"Uma pessoa só percebe o valor de algo que ela tem quando perde."

Mas eu aprendi que às vezes essa situação se inverte, alguém pode supervalorizar algo tão inútil, ou pode até mesmo ser comparado a um masoquista, por gostar de pessoas que o machucariam...E esse é o meu caso.

Eu não falava com muitas pessoas, até que eles se aproximaram, conversaram comigo mesmo eu sendo aquela pessoa antipática e ridiculamente brava com tudo, uma "gótica" estranha...Tudo o que eu sempre quis era agradar meu pai rígido, mas eu nunca consegui.

Meus amigos, e até mesmo meu namorado, perceberam que eu não era uma pessoa civilizadamente legal, e me trocaram, me substituíram por Victoria Vega, a garota prodígio, tão amável, tão linda, tão simpática.

Ela não é Jade West, eu sou.

Ou eu acho que eu sou, poderia se dizer que eu sou resto do trapo que sobrou da "garota má", eu sempre fui isso, um resto.
A péssima namorada e amiga.

A filha indesejada que foi oúnico motivo de um casamento que já estava acabado antes mesmo de começar.

Senti uma ardência no meu dedo e abaixei a cabeça para ver o que havia acontecido.

Sangue.

Havia sangue saindo do meu dedo e respingando em minha saia preta, repousei minha tesoura em um dos pedaços da grande lixeira que eu estava picotando, suguei o sangue e encarei a porta em um tom azul-claro que tinha uma pequena "janela".

Se fosse em algum outro momento, Beck já estaria aqui me chamando para a aula, dizendo que eu iria me atrasar.

Mas agora era por minha conta, eu estava sozinha, não sei se um dia já havia conseguido mudar essa sina, mas era a realidade, desde que meu avô morreu eu havia entendido que eu estava predestinada a viver uma vida solitária, seria ignorada até o fim dela.

Me levantei, cansada de ficar meus devaneios, limpei minha saia, esquecendo completamente de meu dedo machucado e levei o mesmo a boca novamente, levantei o olhar para a pequena 'janela' da porta do armário do zelador.

Idiota, idiota, idiota.

Pensei, assim que vi Beck segurando possessivamente a cintura de Tori, enquanto a mesma engatava uma conversa animada com Cat, André e Robbie.

Senti meus olhos arderem na mesma intensidade de minha garganta, meu rosto estava queimando, ou aparentava estar.

Peguei minha tesoura e joguei desajeitadamente dentro de minha bolsa, passei a mão em meus olhos para parar as lágrimas, abri a porta e esbarrei em alguém.

-Jade? Você comprou a passagem? Vai mesmo para Londres ou achou outra escola?-Trina me bombardeou com perguntas me ajudando a levantar.

-Sim, eu vou para Londres e minha passagem está na minha bolsa.-disse sorrindo de lado, observando a mesma dar um ataque para logo depois sair correndo para sua sala, franzi o cenho e passei pela porta até meu carro, já podendo observar as malas dentro dele.

Algumas pessoas diriam que eu estou fugindo do meu problema.

E eu diria que essas pessoas estão certas...Ninguém é obrigado a conviver com algo que já foi obrigado a suportar, eu havia descobrida da pior maneira que corações de gelo são mais fáceis de ser quebrados.