Velha Infância - Berita escrita por Tay Pereira
Notas iniciais do capítulo
Espero que não tenha demorado tanto.
Boa leitura!
– Conversar? – diz Clarita. – Desculpa, mais já está tarde e eu preciso ir pra casa.
– Eu te acompanho – fala ele.
Clarita olha para ele, seriamente.
– Acho que não é bom pra reputação do filho do dono do Café Boutique ficar falando com uma das empregadas de lá – ela começa a andar, novamente.
– Mais não é qualquer empregada, é minha melhor amiga – falou Beto, andando ao lado dela.
Clarita sorriu.
– Ah lembrou-se de mim?
– Nunca esqueci – ele sorriu.
– Pensei que virar filho de gente rica, iria fazer sua cabeça.
Ele riu, logo diz:
– Pensou errado.
– Percebi.
– Clarita, por que está me tratando assim?
– Assim como?
– Tão indiferente. Como se eu fosse um estranho.
– Queria que te tratasse como? – questiona ela.
– Esqueceu que somos melhores amigos?
– Já se passaram seis anos.
– Mas não me esqueci da nossa velha infância – confessou ele.
– Acho que seria praticamente impossível esquecer tudo que a gente aprontou juntos – fala ela, rindo.
– Também acho – concorda ele, também rindo.
– Sabe do que lembrei agora? – pergunta Clarita. – Quando a gente derrubou o bolo que o Chico tinha preparado para a festa de aniversário para o dono do orfanato.
– Mais era você que estava segurando o bolo e caiu com ele no chão.
– Por que você mandou, lembra?
– E por que fez o que pedi?
Clarita sorriu sem acreditar no que ele acabara de falar.
– Então, é assim? – disse ela, rindo. – Obrigada por falar só agora.
– Não fique brava – ele a abraçou. – Era divertido.
– Me fazer de capacho?
– Você nunca foi meu capacho, Clarita. Sempre foi minha melhor amiga, aquela amiga que dá uma forcinha nas traquinagens.
– Pois é. A gente era uma peste, né seu chato?
– Sim, pequena. Nós deixávamos a Ernestina com o cabelo em pé.
Clarita sorriu ao ser chamada de pequena, como nos velhos tempos.
– Acho que ela agradeceu muito quando você foi embora – disse Clarita.
– Mas você não continuou aprontando? – ele quis saber.
– Tinha o Mosca. E a Bia também nunca foi flor que se cheire.
– Vocês três aprontavam juntos?
– Sim, na maioria das vezes somente Mosca e eu.
Beto ficou em silêncio, pensativo.
(...)
– Que sono! – Mili disse, bocejando. – Por que a Clarita nunca chega?
– Deve ter saído para se divertir, Mili – fala Mosca, enlaçando uma de suas mãos na cintura da namorada. – Por que não aproveitamos enquanto ela não chega...
– Eu estou cansada, Mosca – justifica Mili. – Sei que a Clarita também, pois nós não víamos a hora de chegar em casa para descansar.
– Daqui a pouco ela chega, fique tranquila – Mosca tenta acalmar a namorada. – O que acha de terminarmos de assistir o filme e comer essa pipoca?
– Está bem – Mili concorda, dando um beijo nos lábios de Mosca.
(...)
Flash Back On
– Você tem que ser sincero, beleza? – falou Beto, para Mosca.
– Beleza, manda a ver.
– Qual das meninas daqui do orfanato, você acha mais bonita? – perguntou Beto.
– Eu acho duas meninas bonitas – disse Mosca.
– Quem? – questiona Beto.
– A Mili e a Clarita.
– A Clarita? – repetiu o garoto, melhor amiga dela.
– Tá surdo, Beto? – fala Mosca. – Não sei, eu acho que gosto dela.
Flash Back Off
– Beto! Beto! Você está vivo? – questiona Clarita. – Fala comigo!
– O que foi Clarita?
– É que você ficou olhando fixamente para o chão – disse ela. – Achei estranho e comecei a te chamar.
– Você e o Mosca continuam sendo amigos?
– Sim – ela sorriu. – Até mesmo depois de ele ser adotado, nós não perdemos o contato.
– Que bom. Por quem ele foi adotado?
– Uma família nobre de São Paulo.
– E você não teve a sorte de ser adotada?
– O que acha? – questiona ela. – Você acha que se eu fosse adotada, iria trabalhar de garçonete?
– Eu não quis falar isso...
– Se eu tivesse pais, estaria em uma faculdade ou trabalhando em algo melhor.
– Eu sei – afirmou ele. - E a Bia?
– Já está com 16 anos, mais ainda mora no orfanato.
– É mesmo, só sai do orfanato quando completa 18 anos.
Clarita assentiu e os minutos seguintes eles andaram acompanhados por um longo silêncio constrangedor.
– Sua casa é bem longe do Café, não é? – Beto fala, tentando puxar assunto.
– Eu acho que não. Nós estamos demorando pra chegar porque estamos andando devagar.
– Você tem razão.
Novamente o silêncio reinou ali.
– E como era a vida nos Estados Unidos da America? – Clarita pergunta.
– Bacana. Tudo sempre do bom e do melhor.
– Muitas garotas? – ela continua perguntando.
Dessa vez, Beto riu.
– Talvez – respondeu.
– Já estamos quase chegando no meu apartamento – fala Clarita.
– Você mora sozinha?
– Divido o apartamento com a Mili.
– E o Mosca?
– O que tem ele?
– Também mora lá? – pergunta Beto.
– Não, ele mora com os pais dele – responde ela. – Ele só vai visitar a namorada.
– Namorada?
– A Mili.
– O Filipe e a Milena são namorados? – Beto praticamente gritou, devido à surpresa da notícia.
– Por que a surpresa? Você assim como eu sabe muito bem que desde quando vivíamos no orfanato eles eram apaixonados um pelo o outro.
– O Mosca sempre foi apaixonado pela Mili?
– Nunca percebeu?
– Deveria?
Clarita riu.
– Eles sempre se amaram. E depois que você foi embora, o Mosca teve a ideia de eu e ele fingirmos que estávamos se gostando, tudo isso pra fazer ciúmes pra Mili – contou. – E deu certo. Eles estão juntos até hoje.
– E você não se apaixonou pelo o Mosca depois de fingir que gostava dele? – Beto pergunta.
Clarita o encara. Ela sabia muito bem do que ele se referia.
– Não, pois já sabia que a Mili era apaixonada por ele.
– Então, se a Mili não fosse apaixonada pelo o Mosca, você iria gostar dele pra me...
Beto não consegue terminar, pois o celular começa a tocar:
– Que droga – resmungou ele, pegando o aparelho do bolso da calça.
Ligação On
– Alô? – disse ele, olhando para Clarita.
– Oi meu amor, que saudades de ouvir sua voz! – fala a voz feminina, do outro lado.
– Érica? – questiona ele, ao reconhecer a voz.
– Beto, apenas estou te ligando pra avisar que irei morar no Brasil.
– Como é que é?
– Não iria conseguir viver longe de você, amor. Provavelmente amanhã estarei aí – diz ela. – Dessa forma, não namoraremos a distância.
– Você tem razão – gaguejou. – Agora preciso desligar.
– Boa noite, Beto. Te amo!
– Também te amo – diz ele, e finalizou a ligação.
Ligação Off
– Cheguemos – disse Clarita, apontando para um prédio. – Tenho que ir, boa noite.
– Espera Clarita! – ele a pega pelo braço. – Vamos continuar a conversar sobre a nossa infância.
– Já está tarde e amanhã terei que acordar cedo para o trabalho. E além do mais, você terá que se preparar pra chegada de sua namorada pro Brasil – dizendo essas palavras, Clarita entrou no prédio onde mora e deixou Beto ali, sozinho.
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