Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 35
Unidade de Tratamento Intensivo


Notas iniciais do capítulo

"Mas todas as mães, sem exceção, deram à luz grandes homens e se a vida as enganou em seguida, delas não foi a culpa." - Boris Pasternak



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–Okay... Eu ainda acho que você não precisava ter feito isso – Don fala com a voz trêmula ao olhar pra porta bloqueada por arame farpado.

Os gritos dentro do hospital são incessantes. Não consigo deixar de ouvi-los, o que aponta principalmente a presença de monstros. Não temos praticamente nada para enfrenta-los, a não ser a faca de Yana, o cano de ferro e uma pistola descarregada. Por um momento penso que fiz a escolha errada ao usar o Selo de Metatron, mas esse pensamento logo vai embora ao me dar conta que seja o que for, Chang e Carl terão que enfrentar também. Por isso igualei as coisas e agora corremos praticamente os mesmos riscos, pois também não acho que eles tenham alguma coisa que possam livrá-los dos monstros presentes nesse hospital. O objeto ainda brilha intensamente em minhas mãos, o que dá pra usar de lanterna. Então ainda há alguma esperança. Afinal, Carl e Chang ainda me temiam porque tenho o selo.

–Vamos sair daqui? – sugiro.

–Por onde? A porta por onde entramos está bloqueada.

–Temos aquela outra ali – aponto na direção contrária.

–Tá trancada, não lembra?

Respiro fundo. Don estava certo em parte, mas não deve saber que as coisas mudam drasticamente junto com a chegada das trevas e dessa realidade perturbadora de Silent Hill. Vou até a porta completamente podre de sangue e giro a maçaneta. A porta se abre e me viro pra Don bem a tempo de vê-lo de queixo caído.

–Como você... Ah, deixa pra lá!

Assinto com a cabeça e entramos no vão seguinte. À luz do objeto vemos uma sala completamente queimada. As paredes estão com a aparência de que acabaram de passar por um incêndio. O cheiro de enxofre dá lugar a um cheiro de fumaça e fuligem muito forte. Há alguns armários queimados no chão, que é revestido por um carpete com buracos de queimadura em algumas áreas do piso. O lugar é aparentemente normal, apenas parece queimado. Don tateia pela parede e encontra um interruptor apertando-o e acendendo uma luz no centro da sala deixando-a mais iluminada. Tudo fica mais nítido e vejo papeis queimados jogados pelo chão. A única coisa que não parece realmente queimada é uma poltrona ao centro da sala. Uma poltrona de couro preta, adornada por alguns botões de roupa. Ela parece imponente na sala, como se fosse a única coisa protegida do fogo que havia tomado conta do lugar.

–Porque esse lugar é tão diferente do resto?

–Não faço a mínima ideia Don... Vamos por aquela outra porta.

Atravessamos a sala e abro a outra porta que nos leva ao corredor onde estavam as macas. Para a minha surpresa e de Don, acabamos de sair da Sala de Exames. Ainda há duas macas no corredor, agora cobertas por um lençol e com marcas de que escondem um corpo embaixo. Nem consigo me imaginar levantando um desses lençóis, então ficamos parados. As paredes feitas de grades e o chão também, com alguns buracos como se parte da grade tivesse enferrujado e caído na imensidão negra abaixo de nós. Don geme ao olhar pra baixo. Ao longe, porém mais perto do que antes, conseguimos ouvir gritos e gemidos, como se fossem pessoas sofrendo dentro do lugar. Não dá pra distinguir exatamente o que são se pessoas ou monstros, mas estão gritando de sofrimento.

–Vamos para a próxima ala Don.

Corremos em frente e abrimos a já conhecida porta dupla, chegando ao pequeno corredor. Penso que agora que estamos na outra realidade então talvez encontre mais portas abertas. De repente, os gemidos começam a tomar forma e a sussurrarem coisas. Pouco consigo distinguir, mas consigo ouvir uma ou outra coisa familiar.

–Sarah...

–O quê?

–Eles... eles estão sussurrando “Sarah” – falo pra Don com a voz trêmula. – Precisamos encontrar logo Anette... O mais rápido que pudermos!

–Tudo bem. Vamos nos separar então?

–Espera...

De repente alguma coisa bate na porta dupla atrás de nós.

–Merda... Corre Don!

Começamos a correr e cruzamos mais uma porta dupla a nossa frente. O cheiro de enxofre retornou e de repente eu sei o que fazer. Chegamos ao mesmo corredor de antes, mas ao invés de entrar em qualquer uma das salas, corro para o elevador e aperto freneticamente o botão de chamar, que se acende e começo a ouvir um barulho metálico por detrás das portas. Don chega em seguida ofegante.

–Caramba... Você... corre... muito... Matthew!

–Só... Quando preciso!

Don vai até a porta do lado que tentamos abrir antes. A porta parece completamente podre e ao dar mais um chute, ele consegue derrubá-la de suas dobradiças, revelando assim uma escadaria de metal que leva pra baixo. O elevador chega, abrindo as portas metálicas e revelando uma caixa completamente machada de sangue com o piso enferrujado. O cheiro é completamente podre fazendo com que Don expresse em forma de uma careta. Então dou uma olhada para trás no corredor que não havia prestado atenção. As janelas que antes estavam abertas e deixavam passar alguma névoa para dentro do lugar, agora estão bloqueadas por tábuas de madeira. As paredes antes com tinta descascada, agora estão tingidas de sangue que escorre fresco por elas. Há macas cobertas e sujas próximo a cada janela do corredor e o piso é de metal, grades enferrujadas que mostram um abismo infinito abaixo. O selo de Metatron em minhas mãos ainda ilumina um pouco tudo.

–Cara... Não tô muito a fim de ir nesse elevador. Sinto que ele vai cair. É melhor verificarmos primeiro embaixo – ele aponta pra escada que acabou de descobrir.

–Mas... Precisamos ver lá em cima também.

–Então você vai por esse elevador aí que eu vou pela escada e vejo o que tem lá.

–Certo. Tente contar vinte minutos e voltamos pra cá. Se um não chegar, vai atrás do outro.

–Beleza!

Vejo-o sumir através da porta e entro no elevador. Vejo cinco botões metálicos, indicando térreo, segundo piso, terceiro, quarto e base. Pressiono o botão do segundo piso e vejo as portas se fecharem diante de mim. O elevador começa a subir com aquela leve sensação estranha. Os gemidos parecem ficar mais nítidos e ouço o nome “Sarah” mais frequentemente. Seguro firmemente o cano de ferro em minhas mãos, me preparando para a primeira coisa que aparecer na minha frente. Finalmente o elevador para com um solavanco e as portas se abrem diante de mim. Vejo um pequeno hall embebido em trevas e ilumino com o objeto. Há macas sujas de sangue e ouço ainda mais gemidos, agora posso ouvir claramente o nome “Sarah” ecoando pelos corredores do hospital. Vejo uma porta dupla logo adiante e a abro dando de cara com um enorme corredor que some em uma espécie de “L”. Há duas mulheres paradas uma de frente para outra como se estivesse conversando, mas completamente estáticas como se fosse dois manequins, o que me dá medo. Há várias portas dispostas pelo corredor do lado esquerdo e a aparência do lugar não é diferente do resto, a não ser por alguns buracos grandes no piso central, dando pouco espaço para andar pelas laterais. Ilumino o restante com a pouca luz emitida pelo objeto e a luz bate nas mulheres vestidas de enfermeiras. Elas se viram em minha direção e quase caio para trás ao ver o rosto completamente deformado delas. Parecia que havia sido queimado e distorcido por alguma espécie de ferro quente e sinto uma leve familiaridade ao vê-las. Elas começam a se aproximar de mim, uma segurando uma seringa e outra um bisturi. Elas emitem algum barulho indistinguível até que eles se transformam no nome: “Sarah”.

–Droga!

Ergo o cano de ferro e me preparo para acertar a primeira que se aproximar, dando alguns passos pra trás. Sinto minhas costas baterem contra alguma coisa de madeira e tateio até que encontro uma maçaneta, girando-a. A porta se abre e caio de costas no chão podre. A enfermeira com o bisturi na mão se aproxima mais de mim ainda gemendo. Seguro o cano de ferro e faço movimentos aleatórios, o que faz acertar o braço dela jogando o bisturi pra longe. Levanto. A coisa ergue as mãos em minha direção como se quisesse me estrangular, mas faço um movimento rápido o suficiente pra acertar a cabeça da coisa que recua, dando espaço para a outra. Coloco força nos meus braços e desfiro um golpe com tanta força que joga a segunda para trás. Fecho a porta imediatamente e tranco com a chave que está por dentro, presa na fechadura.

–Essa foi por pouco!

Olho para dentro do quarto deteriorado em busca de alguma coisa que consiga dar um “up” na situação. Um cano de ferro não seria o suficiente para me livrar da morte, talvez para jogar aquelas coisas para dentro do abismo, mas não para me fazer sair ileso. A arma ficou com Don, e de qualquer forma estava sem balas. Olho pra dentro do aposento e há o resto de algo que já foi uma cama algum dia. Ao lado, um pequeno criado mudo repousa. Vou até ele e abro a gaveta, encontrando uma pistola e um pente carregado. Era o suficiente para passar pelas enfermeiras e talvez alguma coisa pior. Há 13 balas no pente. Deixo o cano de metal ao lado da cama, sabendo onde coloco pra que caso precise novamente, possa vir buscar. Seguro o objeto aceso em uma mão e a pistola na outra. Estou pronto. Destranco a porta e abro-a. Para a minha surpresa, as enfermeiras voltaram à posição inicial. Talvez fosse um tanto difícil passar por elas, então vejo que o abismo que há no meio do corredor deixa uma passagem pela esquerda e pela direita, fazendo uma pequena conexão no início e o final. Passo para o outro lado e me livro das coisas, mas acabo me dando conta que deixo de verificar as portas, existentes apenas do lado esquerdo. Continuo andando devagar até que chego à parte onde o corredor forma um “L” para direita e o piso se conecta de novo, demarcando o fim do buraco enorme na grade.

Há uma porta à esquerda sem placa, uma à direita dupla e outra dupla à frente. Tento as laterais primeiro, mas sem sucesso, então parto para a da frente. A porta dupla se abre facilmente e me leva a outra ala do hospital. Vejo mais uma enfermeira parada e um homem com um jaleco, provavelmente um médico. Ele se vira assim que entro no corredor também em forma de “L” e com olhos inexistentes em um rosto aparentemente queimado por ácido, observa de cima abaixo. Ele solta um gemido quase sussurrado.

–Sarah...

Miro a arma pra ele e com o movimento acabo iluminando a enfermeira que imediatamente puxa uma seringa e parte lentamente em minha direção. O monstro de jaleco corre até mim, duas vezes mais rápido que a enfermeira e puxa um bisturi e se joga contra o meu corpo nos derrubando no chão.

–Merda!

Empunho a arma direito e dou dois tiros na cabeça da coisa que cai ao lado. Ele fica se debatendo no chão e eu piso na cabeça o mais forte que posso. A coisa para de se mexer com um gemido. A enfermeira agora já mais perto desfere um golpe com a seringa, mas sem ter noção do que faz, acerta o ar dois metros à minha frente. Dou dois tiros na cabeça e ela cai se debatendo. Repito a mesma coisa. As portas no corredor também estão dispostas do lado esquerdo. A primeira porta se abre facilmente e vejo um banheiro completamente podre, porém útil. Coloco a arma e o objeto brilhante nos bolsos e me aproximo do vaso sanitário abaixando a calça, aliviando um pouco a pressão na minha bexiga. Pelo menos as coisas parecem um tanto calmas... Calmas demais. Saio do banheiro rapidamente puxando a arma e a única fonte de luz já tentando a porta seguinte, que está trancada. Ao lado, virando pelo “L” vejo mais uma porta dupla que também não abre. O corredor vazio com os dois corpos caídos ao chão é um tanto assustador. Finalmente agora que a adrenalina passou, consigo sentir um vento frio que perpassa através das grades. As paredes parecem embebidas de sangue e entre uma ou outra sombra produzida pelas macas ensanguentadas vejo vultos ou pedaços de corpo humano. O lugar realmente é aterrorizante e não consigo me sentir nem um pouco à vontade. As portas são as coisas mais chamativas por produzirem a esperança de encontrar algo diferente do outro lado. Pelo menos uma coisa mudou: Os gemidos. Eles pararam e o lugar pareceu mergulhar em um silêncio sepulcral. Tento mais duas portas e nada acontece. Vejo mais duas ao final do corredor. A primeira delas com uma placa prateada que brilha ao ser iluminada pelo selo: Sala 203. Giro a maçaneta e ela se abre com facilidade.

Parece um quarto de hospital como qualquer outro. Há uma maca ensanguentada no meio e um criado mudo do lado direito. Em cima dele vejo algo faiscar quando o brilho do Selo toca. Vou até ele e encontro uma chave dourada com a etiqueta junto com um pente com mais 13 tiros que coloco no bolso. Pego a chave e leio a etiqueta.

–UTI – falo em voz alta que ecoa pela sala.

De repente, os gemidos retornam fazendo meu coração acelerar. Mais do que nunca, tudo parece muito nítido. “Sarah, Sarah...” eu consigo ouvir. Seria essa a minha mãe? A cidade está pregando peças em mim de novo?

–Mas que merda!

Viro-me em direção à porta e o vejo mais uma vez. É Mateus, e agora ele está com o ursinho de pelúcia que estava no momento em que o encontrei no Rosewater Park. Depois que ele correu dos manequins e se escondeu, não havia mais visto o brinquedo até agora.

–Mateus!

–Oi Matt... – ele parece chateado. – Que bom que me ouviu pelo menos uma vez na vida.

–E isso quase me matou...

Ele sorri levemente.

–Perdão. Esse não era o propósito... – ele olha pra trás em direção à porta. – Tome! – ele estende as mãos me mostrando o pequeno urso de pelúcia.

–Não... ele é seu!

–Por favor Matt... Leve com você! Pra que se lembre de mim... Eu sei que você é um assassino, mas... Talvez isso mude as coisas! Ainda acredito que você é a mesma pessoa que prometeu me tirar daqui.

–Mas... mas... – começo tentando solucionar minhas dúvidas. – Você sempre some!

Vejo uma lágrima escorrer pelo seu rosto.

–Apenas tome! Por favor!

–Mas... eu não tenho onde levar.

Ele olha em minha direção, mas especificamente da arma em minha mão direita e aponta pra ela.

–Mas pra ISSO você tem espaço! – ele abre a porta e sai correndo pelo corredor.

–Mateus espera!

Saio correndo atrás dele, mas não vejo nada diante de mim. É então que olho para trás e me pergunto o quanto fui idiota em não ter visto aquilo. Era ele, não Mateus, mas a coisa com a pirâmide de metal na cabeça e a enorme espada.

–Merda!

Começo a correr na direção da porta dupla enquanto a coisa se mexe em minha direção arrastando a espada no chão metálico fazendo um barulho ensurdecedor pelo corredor que ecoa por todo o hospital. Os gemidos se intensificam e cruzo a porta dupla velozmente. Meu coração está disparado. Fecho a porta, mas o barulho da espada arrastando continua. Com todo o meu alvoroço, meus passos ecoam pelo corredor fazendo com que as figuras das duas enfermeiras despertem de seu sono paralisante. Puxo a arma e dou um tiro desesperado que acerta a perna de uma delas fazendo que caísse por cima da outra e juntas no buraco feito nas grades. Foi sorte. Passo pela parte da esquerda onde estão as portas, torcendo pra que uma delas seja o lugar da chave. Tento abrir uma por uma e o terrível zunido se aproxima, junto com os gemidos sussurrando e gritando: “Sarah”.

–PAREM DE FALAR ESSE NOME!

Depois de mais duas tentativas, encontro uma porta com uma plaquinha de metal informando o lugar onde a chave entraria. Empurro-a na fechadura rapidamente e giro. Depois de dois clicks, a porta se abre, provavelmente com a maçaneta danificada. Os gemidos gritam por Sarah e o zunido aumenta. Entro e fecho a porta, mas não antes de ver a figura com a espada surgir no corredor. Tranco com a chave por dentro e de repente tudo escurece. O brilho do selo parece envergonhado diante da escuridão. De repente, todo o hospital parece mergulhar em um silêncio absoluto.

Começo a caminhar por dentro da sala em vão, pois nada enxergo. Pelo barulho dos passos, o chão parece ser feito de metal. Então, como que por mágica, uma luz se acende no teto desgastado e tudo fica com uma iluminação vermelha. Estou de frente para um televisor antigo, que também se liga automaticamente com um forte chiado e parece tentar sintonizar algum canal. O aparelho está encostado na parede e de frente pra alguma coisa, me fazendo virar. Então vejo uma maca ensanguentada, idêntica as que estavam espalhadas pelo hospital desde que entrei com Don. As paredes não têm janelas ou qualquer adorno, deixando uma sensação de claustrofobia muito grande. Há sangue pingando do teto, especificamente da lâmpada vermelha acesa. Ao lado da maca, há vários aparelhos ligados com tubos e fios conectados a um corpo aparentemente vivo. Não consigo discernir o que é e começo a pensar se não seria Anette. Aproximo-me da maca e vejo uma mulher com cerca de quarenta anos. Ela está vestida com roupas verdes de hospital e parece dormir. Chego mais perto e então vejo seu rosto familiar. Não é Anette que estava ali, mas alguém que já devia estar morta há muito tempo. É Sarah Liward, também conhecida como minha mãe. Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Imediatamente o televisor sintoniza um canal e mostra um pequeno garoto de 13 anos e cabelo cacheado entrando em um hospital. Não é um garoto qualquer... Aquele vídeo mostra a mim mesmo, quando minha mãe finalmente foi hospitalizada por causa do câncer. Era como se eu estivesse revivendo tudo aquilo, o dia em que minha mãe morreu, ou que pelo menos, foi morta.

[Eu entro finalmente no quarto de minha mãe. Ela está acordada e sorri a me ver.

–Matthew!

–Mãe...

–Filho... Eu amo você.

–Eu também te amo, mamãe.

–Eu só queria acabar com esse sofrimento – ela fala olhando para os tubos presos ao seu corpo e os fios que monitoram seu estado. – Queria que você tivesse uma vida melhor do que vir me visitar e se preocupar comigo... O dinheiro da morte de seu pai só dá pra comprar remédios e muito mal... – ela começa a chorar.

Sinto meus olhos derramarem lágrimas e puxo uma pequena seringa da mochila. Junto dela um pequeno frasco contendo uma solução muito concentrada de Potássio. Removo a proteção da seringa e encho-a com a solução sugando diretamente do frasco. Como tinha percebido antes, não há câmeras pelo lugar, então tudo seria feito de forma que eu não fosse descoberto. Tudo para arrancar o sofrimento dela.

–Mamãe... Eu amo você. E vou acabar com o seu sofrimento – falo enquanto me dirijo ao lado direito da cama.

–Eu também te amo, mas você não pode... – ela continua chorando.

–Eu posso sim mamãe.

Pego o braço praticamente sem movimento dela e ergo a seringa. Ela percebe tudo.

–Matt... O que vai fazer? Por favor, pare... PARE!

–Eles... eles não vão ouvir! Eu olhei pelo corredor, não há ninguém! – falo enquanto uma lágrima escorre pelo meu rosto.

–Não Matt... O que vai fazer?

Empurro a agulha na veia dela e em seguida o embolo da seringa, liberando todo o conteúdo dentro de seu sangue. Eu tento esboçar um sorriso pra ela, que está completamente desesperada.

–Por favor Matt... O que você fez? Chame um médico, ele pode mudar isso...

–É pro seu... Bem!

Puxo a seringa e dou um beijo na testa dela, que desesperada o rejeita.

–Seu... Seu LOUCO! SOCORRO!! SOCORROOO!!!

–Me perdoe mãe... Foi pro seu bem. Eu tive que fazer isso... Eu te amo!

Vou até a mochila enquanto guardo a seringa e o frasco vazio. Em seguida vou em direção à porta e sorrio pra minha mãe, que olha desesperada pra mim.

–Matt... Por favor...

–SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDAAAAAAA!!!

–Adeus Mamãe – uma última lágrima escorre pelo meu rosto. Abro a porta e sigo pelo corredor.].

A cena termina no televisor, que desliga bruscamente. De repente, os cabos e tubos começam a se fundir com a cama e a levanta, mas de cabeça pra baixo. Os cabos penduram a maca no teto e de repente vejo o corpo da minha mãe enegrecer diante dos meus olhos, liberando uma fumaça negra por todo o quarto e me dando pouca visão, a não ser pela luz vermelha no teto. Eu corro até a porta e tento abri-la, mas é em vão. A chave se parte na porta e ficamos trancados ali dentro. Vozes começam a sussurrar novamente “Sarah, Sarah”. A mulher agora fundida com a maca e enegrecida forma uma coisa irregular, como se fosse alguém presa querendo se libertar. Um dos tubos ligados ao aparelho se solta e puxa pelo meu pé. Dou um tiro partindo o tubo no meio e dou uma olhada, mas de perto na coisa. A mulher de cabeça pra baixo enegrecida mexe a cabeça freneticamente. Aponto a arma pra coisa pendurada no teto pelos tubos e cabos. Uma lágrima desliza pelo meu rosto e chega até a boca, me fazendo sentir seu gosto salgado.

–Mamãe...


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Notas finais do capítulo

Trecho correspondente à história de Chang.

Depois que sua “irmã” Elle nunca mais voltou, Chang teve que ser criado com uma mulher a quem odiava. Ela era idiota, e pouco sabia sobre porcaria nenhuma. Seu nome era Veronica, e ela odiava crianças. Tinha sido forçada a criar o garoto porque era como uma irmã para Elle. Certo dia, Chang perguntou sobre sua amada irmã.

—Eu odeio você!

—Ah, como se eu sentisse menos por você, seu idiotazinho! Só faço isso por causa de Elle, que era a minha melhor amiga e ela me fez prometer isso. De outra forma, jamais que eu criaria você.

—E porque ela não volta?

Ela respirou muito. Já tinham tocado nesse assunto várias vezes, mas sempre ela desviava. O garoto já tinha oito anos, talvez não fosse tão ruim assim falar sobre a verdade. Veronica reuniu todas as forças que tinha e decidiu magoar o garoto de uma vez.

—Ela NUNCA vai voltar, sabe por quê? Ela não viajou! Ela morreu! Foi queimada viva!

—Mentira, mentira, mentiraaa!! Diz que é mentira, sua mentirosa! – ele começou a bater nela.

—AArrgghhh! Para de me bater ô garoto! É verdade! Naquele dia na igreja, ela foi queimada viva! Queimaram ela e ela morreu e por isso nunca mais voltou! Só estou como você porque ela me fez prometer antes de queimarem ela, senão... Nunca teria nem te visto e te deixaria morrer de fome!

—Não, não... É mentira! – o garoto começou a chorar e a soluçar freneticamente, correndo para o seu quarto em prantos.

Veronica sorriu. Pelo menos tinha conseguido magoá-lo dessa vez.



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