Spring and Summer escrita por harmonyandwisdom


Capítulo 1
Capítulo Um;


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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Violetta estava em frente ao espelho de seu quarto, enquanto observava o simples vestido branco que estava vestindo. Ela então ajeitou o garment que usava debaixo do vestido, e deu um largo sorriso por finalmente estar usando algo por sua própria vontade e não algum dos vestidos que mais pareciam de freiras que sua mãe a obrigava a usar. A morena então vê sua mãe entrar no quarto, e olha reprovadamente ao vestido da garota.

''Violetta! Não é mais uma garotinha para usar esses vestidos curtos. Você já tem catorze anos de idade!'' exclamou a sra. Castillo em desaprovação, enquanto pegava um dos vestidos longos de Violetta em seu armário. ''Agora vista-se adequadamente, pelo amor de Deus!''

''Se eu soubesse que ia usar um vestido tão comprido, preferia não fazer catorze anos.'' murmurou Violetta, enquanto olhava o vestido azul que sua mãe havia lhe dado.

''Este vestido não está comprido, Violetta!'' disse sua mãe, enquanto tirava o vestido branco de Violetta e colocava nela o vestido azul. ''E além do mais, não pode andar por aí de vestidinho curto. Já está crescida.''

''Mas o vestido curto fica melhor em mim do que esta camisola. Oh, mãe, me deixe usar o vestido curto outra vez. Só mais esse verão. Até o meu próximo aniversário. Olhe só, fica horrível em mim: parece um uniforme de preso e, ainda por cima, eu piso na bainha!'' protestou Violetta, enquanto olhava-se no espelho.

''Então pendure o vestido novo no guarda-roupa. Pode usar o curto, se é o que você quer. Eu posso costurar um babado em volta para ficar mais comprido.'' disse a sra. Castillo, enquanto ajudava sua filha a tirar o vestido azul.

''Não, por favor. Isso não. Preferia então já ter vinte anos!'' falou Violetta, enquanto pendurava o vestido

''Não quero que você apanhe frio, Wendla. Esse vestido era bom de comprimento, mas...'' começou a sra. Castillo.

''Mãe, é quase verão. Nem as crianças pequenas, de joelhos de fora, ficam doentes. Por que é que tem tanto medo? As pessoas da minha idade não têm frio, muito menos nas pernas. Você acharia melhor se eu morresse de calor? E se eu morresse de calor? E se a sua garotinha cortasse as mangas do vestido, até os ombros? E se eu voltasse para casa, à noite, sem sapatos e sem meias? O dia em que eu tiver que usar a camisola de preso, me visto por baixo com outra coisa, além do garment. Não fique brava, mãe, ninguém vai poder ver.'' falou Violetta, enquanto colocava o vestido branco.

***

Leon Vargas estava caminhando com Tomás, seu melhor amigo desde que se entendia por gente pelas agora escuras ruas daquela cidade.

''Juro que eu gostaria de saber o que a gente faz no mundo.'' disse Leon, enquanto olhava o céu estrelado.

''Sabe algo que nunca entendi? Por que a gente tem que ir pra escola? Preferia ser um inseto do que ter que ir pra escola. Por que a gente tem que ir? Pra fazer provas. E por que fazem provas? Pra gente repetir. Sete vão repetir, porque na classe do ano que vem só cabem sessenta alunos. Sete vão ter que evaporar. Desde o Natal que eu ando meio estranho. Um pouco angustiado. Se não fosse pelo meu pai, pegava minhas coisas e ia embora. Pros Estados Unidos.'' murmurou Tomás, enquanto chutava um pouco de terra ao longo do caminho. ''Ai eu nunca mais precisaria me preocupar com nada. Apenas curtir a vida como eu sempre quis, sem nenhuma preocupação.''

''Vamos mudar de assunto.'' disse Leon, sabendo que esse assunto era o que menos Tomás gostava de falar.

''Escureceu tão de repente. Não dá pra ver um palmo na frente do nariz. Mas, você não acha, Leon, que a vergonha do ser humano é completamente artificial, produto da educação que dão pra gente?'' falou Tomás.

''Eu fiquei pensando nisso outro dia. Eu acho que a vergonha faz parte da natureza humana. Ninguém escapa dela. Imagine que você precise tirar toda a sua roupa na frente do seu melhor amigo. Você não vai tirar. Só se ele tirar também, ao mesmo tempo.'' murmurou Leon, enquanto sentava-se em frente a uma árvore, acompanhado por Tomás.

''Se um dia eu tiver filhos, eles vão dormir no mesmo quarto, desde pequenos. Se possível, na mesma cama. De manhã e de noite, eles vão tirar e por a roupa juntos, meninos e meninas, todos juntos. No calor, vão usar uma túnica de linho bem curta, com uma tira de couro pra apertar na cintura. Imagine como essas crianças vão crescer, assim calmas. Diferente de nós.''

''Você tem razão. Mas tem um problema: e se as meninas ficarem grávidas? Como é que fica?'' perguntou Leon.

''Grávidas? Como assim?'' disse Tomás, bem confuso.

''Instinto, Tomás. A gente tem que acreditar nele, queira ou não queira. É instinto. Suponha que você tranque um gatinho e uma gatinha, desde pequenos. E eles crescem sem ter nenhum contato com o mundo, com nenhum outro gato. Só os dois e os seus próprios instintos. O que vai acontecer? Um dia, eu aposto, a gata vai aparecer grávida. E nenhum deles teve outro gato por perto. Pra servir de exemplo.'' falou Leon.

''Mas com os animais é assim mesmo, mas, com os humanos é diferente!'' protestou Tomás, indignado com as palavras do amigo.

''E com os seres humanos não? Eu acho que a mesma coisa vai acontecer, Moritz, com os seus meninos e meninas dormindo todos juntos na mesma cama. Uma noite, um dos meninos começa a sonhar e acorda com o instinto fervendo. Eu aposto, Tomás.'' murmurou Leon. ''E com as meninas vai acontecer a mesma coisa. Você acha que umas idéias não vão começar a borbulhar na cabeça delas? Eu sei que as meninas são um pouco diferentes. Acho que não é a mesma coisa. A verdade é que a gente não sabe. Mas dá pra imaginar. Não dá pra imaginar? O instinto, as idéias, a cama. A curiosidade cuida do resto.''

''É. Você tem razão. Bom, de qualquer modo..'' começou Tomás. ''Posso te fazer uma pergunta?''

''Claro.'' disse Leon.

''Você fez a lição de Latim?'' perguntou Tomás, enquanto apoiava sua cabeça no tronco.

''Tomás, aqui ninguém ouve a gente. Fala logo. O que é?'' falou Leon, mal humorado.

''Você já sentiu?'' perguntou Tomás.

''Sentir o que?'' perguntou Leon de volta.

''Aquele tal de instinto.'' disse Tomás, com vergonha.

''Muito. Eu tenho tido essa coisa já faz um tempo. Um ano, eu acho.'' falou Leon. ''E você?''

''Também.'' murmurou Tomás. ''Na primeira vez, eu sonhei que tinha duas pernas com meias azuis, que iam subindo pela mesa do professor. Pra falar a verdade, foi tudo muito rápido. Fiquei morto de medo.''

''Quando aconteceu comigo eu estava mais ou menos preparado. Fiquei com um pouco de vergonha, mas foi só.'' disse Leon.

''Pensei que eu tinha uma doença sem cura, que eu ia apodrecer por dentro. Aí eu comecei a anotar tudo num diário e isso foi me acalmando. Leon, essas últimas três semanas foram um calvário pra mim.'' começou Tomás. '' É verdade. Não é uma brincadeira muito estranha essa que pregam na gente, Leon? Todas essas coisas acontecendo. E a gente ainda tem que agradecer. Eu nunca senti nada assim antes - esse tipo de desejo, essa excitação insuportável. É insuportável. Por que não me deixaram passar por tudo isso dormindo e acordar quando já tivesse acabado? Meus pais poderiam ter tido cem filhos melhores do que eu. Mas eu estou aqui, o pior de todos. Sabe de onde eu vim ou como eu cheguei aqui. Agora é assumir a responsabilidade por ter nascido. Você já pensou, Leon, como é que a gente veio parar nesse redemoinho? Já tentou descobrir isso, Leon?''

''Você ainda não sabe, Tomás?'' disse Leon, surpreso.

''Como eu posso saber? Eu sei que as galinhas põem ovos, eu já vi. Me disseram que minha mãe me carregou debaixo do coração. Mas é só isso? Sabe a carta da Rainha de Copas? Já viu como os ombros dela ficam nus e o decote desce - quando eu tinha cinco anos eu ficava perturbado quando alguém punha essa carta na mesa. Eu me sentia - ah, Deus sabe - me sentia horrível. Isso passou, mas eu mal consigo falar com uma menina sem ter pensamentos indecentes. Eu juro, Leon, eu nem sei o que são, mas são pensamentos horríveis.'' disse Tomás.

''Vamos pra minha casa. Lá no meu quarto, em meia hora eu resolvo os versos de Homero, as equações e as lições de Latim. Alguns erros e pronto, está tudo pronto. Mamãe faz uma limonada e você e eu, Tomás, podemos conversar à vontade sobre reprodução.'' disse Leon.

''Não posso. Eu não quero "conversar à vontade sobre reprodução". O único jeito de isso acontecer, Melchior, é se você escrevesse tudo pra mim, como um manual. Eu acho que isso sim podia me ajudar. Você escreve tudo o que você sabe, de uma maneira bem simples, bem clara. E aí deixa no meio dos meus livros, amanhã, na aula de Ginástica. Eu levo pra casa sem saber e dou com isso de surpresa. Não vou conseguir ficar sem olhar. Se você achar importante, pode colocar desenhos assim, na margem.'' murmurou Tomás.

''Você parece uma menina, Tomás. Mas se é assim que você quer... vai ser um exercício bem interessante.'' disse Leon.

E então eles voltaram para suas respectivas casas.


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Notas finais do capítulo

Por favor, comentem o que acharam, pois irá me ajudar muito!