Gina voltava pra casa depois de um longo dia de trabalho, exausta, sem esperanças.

As gorjetas foram poucas, mal dava para pegar um taxi, mas nem se estivesse com muito dinheiro poderia se dar a esse luxo.

Ela precisava se apressar, pois as ruas estavam escuras e molhadas depois de uma temporada rigorosa de chuva e assaltos. Se ela se distraísse por um segundo, sua bolsa poderia ser levada junto com seu pouco dinheiro.

Um som abafado de passos rápidos cortou o silencio da noite. Gina apertou sua bolsa contra o peito ao ouvir uma voz rouca gritar a suas costas:

- Parada! Nem mais um passo!

Gina estremeceu. Não poderia nem pensar em perder o pouco que traz, pois em sua vida, precisava se apegar ao pouco que tinha.

- Passa a bolsa! – gritou a voz.

Morrer seria um alivio pensou Mas não posso deixar Tommy sozinho.

Sem pensar outra vez, Gina bateu em disparada. Correu o mais rápido que pôde. Colocou toda a energia que lhe restava em seus pés calejado. O bandido pareceu perplexo por um instante, e logo o som de dois tiros seguidos ecoou no momento em que Gina dobrou a esquina.

Só mais um pouco - pensou - estou quase lá...

Somente um quarteirão separava Gina de seu lar. Ela estava agitada demais para saber se o bandido estava lhe perseguindo quando outro disparo foi ouvido. Sem tempo e preocupada demais para conferir se o tiro tinha lhe atingido, Gina continuou a correr e, por fim, entrou em seu prédio. Ela aguardou alguns segundos atrás da porta procurando ouvir passos na rua, mas tudo estava calmo como se nada tivesse acontecido e ela finalmente baixou a guarda e a adrenalina se dissipou, dando lugar a exaustão extrema e ela se deixou despencar no chão.

Seu relógio marcava onze horas da noite e Tommy a esperava em seu pequeno quarto no topo da escada. Gina até tivera sorte em escapar com vida. Naquela hora, todas as gangues de Brooklyn estavam à solta.

Gina levantou, retomou o folego e subiu as escadas, passando pelas portas entreabertas de vizinhos curiosos que olhavam pela greta. Com certeza queriam saber dos tiros, mas não tinham coragem de perguntar.

A porta de seu quarto estava destrancada. Sentado no sofá, afinando o violão, estava Tommy com um cigarro entre os dedos.

- Achei que tinha parado de fumar. – disse Gina cansada.

- Tinha – disse Tommy, sem tirar os olhos do violão.

Gina o conhecia suficientemente para saber que ele não estava bem.

- O que houve? – perguntou a ele.

Por um instante, Tommy pareceu segurar uma lagrima. E Gina sabia o que aquilo significava:

- Demitido – disse ele amargamente.

Outra vez... Pensou ela, e naquele momento, ela sentiu que as coisas voltariam a piorar.

- Nós vamos conseguir – disse ela tentando parecer tranquila – nós já conseguimos antes.

- Talvez.

Ao colocar sua bolsa no sofá, Gina se deu conta que o ultimo tiro tinha acertado sua bolsa. Quando viu o buraco da bala, Tommy se deu conta de que era Gina estava lá fora no momento dos tiros.

- Ai meu Deus! Gina! Você está bem?

- Sim, não foi nada... Só rotina - dizendo isso, ela colocou os dez dólares em moedas que recebeu de gorjeta sobre a mesa na frente do sofá. Tommy franziu o cenho.

- Você quase levou um tiro pra não perder dez dólares?!

- Temos que nos segurar no que nós temos, porque não faz diferença. Se conseguirmos ou não nós temos um ao outro, e isto é muita coisa. Nós vamos sair dessa - assegurou – Por amor.

- Por amor – disse Tommy.

E naquela noite, Gina orou. E em sua oração, pediu para que Deus lhe desse forças para continuar. Pediu para ajudar Tommy a arranjar outro emprego e pediu para dar a eles outra chance de mudar de vida. Mas também agradeceu por ter salvado sua vida e tudo mais.

Com ajuda ou sem ajuda de Deus, Gina sabia que iria continuar. Estaria disposta a tudo para continuar com Tommy.

Por amor.