As Páginas Acinzentadas de A.G escrita por marina bogoeva


Capítulo 8
Paixão




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Era ela. A protagonista fujona. Era ela. A dona das madeixas loiras que agora não brilham como o Sol. A vida escorreu por seus pulsos e a deixou. Com seu tronco aberto diante deles e um enorme corte no crânio vazio, com a pele branca e roxa sem vida e sem calor, de todas as formas era e não era ela. Alex sentiu uma forte dor no peito, como se o apunhalassem mais de mil vezes por segundo. Seus olhos estavam fixos no rosto da jovem que roubara seu coração e dela fora roubada a vida. Pensou por alguns instantes que ela estava apenas dormindo. Mas se lembrou de tudo o que aconteceu, desde o dia do café. Ele permaneceu imóvel, quase como se estivesse novamente hipnotizado, como na primeira vez que a viu. Mas desta vez era diferente. Desta vez seu semblante fazia transbordar de seus olhos a tristeza, materializada em lágrimas. Não pode conter a amargura de não tê-la salvo, de ter sido incapaz de achá-la antes que a morte a achasse primeiro.

Elisa sussurrou algo para a outra que já estava na sala e ambas se dirigiram para fora do quarto. Porém, antes de sair, a responsável pelo corpo o cobriu com uma espécie de manta fina, deixando a mostra apenas a cabeça do cadáver. Alex agora estava com a garota. Apenas os dois, como havia sonhado. Porém não era exatamente igual ao seu devaneio, ele se sentia sozinho no mundo. Sem metas. Sem vida. Assim como ela. Ele ainda permanecia distante do corpo, mas quando voltou a si, se aproximou. Tão calma, tão quieta, tão em paz. Ele passou a mão sobre o rosto gelado daquela loirinha, magra como nunca. Fez carinhos em sua face, passou o dedo sobre os lábios carnudos dela, que estavam entreabertos e, por fim, deitou sua cabeça sobre seu ombro, como se precisasse falar algo bem perto de seu ouvido. Todavia, nenhuma palavra saiu. As únicas coisas que se mantiveram constantes foram seus ofegos, seus soluços e sua falta de ar diante da situação. Ele tentava falar algo, mas nada saía. Suas lágrimas caiam sobre o ombro da menina. Ele ergueu a cabeça e ficou cara a cara com o seu amor.

As gotas escorriam dos olhos, passavam suavemente pela bochecha e queixo de Alex e iam certeiras ao colo dela. O mais impressionante é que não a olhava com o pensamento de morte, mas sim com amor. Como se fosse a primeira vez. Em seu coração ainda era vivo o sentimento. Nunca pensou que seu primeiro encontro com ela após o café seria dessa maneira. Pode até ser que ele não estivesse acreditando naquilo tudo, mas ele também não estava crente em acordar de repente.

Ele, então, começou a passar as mãos bem devagar sobre o rosto macio dela, como se o limpasse. Tomou fôlego e então, ainda chorando, começou:

–Minha linda, meu amor... Como a vida é frágil, assim como você. Nunca mais esquecerei esse teu rosto de porcelana. Sinto-me culpado de não ter sido bom para salvá-la. Porque você teve de ir? Por quê? –Ele então segurou a mão morta e a pôs junto a bochecha- Porque teve de tirar sua própria vida com estes cortes? –Passava o dedo sobre a ferida de extrema profundidade em seus pulsos- Porque me privou de saber como você era, qual era o problema e de ajudá-la? Mas creio que para ter feito isso é porque já tinha dado diversas “segundas chances” para si mesma. Mas mesmo assim... Se soubesse o quanto te amo, o quanto tenho de vontade de abraçá-la e sentir seu calor. Se soubesse minha vontade de ouvir a tua voz e te desenhar... Mais bela que o universo em toda sua complexidade. Eu poderia desenhá-la próxima ao luar, ou colhendo rosas... Eu poderia dar-lhe o que não teve: a compreensão. Se eu pudesse salvá-la encarnaria Orfeu. Mesmo que você possa não acreditar no amor, estaria pronto para lhe provar o contrário -Voltou a soluçar e as lágrimas começaram a queimar seu rosto.

Alex passou a mão uma ultima vez sobre o rosto dela e se direcionou para o fim da maca, com o propósito de olhar os pés da menina. Ainda chorando, pôde observar que ela tinha uma lira pequena tatuada no peito do pé direito. Sorriu e massageou de leve seu pequeno pezinho, que tinha as unhas pintadas de preto e branco. Foi então que viu aquele papel enrolado ao dedão, o típico papel de necrotério que amarram aos defuntos com as informações básicas de sua vida. E na primeira linha estava o nome “BLACKMORE, Constanza.”

–É o nome mais lindo que já vi, meu amor. Não me importo de tê-lo visto em um papel assim. O que importa é que este nome é seu, tão lindo quanto você. Sempre vou te amar, minha Constanza... Para sempre...


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