Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 57
Capítulo 57


Notas iniciais do capítulo

O capítulo ficou meio grande, mas ele ia ficar maior, resolvi cortar e continuar no outro.
Boa leitura :)



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Essa terça eu não fui na aula, porque minha mãe me liberou dessa. Não é como se eu não quisesse ir. Pra ser sincero, eu só queria ir pra ver a Lydia.
Ontem eu mandei mensagem pra ela, porque me senti na obrigação de explicar o que aconteceu de manhã com a Ashley. Como ela não respondeu nem minha mensagem, resolvi tomar alguma atitude. Eu não podia fazer muita coisa por causa da droga do tornozelo, então liguei pro porteiro e pedi pra ele avisar a Lydia de vir no meu apartamento assim que ela chegasse.
Mas ela não chegou.
Decidi uma última tentativa. Talvez o porteiro tivesse esquecido de avisá-la, acontece essas coisas. Ou talvez a tal da Claire que tenha lido a mensagem. Tive a ideia de ligar pra ela, era isso que faltava.
Tocou várias vezes e ela não atendia. Na hora que eu estava quase desistindo, ela atendeu.
Meu coração até acelerou, porque eu ia falar com ela. Era o que eu mais queria, ouvir a voz dela. Mas isso não aconteceu. Eu falava, e ela não respondia, até que a chamada foi desligada. Nunca fiquei tão confuso na minha vida.
Fiquei olhando pro nada, sem entender absolutamente nada e decidi deixar isso pra amanhã. Se ela não queria falar comigo com certeza havia um motivo e obviamente eu irei descobrir.
A Lydia é impressionante, quando ela está brava ela consegue ignorar muito bem. Mas eu sei o ponto fraco dela, se eu ficar próximo dela o bastante ela não consegue não me responder.
Sorrio com essa descoberta. As vezes parece que ela se sente da mesma maneira que eu, como no dia da enfermaria quando ela se atrapalhou toda e acabou pedindo um beijo meu, mesmo que indiretamente. Eu não perdi a chance, sou maluco por ela. Essa garota me tira do sério e faz tanto pouco tempo que a conheço, mesmo assim parece que nos conhecemos há anos.
Dou risada disso, que clichê.
Estou deitado e vejo que já são três e meia. Horário do intervalo do inglês.
Sem perder tempo, mando mensagem pro Peter e logo ele responde.
Peter: e aí brother?
Peter: o amor da sua vida ta aqui
Reviro os olhos, o Peter é um debochado!
Eu: Isso, joga na cara mesmo que está aí com ela e eu não
Peter: ninguém mandou faltar
Eu: minha mãe mandou, então cala a boca
Eu: se não fosse eu estaria aí
Com certeza ele está rindo da minha cara agora, mas deixa ele.
Eu: vou te pedir um favor
Peter: fala
Vou ser zoado pro resto da vida, mas preciso arriscar.
Eu: tira uma foto da Lydia pra mim
Peter: Isso é sério?
Dou um tapa na minha testa, já me arrependendo. O cara pode ser meu melhor amigo, mas ainda é o mais zoeiro que eu conheço.
Eu: não não Peter
Eu: claro que é sério!
Peter: ISSO É TÃO ENGRAÇADO KKKKKKKKKKKKKKK

Peter: O que o amor não faz né?
Peter: não sabia que amava ela tanto assim!
Fico vermelho, não sei se de raiva ou de vergonha por estar sendo zoado.
Eu: não enche e só tira a foto!
Peter: ta legal, só porque sou um ótimo amigo
Peter: excelente na verdade
Eu: anda logo!
Peter: CALMA CARAMBA
Decido não encher mais, se não ele não manda. Espero por uns três minutos.
Sabe por que eu quero uma foto dela? Porque sou um trouxa. Isso mesmo. Não poder vê-la ao vivo e pedir uma foto dela é tortura, admito isso. Mas foi mais forte que eu.
Peter: ela viu eu batendo a foto
Eu: VOCÊ É MUITO BURRO!

Peter: PÓ PARAR DE GRITAR!
Eu: E OQ VOCÊ DISSE PRA AMENIZAR A SITUAÇÃO?
Peter: DISSE QUE ERA PRA TER FOTO ZOADA COM ELA E DEPOIS TIREI FOTO DA KATHERIN TAMBÉM
Dou uma risada.
Eu: tirar foto da Katherin não foi sacrifício né?
Imagino ele vermelho no momento. Bem feito, mereceu.
Eu: agora manda a foto
Peter: próxima vez que eu te ver, juro que te bato

Em seguida recebo uma foto. É a Lydia. Minha Lydia.
Não consigo me conter e meu coração bate mais forte, engulo em seco e sinto um sorriso se formar em meus lábios.
Linda. Ela está simplesmente linda.
Estava olhando pro lado, falando com a Katherin e sorrindo. Que sorriso encantador, cara. Que boca linda também.
Me pego pensando nos beijos que dei nela e sorrio. Perfeito, inocente, doce... Ah, essa garota mexe comigo, não tem como negar!
Mais duas fotos.
Na primeira ela parece notar que o Peter estava tirando foto, então ela ta meio séria, mas não de verdade. Na outra ela faz uma careta, muito fofa por sinal. Como ela consegue ser assim?
Peter: pronto, ta feliz?
Eu: mais que feliz
Eu: valeu, te devo uma!
Eu: ela é tão linda, não acha?
Peter: começou a viadagem...
Reviro os olhos.
Eu: parou, tá? ela é linda...
Peter: tá, ela é uma gata mesmo
De repente sinto meu sangue subir.
Eu: ei, tira o olho dela!
Peter: KKKKKKKKKK ta vendo, não posso nem falar nada mais
Peter: eu vou comprar comida, tchau
Eu: flw
Pego a apostila de História pra começar a estudar pra prova de quinta feira, assim não tenho que me preocupar com isso amanhã.
Depois de algum tempo ouço uma batida na porta.
–Entra. – digo sem tirar os olhos da apostila.
A porta se abre e olho pra frente, é meu pai. Abro um sorriso.
–Oi, pai. Saiu mais cedo do trabalho hoje?
Mesmo ele estando com os problemas do coração, ele ainda trabalha. Eu acho isso um absurdo, pra mim ele tinha era que ficar descansando.
Ele encosta a porta e vem até mim, sentando na cadeira da minha mesa e olhando nos meus papéis. Meu pai pega umas folhas e começa a passar os olhos por elas.
–Isso é o que?
–Trabalho de filosofia. – digo dando de ombros e grifo uma parte do livro de história.
–Escreve bem, sabia? – comenta meu pai e larga os papéis em cima da mesa. –Como ta o tornozelo?
Fecho a caneta marca texto e olho pra ele.
–Está melhor, mas é um lixo não poder ficar andando. – olho pras muletas encostadas na cama. –Odeio isso.
Meu pai ri.
–O bom é que não vai demorar pra tirar.
Assinto.
–Espero que sim, tenho o teatro semana que vem.
–Sobre isso que eu queria falar. – diz o meu pai. –Como estão indo os preparativos pro grande dia?
–Hoje a gente vai fazer uns testes com umas cordas, vamos ficar até mais tarde. – explico pra ele. –Espero que me deixem experimentar, mesmo com esse tornozelo horrível.
–Vai ver a Lydia? – pergunta ele.
Respiro fundo. É, eu vou vê-la. Fiquei o dia todo sem ver essa garota, pelo menos posso vê-la de noite.
–Vou sim.
–Ontem a gente começou uma conversa, mas não terminamos ela por causa que recebi uma ligação. – lembra ele. –Já que estou com tempo de sobra, vai falando.
Coço a nuca. Lá vou eu contar o caso mais uma vez.
Contar pro meu pai me dá esperança de uma solução.
Começo tudo de novo, falando desde a hora que torci o tornozelo até a hora que eu acordei meio dopado pelos remédios e a Ashley estava me beijando. Ele ouve com atenção.
–E foi isso que aconteceu. – termino. –Não foi minha culpa, mas se a Lydia souber disso... Não quero nem pensar!
–Pensou em falar com a Lydia?
Faço que sim com a cabeça.
–Mandei mensagem pra ela ontem pedindo pra ela vir aqui, justamente pra contar isso pra ela. Mesmo que ela pirasse comigo, queria que ela soubesse de mim e não de outras pessoas. – ela podia ter respondido, o que custava? –Mas ela não respondeu minhas mensagens, liguei pra ela mais tarde e nada... – solto um suspiro. –Não sei o que está havendo.
O silêncio paira no ar por alguns segundos.
–Bom, se alguma coisa aconteceu, você tem que descobrir. – concordo com a cabeça. –Já que vai ver a menina no teatro, chega nela.
–Eu sei, só não sei como ainda.
Meu pai ri.
–Ah, os jovens... Eu era que nem você. – olho pra ele sem entender. –Sonhava acordado com a sua mãe.
Começo a tossir e ele que me olha confuso.
–Como assim com a minha mãe? Vocês começaram a namorar quando?
Ele ri da minha expressão.
–No colégio, na verdade, desde o terceiro ano.
–Por que vocês nunca contaram isso pra mim?
Meu pai encolhe os ombros.
–Você nunca perguntou, então nunca falei. Mas conheci sua mãe no terceiro ano. Na verdade, estudávamos juntos desde a sexta série, mas nunca nos demos bem. – solto uma risada. –Eu era meio infantil, ela era mais madura, inteligente. Só fui crescer mesmo lá pelo terceiro ano.
Faço sinal com a mão pra ele continuar.
–A sua mãe e eu éramos da mesma sala e com toda aquela correria de terceiro ano, grupos de estudos foram formados. E eu caí justamente no grupo dela. – ele ri parecendo se lembrar de algo. –Eu nem sabia que ela tava nesse grupo, entrei por causa de uma garota bonita.
Dou risada, não sabia de nada disso.
–Mas quando eu cheguei atrasado, sua mãe estava lá e quando ela descobriu que eu ia ficar no grupo dela, ela pirou. Disse que de jeito nenhum que ia ficar no meu grupo, que eu não levava nada a sério. – ouço atentamente. –Mas ela não podia fazer nada, então todo dia eu dava um jeito de enche-la de um jeito diferente.
–Como que ela gostou de você então?
Ele ri.
–Acontece que eu era bom de matemática, e ela não. Eu fiz isso só pra irritá-la, fiz com que ninguém ajudasse ela com essa matéria e eu mesmo ajudei.
–Boa pai!
–Claro que ela não aceitou de primeira, mas não tinha muito a se fazer. Apesar de todos os meus defeitos, eu era o melhor aluno de matemática e ela teve que estudar comigo. Acontece que quando comecei a conviver com ela quase todos os dias, alguma coisa foi mudando dentro de mim. Eu enchia pra que ela me notasse, até que um dia ela ficou tão brava que disse que preferia não passar no vestibular do que estudar comigo.
Nossa, não sabia que minha mãe era revoltada.
–Eu disse que não estava nem aí, mas depois de uma semana eu sentia falta dela. E ela começou a namorar um carinha nessa época. – nós dois fazemos uma careta. –Eu não gostei nada disso, mas não admiti isso pra mim mesmo. Não podia gostar daquela garota tão certinha, que não tinha nada a ver comigo.
–E o que aconteceu?
–Aconteceu que eu também arrumei uma namorada, mas não deu certo.
Franzo a testa e perguntou por que não deu certo. Ele respira fundo.
–Não deu certo, porque toda vez que eu via sua mãe com o cara eu tinha vontade de ser ele. – conta ele. –Daí não teve mais jeito, eu já tinha me apaixonado por ela a muito tempo e não admitia. – meu pai abre um sorriso e respira fundo. –Ela terminou com o namorado, porque ele traiu ela.
Arregalo os olhos, chocado.
–Como alguém ousa trair a mamãe? Que idiota!
Meu pai assente.
–Pois é, idiota. Mas isso me deu uma chance de ficar com ela. – diz ele e para por um momento, parecendo se lembrar do passado. –Eu fiquei igualzinho a você, totalmente encantado e comecei a dar umas investidas.
Dou risada ao o ouvirele falando assim.
–Como ela tinha terminado recentemente, eu deixei um certo tempo passar, mas obriguei ela a estudar matemática comigo de novo e depois ficamos amigos e eu descobri que ela não gostava tanto do namorado dela.
Nossa, que loucura essa história.
–E como vocês acabaram juntos?
–Isso é coisa da sua mãe. – diz ele sem explicar mais nada e se levanta.
–Ei, não vale! Fala o resto! – meio que imploro, já que é legal saber como eles se conheceram. Ainda mais que ele era meio eu.
Meu pai nega com a cabeça.
–Pelo menos me ajuda a chegar na Lydia. – falo.
–Você ta fazendo tudo certo, pelo o que me diz. Essa garota já é sua! – com isso ele sai do quarto.
Até parece que ela é minha. Espero com todas as forças que um dia ela seja.
Praticamente na mesma hora minha mãe chega da padaria. Com isso eu vou tomar um banho, já que ela que vai me levar no teatro. Fico apresentável e peço pra ela me levar.
–Que horas você sai?
–Nove e meia. – falo.
Ela não tira os olhos da frente, concentrada no trânsito.
–Amanhã você vai na escola, só avisando.
Bufo, dormir até tarde é bom. Mas aí lembro que vou ver a Lydia pela manhã e isso não parece tão ruim.
–O que seu pai e você estavam conversando?
Olho pra ela.
–Coisas de homem. – e dou uma piscadinha.
Ela começa a rir.
–Então ta bom.
Até poderia perguntar o que aconteceu no fim da história, mas ou ela não ia falar ou ia demorar demais por causa que ela conta tudo detalhadamente.
–Está entregue. – diz ela e abro a porta do carro, saindo. –Vai falar com a Lydia?
Caramba, todo mundo sabe que vou falar com ela?
–Vou.
Ela sorri.
–Boa sorte!
–Valeu, mãe. – fecho a porta e vou entrando.
Mal estou no começo da escadaria e vejo a Katherin e a Lydia correndo, provavelmente com medo de chegarem atrasadas. Grito pra elas me esperarem e vejo que a Lydia ficou corada quando vou pro lado dela. Obviamente dou o meu melhor sorriso ao ver que ela ficou assim.
Tento falar com ela, mas ela finge que nem ouviu e deixa eu e a Katherin pra trás.
Balanço a cabeça na negativa e fujo dos meus impulsos de ir correndo atrás dela.
–Oi. – diz a Katherin rindo e olha pro meu tornozelo. –Melhor?
–Sim. – respondo e voltamos a subir as escadas. Eu estou indo no modo tartaruga por conta das muletas. –O Peter me contou sobre os meninos que te agarram. Você está bem?
Ela concorda com a cabeça.
–Estou sim, só fiquei assustada. – ela arruma a bolsa no ombro. –Impressão minha ou a Lydia ta brava com você?
Solto uma risada.
–Também to querendo saber o que aconteceu. Tem alguma ideia? – ela balança a cabeça negativamente e entramos no teatro. –Acho que vou falar com ela. Tentei mandar mensagem, mas ela não respondia.
–Faça isso. – aconselha ela e nos sentamos pra esperar o professor chegar.
Vamos experimentar as cordas. A Katherin vai primeiro e dou risada das caras que ela faz. Quando é a vez da Lydia ela passa por mim e cruzo os braços, fazendo questão de encará-la nada discretamente.
Acho que ela percebe que estou olhando pra ela, porque fica vermelha.
Fico observando-a e fico me lixando pra ela estar lá. Ah, quem eu quero enganar? Só falta eu babar!
De primeira vejo que ela está nervosa, a conheço a tempo suficiente pra ver isso. A hora que ela começa a ser puxada pra cima ela fecha os olhos. Ela está, no mínimo, desesperada, mas não dá sinais mais evidentes disso.
Mas na hora que ela é puxada pra um lado e empurrada pro outro, ela grita, e muito alto. Todas as pessoas que estavam concentradas em seus textos se viraram pra ela e eu senti meu coração apertar.
Tenho vontade de ir até lá e pegá-la em meus braços, de tirar ela de lá. Mas claro que não faço isso. Só fico observando o desespero dela, algumas pessoas riem, mas eu fico sério. Eu me preocupo com ela. Será que ela tem medo de altura?
Depois que ela desce eu sou chamado e vou até o palco.Eu acho divertido, dou até risada do negócio. Estou bem diferente de como ela estava. Me sinto livre com esse negócio de voar e tal, por isso fico meio chateado quando isso acaba.
Dizem que todo mundo tem uma criança dentro de si, deve ser verdade, porque se fosse por mim ficava “voando” pelo teatro a noite toda.
Quando sou colocado no chão agradeço a Márcia e vou falar com o professor Ronaldo.
–E aí, Thomas? – diz ele e apertamos as mãos. –O que houve com o tornozelo?
–Jogo de basquete da escola. – digo dando de ombros. –Mas não se preocupe, até a estréia eu já estou bem.
–Ótimo, se não teríamos problema com o teatro. – ele fala e olha pro lado. Sigo o olhar dele e vejo a Lydia sentada num canto. –O que acha de ir lá treinar um pouco com ela?
Solto uma risadinha.
–Acho que ela está brava comigo.
Ele me olha sério e paro de rir, engolindo sem seco com a expressão dele.
–É bom que façam as pazes então, vocês são o casal da série, tem que haver uma química.
Certeza que o que menos falta entre nós dois é química, pelo menos da minha parte. Uma garota do elenco chama o Ronaldo e ele pede licença, então olho pra Lydia, que está concentrada no texto, e respiro fundo. Chegou a hora de ir falar com ela.
Me aproximo dela e me sento ao seu lado. Ela me olha pelo canto do olho e logo volta a ler o texto.
Sorrio de lado, então ela está mesmo me ignorando.
–Por que você tá brava comigo? – pergunto realmente curioso.
–Eu não estou. – resmunga ela. Já disse que ela é adorável quando brava?
–Então por que não está olhando pra mim? E nem respondeu mensagem, nem passou em casa quando pedi? Resumindo, por que você não ta falando comigo?
–Se não percebeu, eu to estudando o texto, por isso não quero conversar.
Dou uma risada, até parece que vou deixar quieto.
–Vai continuar com isso de me ignorar e ficar mentindo que não é nada?
–Eu não estou mentindo. – fala ela quase engolindo os papéis da mão dela.
Se ela quer me evitar, que assim seja. Eu não deixo quieto nunca, e já disse que já sei o ponto fraco dela. Por isso mesmo, pego uma mecha do seu cabelo e enrolo nos meus dedos.
–Tá mentindo sim.
–Não to... – diz ela com a voz fraca. É, parece que deu certo a minha ideia.
Ela não fala nada e eu coloco o cabelo dela pra trás da orelha, bem devagar. Levo minha boca em seu ouvido.
–Me explica, por favor. – sussurro. –Você é linda bravinha, mas é maravilhosa a sua voz e eu preciso dela. Não pode ficar em greve de falar comigo.
Percebo que ela se arrepiou um pouco e sorrio.
–E-eu não to com, com greve d-de nada. – ela tropeça nas palavras, gaguejando e rio em seu ouvido.
A Lydia se levanta na mesma hora, parecendo nervosa e fico vendo ela se distanciar. Faço questão de ficar sorrindo.
–Não pode me evitar pra sempre. – murmuro pra mim mesmo. Até parece que vou deixar ela se afastar.

É quarta feira e ouço o despertador tocar. Droga, eu estava dormindo tão bem...
Tateio o celular com a mão e quando o acho, trato logo de desligar o despertador. Esse barulho é estressante.
Bocejo e respiro fundo. Hora de levantar. Tiro as cobertas de cima de mim e vou pro banho.
Ontem no teatro a gente continuou ensaiando, mas estava bem claro a tensão entre mim e a Lydia. Quem ficou nada feliz com isso foi o Ronaldo. Mas o que eu posso fazer se a Lydia não quer parar de ficar rude comigo?
Desligo o chuveiro e me seco, indo pro quarto. Trato de colocar uma blusa logo, ainda tenho a bendita cicatriz do tiro.
Me visto, arrumo o material e vou pra sala.
–Bom dia, mãe. – falo e dou um beijo na bochecha dela. –Bom dia, pai. – ele sorri e dá um gole no suco, e logo volta a olhar pro jornal.
Eu estou menos preocupado com o meu pai, já que minha mãe disse que o médico deu os remédios e ta tudo certo agora. E meu pai agora parece melhor mesmo, então isso é realmente bom.
Como um pedaço de torrada e já saio da mesa.
–Vai comer só isso? – pergunta meu pai.
–Vou chegar atrasado. – explico e vou escovar os dentes. –Pode me levar na escola?
Escovo os dentes, jogo as mochilas nas costas e minha mãe se levanta pra me levar na escola. Quando desço vejo a Lydia entrando no carro dela e meu coração acelera. Vou tentar ficar perto dela hoje, eu dou meu jeito.
O carro da minha mãe está do lado de fora, então só saímos do prédio e ela começa a dirigir. Logo chego na escola e dou tchau pra minha mãe, indo pra entrada da escola.
–E aí, Thomas? – diz um cara que acabou de chegar.
É o Marcos. Fico meio confuso, já que ele mal fala comigo, mas aceno.
–E aí. – respondo.
–Tava observando esses dias você e a Lydia.
Cruzo os braços, sem saber aonde ele quer chegar com essa conversa.
–É, ela é minha amiga.
–Sei... – diz ele parecendo desconfiado. –Você que vai com ela no baile?
O que essa cara quer?
–Sim, por que as perguntas?
O Marcos ri, mas vejo certa frieza.
–É que não entendi porque ela não quis ir comigo.
Dessa vez eu dou risada.
–Ah, então você é o idiota que deixou ela como segunda opção? – ando na direção ele, ficando na sua frente. –Por favor né, cara. Isso foi burrada.
O garoto parece estar meio bravo.
–Burrada é ela querer ir com você.
Olho pro céu, sem paciência.
–Escuta, eu não tenho o dia todo pra ficar falando com você. Então diz logo o que você quer.
–Quero saber por que ela aceita ir no baile com você, - ele faz uma careta de desgosto. –e comigo não. Não tem explicação pra isso.
Será que esse cara se enxerga? Não digo sobre aparência, digo sobre atitudes. Deixar uma garota como a Lydia como segunda opção talvez tenha sido a maior mancada da vida dele e ele não percebe!
–Olha, Marcos, você devia ir perguntar pra ela. – falo com tom de deboche. –Mas, na minha opinião, é porque eu a trato da maneira que ela devia ser tratada.
Ele me fuzila com o olhar.
–E como devia ser?
Dou uma risada.
–Nem isso você sabe? Ela devia ser tratada como uma princesa, porque é isso que ela é. – ele vai já começar uma briga, mas não estou nada afim disso, então só faço um sinal com a mão pra ele parar. –Agora eu vou pra sala, tenha um ótimo dia.


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Notas finais do capítulo

SE EU MORRI ESCREVENDO ISSO DO THOMAS CHAMAR A LYDIA DE PRINCESA?NÃO IMAGINA!