- Eu tenho uma ótima notícia - Meu pai anunciou logo após se sentar à mesa.

Imediatamente abri um largo sorriso. Tudo que eu mais queria era uma boa noticia. Já não compensava a empregada ter queimado meu vestido caríssimo semana passada, ontem a tarde eu quebrei a unha do dedo mindinho e pra ajudar eu arranhei a minha própria testa enquanto dormia. E como conseqüência, recorri aos milagres da Santa Maquiagem hoje de manhã.

- E o que é? - Perguntei curiosa, finalmente alcançando a jarra de suco a minha esquerda. - Você finalmente comprou meu pônei?

Desde os meus dez anos de idade eu peço um pônei para o meu pai. Eu não entendo por que a cara de bolacha da Annie Cresta pode ter um e eu não.

Meu pai me olhou confuso por alguns instantes e depois mexeu a cabeça em discordância.

- Katniss, quantas vezes eu já lhe disse que nós não podemos criar um pônei aqui? - Ele berrou irritado.

Abaixei a cabeça, triste.

- Tudo bem - Resmunguei meio conformada. - Qual é a noticia então? Finalmente conseguiu marcar a cirurgia plástica no nariz da mamãe?

Eu falei meio que sem pensar. Mamãe levou automaticamente a mão ao nariz.

- Katniss! - Gritou ela, ganhando um tom avermelhado. Abri a boca em incredulidade.

- Ué? Falei alguma mentira? - Indaguei inocente.

Na verdade, não. Minha mãe volte e meia reclama de como o nariz dela era estranho e que nas fotos ficava pior. E que a mãe da cara de bolacha, a Sra. Cresta, vive a dizer pelas costas como o nariz da mamãe é torto.

Meu pai suspirou.

- Lembra dos Mellark? - Ele indagou me fitando, desgostoso.

Tentei, gastei todos os meus neurônios tentando lembrar, mas não consegui.

- Não faço a mínima ideia de quem seja. - Afirmei, mordendo uma torrada. Sem calorias, só pra lembrar. A última coisa que eu quero no mundo é engordar.

- Eles viajaram no final do mês passado para o Havaí e acabaram esquecendo que o filho voltaria hoje do intercâmbio em Londres - papai explicou. - Então sua mãe achou uma ótima ideia ele ficar aqui enquanto os pais não voltam e...

Pulei da cadeira.

- Ah não. Não, não, não - disse eu, chacoalhando a cabeça. - Não! Se vocês pensam que eu vou ficar de babá, a resposta é não!

Papai revirou os olhos.

- Você não será babá dele, Katniss. Além do mais, Peeta é mais responsável que você e suas melhores amigas juntas.

Suspirei aliviada, para logo depois entrar em estado de choque.

Peeta? Meu pai havia dito Peeta? Que notícia mais agradável de se dar.

- Por acaso esses Mellark são os mesmo da viagem à Rússia de quando eu tinha treze anos? - Perguntei cautelosa.

Ambos abriram um grande sorriso.

- Exatamente - mamãe bebericou seu suco.

Oh, não! Não, não e não. Eles não podem estar falando sério. Peeta Mellark é o garoto mais idiota, irritante e brega do mundo inteiro. Na Rússia, minha família e a dele se hospedaram no mesmo hotel e ele não parou de me perseguir por um segundo.

- Vocês não podem estar falando sério - resmunguei. - Peeta Mellark não vai entrar nessa casa de jeito nenhum.

- Estamos falando sério, Katniss - Papai informou. - E você não tem querer.

Eu cruzei os braços, sem me conformar com a ideia.

- Então vocês escolhem. Ou ele ou eu.

É claro que eles iriam querer a filha única deles em casa...

- Então arrume suas coisas, meu bem. A porta está aberta - mamãe disse normalmente, como se estivesse dizendo que ia fazer uma lipoaspiração.

Isso não pode estar acontecendo comigo. Não pode! Me diz o que eu fiz pra merecer esse castigo? Ah, quer saber? É melhor nem responder.