Behind My Wall escrita por mand


Capítulo 1
Único




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Era mais um dos meus passeios noturnos. Daqueles em que eu tirava a camisa e a calça, e caia na fria água da piscina. Como se não tivesse uma voz a zelar. Tom nunca via. Ele dormia como uma pedra. Eu sei que alguém me observa... Uma fã, ou stalker. Oh, essa última me assusta. Enfim, fico cerca de duas horas na piscina, e algumas músicas já surgiram dessas minhas noites. Mas ninguém gostaria de saber como.

 

Me foquei no silêncio. Ou quase isso. Alguns barulhos, insignificantes, me perturbaram. Eram só as folhas caindo, mas as vezes, pareciam estar sendo pisadas. Abri meus olhos na direção do jardim, e não vi nada.

 

- Estou ficando louco...

 

Bebi um pouco do uísque, agora eu estava bem adepto ao uso dessa bebida, e tornei a relaxar. Ouvi o barulho. Ok, agora a hipótese da stalker ficou mais forte. Ia saindo da piscina, e então o barulho se tornou mais constante.

 

- Não saia.

 

A voz era meiga, calma, suave. Vinha do fundo dos pulmões de alguém. Esse alguém que devia ter corrido bastante, eu não podia vê-la, mas ouvia bem sua respiração ofegante.

 

- Quem é você?

- Melody.

- Aonde está?

 

Ela deu mais uns passos a frente. Devo admitir que ela é bem bonita. A luz da lua realçava tudo. Sua pele era bem branca, tão quanto a neve. E seus olhos no azul mais profundo que o mar, mais calmo que o céu. Seus cabelos voavam, juntamente com um vento, levando sua franja um pouco pro lado, e revelando a cor dos mesmos. Pretos como terra. Não deixei de sorrir. Realmente, muito bonita.

 

- O que faz aqui?

- Eu sempre venho. Sempre te vejo.

- Sempre?

- Eu juro que não sabia que você morava aqui, admito, sou fã da banda, mas eu não sabia. Eu não saio muito de casa.

- E...

- Então numa noite, eu ouvi uma voz, e enquanto não achasse a quem ela pertencia, não dormiria. Parecia um anjo... – ela sorriu envergonhada – Wenn Nichts Mehr Geht, você cantava. Eu te vi aqui, na piscina, com seu uísque. Sabia que beber é prejudicial à saúde? Desde sempre eu me lembro de te dizer isso. – sorriu de novo, revelando o sorriso mais lindo que eu já vi

- Obrigado por avisar. – joguei o uísque do copo fora, e ela sorriu mais, eu podia fazê-la sorrir a noite toda.

- Então, eu descobri que era você, e comecei a vir até aqui. Claro, quando você não esta em tour.

- Como eu nunca te vi?

- Eu sou cuidadosa. Eu sei como se sente, sem liberdade. Eu já disse, sou fã. – não preciso dizer que ela sorriu, preciso? – É meu hobby. Mas fique calmo, eu nunca contei a ninguém.

 

Minha vez de sorrir. Ela é uma boa garota. Digo, fã, bonita, discreta.

 

- Já que está aqui, quer tomar algo? Água, refrigerante, redbull, suco? Eu posso fazer, eu faço.

- Obrigada, mas não. Eu vou voltar pra casa.

- Não! – me desesperei – Fique, eu quero falar mais com você. Parece que você é uma garota diferente das outras. Eu gosto disso. Me espere, por favor. Eu vou só colocar uma roupa lá em cima, e já volto.

- Ok.

- Não fuja.

 

Subi correndo as escadas. Vesti uma calça de moletom e meu casaco. Peguei um cachecol e um gorro. O frio depois de sair da água era muito, apesar da piscina ser aquecida. Antes de voltar a piscina, fui até a cozinha e levei duas latas de refrigerante e redbull pra sala, eu não podia conversar com ela no frio.

 

- Você não fugiu.

- Eu disse que não iria.

- Entre, está frio ai. Vai acabar se resfriando.

 

Ela concordou, e a guiei até a sala. Os dois sofás brancos e enormes contrastavam com a lareira, acesa, mais ao final. Ela se sentou e me sentei no outro sofá. Tive que rir, ela estava corada e sem jeito.

 

- O que foi?

- Sabe, eu não acredito que estou aqui com você. E que seu irmão pode descer a qualquer momento. Ou talvez, Gustav, ou Georg, tenham uma idéia, e entrem por aquela porta. Agora!

- Toda fã tem seu favorito, qual o seu?

- Isso é constrangedor.

- Não precisa responder.

- Você.

- Eu o que?

- Meu favorito. – seu sangue subiu todo para as bochechas, cheguei a cogitar a hipótese de que ela era a branca de neve, mas voltei ao mundo real

- Porque eu? Eu sou bem chato, e feio.

- Você é tudo, menos feio. E duvido que seja chato. Na verdade, o que eu mais gosto em você, é sua atitude. Você não liga pras pessoas.

- Ou ligo.

- Então eu admiro sua capacidade de parecer não ligar pras pessoas.

- Me pegou. – sorri – Eu ligo sim, mas isso não faz minha cabeça. Eu foco no que eu quero, e então...

- Viu, você é um cara especial. Sabia que seu rosto por pouco não é totalmente simétrico?

- Serio? – essa é nova

- Sim. O seu, e o do Georg.

- Fãs...

- Nos somos um tanto loucas, um tanto apaixonadas, e um pouquinho sonhadoras. É uma incerteza enorme sabia?

- Não. Porque?

- Bom, vocês estão sempre ocupados, e o que nos mais queremos é tocar vocês, sabe, pra saber se é real. Bobo, eu sei, mas...

- Isso é incrível, e não bobo.

- Obrigada. E nos ganhamos forças, apesar de viver na Alemanha, existem grupos de Antis, isso é deprimente. Mas nos continuamos com vocês. Cada música é um pouco da nossa vida, quando você diz que procura algo pra morrer e viver por... Nos temos em mente que podíamos viver, e morrer por vocês. Não importa se preferimos o Tom, o Georg, o Gustav, ou você. Faríamos isso por qualquer um dos 4. Ou por qualquer um que importasse pra vocês. Faríamos pra vê-los sorrindo.

 

O que ela disse mexeu comigo. Me sentei ao seu lado, e peguei sua mão. Levei até meu rosto e guiei seus dedos por ele.

 

- Eu sou real. – ela não respondeu nada, apenas continuou me encarando

 

Soltei sua mão e ela mordeu o lábio. Tornei a pegá-la, e levei a meu peito.

 

- No humanoid.

 

Ela sorriu e foi subindo sua mão. Deixei que ela fizesse isso. Seu toque era frio, e ao mesmo tempo quente. Percorreu as veias do meu pescoço, me fazendo arrepiar e sorrir. Fechei os olhos e a senti tocar meu rosto. As sobrancelhas, o nariz, o queixo, os lábios. Seus dedos alcançaram meus lábios receosos. Senti seu medo, e quando ela os tocou com a ponta de um dedo, o beijei sorrindo. O que a fez corar severamente, como pude constatar ao abrir os olhos.

 

- Real. Carne, e osso. E não precisa se envergonhar.

- Eu poderia colocar tudo isso na internet, dizer a quão sortuda eu sou. Mas eu não farei primeiro porque seria uma sacanagem das grandes, e segundo, nunca acreditariam em mim.

- E se eu te pedisse pra fazer isso?

- Eu faria, mas não acreditariam mesmo assim.

- E se eu confirmasse?

- Porque faria isso?

- Porque eu gostei de você. Alguma coisa, me passou a confiança necessária. Eu poderia estar em 300 blogs diferentes, num live stream, podiam estar me vendo ao vivo na minha piscina, se você quisesse. Mas não. Obrigado. Você é o tipo de garota que, o cara que te namorar, vai ser muito sortudo.

 

Ela sorriu, gargalhou. Era divertido, comecei a rir com ela.

 

- Eu sei que é pedir muito, mas será que podia cantar...

- O que? – ela pareceu surpresa

- World Behind My Wall.

 

Assim fiz, cantando baixo, pra não acordar o Tom. Seus olhos brilhavam, e logo uma lagrima caiu. Eu a limpei. Essa garota, mexeu comigo. Isso é estranho, pra um cara como eu, que nunca confiou assim nas pessoas. Mas talvez, seja esse o destino. A pessoa certa, surge, e eu não posso hesitar.

 

- See the world behind my wall.

- Perfeito. – ela disse me encarando

- Você está behind my wall, não é? – ela sorriu do trocadilho

- Digamos que sim.

- I’m ready to feel... – ela me encarou sem entender

 

Eu podia tentar, mas seria arriscado. Ela podia simplesmente me ignorar pra sempre. Mas ok, eu sabia onde ela morava.

 

- Me desculpe por isso, se não quiser, ou gostar, ou se me odiar depois.

- Eu não entendo Bill...

- Nem eu.

 

Toquei seu rosto, delicadamente, eu não podia assustá-la. Ela tomou o ar pros pulmões rapidamente, parecendo saber o que se seguiria. Me aproximei, ela não ter recuado fora uma grande vitoria. Ela correu todo meu rosto com os olhos, absorvendo cada detalhe. Fiz isso, e meus olhos pararam em seus lábios. Eu não tinha parado pra notá-los ainda. Neles brotaram um sorriso, ela estava radiante. Voltei a fitar seus olhos e comprovei.

 

Meus lábios tocaram os seus, em sintonia. Isso é uma grande besteira, mas me senti vivo, senti a necessidade de aprofundar. Toquei sua nuca, e ela entreabriu os lábios. Era minha deixa. Explorei sua boca, enquanto ela correspondia, brincando comigo, fugindo de mim. Quando meu piercing tocou sua língua, ela levou a mão pra minha nuca, e logo meu cabelo, ainda molhado. Ela sorria. Como pode alguém sorrir tanto? Nos soltamos, e ela não fugiu do meu olhar.

 

- Você sem duvidas é especial.

 

Ela apenas sorriu e  me beijou de novo, dessa vez mais especial. Se levantou do sofá e me fez ir atrás dela, até o jardim.

 

- Onde vai?

- Pra casa, é tarde.

- Mas...

- Você sabe, behind your wall.

- Eu posso te ver quando eu quiser?

- Você deve. – ia saindo, mas voltou e me abraçou – Eu te amo.

 

One day  I’ll be ready to go, see the world behind my wall.


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