As Páginas Acinzentadas de A.G escrita por marina bogoeva


Capítulo 1
Lembrando-se de Domingo.


Notas iniciais do capítulo

Ah, gostaria de falar também que essa história vai ter três tipos de fontes, que serão as notas que o personagem escreve no diário, o pensamento dele e a narração. Suas anotações sempre começam com uma data e seus pensamentos estarão em itálico. Vai ser fácil de distinguir. ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/527778/chapter/1

“Fevereiro, 2013.

Perguntei a todos se alguém a conhecia. Ninguém sabia nada, era como uma sombra, tão esquecida e invisível quanto eu. Ela simplesmente saiu correndo como se tivesse um surto. Eu me assustei, pois enquanto a olhava, não esperava tal reação. Não creio que ela tenha me visto... Mas eu a vi. E, por Deus, desde aquele dia não consigo dormir direito. Ela invade meus sonhos, todavia nunca a alcanço. Estou aos poucos perdendo a sanidade. Preciso saber seu nome, sua história, porque naquele dia dentro do café ela estava tão deprimida e abatida, por que seus olhos emaranhados estavam perdidos no tempo. Por que eu me senti tão deslocado. Pra onde ela foi... Ninguém nem se lembra dela." “Vou procurá-la e enquanto não achar, eu não descanso.”

Era o que estava escrito mais ou menos nas folhas do meio de seu caderno de desenho, que passou a ser um diário de busca, depois daquele dia no café. A tal garota parecia ter a mesma idade que ele, na casa dos vinte e poucos anos. Não era do tipo extremamente atraente. Seus cabelos quebradiços e loiros tampavam grande parte do rosto, porém, mesmo com a cabeça baixa podiam-se ver os olhos grandes e bem castanhos dela. Sua maquiagem borrada provava que ela havia chorado por um longo período de tempo. Segurava um copo de chocolate quente, mas parecia querer apenas esquentar as mãos com ele. Não bebia nem comia nada, apenas olhava perdidamente para o nada. Ninguém prestava atenção nela, apenas o rapaz sentado no balcão do outro lado do café. Ele guardou o jornal e fitou por sabe-se lá quanto tempo a garotinha magra e frágil, que permanecia imóvel. Por um motivo que nem mesmo ele sabia, acabou se interessando por ela. Tentava decifrar seu semblante. Queria ajudá-la. Queria tocar naquela pele extremamente pálida, delicada, que amaciava seus olhos curiosos.

Foi aí que decidiu pegar um guardanapo e a caneta preta esferográfica para escrever algo. Podia ser qualquer coisa, só queria algum tipo de contato. “Você está bem?”, seguido de uma carinha triste foi o que pode escrever. Chamou uma garçonete baixinha de coque na cabeça e pediu a ela que entregasse a garota da mesa trinta e dois.

“O café estava lotado –algo estranho para um domingo- e eu ansioso demais. Tentei seguir com os olhos a garçonete anã, mas ela desapareceu na multidão. Já não via também a garota. Fiquei preocupado, mordi o lábio e corri os olhos por todo café. Mas a minha atenção se voltou inteiramente para a batida forte da porta. Olhei rapidamente, seguindo o som estridente do vidro quase se quebrando e como um vulto, a loira pela qual me apaixonei à primeira vista saiu correndo. A sensação de que alguém me olhava me prendeu na cadeira e eu não pude ir atrás dela. Uma senhora de idade havia se sentado à mesa trinta e dois e a maldita da garçonete entregou á ela o papel. As duas me olhavam e a anã apontava pra mim, dizendo que fui eu quem mandou entregar o bilhete. A senhora sorriu e eu revirei os olhos, joguei umas notas que tinha no bolso em cima do balcão e fui embora pela mesma porta da futura dona do meu coração.”

Era incrível sua corrida pela avenida. Podia criar asas, não importava. Queria alcançá-la. Esbarrou em pessoas que o xingaram de nomes até que não existiam. Ele não ouvia, apenas continuava a correr desenfreadamente. Seu coração estava disparado e as borboletas em seu estômago pareciam estar atirando umas nas outras. “Ela não vai negar essas borboletas. Seja qual for o motivo de sua tristeza, vou espantá-lo. Ela não vai negar essa paixão, que logo se transformará em amor. Não vai. Era o que eu pensava enquanto corria como louco pela avenida, procurando mechas loiras que também corriam contra o vento.” A certeza que ele tinha de esbarrar com ela era a mesma certeza de que dois e dois somam quatro. Sua esperança e sentimento cresciam a cada passo desesperado. Imaginava-se a abraçando e sussurrando que tudo iria melhorar, por que ele ia fazer melhorar.

“Nunca acreditei em amor à primeira vista nem nada do tipo. Mas é engraçado, apenas acreditamos quando vemos e sentimos. O ceticismo humano é de tal nível que é preciso um único segundo para que possamos acreditar em algo que passamos a vida negando. Essa é a verdadeira magia da reluzente ignorância humana?” De fato, ele estava certo. “Então, um dia, todos nós bateremos a cabeça nesse muro. Todos nós acharemos o que nos falta para a razão da vida. Espero que ela, que corre mais que eu, tenha descoberto a essência. Espero que ela pare e perceba que eu estou aqui, assim como eu percebi que ela estava lá.” E esse foi o momento em que ele caiu. Seus pulmões estavam esgotados, ofegava, mal conseguia resgatar o oxigênio do ar que o circundava. De joelhos, começou a chorar por seu fracasso em não alcançá-la. Sentiu-se inútil, desprezou seu esforço. Sacrificou seus ofegos de pelo menos ter tentado pelo momento que o fez perceber que não conseguiria tê-la. Seu coração apertou e ele desabou. Queria ficar ali até que seu corpo se juntasse ao chão e sua alma fosse levada para outro lugar. O céu pareceu triste também e logo se pôs a chorar junto com o menino.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Páginas Acinzentadas de A.G" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.