Quando a mulher do carrinho de doces passou na cabine delas, as duas amigas se certificaram de que compraram doces suficientes para sobreviver a longa viagem que tinham pela frente. Elas tinham uma quantidade considerável de sapos de chocolate, na esperança de conseguir alguma figurinha nova.

– Consegui Morgana Le Fay - disse Lyssa desapontada enquanto jogava mais um card no chão - e Ptolomeu. E você?

– Hum... Aqui tem a Dulce Griffiths, de novo. E nesse aqui... Pelas barbas de Merlin!

– O que foi?

– Fechamos a coleção dos fundadores de Hogwars! - Lottie exibiu um sorriso de orelha a orelha, virando a figurinha de Gogric Gryffindor.

– Não brinca! Você acha o Godric e eu fico com o batedor Kevin Broadmore?! - Lyssa abrira seu último pacote - Isso não é justo!

– É sim. - a ruiva empurrou o último sapo para o chão - Da última vez você pegou a melhor figurinha. - e mandou língua para a amiga - Posso soltar o Spike?

A loira deu de ombros, embora quisesse ter soltado o crupe assim que saíram da estação. Logo, Lottie puxou a cesta aonde o amado cachorro de sua amiga dormia sossegado.

Crupe é uma raça mágica de cachorro muito rara, que habita o Norte da Europa. Eles são pequeninos, muito dóceis e energéticos. Alyssa conseguira uma autorização especial para poder levar o cachorro junto dela. Spike era um dos últimos da espécie, tinha pelagem dourada e o tamanho de uma bola de basquete. As orelhas pontudas e triangulares lembravam um pouco orelhas de felino e seu focinho arredondado farejava o ar. Em questão de segundos, Spike abriu os olhos eufórico, latindo e pulando freneticamente no colo da dona.

– Opa, calma garoto! - riu Lyssa, ajudando a amiga a tirar o cachorro de cima de si - Olha o que conseguimos para vocês: sapos de chocolate!

Na mesma hora os olhos do cãozinho brilharam. Se havia uma coisa da qual Spike gostava mais do que qualquer outra eram os sapos de chocolate. Na mesma hora ele soltou um alto latido e saltou para o chão, começando a caçar suas pequenas presas.

A porta da cabine se abriu, revelando uma garota morena com uma expressão inocente no rosto.

– Posso me pensar aqui? As outras cabines estão cheias. - então os olhos dela focalizaram Spike - Mas o que vocês duas...

Porém não houve tempo para se falar muita coisa, pois um dos sapos passou por debaixo das pernas da garota e Spike, como um bom caçador, seguiu sua presa. A morena tropeçou nos próprios pés e se estatelou no chão.

– Spike! - as francesas gritaram juntas.

– Você ajuda a garota, eu pego o cachorro! - gritou Alyssa ao mesmo tempo que Charlotte gritava:

– Você pega o cachorro, eu ajudo a garota!

A loira disparou pelo trem, tentando desesperadamente alcançar o cão a sua frente. Spike seguia farejando o ar, mas a loira duvidava que ainda estava perseguindo o sapo. Este não poderia estar fugindo até agora.

Ela correu por dois vagões inteiros e derrubou uma bela quantidade de alunos até que Spike, finalmente, resolveu entrar numa cabine aberta.

– Opa! - ele ouviu uma voz masculina exclamar em tom de surpresa - Mas o que...?

Alyssa entrou correndo com tudo na cabine, mas havia alguém em pé postado na entrada. Ela tropeçou na barra da calça dele e os dois caíram um por cima do outro.

– Aí, meu Merlin, desculpa! Eu sou muito desastrada, eu... eu...

Ela ergueu os olhos e encontrou um par de olhos a encarando hipnotizado. Não podia negar, o garoto sobre o qual ela despencara era atraente. Tinha cabelos castanhos, pele clara, olhos cor de âmbar e uma cicatriz cortava seu rosto. Na opinião da garota, a cicatriz só o deixava mais atraente e misterioso.

Um pigarro cortou o ar e Lyssa se levantou num salto, sentindo as bochechas corarem. Não tinha reparado que ela e o garoto não estavam sozinhos na cabine. Havia mais três adolescentes sentados confortavelmente encarando os dois, como se nada tivesse acontecido. Spike estava acomodado no colo de um moreno de olhos negros e latiu ao ver a dona.

– Spike! Seu safado! - exclamou ela tentando tirar o cachorro do colo do moreno, mas ele parecia bem acomodado lá - Por Merlin, me perdoem!

– Não é culpa sua. - o adolescente de olhos verdes riu - Padfoot tem um dom natural para lidar com cachorros.

– Cale a boca, Veado!

– É C-E-R-V-O! Quantas vezes vou precisar falar?

– Aí, que embaraçoso... - Lyssa deu uma risadinha nervosa, ainda tentando retirar Spike de cima do moreno - Me desculpem mesmo! Esse crupe danado...

– Tudo bem. - o castanho sobre o qual ela cairá já estava de pé - Sabe que não são permitidos cachorros em Hogwarts, não?

– Consegui uma autorização especial. O diretor pediu apenas para não deixá-lo solto pela propriedade da escola, mas acho isso uma besteira. Em Beauxbatons ele circulava livremente por onde quisesse.

– Beauxbatons? - riu 'Padfoot' - Senhoras e senhores, temos uma francesa na área!

– Entrou esse ano? - perguntou o mais gordinho dos quatro.

– Fui transferida com minha amiga Charlotte. - ela explicou. Spike se esquivou de mais uma tentativa frustrada da dona de segurá-lo e aparatou para o colo do garoto dos olhos verdes. A loira bufou - Sou Alyssa Minuit.

– Prazer, sou Sirius Black. Estes são James Potter, - ele apontou o garoto de olhos verdes, que acenava de forma engraçada - Peter Pettigrew* - apontou o gordinho que se contentou em sorrir - e Remus Lupin. - ele indicou o castanho com a cabeça. Este desviou o olhar rapidamente.

– Desde quando você faz apresentações formais? - perguntou James.

– Desde que uma mina muito gata entrou na nossa cabine sem nos insultar. - respondeu Sirius e os dois morenos começaram a discutir.

Spike, provavelmente pressentindo a briga, resolveu que era melhor se posicionar no colo de Remus e saltou por entre os braços de Lyssa para chegar lá.

– Então só porque ela é gata você vira um cortês? - continuou James.

– Ah! Eu não posso tentar ser educado com uma garota, mas você pode tentar ser cortês com a Lily! Isso não é um problema!

– Hum... Eu ainda estou aqui, sabiam? - perguntou a loira, mas ninguém lhe deu atenção.

– Ignore esses dois. - sugeriu Remus coçando as orelhas do cachorro em seu colo - Eles são assim mesmo.

– Defina "assim". - Lyssa riu timidamente.

– Irresponsáveis, galinhas, fanáticos por discussão, encrenqueiros... - listou Peter, contando nos dedos as características atribuídas aos amigos.

– Marotos! - responderam James e Sirius em coro.

– Marotos... Hum, claro. Por que não? - a loira sacudiu a cabeça e os ombros - Estão me dizendo que vocês são os "fauteurs de troubles**" de Hogwarts?

– Somos o que? - James coçou a cabeça, desviando sua atenção da discussão.

– "Fauteurs de troubles". Era como as alunas metidas chamavam a mim e a Lottie.

– Então você também era marota? - riu Sirius - Além de gostosa você também tem um certo "desprezo pelas regras"?

– Quem não tem? A maioria das escolas seria muito chata se não tivéssemos regras para quebrar. - Lyssa finalmente conseguiu tirar Spike de cima de Remus, não sem antes focar aqueles olhos cor de âmbar - Bom, acho melhor eu ir andando. Não deve faltar muito para chegarmos em Hogwarts. - a loira parou na porta - Vejo vocês na escola.

– Até! Espero vê-la na Grifinória! - acenou Wormtail bobamente depois que ela saiu - Meio estranha, mas interessante, não?

– Sim. - concordou James - Se eu não tivesse meu Lírio talvez eu até tentasse a sorte com ela.

– Não começa, Prongs. - Moony encarava os campos verdes pela janela - Você e 'seu Lírio' nem estão namorando. - o castanho desenhou aspas no ar com os dedos.

– Mas essa francesa é um bom partido, não dá pra negar. - Padfoot esticou as pernas no banco da frente - Imagina só se ela fosse animaga? Ou lobisomem?

Após aquela frase, qualquer um poderia notar uma mudança repentina no clima divertido entre os amigos. Peter prendeu a respiração, James crispou os lábios e Remus, claramente desconfortável com o comentário, saiu da cabine sem falar nada.

– Mandou bem, cabeção! - o Potter deu um tapa na nuca do amigo.