Belong escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 1
Belong


Notas iniciais do capítulo

Boa noite,

Segunda fanfic envolvendo Agents of S.H.I.E.L.D. e esse shipper que eu acho que somente eu gosto aqui no Nyah Hahahahaha

Tem Skimmons e tem Ward sendo louco.

Boa leitura!



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“You’re wrong, I don’t belong... You’re wrong, I don’t belong to you.”

(Belong, Cary Brothers)

As palavras de Coulson, ditas anteriormente, ainda estavam na mente de Skye. Soavam distantes, mas, constantemente, se repetiam. E as repetições faziam doer ainda mais, cutucavam velhas feridas que já estavam quase curadas e que, naquele momento, estavam abertas e sangrando novamente.

Pior do que sentir toda aquela dor ecoar dentro de si, era olhar para Simmons que permanecia com a cabeça baixa, os dedos de ambas as mãos sobre o colo, brincando entre si. Skye podia escutar a respiração dificultosa dela, assim como conseguia escutar os suspiros pesados... Simmons estava amedrontada, e, pior, desesperada.

Skye também podia sentir todos os olhares dos outros membros da equipe. Coulson estava pensativo, May estava presa em sua fúria calma e silenciosa, Tripplet estava frustrado e Fitz... Fitz estava preocupado e Skye sabia muito bem que a preocupação dele ia muito além. Ele estava mais preocupado com Simmons.

E Simmons não a olhava, era justamente a ausência do olhar dela que incomodava Skye. Ela não saberia o que fazer se não a tivesse ao seu lado, parecia que não tinha nada a guiar se não tivesse Simmons junto com ela. Durante todo aquele tempo, em que feridas se curaram, cicatrizes pararam de doer e memórias foram esquecidas... Simmons fora a única parte inabalável que Skye tivera em vida, fora seu porto seguro diante de todas as tormentas e tempestades que seu corpo, cansado, enfrentara. Simmons era a única em quem Skye ousava atracar e descansar, sem medo de ser abandonada ou esquecida.

“O que vamos fazer, Coulson? Precisamos bolar alguma estratégia.”

A voz de May finalmente rompeu os minutos de silêncio que há muito estavam instalados na mesa de reuniões do Playground. Skye ergueu os olhos e encontrou May que estava fixamente a observando, viu a preocupação sincera nos olhos da agente e abriu um discreto sorriso, acenando com a cabeça. May desviou os olhos do dela e se voltou para Coulson, os lábios dela tremeram. Era o primeiro sinal de descontrole que Skye enxergava desde o começo daquela reunião.

Coulson estava cabisbaixo, tinha uma das mãos sobre a testa. Skye sabia que ele estava tentando pensar em algo e ela mesma sabia que não tinha alternativa alguma, exceto seguir aquilo que ele mandara.

Skye respirou fundo e colocou-se em pé. Todos os olhares fixaram-se nela, até mesmo Simmons. Quando Skye olhou-a, viu as lágrimas beirando-lhe os olhos e desviou, imediatamente, os seus. Ele já estava conseguindo o que queria... Estava destruindo-a. Não podia ver Simmons chorar, saberia que tudo ia desabar se as lágrimas dela caíssem.

“Todos nós sabemos que não há saída alguma. Ele nos conhece, ele sabe como nos atingir. Ele quer que eu vá sozinha... Então, eu devo ir sozinha.”

Há muito tempo que Skye não falava sobre ele. Era um assunto do qual nenhum membro da equipe queria lembrar-se. Trazê-lo à tona fez a bile chegar a sua garganta, Skye engoliu em seco e fechou os olhos... O asco quase a fez perder o controle, respirou fundo e abriu os olhos novamente.

Encontrou Coulson e May em pé, com expressões ofendidas. Os dois não estavam pensando racionalmente, eles só estavam querendo protegê-la.

“Eu não vou deixá-la ir sozinha até aquela prisão, Skye. Não depois de tudo que Ward se provou capaz de fazer.”

“Eu já sou praticamente uma agente de campo, Coulson! May é minha S.O., ela sabe muito bem que eu sou perfeitamente capaz de lidar com ele!”

Skye parecia irredutível e o tom, mandante e ameaçador que ela utilizara, finalmente, fez com que Simmons não controlasse mais as próprias lágrimas. Skye escutou o lamúrio sôfrego, seguido dos soluços e não teve coragem de olhar para a bioquímica. Sabia que, se olhasse para Simmons, desistiria de tudo por ela.

Simmons se levantou e deixou seu lugar na mesa de reuniões, silenciosamente. Mal ela desaparecera da sala, Fitz estava atrás dela. O rapaz olhou confuso para Skye que acenou para que ele a seguisse, Fitz saiu desabalado atrás de Simmons e não mais olhou para trás.

Naquele momento, Skye sentiu seu coração espatifar-se dentro do seu peito. Ward estava conseguindo, mesmo distante, atingi-la. E ainda mais, Ward estava despertando aquele monstro, aquela escuridão que sempre a acompanhara e só desapareciam quando estava com Simmons...

Simmons. Skye não podia mais pensar nela se quisesse resolver tudo.

May bufou e olhou impaciente para Skye. As duas trocaram um breve olhar, apenas o necessário para que a mais velha entendesse tudo. Não era uma questão de dever, estava acima disso. Skye tinha a perfeita noção de que era a única capaz de parar Grant Ward.

“Não adianta falarmos com ela, Coulson. Skye vai fazer do mesmo jeito. É melhor que estejamos prontos para resgatá-la se for necessário.”

Coulson olhou de May para Skye. Estava impassível à superfície, mas, por dentro, o agente estava agoniado. Sabia muito bem que era suicídio enviar Skye até aquele local a mando de Ward. Um dos dois acabaria morto e ele sabia que Ward tinha loucura o bastante dentro de si para que Skye acabasse enterrada naquele lugar junto com ele. E Skye... Ela era simplesmente boa demais para ter que lidar com um homem como aquele.

Sem muito que fazer diante de tais justificativas, Coulson concordou com um aceno de cabeça e Skye sorriu para ele, satisfeita. May e Tripplet saíram da sala e, assim que eles estavam longe o bastante, o sorriso de Skye desapareceu do rosto dela.

Coulson a encarou sabendo que o pedido dela acabaria, de vez, com suas esperanças. Entendeu, naquele momento, que Skye não planejava sair viva daquela missão.

“Não envie ninguém atrás de mim, AC. Eu não preciso de apoio, muito menos, de uma missão de resgate.”

“Por que você está fazendo isso, Skye? Ninguém quer lhe perder! Senão pensa na equipe, pense em Simmons, pelo menos!”

Coulson seria capaz de qualquer coisa para tirar aquele pensamento da cabeça de Skye. A hacker lhe sorriu triste e segurou-lhe a mão que estava em cima da mesa, o próprio agente não pode deixar de sorrir para ela.

Skye era especial, ele sabia disso desde a primeira vez que a vira.

“Estou pensando justamente nela. Eu não sei que tipo de pessoa eu serei quando voltar. Por isso, não pretendo sair viva de lá.”

Assim que respondera a Coulson, Skye escutou passos atropelados pelo corredor. Caminhou até a porta e antes que suas próprias lágrimas caíssem, ela pode ver Simmons correndo pelo corredor e, depois, trancando-se dentro de seu próprio quarto.

Ward estava conseguindo tudo que queria. Aos poucos, Skye perdia tudo aquilo que amava.

* * * * *

Skye estava arrumando seus equipamentos apenas por costume, era um ritual que ela sempre realizava antes das poucas missões de campo das quais participava. Já escutara vários passos no corredor, mas ninguém entrara em seu quarto. E Skye, silenciosamente, agradecia por isso.

Ninguém lhe tiraria da cabeça que aquele era seu destino. Enquanto Ward vivesse, sua existência estaria entrelaçada com a dele. Ela jamais poderia seguir em frente se ele não tivesse a sua sentença.

E se os métodos mais justos falharam com isso, ela mesma faria justiça com suas próprias mãos. Ou enquanto ainda as possuísse.

Mais passos pelo corredor interromperam seu raciocínio. Porém, dessa vez, Skye também escutou a porta de seu quarto abrir. Ela não precisou se virar para saber quem era. O cheiro doce e único era perfeitamente reconhecível aos seus sentidos. Skye abriu um sorriso triste.

Não precisava de uma despedida agora.

“Você sabe que não precisa fazer isso.”

A voz de Simmons estava baixa e trêmula. Skye virou-se para ela e encontrou-a com os olhos vermelhos e a expressão melancólica, as lágrimas secaram, mas a hacker percebeu que o rosto da outra ainda estava manchado. Skye deu um passo à frente e Simmons recuou.

“Ele quer que você vá sozinha, sabe disso.”

“E eu preciso dar a Ward o que ele quer. Antes que, aos poucos, ele tire tudo que é importante para mim. Eu não quero perder vocês, Jemma.”

Skye tentou colocar um pouco de seriedade e, até mesmo, um pouco de frieza em sua voz... Mas tudo que conseguiu foi um tom de voz cansado que tentava convencer tanto Simmons quanto ela própria. Seu coração estava apertado, ela não estava pronta para se perder e, principalmente, perder tudo para ter a cabeça de Ward em suas mãos. As duas se olharam, Simmons crescia em seus argumentos enquanto Skye recolhia-se em sua escuridão.

Simmons era a sua principal fraqueza e talvez, estivesse fazendo tudo por ela. Não era capaz de imaginar o que Ward faria se soubesse algo sobre as duas, não poderia viver em um mundo onde Jemma Simmons se perdesse por causa de Grant Ward. Simmons era boa demais para uma pessoa como ela... Talvez, Ward estivesse certo e os dois devessem ser monstros juntos. Simmons estava excluída da equação.

“E eu não posso perder você! Você não pode deixar-se levar por causa dele, você não é como ele, Skye!”

Skye deixou-se cair em sua cama e escondeu seu rosto entre suas mãos. Sentiu quando o colchão ao seu lado afundou com o peso de Simmons, depois, sentiu as mãos frias e trêmulas tocarem sua nuca e, gentilmente, fazerem carinho ali. A hacker não conseguiu mais ficar insensível diante daquilo e, lentamente, as lágrimas que tanto segurara durante o dia finalmente caíram. Simmons beijou seus cabelos e Skye sentiu tudo explodir dentro de si.

Ela não estava pronta para abrir mão de Simmons em favor de sua escuridão. Ela não era capaz de largar tudo e voltar-se, novamente, contra Ward. Simmons era tudo que ela possuíra desde que tudo se perdera... E sabia que não estava pronta e jamais estaria para perdê-la, era inútil tentar ignorar a ameaça de Ward, se negasse o que ele mandara, perderia Simmons mais tarde.

Skye estava entre a cruz e a espada.

Ward fora esperto o bastante para deixar, nas entrelinhas de seu suposto pedido saudoso, a mais clara das ameaças: Skye perderia Simmons. Ela só teria que escolher “quando” e seria agora, por suas próprias escolhas e devido aos seus próprios demônios ou depois, também por suas próprias escolhas, mas nas mãos de outros. O que diferenciava uma situação da outra era a culpa. Skye não seria culpada se escolhesse abandonar Simmons agora.

Tudo estava devidamente decidido na cabeça de Skye, mas parecia impossível lidar com o peso de sua escolha naquele momento... Quando o tempo parecia parado e o mundo lá fora parecia não existir, simplesmente pelo fato de que Jemma Simmons estava lhe fazendo carinho e respeitando o seu silêncio enquanto tentava permanecer forte pelas duas, mesmo com as lágrimas caindo e molhando o colchão em que ambas estavam sentadas.

A força e a coragem eram duas das características que Skye mais admirava em Simmons. Porque nela, ambas eram inerentes a sua personalidade e não vinham acompanhadas de grandes eventos ou situações-limites. A força e a coragem de Simmons eram silenciosas, compunham cada momento que ela teve a frieza de salvar a vida de alguém ou cada vez em que ela foi a primeira a colocar as mãos em um 0-8-4. Estavam impressas em cada vez que ela recepcionou Skye, após uma missão de campo, com um abraço apertado e um sorriso. Estavam claras em cada beijo de despedida que as duas trocaram antes de May carregar Skye para o campo com ela... Estavam presentes até mesmo naquelas lágrimas que ela derramava naquele momento porque, diferentemente de Skye, Simmons se permitia sentir tudo o que a relação das duas poderia proporcionar e, principalmente, estavam mais do que provadas naquele abraço. Simmons tinha força e coragem para amar e, principalmente, acreditar na volta de Skye.

Skye nunca se achou digna de tanto, nunca achou que merecia tanto e, naquele momento, finalmente percebia que aquilo era verdade. Simmons podia amar a pessoa que, naquele momento, saía do Playground, mas jamais seria capaz de amar a pessoa que voltaria... No fim das contas, Skye não era digna e não merecia, nem o antes e nem o depois.

Estava tudo muito claro agora.

Skye separou-se lentamente de Simmons que, inutilmente, apertou-a ainda mais nos braços. Quando as duas finalmente se afastaram, Skye sorriu tristemente enquanto observava o rosto da outra, distorcido em uma expressão de tristeza e choro que ainda assim não conseguia tirar a beleza de Simmons. Skye afagou-lhe a bochecha com a ponta dos dedos e respirou profundamente quando Simmons agarrou-se a sua mão, o toque dela, mesmo frio, já conseguira lhe acalmar.

“Eu e o Ward estamos entrelaçados, Jemma... Eu tenho que acabar com isso caso queira continuar a seguir em frente.”

Era a primeira vez que Skye mentia para Simmons e dentro de seu peito, seu coração apertara e se retorcera diante de suas palavras. Preferia que a bioquímica ainda nutrisse algum tipo de esperança, Skye sabia como era difícil viver sem esperança... Ela era o maior e mais forte poder que possuíam, Skye aprendera isso com aquele ressurgimento da S.H.I.E.L.D. e ela precisava que, naquele momento, Simmons acreditasse nela para que pudesse ir em paz, sem olhar para trás.

Deixava uma promessa quebrada para trás, mas podia partir deixando algo em Simmons, não somente o vazio.

“Você não pertence a ele, Skye. Nunca pertenceu.”

Simmons fora intensa e pontual em cada uma de suas palavras, seus olhos claros focaram-se nos escuros de Skye e assim permaneceram. As duas se falavam muito pelos olhares e, naquele momento, Skye escutou as três palavras que as duas nunca disseram e jamais diriam uma para outra. A hacker abaixou a cabeça, suas bochechas coraram. Ela foi atingida pela intensidade dos olhos de Simmons e, principalmente, pela força que vinha dos sentimentos dela.

“Claro que não, eu sempre pertenci a você.”

Suas palavras chegaram aos ouvidos de Simmons e demoraram um pouco para serem apreendidas, a bioquímica abriu a boca uma ou duas vezes e mesmo assim não encontrou as palavras necessárias. Skye aproximou-se dela e beijou-lhe, delicadamente, os lábios. Simmons retribuiu, segurando-lhe o pescoço e respirando pesadamente. Escutaram batidas na porta e se separaram, Simmons colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha de Skye e olhou para ela, como se fosse a última vez.

“Então volte. Para mim. Não fique e nem deixa que ele lhe tenha para ele. Volte para mim.”

Skye acenou, mas não conseguiu prometer com palavras. Não poderia mentir duas vezes para ela. Levantou-se e caminhou até a porta, Fitz a abriu e observou as mãos das duas entrelaçadas com um sorriso de lado. Skye beijou a testa dele, mais duas lágrimas caíram de seus olhos. Fitz possuía a sua vida a partir daquele momento.

“Cuida dela, Fitz... Ok?”

O rapaz apenas acenou sabendo que havia muito mais do que aquele pedido naquelas palavras e Skye puxou a mão lentamente. Simmons ainda tentou segurá-la, pela última vez, e não conseguiu. Quando fechou a porta atrás de si e acompanhou May pelo corredor, Skye escutou o soluço de Simmons e aquele foi o som que ecoou em sua mente durante todo o caminho. A hacker só não esperava que ele também ecoasse em seu coração e ela teria desabado caso não fosse o aperto de May em seus ombros.

* * * * *

A prisão em que Ward estava parecia e muito com algum cenário vagabundo de um filme de terror qualquer. O local estava vazio, Ward liderara uma rebelião que culminara na liberdade de vários ex-agentes da HYDRA que, naquele momento, estavam sendo caçados pelo mundo inteiro.

Só duas pessoas estavam naquela prisão. Skye caminhava decidida através dos corredores escuros, seguindo o mapa que Coulson lhe entregara. Acreditara que, na iminência de encontrar Ward, seu corpo começasse a jogar contra ela... Mas suas mãos não tremiam, ela enxergava muito bem na escuridão do local e, principalmente, seus sentidos estavam atentos a qualquer mudança no ambiente.

Era a adrenalina ou, talvez, um pouco de ódio misturado com fúria.

Skye só queria encontrá-lo e fazer aquilo que devia fazer. Não teria misericórdia daquela vez, não seria melhor que ele... Se Ward queria um monstro, ele o teria.

Skye procurava não pensar em Simmons, ela não se encaixava na situação que se encontrava. Sabia que ela, naquele momento, estava olhando sem parar para a tela de projeção, esperando pelo seu contato que jamais viria... O coração de Skye se apertou e ela parou no meio do corredor de celas. Respirou fundo, fechou os olhos e no silêncio mórbido do local, escutou passos e aplausos atrás de si.

“Ora, ora, Skye... Achei que não teria coragem de vir aqui sozinha!”

Aquela voz baixa, quase sussurrada... Skye não a escutava há meses, mas era capaz de reconhecê-la em qualquer lugar, mesmo que ela estivesse encoberta por milhares de vozes. Virou-se lentamente, iluminando seu campo de visão com a lanterna que trazia em mãos. O facho de luz percorreu o chão e, depois, aos poucos, revelou uma silhueta masculina, alta e forte para, enfim, revelar um rosto.

Um rosto com algumas cicatrizes que May se orgulharia se as visse. A barba rala, mal feita. Os olhos escuros brilhando graças à ganância de, finalmente, ter seu objeto de desejo tão próximo de si. Ele era apenas uma sombra do que um dia Ward fora, uma sombra escura e opaca. Skye cuspiu aos pés dele e sorriu ironicamente.

“Eu não tenho medo de você, Ward. Nunca tive.”

“Mas garanto que ainda não é capaz de me matar.”

Ward tinha um sorriso lunático no rosto e, agora, cercava Skye com passos lentos e pesados, exatamente da mesma forma que um animal cercava sua presa. Ele a observou da cabeça aos pés enquanto a hacker revirava os olhos e bufava, impaciente. O ódio parecia percorrer todo seu corpo através de seu sangue. Skye apertou os punhos.

“Quer pagar para ver?”

“Eu gostaria, muito. Mas antes... Não quer me falar o que aconteceu com os outros? Estou realmente curioso para saber o que fizeram em minha ausência.”

Ward parecia realmente interessado ao fazer essa pergunta, ele parou de cercar Skye e posicionou-se em frente a ela, próximo o bastante para que Skye sentisse o fedor de suor que vinha dele. A hacker não recuou, muito menos se abalou. A expressão permaneceu fria, inabalável.

“Não pensamos em você, se é isso que quer saber, Ward. Todos nós tínhamos coisas decentes a fazer. Ninguém queria saber o horário do seu banho de sol ou que gororoba você estava comendo, por exemplo.”

“Nossa, eu realmente achei que vocês se importassem mais comigo! Não recebi nenhuma visita sequer, nem da May... Achei que tivesse sido importante para ela.”

Skye revirou os olhos, mais uma vez. Trocou o peso do corpo nos pés e continuou a olhar Ward que parecia cada vez menos humano. Ele sorriu maniacamente quando ela arqueou a sobrancelha para ele.

“Como eu disse, ninguém mais se importa com você.”

“Nem FitzSimmons? Achei que tivesse deixado a minha marca na vida deles...”

E as palavras ditas por Ward finalmente tiveram o efeito desejado. Skye impulsionou o corpo para frente e seu punho direito atingiu a face esquerda dele. Ward caiu, surpreso, ao chão e não teve tempo de se levantar porque, no segundo seguinte, Skye já estava em cima dele, socando cada pedaço de seu corpo que pudesse alcançar.

Ward conseguiu imobilizá-la, segurando-lhe os pulsos e gargalhava histericamente, parecia satisfeito com o que conseguira. Skye debatia-se e Ward trocou de posições, ficando por cima dela, ele aproximou o rosto dela e sorriu vitorioso.

“Isso não se faz, Agente Skye. Nunca demonstramos sentimentos, lembra?”

Skye movimentou-se embaixo de Ward e conseguiu espaço para acertar uma joelhada na virilha dele. O corpo de Ward caiu ao lado do seu, retorcendo-se em dor e ela colocou-se em pé, ofegante. Skye chutou-lhe o estômago, repetidas vezes, e na quarta ou quinta vez, Ward segurou sua perna e a jogou-a para longe. Skye bateu as costas nas grades de metal e ficou tonta com o choque.

“Acho que perdi alguma coisa... Não me lembro de você ser muito próxima ao Fitz.”

Skye engoliu em seco e logo a confusão de sua mente de dissipou, Ward era astuto, ele não deixaria nada passar em branco, ele estava lhe testando o tempo todo, ele estava disposto a encontrar sua fraqueza. Skye colocou-se em pé com dificuldade e focalizou Ward a sua frente, com uma expressão pensativa. Ward cercou-a e Skye repetiu seu movimento, dessa forma, os dois ficaram se estudando com afinco. Ward sorriu quando, finalmente, a conclusão pareceu iluminar a sua mente.

“Ou será que tudo é por causa de Jemma Simmons?”

Skye sacou sua arma, Ward fez o mesmo. Os dois se olharam e, dessa vez, a tensão pesava entre eles. Skye firmou o aperto em sua pistola e Ward fez o mesmo. Nenhum dos dois parecia disposto a ceder.

“Não ouse falar nela.”

“Eu deveria saber que alguma coisa acontecia entre vocês duas.”

Ward parecia mais psicótico agora. O sorriso maníaco desaparecera e, naquele momento, seu rosto contorcia-se em frieza e fúria silenciosa. Os olhos perderam o brilho e tornaram-se opacos, sem vida alguma. Ele não parecia sequer humano.

Skye não estava diferente dele. Sua expressão estava fechada e ela empunhava a arma decidida. Seus lábios estavam crispados, seus olhos acompanhavam cada respiração de Ward e brilhavam, segurando as lágrimas de fúria que queriam escorrer por sua face.

“Como eu lhe disse antes, é a primeira vez que eu quero uma coisa em minha vida. E eu vou pegá-la. E se Jemma Simmons estiver no meu caminho, eu vou ter que passar por cima dela.”

“Eu estou aqui, Ward. Era isso que você queria. Não tem mais ninguém entre nós dois. Então, venha me pegar!”

Skye procurou ignorar as ameaças de Ward à segurança de Simmons e concentrar-se em sua missão. Falhara quando se deixara levar pelas provocações dele, agora, Ward sabia que havia algo mais lhe segurando lá fora e não descansaria enquanto não lhe tirasse aquilo também. Skye engoliu em seco, suas mãos começaram a tremer e perdeu um pouco a mira de sua arma, logo, o próprio Ward desapareceu de seu campo de visão.

Aflita, Skye girou em seu próprio eixo. No instante seguinte, seu pescoço foi envolvido por uma chave de braço. O aperto ao redor de sua garganta fez, rapidamente, o ar desaparecer de seus pulmões. Skye debateu-se, mas o peso de Ward era muito maior do que o dela. Estava em desvantagem, Ward a atacara pelas costas. Sentia a respiração quente dele em sua nuca, o suor dele grudando na pele de seus braços. Envolveu as mãos ao redor do braço dele, arranhando, enquanto ele respirava fundo em seus cabelos.

“Sabe, Skye...? O mundo que eu sei que está por vir não terá espaço para gente como ela e sim, para gente como eu e você. Eu só quero que você espere por isso ao meu lado. Exatamente aonde você pertence.”

Skye não respondeu e continuou a debater-se nos braços de Ward. Seus gritos de fúria podiam ser escutados na prisão e apenas provocavam risos no homem que parecia não sentir mais nenhum dos golpes que recebia.

A hacker sabia que acabaria morrendo nas mãos dele.

Só que aquele momento não parecia o ideal. Skye não podia morrer sabendo que Ward continuaria livre e, principalmente, atrás de Jemma. Precisava fazer alguma coisa, precisava lutar contra aquilo.

E talvez, foi essa ânsia que a guiou em meio à falta de ar. Cega pela ausência de oxigênio em sua cabeça, Skye impulsionou o corpo para trás e conseguiu deslocar o corpo de Ward com força. As costas dele bateram nas grades da cela atrás dos dois, Ward grunhiu com dor e Skye tirou um pouco de vantagem, pisando no pé dele e exercendo pressão sobre o punho dele.

Escutou os ossos do punho de Ward se deslocando, o grito de dor que ele proferiu soou como música em seus ouvidos. O homem a soltou bruscamente, jogando-a no chão enquanto tentava lidar com a dor de seu pulso deslocado. Skye sorriu no instante que seu rosto bateu no chão, sentiu o sangue lhe escorrer pela boca quando se levantou e correu em direção a ele.

Seu corpo chocou-se com o abdômen de Ward. Ela impulsionou-se ainda mais para frente e os dois rolaram pelas escadas. Cada dor que Skye pudesse ter sentido foram ignoradas pela adrenalina que percorria seu corpo. Quando ficou em pé, novamente, sentiu o pesado punho de Ward em seu rosto.

Cambaleou e tentou se apoiar, mas Ward a segurou pelo colarinho da camisa e jogou-a de encontro às paredes.

“Não adianta lutar contra o que você é, Skye!”

“Eu não estou lutando contra o que eu sou, Ward! Eu estou lutando contra você e por ela”

As palavras de Skye atingiram Ward no mesmo momento que um chute lhe atingia o peito. Ele foi jogado para longe de Skye e suas costas bateram de encontro à parede, quando Skye preparou-se para lhe aplicar mais um golpe, seus olhos encontravam os olhos dele.

Skye nunca o enxergou tão perdido e desolado como ele estava naquele momento.

Os olhos escuros estavam opacos, profundos e fixos nos olhos de Skye. A expressão estava gélida, mas um filete de lágrima escorria pela face direita de Ward. Ele respirou profundamente e abaixou a cabeça, envolvendo o rosto em suas próprias mãos. Skye parou tudo o que fazia e, lentamente, recuou. Ward ergueu os olhos para ela.

“Por que ela, Skye?”

“Eu não vou lhe responder isso, Ward.”

Skye estava ofegante, seu corpo parcialmente encostado na parede. Ward, imerso pela onda de fúria que mais uma vez o invadiu, ficou em pé rapidamente e no segundo seguinte, tinha ambas as mãos em volta do pescoço de Skye. A hacker sentiu o ar escapar de seus pulmões, a inconsciência arrastava suas garras em direção em sua mente e ela podia enxergar tudo ficar negro... Exceto os olhos de Ward.

Os olhos de Ward estavam mais escuros que qualquer outra coisa que Skye enxergara em vida. Ele estava imerso em total desespero, a escuridão o tomava e não parava de preenchê-lo por completo, invadindo cada resquício de humanidade que ele ainda possuía. Aliás, parecia que a única coisa que lhe fazia humano fora despedaçada quando Skye dissera a ele que jamais voltaria a ele.

“Você me deve isso, Skye! Você é o que é por minha causa! Estamos destinados a ficarmos juntos... Você me pertence!”

Toda a loucura de Ward foi expressada em forma de violência. Skye sentiu sua cabeça ser batida várias vezes contra a parede enquanto sua consciência ia desaparecendo. Imersa na dor e na falta de ar, os olhos quase fechados de Skye encontraram a arma de Ward, ainda presa em sua cintura.

“Eu pertenço a Simmons, Ward. Eu nunca fui sua como eu sou dela.”

Ward não teve tempo para compreender as palavras porque, no segundo seguinte, a loucura e a escuridão extinguiram-se de seus olhos. A bala disparada pela pistola que Skye empunhou contra seu peito interrompeu, imediatamente, a sua energia vital. As mãos dele caíram inúteis ao lado de seu corpo enquanto seu olhar perdido e suas lágrimas permaneciam fixas em Skye antes de seu corpo cair ao chão.

Skye ajoelhou-se no chão, tossindo e tentando recuperar o ar. Seu corpo trêmulo, suas mãos sujas de sangue e as lágrimas manchavam seu rosto. Encolheu-se e abraçou os próprios joelhos, observando o cadáver de Ward que jazia ao seu lado.

Os inúmeros ferimentos em sua pele não doíam tanto quanto seu interior. Olhar o cadáver de Ward só fazia parecer mais real a certeza que ela tinha ao deixar o PlayGround. Jamais seria capaz de voltar para Simmons, não depois do que fizera. No final, Ward vencera. Skye era o monstro que ele tanto dizia que ela seria.

Passos foram escutados através do corredor, Skye colocou-se em pé e empunhou a arma para o lance de escadas. Sem olhar para trás, deixou o cadáver de Ward e caminhou de encontro aos sons. Estava prestes a atirar quando a sombra de Phill Coulson apareceu em seu campo de visão.

“Viemos atrás de você, Skye.”

“Eu disse que isso não era necessário.”

A voz de Skye saiu fria e surpreendeu até mesmo May que estava ao lado dele. Os olhos da agente rapidamente chegaram ao cadáver de Ward, frio e inerte no chão às costas de Skye. A hacker não ergueu os olhos para os dois e nenhum deles manifestou-se.

Mais passos foram escutados e um corpo chocou-se contra a imobilidade de Skye. Simmons estava a abraçando apertado, resmungando coisas incompreensíveis em seu ouvido. Skye segurou-a pelos braços e a afastou rudemente.

Os olhares de ambas se encontraram. A escuridão dentro dos olhos de Skye fez Simmons engolir em seco.

“O que você está fazendo aqui? Onde está o Fitz?”

“Eu não pude cumprir minha promessa, Skye... Não parecia o certo.”

A voz de Fitz respondeu receosa, mas a hacker sequer fez questão de olhar para o rapaz. Simmons permanecia em frente a ela, trêmula e chorosa. Skye bufou, furiosa. Suas mãos tremiam, a raiva impulsionava seu corpo contra todos os que antes eram a sua família.

“Você não é uma assassina e muito menos um monstro, Skye. Não deixe que Ward entre em sua cabeça.”

“Não é o que aquele cadáver ali atrás diz sobre mim, Simmons.”

Skye estava sarcástica, limpava as lágrimas com dificuldade, mas não abandonava a tensão e a postura rígida. Simmons aproximou-se dela, Skye recuou e a bioquímica não se fez ofendida, aproximando-se novamente. Segurou a mão direita de Skye que ainda segurava a arma e fez com que a hacker empunhasse a mesma em sua direção.

Skye arregalou os olhos e o resto da equipe engoliu em seco. Pelo canto dos olhos, Skye reconheceu a sombra de Tripplet remexer-se em suas costas, preparando-se para intervir se fosse necessário.

“Se você for uma dessas duas coisas, ou, quem sabe, as duas... Será capaz de atirar em mim.”

“Você sabe que eu jamais seria capaz de atirar em você!”

Skye gritou, desesperada. As lágrimas voltaram a escorrer de seus olhos e o olhar dela, naquele momento, era tão perdido quanto o olhar que Ward dera em seus últimos minutos de vida. Simmons permaneceu imóvel enquanto todo a equipe observava, apreensiva.

“Atire em mim, Skye. Olhe nos meus olhos e atire em mim!”

Skye não o fez. A hacker abaixou a arma e desabou de joelhos ao chão. Simmons chutou a arma para longe e logo envolveu os braços ao redor de Skye que, imediatamente, a abraçou de volta, apertando-a. Simmons afagou-lhe os cabelos escuros e olhou para a equipe, o olhar dela fez com que todos as deixassem sozinhas.

Skye tremia e soluçava, frágil e quebrada como nunca. Simmons esperou, pacientemente, até que o choro se tornasse silencioso e afastou-se lentamente para olhar nos olhos da hacker. Skye abaixou a cabeça, em um misto de vergonha e tristeza, Simmons suspirou e ergueu a face dela.

“Você não é como ele. Você se desvencilhou dele e voltou para mim, exatamente como deveria ser. Você me pertence, lembra?”

Skye não respondeu. Porém, uma troca de olhares foi capaz de mudar o rumo de seus pensamentos. Enxergou, nos olhos de Simmons, toda a luz que precisava para sair da própria escuridão que a invadia. Ela não concordava com nada que Simmons dizia, mas sabia que a paramédica tinha a paciência necessária em lhe fazer acreditar.

E o simples fato de Skye possuir alguém que não desistira dela já deixava claro quão diferente ela era do próprio Ward.

FIM


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Notas finais do capítulo

Reviews?

Até a próxima,
FerRedfield



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