Linkage escrita por Rob Sugar


Capítulo 3
Capítulo 3




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DESEMBARQUE NA ESTAÇÃO DA CAPITAL – 18:54

Chegamos à Capital relativamente rápido, já que nosso Distrito é o mais próximo de todos os treze.

Pergunto a Kog se isso tem algum motivo específico e ele me responde que a Capital precisa da nossa tecnologia mais do que precisa de comida e joias.

E que o Distrito 13 não existe.

Descemos do trem e os flashes machucam meus olhos. Em meio a centenas de vozes, consigo ouvir alguns desses seres coloridos e bizarros refazerem a pergunta que meu parceiro me fez enquanto ainda estávamos de saída do Distrito 3.

Faço o máximo para ignorá-los, mas alguns insistem em tocar no meu cabelo. Imediatamente me lembro da Operação e que tem um aparato de revolução no meu pescoço, encoberto com uma cicatriz. Bato com força na mão da pessoa que estava me tocando e ela solta um grito estridente.

Todos se calam e olham para mim com suas máquinas fotográficas e os flashes cessam.

Sigo Liam, Kog e o garoto do meu Distrito e não direciono uma palavra sequer aos seres da Capital. Sou separada dos três e atirada dentro de uma sala estranha. Sento na cama e refaço os passos.

Ser educada, atrair patrocinadores para que não morra de frio, fome ou infecção. Destruir Panem.

Plano simples até demais de ser executado...

Um trio bisonho de seres humanoides adentra a sala e fala sem parar. Riem de pessoas que nunca ouvi falar enquanto me deitam numa banheira com um líquido branco que queima em contato com minha pele. A ardência é boa, na verdade.

Passam produtos de beleza em meu cabelo que a única coisa que viu foi água e tesoura em toda a minha vida. Reparam minha cicatriz.

–Ui, amorzinho! – uma voz masculina se destaca das outras. “Masculina” – Parece que alguém foi tentar cortar o próprio cabelo e não deu certo.

–Achei que fosse conseguir esconder de vocês. – digo revirando os olhos, tentando me passar por uma aspirante de moda no Distrito 3.

–Não vamos tocar aí, certo? Deve estar doendo. – ele dá uma risadinha e continua seu serviço.

Trinta e dois minutos se seguem até que eles finalmente vão embora. E saem do mesmo jeito que entraram, gritando e gargalhando como se nada de ruim pudesse acontecer.

Um homem com um cabelo cacheado que forma uma cúpula rósea sobre sua cabeça entra na sala. Seus lábios estão num verde estranho e pavoroso, mas desvio o olhar para não ofendê-lo.

Este é um estilista-chefe. Sua função é me deixar atraente para os patrocinadores, então é bom eu tratá-lo muito bem, não sei se as pessoas da Capital são vingativas como precisariam ser.

–Adorei seu cabelo. – ele me diz quebrando um silêncio frio – Sou o Nisha, é um prazer. – ele estende a mão e respondo seu cumprimento com educação e certo receio – Não está assustada, está?

Nego com a cabeça sem piscar. Penso em esboçar uma pose heroica para que ele entenda que é porque eu sei que vou vencer, mas mudo de ideia quando ele tira a jaqueta. Costurado um pouco em cima do bolso de sua camisa, vejo o mesmo símbolo que está desenhado em algum lugar da bata com a qual vim.

Sete círculos se cruzando na forma de uma flor desabrochando. O símbolo da Madrepérola.

Meu queixo cai involuntariamente e ele o fecha delicadamente com a mão.

–Tente não fazer isso no desfile, Ara. – ele comenta – Ou seja lá qual for o seu nome.

Um sorriso se forma involuntariamente no meu rosto. Ele ri e sai da sala por um instante. Em alguns momentos ele volta com uma roupa estranha, mas bonita. É um vestido. Imagino apetrechos tecnológicos brutalmente ultrapassados, mas vejo manchas vermelhas. O vestido é acompanhado de uma jaqueta negra como uma pupila humana, que possui certa deformação nas costas. Vem, no conjunto, uma gema que imagino ser uma tiara, mas é um colar brilhante que pulsa em vermelho e cinza.

Aponto para a deformação na jaqueta.

–Quando apertar a gema do colar, você vai saber o que é. – ele diz num tom misterioso. Igual ao tom das pessoas com quem convivo no meu Distrito – Seu parceiro possui algo parecido na jaqueta dele, mas ele não está de vestido. – sorrio – A gente pensou em fazer isso, mas quando vimos a colheita... Tantos músculos iam destruir o vestido. – corto meu olhar para o chão quando ele diz isso – Você também viu, não é, sua safada!

Ele me ajuda a vestir a fantasia e vou para minha carruagem.

Encontro o rapaz do meu Distrito, que também possui uma corcunda em sua jaqueta, e ele me ajuda a subir no transporte a cavalo.

Os outros tributos cochicham sobre algo e olham para nós se esforçando para disfarçar o espanto, mas não são bons nisso. Claro que falam sobre nós dois.

Acredito que seja bom que falem de mim. Ninguém nunca falou de mim, até onde sei. Talvez os membros da Madrepérola estejam cogitando falar sobre mim, já que eu sou o passe de todos eles para a liberdade. Ou qualquer coisa que venha com o fim da ditadura de Snow.

Recobro minha consciência quando a carruagem começa a se mexer. Ouço os gritos dos cidadãos da Capital e me pergunto se já é a hora de apertar o colar.

–Que tal no três? – o meu parceiro grita no meu ouvido, me dando um susto – Um... Dois... Três!

Quando ele grita, apertamos nossos botões ao mesmo tempo e ouvimos explosões. Olho para o telão que está nos reproduzindo e fico chocada com o que vejo.

A explosão liberou fogos de artifício que fizeram acrobacias abstratas antes de explodirem.

Explodirem deixando as palavras “Morte a Snow” no ar.


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