A Segunda Telmarina escrita por MarshallStrauss


Capítulo 2
O Guarda-Roupa


Notas iniciais do capítulo

Autora: Obrigada pelos comentários, meninas, eu adorei ><
Lu, agradeço a parte da interação >< Quem sabe um dia que volte a escrever uma conta prória, Who knows...
Neste capítulo eu queria um cometário do dono dessa conta, mas ele não colaborou muito bem kkk So... Aqui está, mais um capítulo.
Para: Nanda Jackson Pevensie, Nymeria Malfoy Jackson e Lu Franco
Espero que gostem, leitoras, capítulo feito especialmente para vocês :3



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Acordei de manhã com minha cabeça doendo e as lágrimas manchando meu rosto, amassado pelo travesseiro. Havia esquecido de fechar as cortinas essa manhã e a luz do sol acertou em cheio meus olhos. Ainda podia ouvir o eco de um choro nos confins da minha mente.

Sentei-me de lado, sentindo os machucados dos açoites com o cinto queimarem sob minha camisola de flanela. A lembrança de um sonho veio com tudo em minha mente, como um soco bem dado.

Era uma floresta densa, com árvores altas, que bloqueavam minha vista para o céu. Estava muito escuro e tudo passava muito rápido. Eu ouvia os cascos de cavalos correndo e flechas zuniam em meus ouvidos. Estava frio e eu estava com fome, minha barriga roncava, e eu não entendia o que estava acontecendo. Os berros saíram de minha garganta sem o meu consentimento, eu chorava alto enquanto alguém colocou um pano em minha cabeça, fazendo-me deitar em seu ombro. Ouvia um Shhh baixinho em meu ouvido, mas eu não conseguia parar de chorar. As lágrimas cobriam completamente meus olhos e os berros saiam de minha boca.

– Vai ficar tudo bem. - ouvi uma voz feminina e doce sussurrar em meu ouvido. Vai ficar... alguma coisa a interrompeu.

Senti uma ponta afiada roçar perto do meu estômago e um líquido quente ensopar minhas roupas e o manto que me cobria. Meu choro se tornou mais histérico e vi, então, num quase breu, vi dois olhos brilhantes e ferinos acima de mim e ouvi um rugido alto e senti-me ser puxada para outro lugar.

Abri os olhos, piscando, deixando uma lágrima cair. Logo a limpei, coçando meus olhos, me levantei, penteando meu cabelo com os dedos. Fui em direção ao meu armário e vi, pendurado a sua frente, um vestido longo, vermelho com dourado. O peguei, colocando-o sobre a camisola, olhando para o espelho na parede oposta a minha cama. Franzi o cenho, já tinha visto aquele vestido antes. Olhei o meu reflexo, eu vi outra pessoa sorrindo para mim, uma mulher vestindo aquele mesmo vestido, muito parecida comigo, porém com um rosto mais delicado e sorridente, com lábios mais carnudos e rosados. Toquei o espelho e a mulher tocou minha mão, então eu pisquei, um reflexo de reconhecimento apareceu em meus olhos. Eu a conhecia, mas não sabia, ainda, quem ela era.

Recuei alguns passos, atordoada, sentando na cama, abaixei a cabeça, jogando meu cabelo para trás. Respirei fundo, fechando os olhos. As lembranças da noite passada me vieram à mente e sabia que era para eu vestir aquele vestido. Com certa dificuldade vesti-o e calcei botas de inverno, olhei-me no espelho peguei duas mechas do meu cabelo, prendendo-as atrás de minha cabeça com um grampo grande.

Olhei o relógio de pêndulo que estava a um canto do meu quarto, eram quase duas horas, quase a hora de entrar no Guarda-Roupa.

Olhei para o teto. Um quadrado estava recortado, como uma porta bem no centro do meu quarto, em cima da minha cama. Subi-a, pisando o colchão fino e molenga em que dormia. A porta desceu com uma escada de madeira precária e, segurando a barra do vestido longo, subi a escada com cesta dificuldade, entrando em um cômodo mal iluminado.

O sótão era um breu, como a floresta de meu sonho, somente um lampião a óleo iluminava um pequeno círculo a sua volta. Andei, cuidadosamente, em direção ao lampião, o pegando e iluminei o quarto aos poucos. Estava completamente vazio, havia, somente um lençol cobrindo algo grande. Vagarosamente andei em direção ao móvel coberto e puxei o lençol, um guarda-roupa de madeira escura ornamentada, em flores, estava parado, imponente. Coloquei a mão na chave em meu pescoço. Com delicadeza tirei o cordão de couro do meu pescoço e coloquei a chave na fechadura da porta do Guarda-Roupa, abrindo-o.

Casacos de todos os tipos estavam ali, de pele, de pelo, grossos, finos, compridos... Entrei em meio a casacos, embrenhando-me neles. Logo procurando o fundo, mas não achei. Ao em vez disso, após algum tempo embrenhando-me em casacos e casacos senti folhas macias em minhas mãos. Franzi o cenho e finalmente entrei no pinhal. Chovia muito e logo o meu cabelo ficou encharcado. Ouvi, sobre o barulho dos pingos de chuva nas pedras, o barulho de cascos de um cavalo correndo, e se aproximava a uma velocidade rápida e inabalável. Dei alguns passos indecisos para o caminho, vendo que o cavalo estava sendo montado, nervoso por causa dos trovões, corria e o homem que o montava parecia fazer um grande esforço para não cair. Observei-os passar por mim, como um borrão e, em uma fração de segundo, vi o homem cair no chão, desmaiado. Arregalei os olhos, assustada. Segurando a barra do vestido encharcado, corri para acudi-lo.

Ao me aproximar, deparei com um homem com rosto de garoto, tinha roupas como as minhas, antigas. Segurei seu pulso com ambas as mãos, pressionando um ponto na parte interna, ainda tinha pulso. Respirei fundo. Agora eu precisava de ajuda, e eu fazia ideia de que aquela floresta estava completamente deserta. Comecei a gritar por ajuda, enquanto olhava para o homem. Aqueles cabelos negros e lisos me eram familiares, mas não sabia de quem era.

Logo o barulho da chuva foi diminuindo e ouvi, nas pedras ensopadas e na terra molhada, o som de pessoas chegando. Em pouco tempo vi-me cercada por um grupo muito esquisito de criaturas, dois anões e um texugo. Uma discussão se seguiu, dizendo se deveriam ou não ajudar-nos, dois telmarinos.

– Mas, senhores... tentei interrompe-los, tocando o ombro do anão com cabelos da cor dos pelos de uma raposa. Olhem aqui, meus senhores, desculpe-me a intromissão, mas saibam que eu não sou telmarina. Fui criada em Londres, na Inglaterra e lá moro desde o meu primeiro ano de vida. - agora todos olhavam para mim - Então, se puderem fazer-me o favor de ajudar este homem, eu agradeceria.

Todos se entreolharam e, após algum tempo, o texugo disse, com sua voz roufenha, que parecia vir da terra:

– Pois a ajudaremos, bela senhorita, mas deverás nos contar como chegastes aqui. - assenti e sorri, triste.

– Tem algum lugar mais seco em que possamos acomoda-lo? - perguntei, tirando o cabelo encharcado dele de seus olhos. O texugo assentiu e os anões arrastaram o homem para outro lugar, eu os segui, e no caminho contei-lhes minha história.

Os anões não acreditaram em mim, mas o texugo, o mais gentil de todos, compreendeu e aceitou. Eu sorri.

Assim que chegamos a um lugar mais seco, colocaram-no sobre uma cama de urzes em uma gruta, sentei-me com as pernas cruzadas na grama seca ao seu lado. Fechei os olhos, sentindo-os queimarem, de repente todo o meu corpo amoleceu e senti meu corpo esquentar, sentindo frio. O texugo, mais gentil e cavaleiro que os anões, pegou minha mão e tocou minha testa.

– A senhorita está muito quente, deve estar com febre. - disse-me. - Deite-se, bela dama, deite-se, nós... não conseguia mais ouvi-lo, meus sentidos se enevoaram e tudo o que consegui ver em seguida fora a escuridão.

x x x

Quando recuperei os sentidos, senti algo molhando minha testa e ouvi vozes discutindo. Abri os olhos, sentando-me, com certa dificuldade. Olhei para os anões e para o texugo, nem haviam percebido que eu acordara. Eles haviam acendido uma fogueira para esquentar-nos. Olhei para o lado e o homem se mexia, porém, com certa fraqueza.

– Temos que decidir o que vamos fazer com eles, antes que eles acordem. - disse uma voz, bem baixinho, para que não a escutasse, era o texugo.

– Mata-los! - disse um anão. - Não podemos deixá-los vivos: iriam trair-nos.

– Deveríamos ter feito isso na hora, ou então deixado eles sozinhos. - atalhou uma terceira voz, o outro anão.

– Não podemos mata-los agora; não depois de termos tratado seus ferimentos. Seria o mesmo que assassinarmos hóspedes. - disse o texugo.

– Senhores - disse o homem, em não mais que um murmúrio - decidam o que quiserem a meu respeito, mas peço-lhes que tratem bem do meu cavalo.

Eu sorri, e olhei para o texugo, que finalmente me vira também acordada, ele arregalou os olhos.

– Seu cavalo fugiu. - eu disse ao homem. - Não atrevi-me a pará-lo, ele corria muito rápido, parecia nervoso com a chuva...

Todos olharam para mim, eu dei de ombros.

– Não se deixem iludir com palavrinhas doces - falou o anão de cabelos crespos e negros - Por mim, insisto em...

– Calma aí! - exclamou o segundo anão, com cabelos igualmente crespos porém ruivos, como o pelo de raposa. - É claro que não vamos mata-los. Você devia ter vergonha Nikabrik. O que acha você, Caça-Trufas? O que vamos fazer com eles?

– Vou dar-lhes de beber. - disse o texugo em sua voz roufenha.

Ele aproximou-se de nós e eu o ajudei a sustentar o homem, aparando-o cuidadosamente as costas, Caça-Trufas levou aos lábios do homem um pequeno copo de madeira, o homem bebeu o líquido enquanto os anões atiçavam o fogo, fazendo uma labareda subir e lançar uma luz fantasmagórica sobre o texugo.

O homem olhou a sua volta, parecendo estar um tanto impressionado com o que via. Seu olhar parou em mim por uns instantes e então eu e o texugo o deitamos novamente sobre as urzes. O texugo ofereceu-me o copinho de madeira e bebi o líquido quente e adocicado que estava dentro, até que não era ruim.

Aproximei dos homenzinhos gorduchos que estavam em volta da fogueira, estendendo as mãos para esquentá-las.

– Está se sentindo melhor, senhorita? - perguntou-me o texugo, gentil e cavaleiro, enquanto os anões o olhavam com uma carranca.

Eu assenti e, nos dias que se passaram, aprendi os nomes de todos, menos o homem que ainda não tinha condições de falar, aparentemente. O texugo, como eu já sabia, chamava-se Caça-Trufas, ele era o mais velho e gentil do esquisito grupo em que eu me encontrava. O anão de cabelos crespos e negros, por isso chamado de anão negro, se chamava Nikabrik, o mais mal-humorado de todos. O outro anão, de cabelos ruivos, da cor de pelos de raposa, assim chamado de anão vermelho, chamava-se Trumpkin, ele não era malvado, porém era desconfiado e não acreditava muito em minhas palavras.

Na primeira tarde em que, finalmente, o homem teve forças para sentar-se e falar, Nikabrik disse-nos o seguinte:

– Agora temos que resolver o que fazer com os humanos. Vocês acham que lhes fizeram um grande favor, impedindo que eu os eliminasse. Agora, acho que a solução é conservá-los prisioneiros pelo resto da vida. Porque não estou nada disposto a deixá-los solto por aí... para que um belo dia encontre os outros de sua raça e nos denuncie.

– Com mil diabos, Nikabrik! - protestou Trumpkin, interrompendo-me, até antes de eu começar a falar. - É preciso ser tão descortês? No fim das contas, o pobre coitado não teve culpa de bater com a cabeça numa árvore aqui na frente da nossa caverna e essa pobre menina não teve culpa dele fazê-lo. E, por mim, acho que eles não têm cara de traidores.

– Mas - disse o homem (que mais tarde descobri chamar-se Caspian) - vocês ainda não sabem se queremos voltar para junto dos nossos. Para ser franco, eu não quero. Preferia ficar por aqui mesmo... se me deixassem. Tenho procurado por vocês a vida toda!...

– Eu também não quero voltar pra Londres, minha tia me mataria por ter entrado no sótão. disse, enquanto brincava com um graveto. Senti um olhar sobre mim e olhei para o homem que me encarava, com certa curiosidade.

– Esta é boa! - rosnou Nikabrik. - Vocês são ou não são telmarinos ou inglaterrinos e humanos? Como não querem voltar?

– Inglesa. - corrigi-o com ceticismo.

– Mesmo que quisesse, não podia - respondeu Caspian. - Quando caí do cavalo, estava fugindo para salvar a minha vida. respirei fundo, rolando os olhos, continuando a brincar com o graveto. O rei quer me matar. Se tivessem me matado, teriam feito a vontade dele.

– O que?! - exclamou Caça-Trufas.

– Que conversa é essa? - perguntou Trumpkin, eu olhei para ele, estava completamente perdida - Com a sua idade, que fez você para cair no desagrado de Miraz?

– Miraz? - perguntei, confusa, olhando de Trumpkin para Caspian.

– Miraz é meu tio - começou a dizer Caspian, ainda olhando para mim, desviei meu olhar para Nikabrik, que acabara de levantar num salto e agarrou o punhal. Arregalei os olhos, recuando alguns centímetros.

– Não disse?! - gritou ele - Não só é telmarino, mas parente e herdeiro do nosso maior inimigo. E não duvido que você apontou o punhal em minha direção também seja uma e só esteja tentando nos enganar. Vocês estão malucos? Querem mesmo deixar viverem estas criaturas?

Vi o anão negro aproximar-se de mim de Caspian e teria nos apunhalado se Caça-Trufas e Trumpkin não tivessem interferido, impedindo-o de avançar. Arregalei os olhos, apertando o braço de Caspian, que me olhou com espanto. Logo senti meu rosto esquentar, afastando-me um pouco do homem, olhei para baixo.

– De uma vez por todas Nikabrik - disse Trumpkin, enquanto eu sentia o olhar de Caspian ainda em mim. - ou você se controla, ou Caça-Trufas e eu nos sentamos em cima da sua cabeça.

Ouvi Nikabrik, em um tom mal-humorado, prometer ter mais calma conosco,e todos pedimos que Caspian nos contasse sua história. Enquanto ele contava, a todo o momento, ele olhava para mim, como se esperasse que reconhecesse-me. Olhei para baixo, ficando corada. Quando ele terminou de contar, ainda com um olhar estranho para cima de mim, houve um momento de silêncio.

– É o caso mais estranho que conheço! - disse Trumpkin, olhei para baixo.

– Não acho graça nenhuma! - rosnou Nikabrik, levantei o olhar para encara-lo - Não sabia que os humanos se divertem falando de nós. Quanto menos souberem de nós, melhor. Foi então a velha ama? Era melhor que ela tivesse ficado de bico calado. E, ainda por cima, esse preceptor, um anão renegado. Odeio eles! São piores que os humanos! Ouça o que eu digo: tudo isso só vai nos trazer aborrecimentos.

– Não diga besteira Nikabrik! - disse Caça-Trufas, eu franzi o cenho, olhando-o - Nárnia não é terra dos homens (quem vai me ensinar isso?), mas é uma terra que deve ser governada por um Homem. Nós, os texugos, temos razões de sobra para acreditar nisso. Pois o Grande Rei Pedro também não era um Homem?

Pisquei demoradamente, enquanto o ouvia, minhas pálpebras pareciam pesar uma tonelada e eu não conseguia mantê-las abertas.

– Você acredita nessa história? - perguntou Trumpkin, sua voz não passando de um eco frágil em meus ouvidos.

– Já disse! Nós não mudamos de opinião todos os dias. Não esquecemos facilmente. Acredito no rei Pedro e nos outros que reinaram em Cair Pa-ravel, com a mesma certeza que acredito no próprio Aslam.

– Com a mesma certeza? Mas quem é que ainda acredita em Aslan? - indagou Trumpkin, levantei a mão.

– Eu acredito - disse junto com Caspian em um bocejo, coloquei a mão na boca, deitando minha cabeça no ombro dele, senti-o olhando para mim, somente fechei os olhos. - E, mesmo que não acreditasse antes, acreditaria agora. Entre os humanos, os que se riem de Aslam também zombariam se eu lhes dissesse que existem anões e animais falantes. Já cheguei a perguntar a mim mesmo se Aslam de fato existiria, mas a verdade é que também muitas vezes duvidei da existência de gente como vocês. E vocês não estão aí?

Eu encolhi os ombros quanto a essa pergunta, deitando-me no colo de Caspian, senti sua mão, hesitante, acariciar minha cabeça As palavras de Caça-Trufas se tornaram baixas, como ecos, a voz se tornou um burburinho baixo, como se realmente viesse da terra. Comecei a ressonar, imaginando aquela voz se tornar macia e doce aos meus ouvidos. Então eu já estava a dormir, sem lembrar-me ao certo onde eu estava, com quem eu estava, somente senti a mão de Caspian em meu cabelo e fiquei ouvindo as vozes discutindo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste capítulo. Só lembrando, a autora desta fanfic gosta bastante de reviews.