O trem chegou em Hogwarts depois de muito tempo. O castelo era de um modo enorme, extraordinário e maravilhoso. Me dava uma sensação de conforto que nada poderia me dar, nem Scorpius, nem Lily, nem nada. Aquele castelo, gigante e misterioso como era, é o que eu chamaria de lar.

Por todo caminho, Scorpius nem deu um indício da conversa que tivemos. Ele era uma boa pessoa quando se tratava de guardar segredos. Conseguia enganar os outros como ninguém.

Estranhamente, tinha a impressão de que não sabia do plano inteiro dos meus pais. Alguma coisa faltava, algo que eles falaram depois que sai da sala, alguma coisa que meu pai não me contou. E isso era o que mais me apavorava. A expectativa de que algo horrível poderia acontecer, a dúvida do que poderia acontecer. Mas eu tentava não pensar nisso e só me concentrar nas risadas e conversas dos meus amigos, que eram bem mais confortáveis que meus pensamentos.

A jornada até a entrada do castelo pareceu passar bem rápido. Num minuto, já estava sentado na mesa da Sonserina. Estava viajando nos meus pensamentos, e só tinha consciência do barulho das palmas dos sonserinos ao meu lado, acompanhando as outras pessoas que saudavam os novos estudantes de Hogwarts.

Luke, meu segundo melhor amigo da Sonserina, cutucou o meu ombro, me despertando do meu sonhar acordado.

– Cara, você está bem? Parece que está em outro mundo.

– Não, eu estou bem – respondi.

Ele respirou fundo.

– Você está preocupado com os NOM’s?

– Não, não é isso.

– Tudo bem, todo o mundo fica – disse. – Você se lembra como o Scorpius ficou?

A lembrança do ano passado fez com que risse de modo fraco.

– É, ele exagerou – eu disse.

Ele sorriu.

– Fica tranquilo. A gente te ajuda.

No resto do dia, achei melhor esquecer sobre a conversa que ouvi, esquecer de tudo. Só jantar, conversar e rir com meus amigos. Ás vezes atravessava meu olhar pelo Salão Principal e pousava-o na mesa da Grifinória, onde me descobria olhando para Lily. E também sentia o olhar dela pela mesa da Sonserina, e encarava ela de volta. Nessas ocasiões nós sorriamos envergonhados e desviávamos o olhar.

Depois de um tempo, o jantar acabou e nós acompanhamos os monitores até o dormitório da Sonserina. Lily diz que a Sala Comunal da Sonserina é a mais grosseira e fria de todas as salas, mas eu a acho familiar e confortável. O verde e o prateado me definem, e são maravilhosamente familiares. As cores combinam tanto uma com a outra! E a postura da sala, como ela é construída e organizada... É tudo tão melhor do que tudo com que cresci, tudo com que convivi. Como posso achar isso frio, grosseiro? É maravilhoso.

Eu, Scorpius, Luke e os outros garotos do sexto ano fomos para o nosso dormitório. De algum jeito, não tenho a mínima idéia de como, Scorpius conseguiu convencer o monitor a eu ficar no quarto dos garotos do sexto ano. Se eu ficasse no quarto dos garotos do quinto ano, eu teria um problema, por causa de um garoto chamado Matthew. Não sei porque, mas esse garoto em especial me odiou desde que entrei em Hogwarts. Scorpius dizia que era por causa da Lily, Luke dizia que era pelo meu jeito que era sério e misterioso demais. Eu só acho que ele é um idiota e que é melhor manter distancia dele.

Scorpius se tacou na cama no minuto em que a viu e suspirou.

– Adivinha? Aquela garota, Sophie Izz, terminou com aquele garoto da Corvinal – Scorpius disse sorrindo. – Finalmente! Faz um século que eu quero ficar com ela.

– Sabe Scorpius, você deveria parar de ficar com tantas garotas – disse Luke.

– Por quê? Minha vida é boa. Não vou parar só porque você tem ciúmes porque não consegue ficar com ninguém.

Luke jogou uma almofada nele com raiva, no qual Scorpius bloqueou rindo.

– Eu estou falando sobre a Rose – disse ele. – Você gosta dela, e ela nunca ficaria com um canalha como você.

– Luke, sério, pela milésima vez, eu não gosto da Rose – respondeu Scorpius, com raiva. – Eu acho ela bonita? Sim. Eu acho ela legal? Sim. Mas os meus sentimentos por ela são como os que eu tenho por qualquer garota. A única diferença entre ela e as outras garotas é que ela me odeia.

– Você gosta dela – disse Luke, rindo.

– Eu não gosto... Connon, pode me ajudar aqui?

Eu, que por enquanto estava só observando, olhei para ele seriamente e disse.

– Você gosta dela.

– Não! – falou ele frustrado.

– Isso é óbvio! – disse para ele. – Na verdade, se você tivesse um pouquinho menos de orgulho, admitiria.

– Eu não... – Scorpius suspirou. – Então, admita que você gosta da Lily.

Luke começou a rir ainda mais e eu fiz uma expressão abismada, corando.

– Eu não... Por que eu... Não!

– Então não fala sobre mim – disse Scorpius,satisfeito.

Encaramos Luke, que continuava rindo.

– E você Luke? – disse Scorpius, com um sorriso travesso. – Por que não fala que gosta da... hã... ou do...

– Você não vai achar ninguém, louro – Luke deitou-se, com as mãos atrás da cabeça. – Eu sou forever alone.

Nós continuamos conversando por um tempo. Eles ficaram me enchendo com os NOM’s, de modo que eu realmente comecei a ficar preocupado com os testes.

Quanto mais a noite passava, menos preocupado eu ficava. Não com os testes (Luke e Scorpius me lembravam deles toda a hora), mas sim com a conversa dos meus pais. E, quando a noite chegou ao fim, eu não me lembrava mais dela. Somente recordei-me dela pela manhã, mas essas lembranças logo foram embora.