A Beira Da Loucura escrita por Guilherme


Capítulo 7
Reasons to smile




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Esperei até a décima quinta batida para finalmente me tocar que deveria abrir a droga da porta – sim, eu estava contando –, olhei para o espelho e meu cabelo estava bagunçado e o meu rosto cansado, isso é ótimo pois caso ele pergunte porque eu demorei parar abrir a porta eu falo que estava dormindo, e por que diabos eu precisava inventar alguma desculpa ?! O Adair que se ferre ! Fiz minha melhor cara de “eu não me importo com você” e congelei meu olhar a menos vinte graus Celsius, mas mesmo assim meus olhos não ficaram tão frios quanto ao do homem que agora está esmurrando minha porta.

– É MELHOR VOCÊ PARAR DE BATER NA MALDITA PORTA OU EU VOU QUEBRAR-LA EM SUA CABEÇA ! – Gritei enquanto eu terminava minha análise no espelho e ia em direção a porta.

– Por que tanta demora para abrir uma porta ? – Falou ele em tom raivoso e eu o fuzilei com o olhar.

– Você que estava esmurrando a minha porta e ainda acha que tem o direito de ficar bravo comigo ?! Qual é o seu problema ?!

– Ok, chega desse papo irrelevante vamos falar sobre o que está acontecendo aqui, por que você está me evitando ? Se for por causa daquele beijo eu já disse que foi um err...

– Primeiro: eu não estou te evitando. Segundo: nunca mais bata desse jeito na minha porta. Terceiro e último: eu não me importo com aquele beijo. – Mentirosa, mentirosa, mentirosa...

– Então por que você não foi no café da manhã e no almoço e nem apareceu no meu quarto ? Jeniffer eu não quero que as coisas mudem por causa de uma idiotice... – Ótimo, nosso beijo passou de erro para idiotice.

– Eu acordei tarde hoje e não estava com muita fome, eu não fui no seu quarto porque eu estava escrevendo, foi mal. – Falei passando a mão na testa.

– O que aconteceu com sua mão ? – Droga, eu havia esquecido completamente da minha mão machucada, aliás eu preciso fazer um curativo nela urgentemente.

– Não foi nada, é que eu cai. – Que ele não pergunte como eu havia caído.

– Caiu como ? – Ô meu senhor você está de sacanagem né ?!

– É, bem, eu estava no banheiro e escorreguei e cai batendo a mão na quina do box. – Até que foi uma desculpa plausível.

– Acho que vai precisar dar pontos, vamos na enfermaria. – Sério mesmo que ele está se preocupando com esse machucado idiota enquanto existem coisas bem mais importantes para se preocupar: tipo a falta de importância dele com o beijo ?!

– Não precisa, depois eu vou na enfermaria. – Disse num tom relativamente frio.

– Vamos logo, para de ser infantil. – Queria dar uma sequência de revirada de olhos para o idiota a minha frente, porém, isso não foi possível porque dois minutos depois eu estava sendo puxada para a enfermaria.

Enquanto eu andava o pequeno percurso até a enfermaria fiquei pensando no quanto eu estava sendo infantil, eu odiava bancar a criança mimadinha mas foi exatamente isso que eu fiz minutos atrás, esse é um dos efeitos de se estar com TPM. Nesse exato momento eu me encontrava sentada na cadeira de uma pequena sala que havia na enfermaria enquanto esperava um enfermeiro vir até a mesma e Adair estava do meu lado em pé, ouvi um barulho e um enfermeiro alto e musculoso entrou na sala, por causa da blusa de manga curta branca que ele usava eu pude ver uma tatuagem que cobria seu bíceps inteiro e aquilo reforçava o seu visual de cara mal, ele não era do tipo de muitos amigos já o vi algumas vezes pela clínica e ele sempre mantinha essa expressão carrancuda, se não me engano seu nome é Mad ou Matt ou Max...

– Ei, eu estou falando com você. – Esse é o Mad/Matt/Max interrompendo meus pensamentos.

– Ahn, desculpa eu não ouvi.

– Como você conseguiu essa catástrofe na sua mão ?

– Não está tão ruim assim. – Falei olhando para minha mão e realmente aquilo estava feio. – Eu escorreguei no banheiro e cai batendo minha mão na quina do box. – Repassei a frase que tinha falado minutos antes pro Adair e apenas repeti, como um gravador.

– Você vai ter que levar três pontos e passar uma pomada anti-inflamatória duas vezes ao dia. – Falou com aquela expressão séria que chegava a dar medo. – Vou buscar os equipamentos para os pontos. – Dito isto se levantou e saiu da pequena sala.

Calma aí se eu vou ter que levar pontos isso quer dizer que será necessário usar uma agulha e... NÃO A-G-U-L-H-A NÃO ! Eu tenho pavor de agulha, já tive tantos momentos constrangedores no consultório médico porque fazia escândalo para tomar uma injeção, sempre que eu ia tirar sangue, tomar vacina ou tomar minha injeção que suspende o ciclo menstrual minha mãe e depois de um tempo a Emma iam comigo e ficavam segurando minha mão e me acalmando para mim não sair correndo dali, e agora elas não estão aqui e um grande desespero começou crescer dentro de mim. Olhei para o lado e vi Adair encarando a parede branca se nem ao menos piscar, eu precisava da ajuda dele.

– Adair... – Falei tão baixo que achei que ele nem tinha escutado.

– Hm.

– Você pode segurar minha mão ? – Ele me encarou com a sobrancelha arqueada.

– Por que eu faria isso ?

– Porque, eu, é, eu... tenhomedodeagulha.

– Você o que ?

– Tenho pavor de agulha e estou quase saindo correndo daqui. – E então ele riu, sim ele realmente estava rindo, eu nunca o vi nem ao menos dando um sorriso de lado e agora estava rindo – tudo bem que ele estava rindo da minha desgraça, mas quem se importa quando se está escutando uma risada dessas ?! – e eu sorri me esquecendo da agulha, da cara de mal do Mad/Matt/Max, dos três pontos, da mão machucada, mas isso durou pouco pois segundos depois o enfermeiro bad man estava adentrando a sala com uma caixinha branca em mãos.

– Vamos lá. – Falou pegando minha mão.

Quando ele tocou sua mão na minha eu já agarrei firmemente a mão do Adair e apertei os olhos com força, eu realmente não queria ver aquilo. Foi o momento mais agoniante da minha vida sentir aquela agulha perfurando e depois atravessando minha pele foi horrível, pareceu que a tortura durou anos mas na verdade só durou um minuto, porém para mim cada segundo era uma década.

– Pronto. – Disse Mad/Matt/Max e só então eu tive coragem de abrir meus olhos.

– Valeu. – Falei encarando a minha mão que agora estava com três pontinhos pretos e envolta estava branco por causa da pomada.

– Vamos. – Declarou Adair e só então percebi que ainda estava segurando sua mão e rapidamente a soltei da minha.

Olhei para o cara caminhando ao meu lado e só então percebi que quando eu acabar de escrever esse livro tudo isso acaba também, eu não poderia passar o resto da minha vida morando em uma clínica psiquiátrica e acho que o Adair não vai sair daqui nem tão cedo, a única solução era se eu ficasse louca também, mas só de pensar nisso já chega a ser loucura. O que eu estou fazendo comigo é loucura, como eu posso pensar ou ao menos cogitar em ter um romance com um paciente de um hospício ?! Isso é realmente insano.

– Adair eu fiquei surpresa quando eu te vi rindo na enfermaria porque você nunca fez isso nesses tempos que eu estou aqui, para mim pareceu que foi a primeira vez que você riu na sua vida. – Eu não sei porque eu estava falando isso para ele, eu só sei que as palavras começaram a sair da minha boca como se tivessem vida própria.

– Foi realmente engraçado ver uma mulher morrendo de medo de uma agulhinha. – Revirei os olhos.

– Por que você não costuma sorrir ? – “Seu sorriso é lindo não esconda ele do mundo e muito menos de mim” completei internamente.

– Acho que eu não tenho muitos motivos para sorrir, olha na merda que eu estou, você sorriria se estivesse no meu lugar ? – Fiquei calada o observando. – Fazia tanto tempo que eu não ria que nem lembrava mais como era, obrigada por isso. – Ficamos um tempo em silêncio.

– Meu primeiro beijo foi aos doze anos no pôster do Nick Carter do backstreet boys e minha mãe me pegou beijando o pôster e me colocou de castigo me proibindo de ouvir a banda e ainda rasgou o pôster do Nick e aquilo despedaçou meu coração e eu chorei por uma semana inteira. – E minha intenção de fazer ele rir deu certo, eu simplesmente não me importava de ter contado uma das coisas mais vergonhosas da minha vida só pelo simples fato dele estar ali rindo de novo.

– Você era uma daquelas menininhas idiotas, eu não posso acreditar.

– Eu era uma criança. – Disse um pouco raivosa, eu não era idiota só porque tinha beijado o pôster do Nick... É, talvez eu fosse um pouco. – Vai me dizer que você nunca ouviu uma música deles ?

– Claro que não, acho que eu nunca fui retardado o suficiente para ouvir aquilo.

– Você está me chamando de retardada ?!

– Talvez.

– Você é um idiota. – Bufei e sai andando na sua frente.

– Foi mal, é que eu realmente não esperava por isso. – Falou me alcançando.

– Sai fora.

– Você ainda está na TPM ?

– Vá se danar.

– Ok, eu vou embora, amanhã quero você no meu quarto no mesmo horário de sempre.

– Você está achando que manda em mim ?! Escuta aqui...

– Só vai lá. – Me interrompeu, logo em seguida me deu um beijo na bochecha e saiu andando, e eu fiquei ali estática por alguns segundos tentando entender o que aconteceu. Jeniffer você precisa se acostumar com esses sinais de afeto do Adair, foi só um beijo no rosto, supere !


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