Meu nome não é Kyle escrita por Garoto de All Star


Capítulo 6
Capítulo 5: Running through many dangers, toils, and snares


Notas iniciais do capítulo

Continuando a dose dupla de ''Meu nome não é Kyle''



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Sem dúvida nenhuma, antes do que aconteceu no refeitório, os piores momentos que já passei nessa escola foram as aulas de educação física. Eu não gosto de fazer atividades físicas, isso é verdade, mas também é verdade que o ambiente nunca incentivou. Lembro-me até hoje da primeira aula de educação física que tive, aos sete anos, minha professora se chamava Rita, era incrivelmente histérica e cheirava a cigarro. Eu a apelidei de Rita Repulsa, por que a voz dela era idêntica a voz da personagem e por causa do nome, é claro. Rita Repulsa só nos deu aula até a terceira série, depois nosso professor passou a ser Pedro Nava, o atual treinador do time de futebol. Se eu achava Rita Repulsa chata, descobri que não sabia nada sobre chatice até conhecer o Nava.

Nava era o típico ex-atleta de colegial americano, seu corpo ainda carregava os traços dos momentos de glória, dava pra ver pelos ombros largos, braços e pernas grossas. Mas o tempo que passou também lhe rendeu uma barriga levemente saliente, assim como a calvície, mesmo ele raspando as laterais pra disfarçar. Estava sempre usando boné, jaqueta, e um short de tactel curto e justo que nos permitia de longe saber que ele usa jockstrap. Ele se comportava como um tenente do exército e sempre distribuía apelidos carinhosos pros alunos que não se destacavam em nada. Will Jhonson era o "balão de gás" uma piadinha infame com o fato de ele ter asma. Olivia Reynolds era "Olivia palito", pois sempre foi alta e magra. Na boca do Nava, meu nome era "Polenta". Já ouvi tantas coisas sobre o Nava, alguns alunos dizem que ele trai a mulher com a nossa bibliotecária. Eu não acredito, ela é tão legal, não acho que se interessaria por um cara como ele. Também já ouvi boatos de que ele descende da máfia italiana. Também não acredito, se ele fosse da máfia não estaria dando aula. Mafiosos tem grana, professores não.

Eu pesquisei sobre a polenta e descobri que é uma comida tipicamente italiana, uma espécie de pasta de milho que é mole. Acho que o que eu estou tentando dizer é que o Nava é a versão mais velha e acabada dos idiotas que estudam nessa escola. Um boçal, disfarçado de educador. Assim que entramos no ginásio percebi que aula seria diferente. A rede de vôlei tinha sido retirada e as traves de futebol haviam sido colocadas de volta.

– Hoje vocês vão jogar futebol - Disse ele, anotando alguma coisa em sua prancheta.

– Professor... - Disse Becca - Nós já jogamos futebol no trimestre passado, ainda temos pelo menos três semanas de vôlei.

– Sem contar que estamos sem caneleira - Disse Will, mas ele logo se arrependeu, Nava foi em direção a ele ficando bem próximo de seu rosto.

– Esta com medo que machuquem suas canelas balão de gás? - Disse ele, debochando - Se você quiser eu posso deixar você jogar com as meninas...Quer jogar com as meninas?

– Os times serão mistos? - Perguntei. Ele se virou e me encarou.

– Não - Disse ele em seguida - Hoje meninos brincam com meninos, e meninas brincam com meninas... Como manda a natureza.

Se eu tivesse escolha, com toda a certeza eu já teria removido educação física do meu plano de aulas. Mas no West Side duas disciplinas são obrigatórias, matemática e educação física. Os únicos que podem abdicar das aulas de Educação Física são os atletas, pois já fazem parte do time então a educação física passa a não ser obrigatória. Mas até agora não vi nenhum deles desistir da matéria.

Billy Duchannes e Jeff Lancaster foram os responsáveis por formar os times, sempre que ocorre algo assim em que os alunos precisam formar os times pra alguma partida eu sempre sou o último a ser escolhido. Não que eu me importe, por mim eu estaria bem longe da quadra mesmo.

– Artie... - Disse Jeff. Artie Feeny o garoto mais baixinho do nosso ano caminhou para o lado onde Jeff estava, Peter Cardone e Bright Smith já estavam no time dele.

– Lewis... - Disse Billy, Lewis Colin é tão grande quanto Billy, Rick e Brad estão no grupo também, tenho a impressão que ele esta montando um grupo de extermínio e não um time.

– Will Jhonson.

– Beleza... – Will comemorou ao meu lado, não sei por que tanta euforia, numa disputa de bola Billy o desmontaria.

– Eu escolho o "Polenta" - Espera aí, ele disse polenta? Eu sou o polenta, porque diabos ele me quer no time? Após uma pequena leva de risos abafados e olhares disparados pra mim, segui em direção ao grupo de Billy. Ele me olhava com um olhar diferente, parecia estar segurando o riso. Eu o olhava e era como se ele estivesse cantando aquela música de True Blood "I wanna do bad things with you" mas não era no bom sentido.

Os times continuaram a se formar, a primeira partida foi a das meninas, não assisti ao jogo, pois já estava saturado antes mesmo de começar a jogar. Fui ao vestiário por minha roupa pra aula, tirei minha camiseta cinza escrito "i ♥ 80’s" e vesti uma regata branca. Tirei minha calça jeans preta e vesti minha bermuda azul. Calcei meu all star vermelho, coloquei o colete verde do time e segui pra quadra.

O jogo das meninas chegou ao fim, cada partida dura em média vinte minutos por causa do tempo de aula. Seguimos ao centro da quadra, nosso gol é do lado direito, é onde esta nosso goleiro. Achei curioso o fato de não terem me jogado pra posição de goleiro, quer dizer, era o que eu esperava que fosse acontecer. A partida tinha começado e a bola já estava rolando, todos estavam correndo atrás da bola e eu fazia igual. Mesmo não sabendo fazer isso direito. Eram tantos chutes fortes, em tantas direções diferentes que eu não conseguia acompanhar direito. A bola veio com força em minha direção e eu desviei, pegou de raspão na minha orelha que agora queima. Olho pro lado de onde veio a bomba. Foi o Billy, ele chutou a bola. Ele passa por mim com um sorriso no canto dos lábios. Como esse menino é idiota, eu sou do time dele.

Lewis invade a área do nosso adversário, todos o seguem esperando um lance pra fazer o gol. Eu corro atrás, mas não quero que ele me dê o passe. Não é como seu eu fosse acertar o fundo da rede. Na tentativa de tirar a bola da área, Bright chuta com força e a lança pra fora. É escanteio e Lewis se prepara pra cobrar. Nós nos reorganizamos e esperamos o lance, ninguém me marca, todas as atenções estão voltadas pro Billy e os outros. Lewis chuta a bola alta, e ela cai em minha direção, eu posso marcar o gol para nosso time, está fácil, sem marcação. Eu dou um salto tentando cabecear, e todos fazem o mesmo. Mas antes de acertar a bola eu sinto uma pancada no meu rosto. O impacto foi tão forte que perdi o equilíbrio, a direção, perdi até mesmo o que eu estava pensando. Caio com o rosto no chão na mesma hora. Minha vista embaça.

Ouço as vozes ao meu redor, minha visão volta a ficar mais nítida. Vejo a imagem da pessoa a minha frente se formando, foi o Billy que me acertou, foi ele quem acaba de fazer o gol. Por isso ninguém parou pra me ajudar, até pisaram na minha mão. Vejo Joan falando com o professor, ela esta exaltada, mas ele nem a olha. Não sei se faz sentido ele marcar falta, nem sei se existe falta em jogador do mesmo time. Eu me levanto e me recomponho, sei que não foi acidente. Sei que ele fez de propósito, estou tremendo de ódio. Eu quero acertar ele, da mesma forma que ele me acertou.

Continuamos o jogo, corremos de um lado pro outro tentando montar uma jogada, Will erra um passe e a bola acaba no meu pé, me atrapalho todo tentando correr pra área. Mas consigo manter a bola comigo, não ser grande tem suas vantagens, eu sou mais rápido que a média. Corro o mais rápido que eu consigo, mas minha camisa é puxada com força e numa disputa de corpo eu perco o equilíbrio e caio de joelhos, com as duas mãos espalmadas no chão da quadra. Não me surpreendo ao ver que novamente foi o Billy. Ele chuta a bola com força, mais ela passa bem longe do gol.

– Qual o seu problema? - Me ponho em frente a ele - Nós jogamos no mesmo time...

– Nada disso - Ele dá de risos, ele está suado e sem fôlego, assim como eu – Eu não jogo no seu time, Bicha!

– Não seja estúpido, vai acabar sendo expulso.

– É mesmo? Eu acho que não... - Ele me encara com um riso de triunfo - Porque acha que estamos jogando futebol hoje? Quando a partida deveria ser vôlei? Por que acha que eu te pus no time? Heim? - Olho para o lado, o professor está rindo, e está rindo porque está gostando, encaro Billy novamente - Ele não gostou nada de eu quase ter sido suspenso, eu podia ter perdido um jogo importante...

Aquilo não podia estar acontecendo, Nava era muito pior do que eu imaginava, ele armou todo um circo pra me ver apanhar. O pior de tudo é que era doentiamente genial, os valentões não me batem diretamente e tudo fica implícito na partida. Futebol é esporte de contato, e ele esta contando com isso. Agora eu estava basicamente na arena de Jogos Vorazes, correndo através de muitos perigos, labutas e armadilhas. Meu couro estava a prêmio, qualquer um vai querer ficar bem com o treinador as minhas custas.

A partida uma hora vai acabar, tudo que eu preciso fazer é ficar longe da bola. Permaneço na nossa área durante a cobrança do Jeff. O outro time tem a posse de bola agora, nem todos nessa partida são do time da escola, nem todos querem me pegar, eu acho. O time avança passando a bola uns para os outros. A bola vem em minha direção, antes mesmo de eu vê-la sinto dois trancos, vindos de direções diferentes. Rick e Brad, estou caído no chão de novo, isso é como um corredor polonês, não vou chegar inteiro até o final. Preciso sair da partida, mas não antes de fazer alguma coisa, afinal esse é um jogo pra dois. A bola continua na nossa área, os jogadores estão marcando a equipe adversária e a bola vem na minha direção, vindo de encontro ao meu pé. Eu chuto e a bola acerta em cheio, bem onde eu queria acertar, a cabeça do Billy. No rebote ela entra no gol, no nosso gol.

– Você fez gol contra - Ele range os dentes e me olha furioso, sinto que ele vai avançar pra cima de mim. Quero tanto que ele venha, com o ódio que eu estou sentindo ele não iria sair sem alguns machucados.

– Nada disso, você fez... - Digo isso ao mesmo tempo que tiro o colete, estou deixando a partida, caminho rapidamente pra fora da área. Nava me olha furioso, mas eu ainda não acabei, faço uma bola com o colete e jogo em cima dele. Sinto a tensão no ar, todos começam a cochichar e comentar. A confusão esta formada.

– Ei polenta! - Grita Nava, dou as costas pra ele, quero que ele se exploda - Volte aqui Polenta!! Volte já para aquela quadra!!!

– Meu nome é Jude, não Polenta, seu...seu porco chauvinista neandertal! - Grito alto o bastante pra todos se calarem, todos eles me olham.

– Olha só, ele sabe falar grosso - Nava solta um riso debochado - Acaba de ganhar uma semana de detenção... E nota zero nessa matéria.


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Notas finais do capítulo

Nada esta fácil ultimamente na vida de Jude, e as coisas vão piorar bastante.

O próximo capitulo se chama ''Problem'' sai na próxima segunda 01/09