Julgamento escrita por Luc


Capítulo 5
Os mortos não estão tão longe assim


Notas iniciais do capítulo

Já tem gente que sabe quem é o Montgomery. Se quiserem, na próxima faço uma lista de personagens com suas habilidades mediúnicas, nomes e pessoas nas quais foram baseadas.



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Fabian não entendia bem o porquê, mas precisava entrar naquela casa. Sentia-se estranhamente atraído a este lugar desde a Sessão que ocorreu na sua casa, com seus pais e seus amigos, que acreditavam que tudo aquilo não passava de uma grande diversão. Na última semana, sentiu um desejo irrefreável de ir até essa casa e tirar todas as dúvidas que tinha sobre si mesmo. E era isso que iria fazer, apesar de toda a apreensão. Apesar de todos os alertas sobre as práticas de Lexi Smartchild, de todos os "desaparecimentos" de seus amigos, Fabian precisava entrar, precisava conhecê-la.
Foi até a porta e hesitou um segundo antes de bater. Não esperou mais de 10 segundos e a porta foi aberta por um homem negro, alto e imponente, carregando no rosto uma feição séria.
– Sr. Montgomery, a Srta. Smartchild aguarda-o em seu escritório. Por favor, acompanhe-me. - o mordomo abriu mais a porta para que o jovem passasse, e enquanto ele fechava a porta, Fabian observou o interior da casa, estranhamente vazia e silenciosa para uma casa tão grande.
No centro do salão havia uma escada magnífica, pela qual o mordomo o guiou até o primeiro andar. Lá, viraram a esquerda e o homem abriu uma porta corrediça para Fabian, que agradeceu e ajeitou seu colete antes de entrar. Dentro, um escritório repleto de livros se abria.
Do outro lado do escritório, havia uma mulher não muito mais velha que Fabian, apoiada de frente para ele na mesa. Ela era ruiva, de olhos castanhos. Usava um vestido azul escuro, e abriu-lhe um sorriso assim que ele deu um passo para frente. Ao seu lado, de costas, um homem loiro fumava um charuto, olhando pela janela.
A mulher andou até Fabian e entendeu-lhe a mão.
–Muito prazer, Sr. Montgomery. Eu sou Lexi Smartchild, bem vindo à minha casa. - Fabian apertou-lhe a mão e tentou sorrir, mas estava muito nervoso.
O jovem encarou o homem loiro junto à janela. Lexi notou e os apresentou.
– Esse é meu velho amigo, Markus Cooper. Ele é confiável e nos acompanhará durante nossa conversa.
Markus caminhou até Fabian, tirando o charuto da boca, e estendeu a mão.
– Muito prazer. - Markus sorriu brevemente e foi até o canto da sala novamente, perto da janela.
Um silêncio se decorreu e Fabian mecheu em seu relógio com desconforto.
– Bom, por que não se senta aqui? - Lexi ofereceu, enquanto caminhava até o lado oposto da mesa.
– Obrigada, Srta. Smartchild.
–Me chame de Lexi, por favor - ela sorriu enquanto se sentava. - Então, Sr. Montgomery. O que o traz aqui?
–Eu... - Fabian franziu a testa. - Achei que você soubesse. Seu mordomo agiu como se soubesse que eu viria.
–Sim, eu sabia. Eu o induzi a vir até mim. Não que eu precisasse, mas quis adiantar o processo. Mas não sei dizer quais são suas dúvida, se é isso que quis dizer.
–Certo... E pode me chamar de Fabian, Lexi. Vamos deixar as formalidades de lado. - ele disse - Preciso de ajuda. Desde a Sessão Espírita que realizou na casa de meus pais, ando precisando de mais explicações, porque até então imaginei que estivesse louco. Agora já não estou mais tão certo disso.
Lexi já não sorria. Markus se aproximou da mesa e ficou atrás dela, esperando.
– Continue.
– O que eu vou dizer pode parecer mentira, e eu infelizmente, ou felizmente, ainda não estou certo disso, não tenho testemunhas do ocorrido. - ele esperou que seus ouvintes esboçassem reação. Quando não fizeram-no, continuou - Meus pais não sabem, mas grande parte da baixa sociedade e da escória deve saber. Eu tenho sérios problemas com dívidas de apostas e jogos, e... -ele abaixou a cabeça, mas tomou coragem e revelou - Dívidas acumuladas em prostíbulos. Sinto muito ter que trazer à tona tal assunto perto da Senhorita...
– Fabian, vamos deixar as formalidades de lado, como você mesmo disse. Eu não faço jus ao termo Senhorita, como você mesmo deve saber pelas más línguas. E você sabe muito bem, pela minha reputação, que falar sobre prostituição não é um problema perto de mim. Você deve imaginar o que acontece aqui e o que eu faço. Não se acanhe. Não sou uma dama da alta sociedade muito menos a Rainha. - Lexi tornou-se alguém completamente diferente da pessoa que Fabian viu quando entrou, usando um tom um tanto impaciente.
– Perdão. - Lexi fez um sinal de desdém com as mãos - Enfim, eu tentei convencer a dona do prostíbulo a me livrar dessa dívida. Não funcionou... Nas primeiras vezes.
Lexi arrumou a postura e tomou um ar mais sério, se é que era possível.
– O que você fez?
– Nada. Pelo menos foi o que eu imaginei naquele momento. Achei que, estranhamente, sem argumentos convincentes ou qualquer outra ferramenta, havia conseguido convencê-la. Foi estranho, mas preferi aceitar essa possibilidade, que até então era a única.
– Você a matou? Não precisa mentir pra mim, Fabian. - Lexi estendeu a mão sobre a mesa.
Fabian estranhou, mas ansiava contato com aquela mulher, então estendeu a mão e apertou sua mão.
– Eu não a matei. Eu juro.
Lexi sorriu em aprovação e retirou a mão, para a decepção de Fabian.
– No decorrer dos dias seguintes, a situação se repetiu. Sempre que eu tentava convencer alguém, o alvo da minha persuasão rapidamente cedia e parecia que sua opinião anterior contrária à minha nunca havia existido. Até que então eu cometi um erro que causou sérias consequências.
Lexi olhou rapidamente para Markus, então voltou-se para Fabian, assentindo para que ele continuasse.
– Convenci minha mãe, durante uma discussão infeliz, de que ela não estava levando uma vida descente e feliz. Que ela deveria se preocupar em ser mais feliz, parar de ter filhos e se concentrar na vida no lar, em seus afazeres. - Fabian olhou pela janela e suspirou, deixando os segundos se arrastarem - Ela estava grávida, como você deve se lembrar.
Lexi colocou ambas as mãos sobre a mesa, com uma aflição crescente no peito.
– Ela jogou-se da escada. Matou o bebê. E então eu entendi. Eu havia feito aquilo. Eu a convenci de que a criança que ela carregava era um fardo a mais, a causa da infelicidade no lar. Então, ela matou o bebê. Eu não quis acreditar. - ele olhou nos olhos da mulher sentada a sua frente- Até o dia em que eu fui até seu quarto, ainda descrente, e perguntei porque ela havia feito aquilo. Ela disse exatamente as palavras que eu disse a ela. Então eu tentei convencê-la de que ela estava errada, que ela não deveria ter feito aquilo, gritei com raiva que ela deveria ter se matado depois de ter matado o bebê. Com estas palavras, mandei ela se matar.
Lexi assentiu.
– Então ela se matou. - ela completou.
Fabian colocou uma mão sobre os olhos e se inclinou para frente. Aquilo foi resposta o suficiente.
– Foi um enterro privado. Como ela havia cometido suicídio, a Igreja não aceitou enterrá-la em solo sagrado, seus amigos não apareceram... - Ele levantou o rosto novamente, sem expressão.
– Sinto muito, Fabian. - Lexi levantou-se e olhou nos olhos de Markus - Markus, saia por um minuto. Fique ao lado da porta. Entre somente se eu chamar.
Fabian observou confuso enquanto Markus saia da sala, apagando seu charuto no cinzeiro da mesa.
– Vou preparar uma bebida para nós dois, você vai precisar. - Lexi se dirigiu à bancada de bebidas assim que Markus fechou a porta.
– O que você quer dizer? - ele se levantou.
– Nós vamos falar com a sua mãe. Ela estava conosco durante toda a conversa e acho que ela não vai lhe deixar sem antes esclarecermos algumas coisas.
Fabian chegou mais perto de Lexi, perplexo.
– Minha mãe morreu, Lexi. Ela está morta. Não brinque comigo.
–Sim. Ela está morta. - ela diminuiu a distância entre eles, estendendo um copo – Bem vindo ao meu mundo, Fabian. Onde alguns mortos não estão tão longe assim.
– O que infernos você está dizendo?! - Ele empurrou o copo da mão dela, que caiu no chão.
Ela olhou dentro de seus olhos, com certa raiva, mas pacientemente.
– Eu sou uma médium, Fabian. Você também é.


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