(Gustavo’s POV)

Já era noite e eu estava voltando pra casa no carro emprestado do meu pai. Por um momento, tive medo de esquecer o compromisso marcado com Alice, mas ela não deixou que isso acontecesse. Até depois que brigou com a Juliana, fez questão de perguntar se isso iria atrapalhar a nossa saída.

Cheguei e fui direto para o chuveiro, entrei de cabeça e senti todo o stress do dia indo pelo ralo, literalmente.

~ Flashback On ~

Ela pôs as duas mãos no meu corpo, pronta para me empurrar e resistir ao beijo.

— Você não tá cumprindo com o que o fotógrafo pediu. — Sussurrei bem perto dela.

~ Flashback Off ~

Dois beijos na Juliana, coincidentemente na mesma semana. Beijar essa garota seria como ganhar na loteria, porque, ô menina difícil.

Troquei de roupa e fiz um lanche rápido até sair de casa. Alice me ligou pra confirmar e prometeu ficar linda pra mim – palavras dela. Depois de lembrar mais um pouco do beijo, lembrei da briga das duas e as coisas que elas falaram uma pra outra. Não pareciam as mesmas desde que eu as conheci mais profundamente.

Aliás, não pareciam as mesmas em nada. Não podiam nem ao menos ser comparadas. A Alice tinha o seu jeito mais sexy e ousado, era uma garota que sabia se atirar sem parecer uma oferecida. Já a Juliana, mantinha aquela pose de responsável, o que a tornava muito mais desejável que qualquer outra. Sem contar que, ela beija muito bem.

Lavei os pratos que sujei, conferi se estava tudo no lugar e finalmente saí de casa. Alice e eu íamos para uma casa de show, na verdade, eu não conhecia muito bem este lugar, foi ela quem sugeriu quando me convidou para sair. Cheguei e mandei uma mensagem pra ela avisando. Tocava So much for you, da Ashley Tisdale e algumas poucas pessoas dançavam mais à frente.

Preciso avisar com antecedência que não sou um rapaz com muito ginga. Prometo muitos beijos, mas sou um desastre em matéria de dança. Sentei-me no bar que havia lá dentro e pedi ao garçom uma garrafa de água pra ir limpando e preparando o estômago para a bebida que viria logo.

Alice me achou rápido, talvez porque conhecesse aquele lugar melhor do que eu. Ela estava usando um vestido preto que marcava muito bem as suas curvas, e sinceramente, aquele traje excitou-me um pouco.

— Boa noite rapaz. — Ela disse delicadamente.

— Boa noite. — Sorri. O garçom trouxe a minha água e Alice achou a bebida “sem graça”. Pediu logo um whisky e até me ofereceu.

— Nunca te conheci bebendo água, a não ser no trabalho.

— Beber água também é importante, Alice. — Brinquei.

— Esse lugar é ótimo não é mesmo? — Ela perguntou, aproximando sua cadeira da minha.

— Sim. Você fez uma boa escolha. — Sorri fingindo não perceber o seu ato de interesse pra cima de mim.

— Ainda bem que amanhã é feriado! Pelo menos essa noite, a gente vai relaxar todo o stress da semana.

— Da semana ou do dia? — O sorriso dela desapareceu aos poucos.

— Todo e qualquer stress envolvendo o trabalho.

— Foi bom você ter tocado nesse assunto. Eu não queria falar pra não ser o chato da noite. — Sorri para aliviar o clima — Mas já que começamos, eu queria que você fosse sincera comigo. — Alice pareceu se assustar um pouco — Por que você e a Juliana brigaram daquele jeito hoje?

— Porque sem querer eu quebrei o flash do vestido dela. Tava emperrado, eu precisei fazer força pra ele descer e acabou arrebentando.

— Foi sem querer mesmo Alice?

— Claro que foi. Por acaso a Juliana já andou me envenenando pra você?

— Não. A Juliana mal fala comigo.

— Então esquece isso, meu amor. Eu mesma já esqueci e abstraí desde a hora que eu estava me arrumando pra você. — Ela veio mais pra perto de mim e sussurrou de uma forma provocante.

— É?

— É. — Alice me olhou fixamente — Deixa eu te fazer esquecer também. Me concede esse desafio. — Ela encostou sua boca na minha e brincou, até que finalmente, nos beijamos. Nossas línguas pediam por um pouco de espaço e logo mais, estaríamos sem ar, porque Alice tornou o nosso beijo calmo em selvagem. Aquilo estava me deixando mais excitado que o próprio vestido dela, então o nosso beijo ficou calmo novamente, graças a mim.

Copiei Alice e pedi ao garçom um whisky, já que já havia terminado de tomar minha água. Enquanto eu estava no meu primeiro copo, ela já estava pedindo o segundo. Por um instante, eu realmente agradeci por amanhã ser feriado, porque pelas minhas contas, Alice iria acordar com uma bela dor de cabeça.

Horas mais tarde, eu estava a dois copos a menos que ela. E ela, é claro, já estava toda alegre. Muito mais do que ela é realmente.

— Acho que a gente podia dançar! — Alice estava gritando não só por causa do som alto, mas porque, como eu disse, ela já estava alegre.

— Não, eu não sei dançar.

— Ai Gustavo, que besteira.

— Eu realmente não sei Alice e nem gosto.

— Então eu danço pra você. — Ela levantou-se da cadeira e realmente começou a dançar. Novamente, Alice estava me deixando excitado. Ela tirou os saltos para que pudesse dançar melhor, aliás, para que pudesse se insinuar melhor para mim.

— Você dança muito bem. — Brinquei e ela veio pra junto.

— É claro, porque eu só vou dançar assim pra você.

Bebemos mais um pouco e Alice me pediu que a deixasse em casa. Mas, ao contrário dela, eu não estava bêbado. Quando chegamos ao seu apartamento, ela me convidou para entrar e conhecer, talvez não soubesse que já eram três e meia da madrugada.

— Só um pouquinho. — Ela me puxou para dentro e fechou a porta. Depois me encurralou na parede e me beijou tão mais selvagem do que a primeira vez. Correspondi ao beijo, mas agora, sem apreciar muito. A boca da Alice tinha apenas gosto de whisky. Não era um sabor tão inovador.

— Boa noite Alice. — Falei entre o beijo e depois, nos separei.

— Você não vai ficar nem um pouquinho?

— Eu já fiquei esse pouquinho.

— Fica mais! Dorme comigo. — Ela falou simples, e eu me perguntei se isso era efeito da cachaça ou se ela realmente estava interessada em algo mais — Sua casa tá tão longe pra você voltar pra ela. Dorme comigo, Gustavo.

Apesar de nós dois sermos maiores de idade, eu não queria fazer nada com a Alice. Primeiro porque ela está bêbada e segundo porque eu não queria ter um filho agora. Só tenho 20 anos e não tenho condições de bancar ninguém, além de ter toda uma vida de aventuras pela frente.

— Eu não vou dormir com você, Alice. Boa noite. — Disse e saí do apartamento dela rapidamente, antes que ela me puxasse de novo. Desta vez, pra cama.

Eu poderia muito bem pegar um táxi, chegar logo em casa e ir descansar, mas não estava sendo nada ruim andar pelas ruas calmas da madrugada. Ri sozinho com a bebedeira da Alice, e era obrigado a admitir que o beijo dela era extremamente envolvente.

Mas também precisava admitir que a boca da Juliana me deixava com uma certa saudade depois de um tempo.

Tive que me render ao cansaço e acabei pegando um táxi. Cheguei em casa em questão de minutos, pelo fato das ruas estarem todas livres. Me joguei no sofá, saturado das lembranças do dia. Foram muitos acontecimentos de uma só vez: o beijo da Juliana, a briga das meninas, depois a Alice me tentando.

Estava cansado, mas não estava com sono. Talvez o álcool estivesse me deixando esperto. Tomei um banho e fiquei ainda mais esperto, comi alguma coisa e novamente me joguei no sofá sem conseguir esquecer a Alice e ao mesmo tempo, a Juliana. As duas estavam vivas em mim me confundindo com os seus beijos, com os seus jeitos e características.

Peguei o celular e sem perceber, apertei em algo que levava até as últimas ligações feitas por mim e lá estava: Juliana. Nem no meu momento mais insano, eu seria capaz de fazer o que magicamente, eu fiz.

— Alô? — Sem pensar, eu estava ligando pra ela às três e meia da madrugada, e a sua voz de sono era claramente perceptível — Alô? Quem é? Não vai falar? — “Não, não vou falar nada”, foi só o que eu pensei — Eu vou desligar hein? — “Só liguei pra ouvir a sua voz” é algo muito cafona, mas talvez tivesse sido exatamente isso que eu fiz.

Ela desligou e eu fui dormir.