Quando cheguei ao aeroporto não encontrei meu moreno carioca como imaginei, seria uma coisa meio de filme, nos esbarraríamos ou no embarque ou no desembarque, se fosse descobriríamos que estávamos no mesmo avião sem saber. Ou eu estaria procurando meu assento e por uma coincidência incrível ele se sentaria ao meu lado, só que ele pegou janela e eu corredor e como sempre num voo as meninas sempre querem a janela para se sentir mais perto do céu, mais perto do infinito talvez, não há nada mais incrível do que voar sobre as nuvens de tarde, ver o céu a noite com as cidades minúsculas abaixo de você com todas aquelas luzes fazendo o formato de um desenho qualquer, ou ver aquele amanhecer de perto. E como um bom cavaleiro ele deixaria eu sentar ao lado da janela e viver todo esse sonho. Claro eu fui na janela, por que dei sorte, mas dei o azar de não encontra-lo no aeroporto como queria, mas ainda sim desenho um encontro inesperado no nosso querido rio de janeiro, assim como tive um encontro inesperado no shopping de Belém do Para, não sei como isso é possível, qual a probabilidade de encontrar um cara legal e bonito duas vezes em um estado que nem é seu por naturalidade, e ele ainda morar na mesma cidade que você? Em livros, filmes e novelas talvez fosse possível, mas na realidade? Alguém lá em cima está brincando comigo, ou me dando a oportunidade de ser feliz e sonhar novamente.

Uma desilusão amorosa sempre deixa uma menina machucada, às vezes rancorosa outras vezes melancólica, isso pode estragar uma vida ou até mesmo salvar uma dependendo do ponto de vista, ou apenas deixar essa menina desacreditada do amor, sem acreditar em mais ninguém. Já vi filmes que por conta de um coração partido a mocinha virou a vilã, isso não é nada justo, por que sempre acontece com as garotas? Mas ainda assim penso em como é um garoto de coração partido, é uma coisa dolorosa de se ver, te faz pensar que todos estão sujeitos a sofrer até o mais durão dos homens, sim, aquele marombeiro que fica na academia o dia todo criando músculos e tomando suplementos para ficar cada dia mais forte por causa do físico, aquele durão não se importa apenas com a aparência ou em ficar com o Maximo de garotas possível apenas por fama, aquele durão também se apaixona. Às vezes acho que esse garoto um dia foi uma criança magrela e feia que sofria com apelidos maldosos na escola, sua mãe poderia ter pago um psicólogos, mas isso é coisa que acontece até eu sofri com isso, sabe aquela menina que tem bigode? Cabelo enrolado que não cresce apenas enche? Aquela menina magrela com sorriso torto que não é amiga de outras crianças que sofrem que nem ela? Eu fui essa menina, tinha apelido até de bigoduda, uma vez meu primo me caçoou por causa disso eu comecei a chorar e fui ao banheiro passar a gilete, minha mãe brigou comigo pois poderia nascer igual barba, imagina? Eu ia sofrer mais ainda. Mas eu cresci e como o marombeiro, importei-me com minha aparência uma das primeiras coisas que eu fiz quando tive idade o suficiente pra isso foi me depilar, a segunda foi dar um jeito o cabelo que tanto me incomodava, eu queria aqueles cabelos longos e cacheados e consegui, mas para isso precisou de química, uma coisa da qual me arrependi por que meu cabelo caiu. Foi um episodio engraçado da minha vida embora no início tenha sido doloroso, nenhuma menina gostaria de ver seus cabelos caírem. Mas depois de um tempo e com muitos tratamentos meu cabelo cresceu e eu fiz outra coisa, dessa vez eu alisei e deu certo fiquei satisfeita com o resultado, já fiz outras loucuras como pintar parte dele de azul, ficou legal, mas depois que o azul saiu ficou loiro por causa do descolorante e isso me atormentou por meses, até eu tirar. Então eu fui mais uma dessas crianças que sofrem e crescem se importando mais com a aparência, mas mantendo o interior lindo. O marombeiro que passa metade da vida na academia e a menina que passa horas no espelho se perguntando se esta bom, não tem diferença, ela sofre por um amor e talvez ele também sem ninguém saber, por que ele tem uma reputação a zelar, mas quando se deita para dormir tudo que vem em sua mente é aquela garota, que meche tanto com ele, e se pergunta por que eu? Por que logo comigo? Por essa garota me perturba tanto a mente? E fica pensando no que ela está fazendo ou se ela pensa nele também, é triste e é doloroso para qualquer um.

Se minha vida fosse um livro ele se chamaria nostalgia. Eu gosto dessa melancolia, eu gosto de relembrar um passado doloroso e pensar nele em todas as noites seguidos por lagrimas, eu gosto de lembrar essa dor. Mas independente de tudo sou uma menina que estuda e que tenta tirar boas notas na escola, que pretende fazer faculdade e um dia se tornar importante, mas claro com aquele sonho de daqui a alguns anos esbarra com ele por ai, claro ele é um estranho agora e pediremos desculpas um para o outro pelo esbarrão, eu sem querer deixei minha bolsa cair no chão e ele se abaixou para pegar, afinal ele pensa: “A culpa foi minha”, eu irei agradecer e vamos sair andando como se nada tivesse acontecido, mas vamos parar do nada por que aconteceu alguma coisa e isso fica se passando pela nossa cabeça, quem era aquela pessoa? Eu acho que a/o conheço de algum lugar. Iremos olhar para trás na esperança de que o outro não tivesse desaparecido na multidão e para a nossa surpresa, eu parei e você também parou, nos entreolhamos e rapidamente viramos como se fossemos dois adolescentes bobos, e naquele olhar sentimos alguma coisa, alguma coisa que nos forçava a olhar de novo. É estranho. Nós dois olhamos ao mesmo tempo e fomos embora deixando o que aconteceu para lá e cada um seguiu seu caminho. Por que nós sentimos, mas não reconhecemos mais aqueles dois adolescentes que um dia se apaixonaram, nunca teremos a certeza de que somos nós ali. Quando esse dia chegar até vai se passar pela minha cabeça ir atrás de você, e você também vai pensar em vir atrás de mim, mas isso é ridículo, e então vamos esquecer e você seguirá com sua vida bem sucedida e eu com a minha. Isso é o meu futuro, o meu e o dele, do Bernado e talvez daquele marombeiro com a tal amada, por que encontramos pessoas do nosso passado todos os dias, mas estão diferentes agora, esquecemos os rostos, os traços, agora são adultos e tudo que conseguimos lembrar talvez, o primeiro nome.

Agora olhe para mim, ao invés de seguir em frente, eu me recuso a ver que eu continuo voltando. Sim, eu estou preso em um momento que não foi feito para durar. Eu gostaria de encontrá-lo, mas Bernardo o destino levou cada um para o seu lugar, agora você está ficando cada vez mais distante de mim, agora conheci o Ricardo talvez der certo, talvez não, mas vou tentar conhecer outros rostos para ver se esqueço do seu...

– Acho que chegamos. – Mariana disse me despertando da minha imaginação, percebendo que foi anunciado para apertar os cintos, pois iríamos pousar.

– É, chegamos.

“Vamos viver, sem nunca esquecer e para sempre lembrar, pois quem um dia nós fomos, decidiu quem hoje nos tornamos.”