Cuatro Y Seis: Hasta El Final escrita por Aislyn


Capítulo 1
Regras?




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Cara, eu nunca imaginei que seria o único conhecido mais próximo vivo de uma pessoa. Não que eu me importasse, mas ter que ser o ombro amigo para alguém, ainda mais sendo um homem, me deixava desconfortável. Meu amigo de infância, Ulquiorra, havia acabado de chegar em Karakura e como não estava acostumado com os hábitos do Japão, eu precisava ajuda-lo com tudo. Resumindo, eu, Grimmjow Jaegerjaquez, estava naquela cidade há pouco menos de um ano e mal conseguia me virar sozinho, imagina com um peso nas minhas costas.
Ulquiorra estava caminhando atrás de mim com a cabeça baixa, aquilo era irritante, desde que nos encontramos no aeroporto, não falava uma palavra sequer. Tudo o que sabia era mexer a cabeça enquanto ouvia música em seu celular com os fones de ouvidos. Ao menos, eu estava enxergando um lado bom naquilo, se ele fosse quieto daquele jeito, não faria tanta diferença a presença dele no meu novo apartamento... Bem, era o que eu pensava.
Quando chegamos, ele deu uma olhada pelo ambiente e sem me consultar, foi até a mesa e começou a arrumar toda a bagunça que eu havia deixado. Não que fosse uma bagunça, talvez alguns restos de pizza da noite passada, copos sujos, embalagens vazias e coisas do tipo. Assim que ele foi levar tudo para a cozinha, finalmente eu ouvi alguma coisa sair de sua boca:

– Isto aqui é insalutífero e...

– Insalu o quê? – o cortei.

– Nojento, foi o que eu quis dizer – ele suspirou. – É o lugar mais espurco que já vi!

– Hey, se vamos viver sob o mesmo teto você vai ter que se acostumar com a minha bagunça, e outra, pode falando na minha língua também.

– Eu vou dividir o aluguel com você, então, – claro que ele ia colocar as mangas de fora, aquela quietude toda no mínimo era só farsa – o mínimo que quero é higiene... Não somos porcos, ao menos, acho que você não é.

– Sério? – Rosnei, se não fosse pelo fato de termos sido muito próximos na infância e adolescência, eu teria socado a cara dele. Respirei fundo, até porquê, não era a primeira pessoa que falava da minha porqui... Err... Preguiça de arrumar as coisas. – Tudo bem, vou ser um pouco mais cuidadoso.

– Certo – Ulquiorra pela primeira vez deixou um pouco de sua expressão triste de lado e arregaçou as mangas de seu moletom. – Vou arrumar essa bagunça e tentar deixar a casa habitável, depois, falaremos das regras.

– Regras? – Ergui uma sobrancelha, ele começava a passar dos limites. – Passei minha vida inteira vivendo sob regras, você só pode estar de zoeira comigo!

Eu cruzei os braços, esperava que ele respondesse, porém, Ulquiorra acionou a torneira e começou a lavar aquela pilha de louça. Nem era a maior pilha que eu conseguia fazer, estava ali há uns cinco dias só.
Nossa história não era muito interessante, nos conhecemos em um orfanato na Espanha, eu havia sido abandonado recém-nascido, enquanto ele foi levado para lá com cinco anos após a morte de seus pais em um acidente aéreo. Quase nenhuma criança chegava perto dele, não sei se pelo fato dele não se abrir com ninguém, mas eu fui o único que consegui me aproximar. Ele era o alvo de piadinhas e brincadeiras sem graça, o que hoje chamam de Bullying e eu o defendia. Não era difícil defende-lo, pois todos naquele lugar tinham medo de mim. Se alguém me olhasse torto, apanhava na mesma hora... Nem devo dizer que passava horas do meu dia sendo castigado pelas nada boazinhas freiras daquele lugar. Ulquiorra chamava o orfanato de “Hueco Mundo” e com razão, aquilo parecia horripilante e não tinha a menor vida. Dificilmente alguém conseguia ser adotado, então, nem tínhamos tal esperança.
Quando completamos dezesseis anos, fomos separados. Ele ganhou a oportunidade de estudar em uma das melhores universidades de Barcelona, por conta de um programa que “adotava” órfãos, enquanto eu precisei me virar. Consegui um emprego e como praticava Karatê no orfanato, já que um professor fazia a caridade de ir lá duas vezes por semana, resolvi seguir em frente pois dar porrada era única coisa que eu fazia de bom.
Comecei ganhando dinheiro em lutas clandestinas, até cheguei a participar de alguns torneios menores de MMA nos Estados Unidos e fui finalmente para o Sengoku no Japão. Estava sendo alvo de alguns olheiros nos últimos meses, porém, ainda não tinha certeza se eu queria viver como um lutador profissional ou abrir minha própria academia. Como tinha um bom dinheiro guardado no banco, resolvi procurar por uma cidade para morar e acabei encontrando um apartamento legal em Karakura, com a vantagem de ser barato.
Ulquiorra tinha um diploma em História da Arte, para mim, só um pedaço de papel que ele podia usar para um outro fim, já que com muita sorte não passaria fome se conseguisse um trabalho meia-boca com aquilo. Era inacreditável, ele teve chance de cursar qualquer coisa e optou por uma babaquice! Mas, eu não me surpreendi, afinal, um curso como aquele combinava com ele. Tudo o que sabia fazer quando criança se resumia em desenhar coisas estranhas e escrever poesias mórbidas e emotivas.
Confesso que achei que não nos veríamos mais, até receber uma mensagem dele numa rede social dizendo que o homem que havia dado a oportunidade dele estudar e o tratava como filho havia falecido há alguns dias. Foram seis anos separados e ele não havia mudado muito, exceto pela parte de limpeza, eu não sabia que ele era tão chato nesse ponto. Sei que, fui falar que a vida no Japão parecia interessante e ele quis vir para respirar novos ares e tentar encontrar algo para fazer... Lembro de um papo sobre descobrir qual o sentido da vida, mas eu não tinha paciência com esses assuntos.

– Finalmente acabei, você precisa comprar desinfetante.

– Preciso comprar muitas coisas – eu estava deitado no sofá lendo uma revista de carros quando ele sentou-se em uma poltrona. – E aí, como se sente?

– Vivo – respondeu sem quase abrir a boca.

– Bom saber – fechei a revista e olhei para ele, que estava mexendo no celular. - Já tem alguma ideia do que quer fazer aqui em Karakura?

– Não... Vou pensar depois.

– Legal – pelo jeito nossas conversas seriam tão interessantes como eram no orfanato. Na verdade, não tínhamos nada em comum, a não ser o fato de os caras que zoavam ele serem os mesmos que eu adorava socar. Talvez fosse isso que nos unisse, então, seria um pouco difícil conviver com ele daquele jeito. – Quando quiser ir ao mercado, é só falar...

– Tá – ele levantou. – Onde vou dormir?

– Segunda porta à direita – apontei para o pequeno corredor.

Ulquiorra assentiu, pegou suas duas malas e foi para o quarto. Não ouvi um ruído sequer em duas horas, até que ele saiu e foi ao banheiro. Senti até um pouco de pena dele, sabia que em menos de um minuto ele estaria de volta na sala me olhando com a mesma expressão que fez quando viu a cozinha.
De fato, ele passou por mim e suspirou, em seguida, foi até a área de serviço e voltou com uma vassoura, sabão em pó e um pano. Achei que ele não falaria nada, mas não pude fugir de um novo sermão... Parecia que ele só falava mais que cinco palavras quando se tratava de limpeza.

– Grimmjow, – sua voz estava séria – como consegue usar um banheiro naquelas condições? Não tem medo de pegar uma doença?

– Não – respondi entre-dentes. – Para mim até que está limpo... A faxineira veio aqui há um mês, você não viu nada.

– Tem limo naquele box! – Eu não sabia se era uma reclamação ou se ele estava assombrado. – E o que são aqueles mosquitos, lavas? Uma montanha de roupa, aliás, você deve ter muita roupa, hein?

– Cara... Eu não dividia isso aqui com ninguém, então, me importaria por quê? – Ele estava me irritando, parecia uma mulherzinha. – Dá um tempo.

– Vou limpar tudo e não vamos escapar da conversa sobre regras depois do jantar... Peça algo enquanto eu dou um jeito aqui.

Pedi uma pizza, afinal, era somente isso que eu sabia pedir. Jantamos no mais absoluto silêncio, ele passava o tempo todo no celular lendo sei lá o quê, enquanto eu apenas observava. Em que momento havíamos ficado tão amigos se nunca conversávamos tanto ou fazíamos algo que realmente fosse divertido? Não trocamos um telefonema sequer durante seis anos e ainda assim, eu odiava admitir, mas ele sempre foi a única família que eu tinha e nem compartilhávamos do mesmo sangue. A presença dele era irritante e ao mesmo tempo eu me sentia tranquilo por ter alguém para dividir aquele apartamento – exceto pela mania de limpeza que ele tinha.
Assim que terminamos de jantar, ele foi até seu quarto e voltou dez minutos depois com uma folha de papel escrita com caneta verde e preta. Fiquei apenas olhando o que ele estava fazendo, trouxe também um rolo de fita dupla-face e fixou o papel numa parede da sala. Sem dizer nada, ele voltou para o seu quarto.

– Mas que droga é esta?

Eu pisquei algumas vezes, aquele filho da puta tinha feito um papel com regras. Regras! No meu apartamento.

Regras:

1
– Cada um lavará aquilo que sujar, mesmo que seja uma colher;

2 – Roupas sujas serão colocadas somente no cesto na lavanderia;

3 – Toda as sextas as roupas serão lavadas ou conforme necessidade;

4 – Cada um passa suas próprias roupas;

5 – As despesas serão dividas igualmente;

6 – Nada de música alta ou barulhos após às 21:00;

Tarefas do Ulquiorra:

Cuidar da limpeza da cozinha, lavanderia e jogar o lixo fora.

Tarefas do Grimmjow:

Cuidar da limpeza do banheiro, sala e organizar as contas da casa

Regras sujeitas a alterações.

Contive a vontade de pegar aquele papel, amassar e fazê-lo comer. Se ele achava que eu limparia qualquer coisa, estava sonhando. Por isso mesmo que eu contratava uma pessoa para cuidar de tudo mensalmente ou quando não tivesse mais roupas para vestir e louça para usar. A sorte dele era que eu não estragaria meu sábado por nada, então, fui tomar um banho rápido e me vestir para encontrar algo que pudesse fazer na rua. Estava frio, escolhi uma camiseta azul, jaqueta de couro preta, calças jeans cinza e um tênis... Na verdade, não tinha muito o que escolher, minhas roupas estavam todas sujas mesmo.
Quando estava para sair, vi o “Senhor Limpeza” abrindo a porta do quarto, vestia um sobretudo preto, camisa cinza, calças pretas e um sapato social de couro. Assim que toquei na maçaneta, ele saiu do quarto e ficou atrás de mim.

– Vai sair também?

– Sim – murmurou ele. Estava com cara de quem ia para um velório.

– Hmm... Você precisa fazer uma cópia da chave. Vou deixar debaixo do tapete hoje então.

Ele assentiu, saímos e fiz o que eu havia dito. O elevador demorou um pouco para subir, enquanto isso, ele selecionou uma música no celular, colocou os fones e entrou novamente em seu mundo.


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