Ana não estava em seus melhores dias, estava triste e magoada e a chuva que caia não ajudava em nada, quando andava na rua praticamente a água estava em seus joelhos, mas conseguiu fugir daquele lugar alagado. Mas quando chegou no portão da escola, se olhou e bufou, a calça de seu uniforme estava um pouco molhada na barra.

A única coisa que não havia percebido era seus olhos, seu rimel estava borrado porque enquanto vinha para escola, chorava sem parar e não ligava para olhares alheios.

— O que aconteceu com você? – perguntava Roberta.

Ana suspirou e pegou em uma das mãos de Roberta e saiu com ela para quadra coberta que seu colégio tinha. Subiram alguns andares e sentaram na arquibancada e por uns minutos ficaram em silêncio só ouvindo a chuva atingir o telhado, a chuva acalmava os nervos de Ana.

— Ela conheceu uma nova amiga e... – suspirou novamente — E eu não tenho paciência.

— Você não pode ficar assim, tem que falar com ela – incentiva Roberta.

Ana assentiu, virou-se para Roberta e deu um beijinho em suas bochechas, a mesma corou e deu uma risada.

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Ana andava pelos tentando inutilmente encontrar sua namorada, mas ela não estava em nenhuma das salas. Nem na salas de aula e muito menos nos banheiros femininos. Já estava quase desistindo de procurar quando lembrou da sala de teatro que era imensa e então correu para o lugar.

Enquanto corria e esbarrava nas pessoas e pediu um leve “desculpa”, mas seus pensamentos estavam longe dali, estava pensando como era ciumenta porque sua namorada Grazi não teria coragem de traí-la isso tinha certeza, Ana não tinha paciência para a nova amiga que sua namorada arrumará.

Parou de correr e agora andava calmamente até a porta da sala do teatro. Não bateu na porta apenas abriu e anunciou sua chegada, mas seu anuncio não foi ouvido nem por Grazi e nem por sua nova amiga.

Ana ficou observando de longe as duas se interagindo em cima do palco, aquele dia era um dia que não teria aula pelo resto da semana então os alunos estavam livres pra fazerem alguma atividade pela escola, mas ninguém ali gostava de teatro só Grazi e Kait a aluna nova e nova amiga de Grazi. Ana já um pouquinho enciumada com os risinhos que as duas amigas davam uma para a outra.

— Meu amor por você é cativante – gritava Grazi e logo em seguida ria.

— Oh céus, eu te amo – respondia Kait rindo também.

Ciúmes é algo irritante e faz as pessoas levaram muitas coisas a sério quando é pra levarem na brincadeira. Automaticamente Ana estava sendo controlada pelo seu ciúmes, levantou-se de sua poltrona e foi em direção ao palco, deixou sua mochila para trás, agora não ligava pra mais nada só queria colocar um ponto final em tudo aquilo.

Passava pelo corredor das cadeiras e agora já subia as escadinhas do palco, Grazi –agora- notou a presença da namorada e então abriu um sorriso, mas seu sorriso desmanchou quando Ana pegou firme em seu braço e andou com ela até a saída mas foi impedida por Kait.

— Solta ela – dizia Kait largando seu script e deixando cair no chão.

Grazi virou-se já com raiva e sua respiração estava acelerada e Kait se aproximava tentando tirar Grazi de suas mãos, mas Ana não deixou, empurrou-a com toda agressão que tinha em seus braços e saiu dali com sua namorada em mãos.

— Ta doendo – dizia Grazi tentando desabrochar seu pulso, porém não conseguiu porque Ana apertava ainda mais e aquilo doía muito.

Ana foi andando com ela até avistarem uma sala de aula vazia e sem ninguém pra perturbar as duas, a fechadura da porta impedia que alguém abrisse por fora então ficou mais fácil. Entraram no ambiente e Ana largou os braços de sua namorada e fechou a porta com força pra que todos daquela escola ouvissem o baque. Estava realmente com muita raiva.

— Eu não quero ver você com ela – gritava Ana.

Grazi não estava entendo nada, sua parceira nunca havia ficado assim e nunca havia ficado com ciúmes também, nenhuma das duas provocavam e aquilo era a primeira vez que via sua namorada naquele estado, não sabia o que fazer porque nunca tinha passado por isso. Estava sendo agonizante. Pensou no que falar, mas nada passava por sua cabeça, não tinha nada pra falar só estava na sala de teatro praticando com a nova amiga que havia conhecido na escola.

— Você nunca gostou de teatro e eu só estava praticando sabe... – explicava Grazi nervosa. Estava nervosa e com medo, olhava pros olhos de sua namorada e não via nenhum sentimento de amor naquela situação.

— Podia praticar com o caralho a quatro menos com ela, eu não sei quem é ela – Ana começava a andar de um lado para o outro e pensando, pensando sabe se lá o que.

— Uma amiga – explicou Grazi.

— Não gosto das suas amigas.

“Não gosto das suas amigas” foi a gota d’água para Grazi.

— Idai? Eu gosto, elas são importantes pra mim como a Roberta e outras são importantes pra você, eu te amo e você sabe disso, nunca ficou com ciúmes das minhas amigas e agora que conheço uma nova está assim.

— Não fui com a cara dela.

Grazi bufou nervosamente, por que tudo tinha que ser tão difícil, pensava. Grazi se aproximou e levantou o rosto de sua namorada com delicadeza e selou seus lábios nos dela, foi um selinho calmo e demorado. Ana não tinha mais nada a dizer, seu ciúmes e raiva tinha ido embora junto com o selinho que sua amada lhe dera. Grazi sorriu com seu próprio ato e agora olhava firma para Ana.

Aquele ato acalmou Ana e a mesma disse um “desculpa” baixo, mas que deu pra ouvir, afinal ninguém estava na sala com as duas. Grazi após ouvir aquilo, envolveu seus braços ao redor do pescoço de sua namorada e a mesma correspondeu e as duas ficaram ali abraçadas por minutos. Grazi sentiu algumas lágrimas caírem em sua nuca e então desvencilhou do abraço e olhou profundamente tentando entender porque Ana estava chorando.

— Eu te amo – dizia Ana com os olhos – novamente- lacrimejando.