Nem sempre as coisas são como queremos. Isso foi algo que tive de aprender.

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21Guns

O que? Não, espere. Está tocando 21Guns. De onde está vindo este som? Ainda estou um pouco zonza do sono quando cambaleio para fora da cama e pego o celular.

Milsa

Não, não é isso.

Esfrego os olhos e tento novamente.

Melissa

No momento em que leio esse nome todo o sono contido em meu corpo recebe o chamado de despejo. Atendo o telefone.

—Cinco minutos. Estou chegando aí. – Ouço Melissa dizer.

— Mal posso esperar. – Digo em meio a uma mistura de gritos e risadas para logo depois desligar o telefone.

Melissa está chegando.

Depois de dois anos ela realmente vai estar na minha frente novamente. Mal posso acreditar.

Como prometido, exatamente cinco minutos mais tarde ouço a campainha tocar e logo em seguida papai abrindo a porta e cumprimentando Melissa. Em outras circunstâncias não me importaria de ir atendê-la, simplesmente sentaria e esperaria Melissa abrir a porta do meu quarto, mas eu estava eufórica demais, mal podia me conter. Desci as escadas aos pulos para encontrar Melissa na sala.

Era ela. Era ela mesma.

Me detive por um momento para logo depois me perguntar porque fiz isso e correr até ela.

Nos abraçamos. Rimos. Nos abraçamos novamente e rimos mais um pouco.

— Olhe isso – disse ela olhando ao redor. – Não mudou nada. É exatamente como eu esperava encontrar. Você não sabe o quanto senti falta dessa casa, dessa cidade. De você, principalmente. Meu Deus. Você não sabe o quanto senti sua falta Miranda.

— Ainda não acredito que está aqui. – Disse para depois nos abraçarmos novamente.

Eu não queria soltá-la. A sensação era de que se eu a soltasse ela voltaria para a Europa em um piscar de olhos. E dessa vez para sempre.

Me obriguei a larga-la para olhá-la e ter a certeza de que ela estava na minha frente. Não era sonho. Meu Deus, ela estava ali. Tirando o fato de os cabelos louros estarem mais compridos, um pouco abaixo dos ombros agora e de ela estar uns dois centímetros mais alta, Melissa não tinha mudado nada.

— Eu, você e Tobias. No Children’s Grill. Como nos velhos tempos, o que acha? Sei que eu havia sugerido planos só para nós duas, mas Tobias me ligou no caminho para cá e pensei em chamá-lo.– Ela perguntou.

Tobias era um velho amigo nosso. O único, na verdade. Eu conhecia Tobias a quase tanto tempo quanto conhecia Melissa, nós crescemos juntos, os três, e éramos inseparáveis. O irônico era que eu e Melissa éramos do tipo reservadas. Tobias era o garoto mais disputado da escola. Qualquer um que nos conheça pode afirmar com real certeza de que não fomos feitos para sermos amigos. Mas é isso o que somos. As pessoas imperfeitas para uma amizade imperfeita. Mas verdadeira. Pelo menos éramos.

Eu e Tobias nunca paramos de nos falar, mas sendo quem é ele tinha outras “prioridades”, então, quando Melissa foi para a Europa, Tobias me deixou de lado. Nossa amizade era como um laço frouxo e Melissa era quem não o deixava desatar. Sem ela não éramos tão unidos.

Isso me deixava frustrada, mesmo que não demonstrasse. Tínhamos uma história, éramos amigos quase tanto tempo quanto eu e Melissa e ele me abandonou no período de tempo em que mais precisei dele, quando eu não tinha mais ninguém.

— Ah... Sim, claro. Pode ser divertido. – Respondi. Mesmo não gostando nada da ideia.

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— Tem uma vaga ali – Disse Melissa apontando para o estacionamento.

Melissa havia passado o resto da tarde em casa, me atualizando de tudo, o que não era muito, já que nós não deixamos de nos falar por um único dia nesses dois anos em que ela esteve fora. Quando escureceu, nós nos arrumamos juntas e ela trançou meu cabelo como costumava fazer antigamente e me forçou a colocar um vestido florido, pois disse que eu ficava mais bonita assim. Era só lanche com o Tobias, eu não precisava estar bonita, mas obedeci mesmo assim.

Assenti para Melissa e estacionei.

Quando entramos, Tobias já estava sentado em uma das mesas. Nos aproximamos e ele levantou para nos cumprimentar.

— Mal posso acreditar que você voltou. – Ele disse quando o garçom entregou nossos lanches. – Vocês estavam demorando muito, então tomei a liberdade de pedir o de vocês.

— Nem eu acredito, depois de tanto tempo, parece sonho estar de volta. Senti falta de vocês. – Melissa respondeu olhando para Tobias e depois para mim.

Comemos em silêncio. Vez ou outra Tobias fazia algum comentário dirigido à Melissa, não pude deixar de notar que ele estava distante. Quando terminamos, Melissa sugeriu que fôssemos à casa dela assistir a um filme, mas Tobias disse estar muito cansado e foi para casa.

— Tudo bem, já está tarde e nós temos aula amanhã, é o meu primeiro dia, novamente - disse Melissa.

E assim nossa noite terminou, não foi da forma como eu esperava.