou a perdida menina, com um sorriso leve no rosto, enquanto flutuava como uma folha caindo no chão, mas a menina estava subindo, subindo, e subindo...

Um barulho horrível e repetitivo tomava conta do lugar, parecia... O despertador! Acorde Sarah!

Sarah desajeitadamente desligou seu despertador, que marcavam 6:01 da manhã.

Um leve gemido escapou de Sarah, o ar frio preencheu suas narinas, seus pés nus tocaram o chão gelado, seus pêlos dos braços se arrepiaram ao sentir aquele frio congelante.

–Bom dia - murmurou a funcionária que estava na porta do colégio

Como sempre, por conta da vergonha e timidez, Sarah não respondeu. Saiu andando com passos apertados, olhando para os pés e segurando as alças da mochila em seus ombros.

E de novo, passar por aqueles grupinhos de metidas, de nerds e de o que lá chamavam GA (Garotos(as) Apaixonantes). Sarah odiava isso, se sentia como se todos estivessem olhando para ela, sentia que poderia tropeçar ou fazer algo errado. O pior era quando ela se esquecia como andar, e sentia como se estivesse andando estranho, era péssimo.

–Ouvi falar que Sarah se drogou. - uma menina cochichou para outra

–Sarah? Quem? -a outra respondeu, também em cochicho

a loira, que iniciara a conversa apontou para a Sarah

–Ah... Aquela garota ali? - apontou a morena

–Sim...

–O que?! Usuários de drogas aqui na nossa escola?! - Exclamou, num tom mais alto que um cochicho.

–Xiiiiiiiiiiii! Ela vai ouvir. Sim, é aquela ali... Sempre suspeitei dela. Credo, ela me dá arrepios, que esquisita

E elas cochicharam mais algumas coisas e deram alguns risinhos.

Sarah ficou vermelha, abraçou sua mochila o mais forte possível, juntou as pernas, e quase, quase deixou uma lágrima sair.

Eles me odeiam. Pensou. O que eu fiz pra eles? Por que acham que eu me drogo? Eles me odeiam... Assim como eu me odeio.

Sarah percebeu que havia chegado mais cedo na escola, percebeu que ainda havia pessoas chegando, e percebeu que a funcionária do portão estava distraída, viu o portão aberto, e...

Não, Sarah... Uma voz ecoou na mente da garota, mas só um aviso não foi suficiente. A menina agarrou sua mochila, e normalmente passou pelo portão. Se sentiu um peixe numa maré, passando por todos aqueles adolescentes apressados, e torcendo para que ninguém notasse o que ela estava fazendo.

Sarah era impulsiva, o que quisesse fazer, faria. A menina pensou em botar os fones de ouvido e ouvir suas belas músicas, mas o dia estava tão belo, tão convidativo, que achou melhor ouvir os pássaros, mesmo.

Não acredito que nos trancam na escola á essa hora. Os pensamentos de Sarah foram chegando. Nos prendem como pássaros. Exatamente, somos pássaros, pássaros presos em gaiolas, pássaros presos á tanto tempo, que nem sabem o que tem do lado de fora. Nem sabe o que estão perdendo... Como podemos viver, e realmente sermos felizes assim? Quero ser livre, poder aproveitar o que tenho...

Os pensamentos tomavam conta de Sarah, estavam tão realistas que um sorriso verdadeiro se abriu em seu rosto, depois de tantos anos. Sarah teria que moderar sua vida a partir daquele dia. Aquele dia mudou Sarah, a partir de agora, a garota faltaria aula duas vezes por semana, mas nunca no mesmo dia, sempre moderando. E ás vezes daria um jeito de ir para a escola e depois sair, apenas para marcar presença. Aquele dia, aquele tempo, aquele sentimento, aquele som, aquela liberdade, mudou Sarah. E foi aí, que a menina teve certeza de que a escola era uma prisão. A menina conheceu um lugar lindo, longe, mas não o suficiente para que não pudesse ir a pé. A garota andou tanto que já era pra estar cansada, mas estava tudo tão maravilhoso que ela nem sabia mais o que era cansaço. Estou feliz. Pensou Sarah. Estou feliz? Eu estou feliz. Isso... Isso é tão bom. É como ouvir uma bela poesia, uma bela poesia de verdade. É sentir tudo vivo outra vez. A garota observava o céu, naquele jardim que descobrira. O lugar era apenas árvores e gramas. Haviam caminhos com pedras, nada urbanizado, era perfeito. Como pude conviver com esse vazio por tanto tempo? É tão bom se sentir cheia de novo, é tão bom sentir de novo.

–Eu estou tão feliz! - A garota gritou o que era para ser um pensamento. Quando percebeu, nem ligou, apenas ficou rolando na grama

Ela abriu sua mochila, havia um pote com um sanduiche e vinte reais dentro. Os vinte reais era para caso ela quisesse bebida, ou se só o sanduíche não matasse a fome, assim, ela compraria algo na lanchonete da escola. A menina comeu seu sanduíche.

Só tenho mais quatro horas para aproveitar... Terças-feiras os alunos da sua turma ficavam apenas cinco horas na escola, o resto da semana ficavam por sete horas.

A menina já pensava em fazer um mapa de lugares para conhecer e lugares que já conheceu. Claro que seria tudo dentro de seu bairro... Ou pelo menos tudo dentro de sua cidade. A garota iria aprender a pegar ônibus, e iria sempre carregar sua faquinha com ela, para caso se perdesse em algum lugar desconhecido e perigoso.

Já haviam se passado as quatro horas, a menina como havia deixado sua carteirinha na escola, voltou lá para pegar. Como viu muitos adolescentes saindo, entrou no meio deles e passou pelo portão. Foi até uma das funcionárias e pediu a carteirinha que não havia sido entregue. A funcionária devolveu, então a menina foi até o portão e saiu, como se estivesse na escola aquele tempo inteiro. Voltou para casa se sentindo bem, e lá dentro sabia que aquele sentimento não ficaria por muito tempo, e por isso quis aproveitar ao máximo.

A mãe da menina costumava chegar uma ou duas horas depois de Sarah em casa, mas como não era sempre, Sarah quis voltar no horário normal pra casa. Geralmente a menina ia dormir quando voltava da escola, mas dessa vez, ela quis passear, brincar com seus bichinhos. Dessa vez, a menina não trancou a porta de seu quarto e deixou só os piscas-piscas aceso. Dessa vez, a menina deixou a porta de seu quarto aberta, as luzes apagadas e a luz do dia iluminando o local. Sarah estava diferente, mas sabia que não ficaria assim por muito tempo. Ela nunca havia se sentido assim, tudo estava diferente para ela. Naquele dia Sarah não era a Sarah de sempre, Sarah era uma garota sortuda, feliz e diferente.


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Notas finais do capítulo

-"Eleanor Rigby died in the church and was buried along with her name… Nobody came.
Father McKenzie wiping the dirt from his hands as he walks from the grave… No one was saved…" = "Eleanor Rigby morreu na igreja e foi enterrada com seu nome
Ninguém apareceu
Padre McKenzie limpando a sujeira de suas mãos enquanto se afasta do túmulo
Ninguém foi salvo"
"...Eleanor Rigby picks up the rice in the church where a wedding has been
Lives in a dream…" = "Eleanor Rigby recolhe o arroz de uma igreja onde houve um casamento
Vive em um sonho"

Well, nesse capítulo, se você é atento, percebeu coisas sobre Sarah @.@ Por isso um capítulo com narrativa diferente u_ú
Espero que tenham gostado o/

Nome da música: Eleanor Rigby - Beatles



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