Aquela Droga Chamada Amor escrita por Isa Casadevinho


Capítulo 9
Histórias, conversas, choros e cervejas




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Jane e eu conversamos por três horas seguidas. Três horas intercaladas por choros, abraços e histórias. Eu acabei me abrindo e contando um pouco da minha vida pra Jane, e agora eu sentia que ela carregava um pedaço de mim com ela, e eu, um pedaço dela comigo. Ela me contou muitas coisas, coisas que eu até duvidei de que fossem verdadeiras... Mas depois disso tudo, estávamos sentadas, rindo e fumando na varanda da cozinha, quando ,de repente, ouvimos um estrondo e nos entreolhamos.

Bill: Janey! - gritou um cara bêbado, enquanto batia a porta com força.

Ah não, não, não, agora não. Eu tinha que estar sonhando. Isso não podia acontecer agora. Pisquei os olhos com força na esperança de ser uma alucinação. Mas não era.

Bill: Janey!!! Cadê você, sua vagabunda! - ele berrou.

Essa frase ecoou por todos os cantos da casa, causando uma sensação extremamente desconfortável pra ambas. Nos olhamos novamente. Jane parecia exausta e decepcionada ao mesmo tempo. Nunca vi uma expressão tão triste como essa antes.

Jane: Fica aqui... Eu já volto. - disse ela, se levantando.

Eu ouvi uns grunhidos, provavelmente vindo do cara bêbado, que pelos meus cálculos, era o pai de Jane. Depois, esses grunhidos ficaram cada vez mais altos, se tornando em uma discussão. Levantei e corri para a cozinha.

Eu: O que tá acontecendo aqui?! - eu disse em um tom alto.

Bill: Quem... Quem é você? - ele disse, bem enrolado, olhando em minha direção.

Jane: EU NÃO TE AGUENTO MAIS! Não aguento mais ser acordada de madrugada pelos seus chamados irritantes, sentir esse seu bafo horroroso, ter que cuidar de você quando era você que tinha que cuidar de mim! Eu tenho vergonha de você! - gritou ela para o pai bêbado, aparentando exaustão logo em seguida.

Bill avançou bruscamente em direção a Jane e depois pegou no seu braço brutalmente. De repente cenas e situações por qual Jane passava todos os dias se formaram rapidamente em minha cabeça, como se fosse em um filme. Eu tinha que fazer algo. Pensei rápido.

Eu: Calma aí! - eu gritei, me posicionando entre os dois Jane, vamos embora. Dorme lá em casa. - eu completei, enquanto a abraçava e caminhava com ela apressadamente em direção a porta da sala.

Lastimável. Ia acontecer de novo se eu não estivesse lá. Se eu não estivesse lá, talvez ela não conseguiria se defender. Outra vez. Doía só de pensar nisso.

▪▪▪

Acabamos parando no que se tornara nosso local preferido: West Coast. Tomamos uma, duas, três... Seis garrafas? Acho que foi isso, ou até mais. Foi o suficiente pra que Jane voltasse a se sentir bem. Aí lembrei que deveria ter ligado pra minha mãe antes de ficar bêbada, mas agora já era. Mandei uma mensagem de texto. Pensei "segunda feira e já estamos altas? Começamos a semana bem, então", concluí. Mas ainda tinha uma coisa que cada vez mais me incomodava.

Eu: Janey, preciso te fazer uma pergunta. - eu disse, tentando fazer uma expressão séria, mas sem sucesso.

Jane: Fala aí.

Eu: Você e o Frank... Vocês dois, tipo...

Jane: Tipo?

Eu: Vocês são... Vocês são viciados?

Jane: Eu não! - ela disse, seguido de uma gargalhada escandalosa que fez com que todos ao nosso redor olhassem pra nós.

Eu: Mas e o Frank? - meio aflita eu disse.

Jane: Cara... Eu não tenho certeza, mas desde o ano passado eu percebi que ele anda meio diferente. Por exemplo, ele emagreceu bastante. Eu fico meio preocupada mas nunca perguntei porque eu o conheço, e sei que ele negaria tudo até a morte.

Ás vezes eu sinto como se certas coisas só acontecessem comigo. Eu estava me apaixonando por um viciado? Eu não queria acreditar. E assim o fiz. Parecia mais fácil não encarar a realidade, pelo menos por agora. Eu não precisava.

Jane: Tem um trocado aí, Zo? Caralho, preciso de um emprego. Essas brejas não vão se pagar sozinhas.

▪▪▪

Chegando em casa, eram duas e trinta e sete da madrugada. Logo depois de comermos um misto quente, estávamos no meu quarto, eu tocando violão e Jane pintando as unhas do pé de vermelho. Minha mãe já dormia, mas eu sabia que o sermão viria pela manhã. Meu celular, como sempre tremendamente barulhento, tocou. Frank. Jane atendeu.

Frank: Zo?

Jane: Não, sou eu, magrelo.

Frank: Fala aí, maluca. Você tá com a Zoey? Ela tá brava comigo? Preciso muito falar com ela.

Conversamos por duas horas, e tudo ficou bem entre nós. Não sei se eu era idiota demais (ou apaixonada demais) por acreditar nele ou se ele só mentia bem. De repente era mais fácil só acreditar em tudo o que ele dizia. Mas no fundo eu sabia que nem tudo estava tão bem assim.

▪▪▪

Cheguei no colégio acompanhada de Jane, obviamente estávamos fodidas, como já tinha se tornado comum, e nos deparamos com Frank sentado no chão do pátio. Aliás, ele estava com uma cara péssima. Também depois das coisas que aconteceram ontem, nenhum dos três aparentava estar muito bem.

Jane: Vejo que você está no seu melhor dia. - disse ela, num tom irônico, enquanto se aproximava e o ajudava a se levantar.

Ele sorriu de canto enquanto levantava, em seguida me puxou pela cintura e me beijou. Todos que estavam no pátio olharam pra nós e instantaneamente começaram a cutucar uns aos outros. Será que éramos um casal oficial? Nossa, isso foi meio tosco. Depois, ele deu um beijinho na testa de Jane, que pareceu satisfeita em não ter sido esquecida.

Frank: O que as madames acham de sexta feira todos irmos pra minha casa, ver uns filmes, comer uma pizza, beber umas cervejas, é claro, e depois dormir? - ele disse, enquanto segurava minha mão.

Jane: Já estou lá. Agora tenho um motivo decente pra querer que essa semana passe voando.

Eu: Pode ser. Mas nós ainda precisamos terminar aquele maldito trabalho de química.

Frank: Ah é. Que merda. - ele bufou, serenamente.

Ao mesmo tempo em que me parecia uma boa ideia irmos novamente para a casa de Frank, me parecia uma má ideia também, porque desde que passamos a andar juntos, alguma merda sempre aconteceu, inclusive já estávamos marcados no colégio assim. E isso tudo aconteceu em um mês, por mais inacreditável que pareça. As pessoas, inclusive, já me olhavam como se eu fosse tão "radical" quanto Jane e Frank, mas eu não era. Ou será que era?


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Notas finais do capítulo

Se esse capítulo tiver muitas passagens de tempo, por favor comente.



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