Até agora eu não estou acreditando que eu fiquei parada, estática, assim que vi o guarda da minha cela, quer dizer, eu sequer conheço esse garoto (n/a: Tive que me conter pra não escrever guri... Sim, sou gaúcha.), afinal, porque eu fiquei parada ali, igual a uma anta? Aquele garoto não tem nada de especial, além da beleza é claro, mas isso não vem ao caso.

Acho que essa história de ter sido capturada pelos nazistas está afetando meus neurônios. Eu entrei no meu quarto, vulgo cela, era “bonito” até... Quer dizer, eu estou em um lugar cheio de pessoas que me odeiam que estão me prendendo aqui só por que eu não sou como eles. Então acho que eu poderia considerar o quarto em que eu vou ficar esperando pela minha morte (Credo eu estou muito dramática!) bem bonito... Tinha uma cor escura, marrom, uma cama no canto direito, tinha até uma janelinha, minúscula, mas era bom poder olhar o Sol, a Lua, o mundo lá fora.

Eu estava tão perdida em meus pensamentos que nem notei que o guarda da minha cela havia entrado nela.

–-Oi- falou James Potter, ele tinha um sorriso sem graça no rosto, acho que estava tentando me animar-Como é o seu nome?

–Lilian, Lilian Evans-Respondi da mesma forma-Mas pode me chamar de Lily.

–Okay Lily-Respondeu ele, não acredito que estava conversando com meu futuro assassino-Desculpa por você estar aqui, se dependesse de mim nenhum de vocês teria estado aqui ou morrido, quero que saiba que eu sou completamente contra o que o meu pai faz, só estou aqui por que ele me ameaçou de morte.

Nossa! Ameaçar o próprio filho, que tirania!

–Nossa!-Foi a única coisa que consegui dizer após ouvir a revelação dele, e, devo acrescentar, ficar uns 10 segundos com os olhos arregalados, então ele estava parcialmente do meu lado, bem, já sei que tem uma pessoa em quem eu posso confiar durante minha estadia aqui--Posso te perguntar uma coisa?

–Claro.

–Nós podemos ser amigos?

–Podemos, sim, podemos Lily.

–Obrigada-Respondi já com lágrimas nos olhos, eu o abracei por impulso, ainda bem que ele retribuiu se não eu iria ficar me sentindo uma babaca ali-Posso mesmo confiar em você?

–Pode, eu prometo que vou fazer o possível para você ficar ao menos um pouquinho feliz aqui nesse inferno-Respodeu ele e eu poderia dizer que tinha ganhado um grande amigo.

****

Eu estava indo em direção ao refeitório quando vi uma cena que eu preferia não ter visto.

O mesmo garoto que estava no meu quarto tentando me confortar e mostrando que era diferente estava agora humilhando uma menina loira não sei por que, imediatamente eu quis sair daquele lugar, tentei correr pra algum lugar, mas não teve como já que eu estava algemada em um cabo de aço, sem poder nem me mexer direito, era muito óbvio que eu não iria a lugar algum.

Então eu simplesmente fechei os olhos e me guiei pelo cabo, o que foi um erro terrível já que se eu estivesse de olhos abertos eu poderia ter visto a mesa na minha frente, mas eu não vi, o que resultou em uma queda extremamente dolorosa, e , muitos risos da parte dos soldados.

Levantei meus olhos e encontrei os olhos divertidos do Potter, ele me pegou pelos braços e me levantou de um modo bem bruto, acho que esse gesto machucou mais do que a queda, ele me levantou como se eu fosse um saco de batatas e me jogou no banco.

Levantei a minha mão com dificuldade por conta da dor e coloquei na minha cabeça, imediatamente senti algo pastoso e quente na minha testa, quando olhei novamente pra minha mão percebi que era sangue.

Perfeito!

Logo no meu primeiro dia aqui nesse inferno e eu já me machuquei, acho que eu sou a pessoa mais azarada que eu conheço.

Olhei para o meu prato e senti uma enorme vontade de vomitar, mas me contive se não provavelmente eu seria expulsa dali e teria que ficar com fome. O ponto era que a “comida” parecia mais uma gosma verde, peguei a colher e tentei comer, o gosto não era tão ruim assim, mas era extremamente nojenta, me forcei a comer tudo aquilo pra ver se eu me sentia um pouquinho melhor.

Não funcionou muito bem, acho que eu fiquei bem pior depois de comer aquilo.

Olhei pra frente e vi o Potter jogando a loirinha no banco do outro lado da mesa, notei que ela tinha muitas cicatrizes, algumas mais recentes que outras, ela tinha um olhar muito triste. Os olhos azuis dela, que algum dia devem ter sido de um azul elétrico e muito alegre, porém agora eles estavam opacos e sem vida, o cabelo dela era um loiro muito claro, quase branco.

–Oi- Puxei assunto, ela levantou o olhar pra mim e deu um sorriso mínimo que eu tentei retribuir, mas deve ter saído somente uma terrível careta- Qual é o seu nome?

–Dorcas Meadowes- Ela respondeu, nossa! Até o tom de voz dela era muito triste. - Mas me chama de Dorcs tá?

–Tudo bem- Respondi, essa conversa já tinha me deixado bem melhor do que qualquer outra coisa que eu tenha feito naquele lugar.

****

Paralisada, foi assim que eu fiquei por uns dois segundos olhando para aquele garoto parado em frente à porta do quarto sorrindo, mas eu não tive muito tempo para ficar olhando ele com ódio, o outro guarda que estava me escoltando até ali me empurrou pra dentro do quarto me fazendo esbarrar no Potter e quase bater de cara no chão.

Deitei na minha cama e fiquei pensando na vida, será que eu ainda tenho chance de sair daqui?

Provavelmente não...

Que ótimo, meu pessimismo voltou.

Foi quando eu escutei um barulho na porta e vi o menino Potter entrando no quarto.

–O que você quer? – Perguntei seca, o que eu tinha a perder?

Para a minha total surpresa ele sorriu, e não foi um sorriso qualquer, foi um sorriso divertido, quase malicioso, eu não conseguia entender por que ele tinha sorrido depois de eu ter sido tão fria com ele.

–Não precisa me odiar ruiva- Disse ele ainda sorrindo, aquele menino não parava de rir não? – Eu só vim pra ver como você está...

–Eu estou ótima - respondi interrompendo ele o que, para a minha surpresa, fez o sorriso dele aumentar – Já pode ir embora.

– E pra te apresentar a sua colega de quarto- Disse ele como se eu não tivesse interrompido ele. – Marlene McKinnon.

Olhei pra porta e vi uma garota morena com olhos azuis faiscando de ódio, ela era alta e tinha porte de modelo, realmente muito bonita, poderia ser considerada uma das mulheres mais bonitas do mundo, se não fosse pelo olhar assustador que ela tinha, como se pudesse retirar uma faca da cintura e sair matando todo mundo sem o menor remorso.

Ela simplesmente passou por nós e foi para o banheiro.

–Assustadora né?- Disse o Potter. Droga, eu já tinha até esquecido da presença da criatura- Tenho que confessar, eu estava com medo de colocar a Lene com você, ela é tão bruta e você... Tão frágil.

–Cala a boca Potter- Respondi fria- Eu não sou frágil.

–Ah é? Pois não parece.

–Por que não?

–Não conseguiu nem aguentar o que eu fiz com aquela menina loira.

–Você humilhou ela!- Gritei, já estava farta daquele lugar e daquelas pessoas.

–Foi necessário.

–Necessário?! Como assim necessário?! Então é assim que as coisas funcionam aqui? Se não gosta do que uma pessoa faz, humilha ela!- Eu já estava com lágrima nos olhos enquanto gritava aquilo pra ele- Eu te odeio!

–E eu te amo. - Respondeu ele calmamente.

Depois ele fez a pior e a melhor coisa que ele poderia ter feito naquele momento.

Me beijou.