Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 10
Ilha no Lago Toluca


Notas iniciais do capítulo

"Estar sozinho nunca me pareceu certo. Às vezes me senti bem, mas isso nunca me pareceu certo." - Charles Bukowski



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/529086/chapter/10

–Corre Mateus!

Estamos correndo em meio a Nathan Avenue. Apareceram uns cachorros muito estranhos querendo nos atacar. Precisamos chegar ao Silent Hill Historical Society que segundo o mapa, há um lugar onde podemos pegar um barco para atravessar o lago. Esse lugar não me parece muito estranho. Segundo Mateus, sempre há dois ou três barcos a espera, pois ele já havia ido com o pai dele. De algum modo, também tenho a impressão de ter vindo aqui com meu pai quando viemos visitar minha tia, já faz alguns anos.

Continuamos correndo e os cachorros nos perseguindo. Eu tento puxar Mateus pela mão o máximo que posso. Era uns dois ou três, não vi direito por causa da névoa. Há uma espécie de alambrado e grade impedindo com que pulemos para a parte que não tem asfalto. A névoa a nossa frente nos impede de ver muita coisa. De repente, um borrado negro aparece em nossa frente, ficando mais nítido a medida em que nos aproximamos. Consigo ver então um prédio com algumas placas, segundo o mapa, aquele era o local. Olhamos para trás e vemos os cachorros em nossa direção um pouco mais lentos. Se a porta dessa coisa estiver fechada, então os cachorros nos pegam. Temos que dar a volta.

Procuro por algum buraco no alambrado e para a minha sorte, encontro um portão trancado, mas que impede apenas a entrada de carros. Pego o garoto ofegante e passo-o por cima do portão, pulando logo em seguida. Começamos a dar a volta até encontrarmos mais um alambrado e consequentemente subimos e conseguimos passar, deixando finalmente os cachorros para trás.

–Poxa, essa foi por pouco... – falo ainda ofegante – Se não fosse esse alambrado, estaríamos ferrados.

Mateus assente com a cabeça respirando golfadas de ar enevoado. Abro a minha mochila e tiro uma das barras de cereal, entregando a Mateus que come rapidamente como se não tivesse comido há dias. Dou também a garrafinha de suco, que ele faz desaparecer metade em poucos segundos. Olho em volta e vejo um pequeno cais com dois barcos com remos dentro. Era como ele havia dito. Estamos prestes a atravessar o lago e chegar do outro lado da cidade, tendo então uma possibilidade de sair daqui. Havia um poste aceso, acrescentando uma pequena claridade ao lugar dando a ele alguns tons místicos. Observo o lago, mas não vejo muita coisa por causa da névoa.

–Mateus... Como fazemos pra chegar ao lugar onde queremos?

–Olhe para ali!

O menino aponta em uma direção que aparente não tem nada, mas que ao perceber bem, vejo uma pequena luz tremeluzindo em meio à névoa.

–Ali fica o Hotel Lakeview. Mas antes temos que pegar uma coisa no meio do lago, numa pequena ilha.

–Tem uma ilha no meio do lago?

–Tem sim. Ela aparece mais quando o lago está um pouco vazio, mas tem uma ilha. Fica mesmo no meio do caminho.

–Certo... mas não me lembro de ter visto nada parecido quando vim a Silent...

Eu paro as minhas palavras. Nunca tive tanta certeza de que estive aqui, e agora falo involuntariamente. O que está acontecendo comigo? De repente, começo a ver flashes em minha cabeça.

[–Como assim pai? Vamos atravessar o lago sozinhos?

Meu pai sorri ao olhar pra mim. Estamos num cais e vejo o lago Toluca. O sol de verão ilumina a água formando uma paisagem muito linda. Mais a frente consigo ver bem distante uma construção, o hotel onde meus pais passaram sua lua de mel. O Lakeview hotel. As águas do lago estão calmas e tem mais uma fila de pessoas aguardando a nossa ida de barco para fazerem o mesmo depois.

–Tenha calma, Matt. Logo vamos estar dentro desse barco e você não vai mais querer sair.

Eu ainda estou com um pouco de medo. Meu pai bebeu um pouco, então não sei como vai ser. Fico esperando e então um dos caras responsáveis pelo passeio turístico nos convida. Vamos até o barco e meu pai me ajuda a subir em um deles, subindo logo depois.

–Tudo bem rapazinho?

Eu aceno com a cabeça e meu pai começa a remar. O barco começa a ganhar velocidade e a deslizar sobre as águas calmas do lago. A coisa começa a ficar agradável e o sol bate no meu rosto junto com uma brisa suave de domingo, o que me faz ficar mais tranquilo. O meu pai olha pra mim com olhar de amor, como se nunca tivesse brigado uma vez se quer com minha mãe. Isso me deixa feliz. O caminho prossegue até que o barco atraca no outro cais. Nós subimos pela escadaria e vemos o luxuoso hotel que mais me lembrava um castelo.]

–Matt?

Olho atentamente e vejo Mateus me espiando com uma cara de surpresa.

–Estou bem, fique tranquilo.

Tento sorrir pra ele, mas o impacto de relembrar do meu pai junto com o fato de ter certeza de já ter passado por aqui me impede disso. Fico ainda pensando o quê que tudo isso está fazendo com minha mente, pois nunca fui de ter esses flashes e lembrar vividamente de acontecimentos do passado. Sempre fui de jogar tudo pro inconsciente. Essa cidade faz com que as coisas venham à tona.

–Vamos ou não, Matt?

–Ah... Desculpe-me. Estou meio pensativo hoje.

–Vamos logo! Eu quero encontrar meu pai.

–Certo.

Caminhamos até o barco e subimos nele. Pego os remos e começo a usá-los ao mesmo tempo, conferindo uma melhor velocidade e mantendo a direção reta. O barco desliza pelo lago e não consigo ver a bela vista que acabei de ver na lembrança: vejo um monte de névoa densa encobrindo tudo... Mas o que será que aconteceu com esse lugar?

Mais uma vez, pensei como se já houvesse estado aqui. Essa impressão não sai da minha mente, sempre fico achando que já estive nesse lugar. Preciso sair daqui logo, ou então vou ficar louco de pedra e aí já era, serei apenas mais uma estatística para a lenda desse lugar. Tenho que me manter calmo.

Continuo remando e vejo um vulto surgir na minha frente. Tem um cais e algo parecido com uma igreja: é a ilha que Mateus havia dito. Ela vai ficando mais nítida e vejo que realmente é uma igreja que há bem no topo, junto com algumas ervas daninhas, árvores e o cais. Mais distante, consigo ver a luz do hotel.

–Matt, é aqui!

Vou diminuindo a velocidade do barco até me aproximar do cais. Passo alguns minutos calculando em como posso atracar o barco da melhor forma de descer e o vido de lado, deixando o rente ao cais. Puxo a corda dentro dele e amarro numa das colunas do cais, para que o barco não seja levado pelo lago. Descemos do barco de ficamos em pé no cais por alguns momentos.

–Então... Mateus, é naquela igreja?

–Sim. Mas você precisa ir sozinho. Tem uma coisa esperando por você lá.

–Ei, como você sabe disso? Não vou deixar você aqui sozinho, e muito menos sem saber o que devo pegar.

O garoto me olha sério, sem nenhuma expressão de estar brincando ou confuso, muito menos de que vai mudar de ideia.

–Então eu não saio daqui. Vamos ficar aqui parados.

Respiro fundo. Percebo que o garoto não vai ceder, então começo a subir a pequena trilha que leva até a igreja. Olho para a construção, o que me assusta um pouco. Uma típica igreja aparentemente católica dentro dessa cidade, uma cidade que segundo o professor Thompsom era altamente pagã com grande miscigenação de religiões...

As paredes da igreja são laranja e tem uma porta arredondada na parte superior, com um círculo em mosaico em cima. Tento abrir a porta, mas está trancada.

–Droga! Mateus, sobe aqui!

Há um enorme silêncio e a névoa me impede de ver algo mais além. Começo a ouvir o barulho de passos vindos em minha direção: era Mateus. O garoto vem com uma expressão altamente fechada.

–Eu disse que você tinha que entrar sozinho.

–Tá trancada! Se você sabe o que está me esperando aí dentro, então vai ter que destrancar pra mim, se é que sabe destrancar...

Mateus faz uma expressão de surpresa e enfia a mão num dos bolsos do casaco tirando uma enorme chave prateada de dentro. Eu já estou impressionado em como essas pessoas que já estavam aqui possuem chaves das coisas.

–Tome. Agora entre aí!

Respiro fundo. Introduzo a chave na fechadura e a giro com uma volta de 360 graus. Ouço um click e abro a porta. Dou uma olhada para trás e já não vejo mais Mateus. Continuo andando enquanto as velas no altar da igreja se acendem sozinhas. As janelas estão fechadas e os bancos de madeira dispostos em duas filas, deixando um corredor no meio. Decido continuar caminhando até o altar onde velas queimam liberando uma fumaça vermelha.

Não sei o que fazer aqui dentro, mas acho que há algo me esperando no altar, algo que eu deva pegar. Continuo andando lentamente até chegar próximo à mesa coberta por um pano vermelho. Entre as duas velas acesas há um objeto circular dourado, marcado em vermelho com o Selo de Metatron. Era exatamente o objeto que eu precisava para voltar pra casa. Isto é, se eu conseguir usá-lo.

Estendo a minha mão direita e pego o objeto com ela. De repente, a única porta daquele lugar, a que eu entrei, se fecha bruscamente fazendo um barulho muito alto. A igreja começa a tremer e todo o lugar começa a se alterar junto com um barulho de sirene que ecoa dentro do lugar. Sinto um calor emanar do piso e meus sentidos começar a se bagunçar... Minha visão fica distorcida e sinto como se mil agulhas entrassem de uma vez espalhadas pelo meu corpo. A dor é tão forte que caio no chão me contorcendo, mas algo me faz segurar o objeto com muita força. Todo o ambiente começa a se distorcer e eu fecho os olhos, temendo que a outra realidade de Silent Hill venha à tona novamente.

O lugar continua tremendo por um tempo, até que se estabiliza. Abro os olhos e estou deitado em cima de uma grade enferrujada e suja que me mostra um abismo profundo. Levanto rapidamente e vejo as paredes completamente destruídas no que se diz respeito a sua pintura. O lugar parece que sofreu um incêndio e está diferente. Não há mais janelas e muito menos portas. A única coisa que vejo é o altar com a mesma mesa e apenas um vaso preenchido com um líquido. Ligo a lanterna e vejo o líquido transparente, semelhante à água. Tenho que arranjar um jeito de sair daqui. Ainda com o objeto firme em minhas mãos, abro a mochila e o jogo dentro. Se sair daqui de dentro e encontrar Mateus, dou um jeito de usar essa coisa e sair daqui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No lago Toluca há realmente uma ilha mostrada no mapa. É provável que lá tenha sido realmente o local onde James vai após fechar Silent Hill 2 com o final "Rebirth".



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silent Hill: The Artifact" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.