Um dia que se segue escrita por Hanako


Capítulo 1
One Shot


Notas iniciais do capítulo

Segundo mini-texto que eu coloco aqui! Esse está mais elaborado e o personagem principal é do sexo masculino. Sempre considerei escrever como um homem algo desafiador e por isso me divirto bastante! Espero que gostem!



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Acordei tarde dessa vez. O despertador não tocou, não sei o motivo... Deve ter acabado a pilha. Droga. Virei-me devagar para não assustá-la logo pela manhã e, ainda de olhos fechados, sussurrei para ela:

- Bom dia, meu amor. Dormiu bem?

Mas é óbvio que ela já não estava mais lá. Como sempre, já tinha partido sem se despedir. Nunca me deixava nenhum bilhete, nenhuma mensagem no celular. Era angustiante ver que ela fazia isso comigo e eu sempre caía em seus braços no final da noite. Mulher mais injusta que já conheci.

Me arrumei como sempre faço: jeans, sapatos, camisa e um blazer caso faça frio mais tarde. O cabelo eu praticamente já desisti. Se ela não implicasse tanto com ele, eu sequer pentearia, mas como era sua paixão ver o meu cabelo no mínimo ajeitado, peguei o pente e o deixei ao menos alinhado. Passei o perfume que ela tanto gostava e saí.

Tive que ir à padaria antes, faltava café em casa. O padeiro é sempre muito simpático, sempre me pergunta sobre a minha vida, me fala para esquecer essa mulher que eu nunca consigo deixar. Eu não quero deixar, ela é minha. Não posso deixar.

O escritório estava como sempre: pessoas estressadas andando de um lado para o outro, pedindo coisas e entregando outras, reclamando de dores de cabeça, dores nas costas, sogras chatas e filhos na creche... Tá aí: deveríamos ter um filho. Melhor, dois filhos. Poderíamos encher a casa inteira com pequenos nossos fazendo bagunça e desenhando nas paredes. Eu nem ia me importar se ela dissesse que sim. Arrumaria mais um emprego em mais um escritório só para ver aquela barriga crescer trazendo um filho meu.

- Como vão as coisas por aí, Carlos?

Droga, sempre tem um pra me chamar na melhor parte dos meus devaneios. Eu já me imaginava pintando um quarto de azul, um quarto de amarelo, um outro cor-de-rosa...

- Tudo tranquilo. Até o final da manhã eu já terei terminado esse relatório e envio para você.

Papo de trabalho não deveria existir. As pessoas deveriam sentar nas suas cadeiras e se comunicarem por mensagens. Esse filho da mãe quase me mata de susto e ainda ficou sorrindo pra mim como um bobo da corte. Droga, era o meu chefe!

- Ótimo, ótimo! Bom saber que está se esforçando nessa semana! Fico feliz que esteja se recuperando rápido!

Falso. Ele vem até aqui para dizer que está feliz com o meu esforço, mas não é verdade. A única felicidade que estou proporcionando para ele é a do dinheiro no seu bolso no final do mês. Eu trabalho, ele ganha os lucros. Maldito.

-Obrigado, senhor.

Quem sabe, se eu tratar melhor, ele não me dá um aumento... Seria melhor para as crianças e talvez eu nem precisasse de um outro emprego quando a segunda nascer.

- Ora, Carlos, não precisa dessa formalidade, você sabe! Somos amigos! – não, não somos! – Então, hoje a galera estava pensando em ir a um bar no final da tarde, uma diversãozinha não faz mal a ninguém, não é mesmo?! Não quer ir com a gente?

Bem, eu tenho duas opções: ou ir com esse babaca que fica com o meu dinheiro para um bar e dividir uma conta com coisas que sequer tenho vontade de usufruir ou chegar em casa e ficar com ela pelo resto da noite. Eu poderia levar morangos para casa e falar sobre nossos filhos enquanto ela reclama do seu dia. Ah, o tempo passa tão rápido quando estou com ela...

- É que eu já tinha planos para essa noite, senhor...

Ah, sim. Agora esse senhor foi para irritar. Ele é inconveniente, deveria se dar conta disso e parar de me chamar para beber todo santo mês. Parece que quer que eu me separe!

- Por favor, não me faça uma desfeita dessas num dia como hoje! Eu que vou pagar uma rodada de cerveja pra todo mundo!

- Não, muito obrigado, mas eu não bebo.

Ele chegou perto de mim e começou a sussurrar. Essa hora da manhã, e ele tinha cheiro de uísque... Tsc tsc.

- Eu não queria falar isso alto, para não assustar os outros funcionários, mas é que um cliente promissor frequenta o bar. Quero fazer com que ele veja que podemos ser amigos, que a nossa empresa também é composta por pessoas como ele, que nós o entendemos. Você tem que ir, Carlos, é a nossa salvação.

Merda, só uma coisa dessas para me convencer a sair com esse tanto de gente que mal conheço. O resto do dia se resumiu em relatórios e mais relatórios e alguns cochichos sobre ser a primeira vez que eu saía com eles. Não me importo, eu nem queria sair mesmo. Aliás, ainda não quero, mas não tenho escolha. Meu amor vai se irritar comigo quando eu chegar.

Cinco horas da tarde e todos estavam liberados. Coloquei o blazer e os segui para o “tão esperado happy hour”. Tomara que acabe rápido o suficiente para eu comprar as frutas...

Já se passaram uma, duas horas e o cliente ainda não chegou. Ele não percebe a minha irritação com a demora e vem me perguntar de novo se quero uma bebida. Eu não bebo, inferno! Quero acabar logo com isso, quero fugir, sair correndo para casa, para o meu quarto, para debaixo dos meus cobertores, mas ele não deixa.

Passam três horas e eu me irrito. Não aguento mais ficar aqui. Esse tipo de ambiente não pertence a pessoas como eu, que tem alguém esperando ansiosamente em casa.

- Senhor, o cliente não veio?

Ele começou a rir. Era isso mesmo?! Estava rindo da minha cara nessa facilidade toda?! Agora com vergonha. Deveria sentir mesmo! Por achar que tenho cara de palhaço! Babaca! A bebida retira mesmo toda a classe das pessoas!

- Desculpe Carlos, mas é que não tem cliente nenhum. Queríamos que você se divertisse um pouco, então bolamos essa desculpa, só isso. Eu sei que tem muito tempo que você não sai por causa daquela, daquela... Como ela se chamava mesmo?

Eu sinto vontade de arrancar a cabeça dele com as mãos! Quem ele pensa que é?

- Não ouse falar o nome dela!

- Calma cara! Só queremos o seu bem! Você precisa sair mais, se divertir mais! Só queremos que seja feliz!

- Eu sou feliz! Eu sou muito feliz! Não preciso da ajuda de ninguém para isso! De ninguém, muito menos você! Não consegue entender! Não existe uma pessoa aqui que já se sentiu da maneira como eu me sinto, é impossível! Tome o dinheiro que pague qualquer coisa louca que eu poderia ter consumido aqui, gaste para pagar uma bebida para você e me deixe em paz!

Sim, eu falei exatamente assim com o meu chefe. Tomara que amanhã ele continue com esse seu projeto de ser meu amigo, ou estarei sem emprego e aí vou ter que arrumar os dois mesmo. Tudo pelo bem das crianças. Nem liguei naquele momento, sinceramente. Só saí rumo a minha casa, sem pensar muito. Ela estaria lá, como todas as noites. Ela sempre me espera.

Abri a casa como um louco, correndo e ofegante. Tirei a roupa ali mesmo, no meio da sala, e já fui direto para o chuveiro. A água sempre me fez sentir melhor em momentos como esse. Eles não conseguem me entender, meu lugar é ao lado dela e não passeando por aí, paquerando outras mulheres. Eu era dela.

Vesti o meu pijama e fui para debaixo das cobertas da cama vazia. O retrato dela estava no meu criado. As cobertas ao meu lado há meses não se avolumavam, mas eu sentia o calor vindo de lá. Ela estava lá mesmo que eu não conseguisse ver de olhos abertos.

- Boa noite, meu amor. Eu te amo todos os dias, cada vez mais.

E, novamente, ela não me respondeu.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso! Esse é um pouco maior que o primeiro! Espero que tenham gostado!



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