Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 15
Promessa


Notas iniciais do capítulo

"Devemos prometer somente o que podemos entregar e entregar mais do que prometemos." - Jean Rozwadowski



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Estou diante de três portas. Tudo está mais silencioso e não consigo saber para onde ir. Uma porta a frente, uma a direita e outra à esquerda... Só me resta gritar.

–Anette! Mateus!

Nada. Respiro fundo temendo encontrar o corpo de algum dos dois. Minha mente dá voltas só ao pensar isso.

–Anette... Mateus!

Decido ir pela porta dupla à minha frente, mas ao segurar a maçaneta com minhas mãos, a porta da esquerda se abre, mostrando um rapaz de mais ou menos vinte anos de idade. Ele está com uma arma na mão olhando para mim. Seu rosto é meio arredondado, com bochechas bem proeminentes e algumas espinhas avermelhadas na pele. Sorrio ao vê-lo.

–Matt, cara... Te achei finalmente. – Ele respira fundo.

Me aproximo dele e aperto a sua mão.

–Don... Você viu Anette?

–Cara... Vi sim. Estávamos em um quarto do hotel nos protegendo, daí apareceu uma dessas criaturas estranhas e eu vim pro corredor mata-la... Ouvi seus gritos depois disso.

–E... Como ela está?

–Cara, acho que não quer nem olhar na sua cara. O pai dela morreu, parece que ela pensa que tudo isso é culpa sua.

–Ah, eu já imaginava.

–Então, cara... Eu estou bem também, sabe?

–Ahh... Desculpe-me. Que bom que está bem, Don. Eu realmente fico feliz em te ver são e salvo. Mas... Como chegou até o hotel?

Ele abre a porta, indicando um corredor pelo qual devemos seguir.

–Bem... Viemos pra cá com aquele professor de vocês, o Thompsom. Adormecemos no carro e eu acordei aqui dentro. Aquele cara deve ser um maldito canalha, ele... Ele matou o pai da Anette, cara! Não dá pra tolerar isso. Se eu o visse, dava um tiro na sua cabeça.

–Ainda não entendo o porquê de vocês terem vindo...

–Ah, cara... Aquele professor disse que veio aqui e te encontrou perdido, caçando mitos... Ele disse que só a gente poderia te convencer a voltar e inclusive – ele tira um papel do bolso de trás da calça – encontramos essa carta sua num dos murais da faculdade.

Pego o papel das mãos dele e respiro fundo. É claro, tudo isso foi culpa minha. Estou levando meus amigos para a morte e preocupado com a existência desse mundo sobrenatural. Talvez eles fosse mais importantes do que tudo isso. Começo a sentir ódio de mim mesmo, deveria logo morrer de uma vez, pular em um desses penhascos se se estendem por qualquer rua dessa droga de cidade. Seguro o papel firmemente em minhas mãos.

–Bem, chegamos!

Ele bate na porta do quarto 218 do hotel. A porta abre e vejo olhos de preocupação e desespero: Anette. Ela olha pra mim com uma expressão de raiva.

–Porque veio atrás de mim?

–Uoooouuu, calma aí mocinha. Sei que vocês devem ter algum lance amoroso aí, mas acho que é a hora errada de lavar a roupa.

Ela olha pra Don com uma expressão de desprezo como se ele fosse o pior indivíduo da Terra. Ele dá de ombros e se aproxima da janela do quarto, olhando em direção ao lago. Sinto-me grato por ela ter feito isso, pois eu bateria nele em outras circunstâncias.

Anette volta a olhar pra mim como se esperasse alguma coisa. Seus olhos castanhos se fixam aos meus, tentando ver o profundo do meu ser e eu me sinto como se estivesse sendo invadido por seus pensamentos e sentimentos.

–Er... Primeiro queria pedir desculpas... Acho que nada disso devia ter acontecido.

Ela pisca vagarosamente os olhos, ainda olhando fixamente pra mim.

–Eu... Acho que devo ter agido como um idiota, não exatamente por ter vindo a Silent Hill, na verdade, acho que está sendo uma das melhores coisas que já me aconteceu...

–Iiiiii... Tá piorando hein rapaz!

–Cala a boca! – Respondo pra Don enquanto ele volta o olhar pra janela.

–Ah, que ótimo que você continua com a mesma opinião!

–É que... Sempre quis uma prova do sobrenatural, Anette... Seria perfeito se nada disso tivesse acontecido. Eu realmente sinto muito pelo seu pai, sinto muito por tudo e inclusive pela forma como agi com você. Sabe, você é importante pra mim e não me preocupo apenas com meu capricho idiota... Eu me preocupo com nossas vidas. Eu vim atrás de você, porque percebi que não poderia continuar sem saber que você está bem, eu percebi que não poderia prosseguir viagem sem isso, então voltei atrás pra colocar na bagagem e prosseguir. Anette, você é importante pra mim, sempre foi desde que nos tornamos amigos. Não é essa cidade que vai mudar isso e me desculpe se foi isso que deixei parecer, a verdade não é essa.

Vejo uma lágrima escorrer pelo rosto da menina. Ela esboça um certo sorriso entre elas... Mas não é um sorriso de felicidade, é um sorriso de sofrimento, de desespero, de não saber o que fazer... Ela está sorrindo de loucura.

–Silent Hill... Eu nasci aqui nessa droga de cidade. Eu não me lembro, mas... De alguma forma eu nasci aqui e meu pai me tirou daqui, me protegendo dessas coisas. Minha mãe foi morta aqui dentro, dentro dessa cidade – ela continua chorando – e meu pai também, torturado diante de mim... Agora é a minha vez, a minha vez de morrer aqui. E tudo isso por culpa sua, Matt! Você é o culpado de tudo, você foi idiota que fez com que tudo viesse à tona. Como pode se importar comigo me trazendo para a morte certa?

Ela se levanta e corre até mim fechando os punhos e batendo no meu peito com força. Sinto-me inútil, sinto que não posso fazer nada para fazer tudo voltar ao normal, então apenas fico quieto deixando que ela continue batendo em mim enquanto derrama lágrimas pelos olhos. Don apenas observa.

–Seu... Seu... Idiota! É isso que você é. Como pode se importar comigo dessa forma, como pode... Eu vou morrer aqui, todos nós seremos mortos aqui, não há escapatória alguma. Meus pais...

Ela volta a sentar no sofá com as mãos no rosto entre lágrimas. Penso em não fazer nada, mas Don olha pra mim como se eu realmente devesse fazer algo. Sento do lado dela e a envolvo com o meu braço e deixo que ela encoste a cabeça no meu ombro.

–Anette... Eu sei que fiz besteira... Mas se me permitir, vou me esforçar o máximo para sairmos daqui com vida. Isso é uma promessa!

Levanto com a carta que havia escrito em minhas mãos. Foi tudo por causa dela, então é melhor eu me livrar... Me livrar, é a melhor forma. Caminho até a janela, ficando lado a lado com Don. Anette ainda chora e não consigo olhar pra ela ainda.

–Don, foi tudo por causa dessa carta. Vocês não teriam vindo se você não tivesse encontrado, não é?

–Na verdade, Chang que encontrou. Mas sim, não teríamos saído por aí com um estranho se Chang não tivesse encontrado essa carta sem ajuda de ninguém. Por falar nisso cara, nem sei onde ele está.

–Bem... Tá na hora de me livrar dessa coisa – olho para a carta aberta e jogo pela janela, fazendo com que ela plane sobre o ar por um tempo – de procurar Chang, Mateus e sairmos dessa cidade. Cansei de tudo isso, cansei de toda essa mitologia, de todas essas coisas horríveis.

Pego a mochila e procuro pelo Selo de Metatron. Seguro-o firme em minhas mãos mais uma vez.

–Ei cara, o que vai fazer com isso?

–Bem, eu vou nos tirar daqui.

Fecho os olhos e tento imaginar alguma saída desse lugar, algum modo de achar Mateus ou Chang. Tento focar meus pensamentos em um dos dois, mas só consigo focar em Mateus, afinal ele me ajudou muito. Mentalizo Mateus e ainda com olhos fechados sinto a conhecida sensação. Abro os olhos e vejo Don e Anette olhando firmemente para mim com expressão de desespero.

–Matt, o que você está fazendo?

Eu só percebo quando olho ao redor e vejo toda aquela realidade mudar mais uma vez. As paredes se descascam diante de mim, o chão se torna grades e o cheiro de podre invade meu nariz. O Selo mudou a realidade de Silent Hill mais uma vez.

–Matt, desfaz isso agora!

Seguro mais forte o objeto e tento relembrar de como o hotel estava antes, mas não consigo. Tudo que vem na minha cabeça é Mateus, o que não promove nenhuma mudança no lugar.

–Não dá...

–O quê?

–Não dá Anette...

–Cara, que maneiro!

–Como assim NÃO DÁ?!

–Não dá! Simples!

–Veei, que louco. Como você fez isso Matt?

Começo a ouvir no corredor um som conhecido. É o som de uma coisa de metal arrastando no chão, um ensurdecedor que meus ouvidos conhecem muito bem: o Cabeça de Pirâmide. O Som se aproxima da porta, eu e Don apontamos nossas armas nessa direção enquanto Anette se esconde atrás de nós. Vejo a maçaneta da porta girar.


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