A Verdade Sobre Nós escrita por sayuri1468


Capítulo 8
Verdades




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/529512/chapter/8

Durante todo o dia, ninguém falava de outra coisa, senão a aparição de Jim na TV. Muitos do trabalho vieram falar comigo, perguntaram se eu sabia de alguma coisa, já que havíamos saído por um tempo. Eu, realmente, de nada sabia. Nem sequer sabia que, naquela época, ele era um psicopata criminoso, cujo objetivo era chegar a Sherlock através de mim. Me esquivei o quanto pude, e assim que deu meu horário, eu fui para casa. Chequei meu celular o dia inteiro, e não houve uma única movimentação. Esperava que Sherlock entrasse em contato comigo, tão logo visse a caixa que deixei para ele. Suspirei desanimada. Imaginei que ele deveria estar ocupado, o que era óbvio, já que a aparição, repentina e inesperada de Jim, havia sido assunto não somente no hospital, mas em toda a Londres. Conclui que não teria notícias de Sherlock por algum tempo.

Cheguei em casa, e Toby, como sempre, veio se esfregar em minhas pernas. Fiz-lhe um carinho na orelha e fui para a cozinha, preparar o meu jantar e o dele. Na minha cabeça, não era só a falta de comunicação com Sherlock que me incomodava, mas o fato de Jim estar vivo. Isso não era possível. Eu cuidei de seu corpo, e tenho certeza que era ele, e de que estava morto. Será que havia outra pessoa se utilizando do nome dele? Essa era a única explicação plausível. Jim estava morto, e eu tinha absoluta convicção disso.

– Molly! – uma voz ressoou na cozinha.

Eu gritei e virei para trás assustada. Apesar do rosto conhecido, que encontrei ao me virar, meu coração ainda estava acelerado.

– Sherlock! Como você...? – era uma pergunta idiota, eu sabia. Ele sempre entrava na minha casa dessa forma. Mas eu ainda estava sob os efeitos do susto.

– Acalme-se! – ele falou sério – Vim apenas conversar!

Depositando a panela de volta ao fogão – e me perguntando como ela havia ido parar em minha mão – eu o segui até a sala. Ele se posicionou próximo a janela, que curiosamente estava aberta – Ah, então é por ai que ele entra, conclui – e sentou-se na poltrona, indicando o sofá para mim. Ótimo saber que tinha permissão para sentar em minha própria casa. Respirei fundo e o obedeci. A surpresa de tê-lo ali ainda me movia. Nenhum de nós disse nada por um tempo, e Sherlock decidiu começar.

– Confesso que estou confuso, Molly, e realmente, detesto estar!

– Está falando de Jim?!

Novamente a careta veio em seu rosto. Qual o problema dele com o primeiro nome de Moriarty?

– Não, não estou falando de “Jim”! – notei o deboche propositadamente colocado. – Estou falando de você!

– De mim?

– Você me pede para nunca mais procura-la, para evitar falar com você, e depois vai até a Baker Street me deixar informações sobre Moriarty! – ele colocou ênfase nessa última palavra, e eu sorri sem querer – E eu não sei o que pensar disso!

– Como assim?

– Por que você colocou aquela caixa lá? Era para não me ver, pois sabia que eu teria que procurar você, ou era para me dizer que estávamos de novo em paz? – ele foi direto, e depois de perguntar, seus olhos me fitaram. Sabia o que ele estava fazendo, estava me analisando. Mas ele não precisava, eu não pretendia mentir mais a respeito do que sentia. Estendi minha mão e mostrei-lhe o anel.

– Onde você o conseguiu?! – ele olhou espantado para meu dedo. E dessa vez, assumo que também fiquei confusa.

– Como assim, “onde consegui?”?! Foi você que me mandou!

A expressão que ele fez ao ouvir isso denunciou que jamais fez tal coisa. Me levantei e trouxe a carta que havia recebido. Ele a pegou e leu.

– Eu não escrevi isso! – disse com firmeza.

Ele parecia nervoso, e eu também estava totalmente sem jeito. Após alguns segundos, ele sorriu e amassou o papel.

– John! – sussurrou com raiva, então eu compreendi o que havia se passado. John me mandara à carta, fingindo ser Sherlock. Como havia sido estúpida. Removi o anel do meu dedo e o estendi em direção a Sherlock.

– Me desculpe! – eu disse, ainda com o anel estendido. – Eu não sabia que não havia sido você!

Ele engoliu em seco e pegou o anel da minha mão. Eu me virei e fui de volta para cozinha, não sei por que o fiz, mas acho que foi o misto de vergonha e tristeza que me moveu. Eu havia sido idiota, e só queria sair da presença dele.

– Por que você o estava usando? – escutei sua voz por trás de mim.

– Porque eu li a carta! – respondi enquanto pegava a comida de Toby no armário. Estava procurando fazer qualquer coisa, que me deixasse de costas para ele. – E pensei que havia sido você!

– Não, Molly, isso não é um motivo! Por que você o estava usando? – ele insistiu.

Eu notei o nervosismo em sua voz, apesar de estar escondido em um tom sério e frio. Não sabia dizer o que isso significava, naquele momento, estava mais preocupada comigo. Eu não queria responder, mas estava a ponto de vomitar. Sabe aquela sensação de que você tem tanta coisa pra dizer, e quanto mais você guarda, mais você sente sua garganta presa e enjoada. Era assim que estava me sentindo, então, eu vomitei.

– Porque eu...havia aceitado! Eu havia aceitado um pedido que você não fez, foi isso! Foi idiota, estúpido, e eu não deveria ter feito!

Novamente um silêncio se fez. Ele olhou para o anel e depois de novo para mim.

– Não está mais brava, então?!

– Sherlock, não estou mais brava com você desde que sai daquele hospital!- respondi, sabendo naquele momento, que essa era a verdade - Eu só me senti envergonhada demais para voltar! E esperava que você viesse atrás de mim, sem eu ter que dar o primeiro passo! – eu não parava de vomitar, e isso, apesar da vergonha de assumir esses sentimentos, estava sendo libertador. – Está tudo bem! Você sempre foi sincero comigo, em relação aos seus sentimentos, eu que não deveria ter esperado nada diferente!

Eu voltei a colocar a ração de Toby na tigela. Estava mais aliviada, ainda triste, mas aliviada. Não tinha mais nada para esconder dele, e isso era ótimo pra mim. Minha garganta estava desobstruída, e eu já podia respirar tranquilamente.

– Me expulse da sua casa! – ouvi a voz dele falar repentinamente.

– O que?

– Me expulse da sua casa! – ele repetiu com firmeza.

– Isso não tem sentindo, Sherlo..

– ME EXPULSE DA SUA CASA! – ele gritou, e eu me assustei.

– Eu...não....- eu gaguejava. Não estava entendendo o propósito daquilo.

– Me expulse da sua casa, Molly! Para eu poder vir atrás de você!

Eu paralisei ao ouvir isso. Não conseguia mover um único músculo. Apenas observava Sherlock, que após perceber que eu não consegueria dizer nada, iniciou uma encenação.

– Ok, então! Você me expulsou da sua casa, e eu sai! – ele se retirou da frente da porta da cozinha, sumindo pela parede lateral – Finja que sai da sua casa! – ouvi a voz dele dizer do corredor. – Finja que dois dias se passaram, e que eu, não aguentando de saudades de você, reapareço! – ele surge novamente pela porta da cozinha – Oi Molly! – ele fala com um tom mais grave, como normalmente fazia – E agora, finja que você está surpresa!

Ao menos isso, eu não precisava fingir. Ele continuou.

– Agora, eu vou me ajoelhar aqui, e dizer o quanto tenho sentido sua falta! – ele, de fato, se ajoelhou – Molly Hooper, você não tem noção da falta que tenho sentido de você! Queria que você soubesse que apesar de não ter sido eu a enviar a carta, tudo o que está nela é sincero! Eu contei a John, após ele me lotar de álcool! Ele só omitiu a parte em que eu disse que era melhor deixar você em paz, já que eu a havia magoado tantas vezes! Omitiu também a parte em que eu disse, que você não merecia alguém tão ridículo quanto eu, e que eu não merecia uma garota tão maravilhosa quanto você! – ele tomou ar, e mostrou o anel em sua mão – E apesar de continuar achando que eu não mereço você, eu preciso ter você do meu lado! Você aceitou, sem nenhuma proposta, será que agora você aceita, já que a fiz apropriadamente?

Eu ainda não conseguia esboçar nenhuma reação, que não fosse perplexidade. Sherlock, estava me propondo? Era isso? Ergui minha mão automaticamente em sua direção, e ele, sorrindo, colocou o anel de volta no dedo, de onde eu o havia tirado.

Ele se levantou, e carinhosamente me beijou. Assumo que sai do transe nesse momento. Estava, novamente, beijando os lábios que jamais pensei que teria de novo. Foi quando tudo veio à minha mente, e eu percebi, com grande surpresa, que estava noiva novamente. Noiva de Sherlock Holmes.

Como isso havia acontecido mesmo?

–--------------------------------------------------------------------------------

– Mycroft?!

Ele confirmou. Estávamos deitados na cama, e naquele momento, decidimos que seríamos totalmente sinceros um com o outro.

– Sim, Mycroft! Foi tudo plano dele, para evitar que eu fosse para o exterior!

– Então Jim não voltou?!

Ri quando ele fez a insistente careta.

– Ok, então, Moriarty não voltou?! – reformulei, ainda rindo.

– Não, não havia como! Embora admita que fiquei pensando nisso por cinco longos minutos, até que Mycroft me revelou o que fizera!

Eu o abracei, e me aninhei em seu peito. Precisava agradecer a Mycroft depois. Pensei em tudo o que havia acontecido entre mim e Sherlock desde que nos conhecemos, e não pude deixar de perguntar em voz alta.

– Não vai se arrepender depois?

Ele reparou que eu fitava o anel em minha mão, quando lhe perguntei isso.

– Me arrependo de não ter feito antes! – foi à resposta dele.

– Me lembre de agradecer John, depois! – ele falou enquanto me dava um beijo na testa – E de pedir desculpas, por querer seriamente soca-lo!

Rimos, e de repente, naquele momento, todos os problemas que um dia nos cercaram, pareciam distantes e pequenos. Eu sabia, e ele também, que aquilo era o certo, e finalmente, o universo havia se alinhado apropriadamente. Nada mais faltava, nada mais importava e nada mais era tão real, quanto nós dois ali, juntos. Dormimos em paz pela primeira vez, pois sabíamos que estaríamos juntos quando acordássemos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Verdade Sobre Nós" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.