Riddle's for a Mérope escrita por Ditto


Capítulo 1
Os Novos Habitantes




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Little Hangleton era uma pequena cidade com poucos habitantes onde nada diferente acontecia. Todos os dias eram iguais aos anteriores: as pessoas acordavam cedo, compravam o pão fresco do padeiro, davam bom dia aos vizinhos e iam para seus afazeres. De certa forma aquilo era agradável, bem diferente da capital inglesa que estava alvoroçada. Londres vivia em um constante toque de recolher e os cidadãos sempre olhavam assustados para o céu com medo de um bombardeio alemão inesperado.

Entretanto hoje era um dia atípico na cidade, um dia que com certeza estaria estampado no jornal da cidade, a imponente casa branca localizada ao pé da colina fora finalmente vendida. A casa tinha estado por anos desocupada, era muito grande e muito cara para alguém comum comprar, mas agora, depois de tanto tempo, uma família estava se mudando para lá e obviamente todos da cidade só podiam falar a respeito disso.

— Ouvi falar que eles são parentes da realeza.

— Claro que não, ouvi falar que fizeram fortuna nas fábricas de tecidos da Índia.

— Vocês não deveriam acreditar em tudo que ouvem, é óbvio que fizeram dinheiro com lojas de sapatos.

E os boatos continuavam, cada um com a própria versão de quem seriam os mais novos moradores de Little Hangleton.

Mérope não era diferente dos demais, estava tão curiosa para saber quem viveria lá quanto os outros. Sua vida em geral era muito monótona, o que lhe rendia muito tempo para ficar descobrindo sobre a vida alheia, isso combinava exatamente com o perfil da cidade. Só que as semelhanças paravam por aí. Mérope Gaunt não era o tipo de garota que as pessoas veriam fofocando na rua com as amigas sobre um novo vestido, não era o tipo de menina que alguém gostaria de ver a não ser que fosse extremamente necessário. Ela era uma Gaunt, e como tal era olhada com desconfiança pelos cidadãos.

— Pelo que sei os Gaunt são alemães refugiados.

— Bobagem, o homem falando não tem nada de sotaque alemão.

— Você já falou com ele!?

— Bem, eu não. Mas meu primo disse que o amigo dele já passou um dia na frente da casa e ouviu eles conversando.

— Aposto que são criminosos... ex condenados da polícia.

Os Gaunt não eram bem vistos por ali, e nem faziam questão de ser pois raramente apareciam em público. O que se sabia era que eram três: um pai, um filho e uma filha. Tinha uma mulher antes, mas ela tinha morrido a um bom par de anos e o homem nunca se casara de novo. Ninguém sabia como eles viviam, no que o Senhor Gaunt trabalhava ou como ganhava dinheiro.

Mérope tentava se mostrar indiferente aos comentários da cidade, assim como seu pai e irmão faziam, mas obviamente eles a magoavam. Mas não era como ela pudesse fazer algo a respeito, como chegar e conversar com as pessoas desfazendo a má impressão. Seu pai a mataria se soubesse que ela andava falando com trouxas. Uma herdeira de Sonserina não devia se rebaixar ao ponto de falar com os plebeus.

A garota continuou agachava atrás da rocha onde podia ver sem ser vista. Ali ela podia espiar em paz a mudança dos novos proprietários do imóvel sem que ninguém a incomodar. Era dali que ela via a vida de Little Hangleton se desenrolar todos os dias, imaginando como seria se ela fosse aquela menina de marias chiquinhas no cabelo conversando com as amigas.

— Aposto que ela é feliz. Deve ser bom ter amigos.... alguém para conversar.... – murmurou. A solidão a incomodava.

Mérope continuou olhando curiosa os grandes malões serem retirados dos carros e levados para dentro da imponente  casa. Os novos proprietários com toda certeza deviam ser pessoas ricas, esse era o primeiro automóvel que ela via em sua vida, e possivelmente o único da cidade.

Olhou o céu e levou um susto, estava bem mais tarde do que ela pensava, precisava voltar logo para casa antes que seu pai desse por seu sumiço. Tremeu só de pensar na possibilidade de ser pega. E principalmente, se ele soubesse que seu atraso fora porque a filha estava observando trouxas e seus dias-a-dia.

Sua relação com o pai nunca fora amigável, e depois da morte da mãe estava indo de mal a pior.

— Minha mãe... – Mérope suspirou forçando a memória a lembrar da mulher que a tinha dado vida.

As memórias eram embaçadas, ela lembrava razoavelmente de uma mulher de cabelos pretos e compridos, e olhos escuros, quase pretos. A mãe parecia a amar, ou ao menos tinha algum sentimento pela menina. Graças a mãe Mérope sabia ler, algo que sem a figura materna nunca seria possível.

— Perda de tempo – seu pai costumava dizer – ela é uma bruxa, não tem que ficar lendo esses livros trouxas ridículos de “Vovó comeu a uva”

Seu pai nunca tinha aprendido a ler, e seu irmão Morfino sabia ler razoavelmente. Isso era algo que ela se orgulhava, ela era a melhor leitora da família.

Mérope se levantou e usou as mãos para tirar a grama que tinha grudado em seu vestido. Quando sentiu que estava apresentável voltou correndo para a casa que morava com o pai e irmão.

Era um casebre no topo da colina, bem afastada do centro da cidade.

— Longe dos trouxas imundos.

Era o que seu pai sempre repetia.

Eles tinham uma horta com alguns legumes e verduras, Mérope pegou algumas batatas e entrou na pequena cozinha que tinham e começou a preparar a janta.

Pegou sua varinha, a varinha da sua falecida tia-avó , e murmurou um feitiço simples para acender o fogão. Teve que repetir o feitiço três vezes antes que funcionasse.

Mérope nunca fora uma bruxa forte e isso incomodava muito seu pai. Como um herdeiro de Salazar poderia ser fraco como ela?

— A culpa não é minha. A culpa não é minha – resmungou raivosa – eu não pedi para ser assim.

                Depois de alguns minutos seu pai e Morfino voltaram, se jogando nas pequenas cadeiras velhas da sala.

— Mérope! A comida! – seu pai ordenou, ele não era amoroso com ela e não seria hoje que isso mudaria.

Ela nunca soubera no que o seu pai trabalhava, e particularmente nunca quisera saber. Tinha noção que eram assuntos ilícitos, proibidos pelo Ministério, assuntos que outros bruxos não queriam fazer e por isso o contratavam. Morfino acompanhava seu pai as vezes no serviço e esses eram seus melhores dias, quando podia sair e olhar a cidade sem ter o irmão fungando em seu pescoço.

— Idiota! Isso está frio! – o pai berrou jogando o a tigela em sua cabeça – Nem para cozinhar serve!

Mérope se agachou, pegou a tigela e colocou mais sopa de batata dentro, agora uma porção quente que saía fumaça.

Seu pai tomou um gole e ficou quieto. Isso era um bom sinal, ele tinha gostado.

— Estou indo dormir – Mérope murmurou antes de se retirar da mesa mesmo sabendo que ninguém estava prestando atenção nela. Os dois focados nas tigelas as suas frentes.

Amanhã seria um novo dia, se desse sorte Morfino sairia com seu pai e ela poderia espiar novamente para saber quem era a nova família que estava se mudando para a grande casa de Little Hangleton.


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Notas finais do capítulo

Hey gente! Olá.
Sempre tive curiosidade de ler fanfics da Mérope e então pensei, por que não eu mesma escrever? Bem, aqui está.
Espero que curtam e até breve!



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