Apenas Corte escrita por Aprimorada


Capítulo 11
Três dias.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Três dias! Exatamente três dias, trancada em um quarto escuro. Sem ao menos ver um raio de luz, é somente isso que tenho, um quarto que mal cabe uma cama e um guarda roupa. Um quarto frio, gelado, como meu coração se encontra. Um espelho quebrado, na esperança de se eu não me ver, para não ter tanto nojo e receio de mim mesma. Era só isso que pensava. Uma dor imensa, que parecia que jamais pararia. Talvez eu merecesse sofrer por isso e muito mais. O que eu pensava, isso é pouco, muito pouco pra mim.

Encolhi-me e me apertei na cama, na esperança que minhas dores passassem. Era uma dor no coração, que não curaria tão cedo, outra no estômago, o mesmo grunhia de fome. Três dias, sem comer nada, não é fácil, mas quem sabe minha mente e meu coração parassem, se eu ficasse mais uns dias sem comer. Será que demora quanto tempo, pro corpo não aguentar mais? Será que demora muito? Meu travesseiro está encharcado de lágrimas e sujei o lençol novo de sangue, dos cortes recentes do pulso. Definidamente essa não é minha vida. Me sinto uma fraca na maioria dos dias, vejo certas pessoas por ai, tão cheias de si, que se amam tanto e são feliz. E pra mim isso é tão dificil.

– Anne?

Ele me chamou, com aquela voz rouca. Respirei fundo algumas vezes antes de responder.

– O que foi? – Perguntei, com a porta ainda fechada, tentando ao máximo esconder a vulnerabilidade e fraqueza que a minha voz, sem a minha permissão, deixaria transparecer.

– Você tem que ir para escola. Chega de crise. – Fredick, meu pai, falou do outro lado.

– Eu não vou sair. – O fato é que eu não saberia o que fazer se saísse dali.

– Anda logo! – Pediu impaciente, batendo de novo na porta. –

Um último suspiro derrotado escapou inconscientemente de meus lábios. E finalmente, após a relutância que me parecia inacabável, levei a mão trêmula á maçaneta da porta, girando-a lentamente, a fim de prorrogar ao máximo o momento que o encararia. Sai, e ele logo sumiu da minha frente, pensei em retornar ao quarto, mas não adianta fugir, mais dias ou menos dias eu teria que ir pra escola ou pra qualquer outro lugar do mundo. Comi alguma coisa, já que meu estômago gritava por comida. Me preparei e fui para escola. Quando pus meu pé na sala de aula, meus joelhos falharam e senti minhas pernas bambearam. Minha cabeça doeu e vi todos que se encontravam ali, me olhando. Parecia um circo de horrores e eu era a atração principal. Pareciam esperar ansiosamente pela minha reação. Talvez fizessem uma aposta consigo mesmos mentalmente: ela choraria, gritaria ou desmaiaria? Se fosse apostar contra mim mesma, apostaria em todas. Caminhei até a minha carteira e sentei. Ouvi a voz de alguém perguntar algo, mas evitei, fingi ser surda. As horas pareciam intermináveis. Tocou o sinal, e no caminho pelo corredor, vi as meninas que me machucaram, desviei o olhar e abaixei a cabeça. Vi elas zombando de mim, mas ignorei. Continuei a andar, me isolei de todo mundo, sentei no fundo da escola, coloquei meus fones e me senti indo pra outro lugar. É inacreditável, como uma musica pode fazer isso. Me senti leve, calma, meu corpo voada, aquele belo som. Senti a mão de alguém me tocar, olhei. Era Alex. Tirei os fones e abri um sorriso tão triste.

– Tudo bem? - Ele me indagou.

– Sim, só meio cansada.

– Posso me sentar com você e compartilhar esse teu som? - Ele sorriu, um sorriso lindo, que fez o meu sair em seguida. -

– Sim.

Ele se sentou, e ficamos ouvindo musica. Sua mão segura a minha, como uma forma de dizer, tudo vai ficar bem. Deitei a cabeça em seu ombro amigo e adormeci. Acordei com ele me cutucando, dizendo que já estava na hora de voltar a sala. Voltei, mesmo sem querer. As próximas aulas passaram vagarosamente. Assim que acabou, fui o mais rápido possível para casa, mas no caminho senti que Alex esta vindo atrás de mim. Eu precisava ficar sozinha, então acelerei o passo. Ouvi ele me chamar, mas ignorei. E quando finalmente cheguei em casa, senti Alex me puxando.

– Eita! - Sussurrou ofegante - Está rápida de mais. Posso entrar um pouco? -

– Melhor não.

– O que combinamos? Eu sei que você não esta legal, eu sou seu amigo, Anne. Quero cuidar de você.

Concordei com a cabeça, entramos no meu quarto, ele colocou um musica bem auto, nos deitamos na cama, me aconcheguei em seu peito, sua mão acariciava meus cabelos. Seus lábios molhados e quentes tocaram minha testa.

– Eu vou cuidar de você, Anne. - Ele disse baixinho. -

Dormi. A tempos não dormi tão bem, tão gostoso.


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