Tio Trev colocava as malas no carro enquanto eu conversava com Melanie.

– Vocês voltam quando?

– No próximo final de semana, nós iriamos assim que a mamãe voltasse mas após o último surto de Tio Jeb.

Tia Linda havia ido a casa de sua mãe, um fato que nos deixou muito curiosos, pois elas não se falavam há anos. Bem no fundo eu sabia que assim que ela voltasse eu teria que terminar meu chamado. Teria que colonizar os Stryder. Mas naquele momento eu tratei de não pensar nisso.

– O que houve?

– Ontem Tio Jeb veio passar a tarde em casa e começou a falar que a mamãe não seria a mesma quando ela voltasse da casa da vovó - ela disse com os olhos cheios d´agua - Ele começou a falar que tínhamos que fugir, que deveríamos acreditar nele mas o papai não estava acreditando, e então ele pegou esse álbum e fez esse desenho. Estou preocupada sempre confiei em Tio Jeb, em sua intuição sobre as coisas boas e ruins, vou investigar isso. Se for algo perigoso como ele esta falando eu volto para buscar você e Beatriz - ela me abraçou chorando.

– Não chore, Mel, não deve ser nada - eu digo lhe abraçando mais forte e o peso da culpa já ia preenchendo meus ombros.

– Eu te amo, Julie, você é a minha irmãzinha.

– Eu também te amo, Mel, mas mesmo assim não fique triste, Tio Jeb só esta passando por uma fase ruim, um mal momento.

– Sabe o que eu acho ais estranho?

– O que?

– O fato de ele estar te tratando tão mal, quando Lizzie e Beth morreram ele tratava você como uma filha, dizia que você era a única esperança dele. Mas agora depois do que ele fez no seu aniversário não estou entendendo mais nada!

– Também não sei, ele até havia me entregado o colar de Beth, ele disse que ela gostaria que ficasse comigo e que ele queria que eu guardasse com todo o coração, mas ele mudou muito.

– Papai acha que depois dessa viagem ele possa melhorar

" Ele vai melhorar, vai ficar mais calmo" disse mentalmente respondendo a pergunta de Mel, sentindo a angústia tomar conta do meu corpo.

– Mas mesmo assim quero que você fique com uma cópia do desenho - ela me passou uma folha e eu abri: Uma cadeia montanhosa com formatos de 4 dentes, 3 perfeitos e 1 com a ponta lascada. - Se eu não voltar encontre esse caminho.

– Onde fica isso?

– Não sei, mas guarde isso muito bem, não conte a ninguém sobre isso.

– Não irei falar! Prometo! - assim que disse isso Mel sorriu, era bom ver um sorriso mesmo quando ela continuava a chorar.

– JUUUUUULIIIIEEEEEEEEE - gritou Jamie correndo até a mim e Mel - Por que você esta chorando, Mel?

– Não é nada, pirralho - ela respondeu isso bagunçando os cabelos deles - Só estava me despedindo de Julie. Onde esta Beatriz?

– Com o namorado.

– Daqui a pouco eles vão se casar - disse Mel rindo.

– Que Deus lhe ouça, quero um quarto maior.

– Melanie! Jamie! Venham! - gritou Tio Trev

– Tenho que ir!

–Adeus, Mel - eu disse lhe abraçando.

– Tchau Julie - Jamie me abraçou espontaneamente.

– Tchau criança, vou sentir sua falta.

– Também. Agora quem ira estourar os fogos do 4 de Julho comigo? - ele me respondeu rindo.

– EIIIIIIII! - escutei Beatriz gritar, seus cachos louros estavam soltos e ela ofegava, fato que demonstrava que ela havia vindo correndo para se despedir de Mel.

– Ia embora sem se despedir de mim?

– Não, mas não havia lhe encontrado. Julie me disse que você estava com seu namorado.

– E eu estava mas vim correndo para cá, vamos passar alguns "séculos" sem nos ver - disse Bia sendo dramática como sempre.

– Vou morrer de saudades, Bia.

– Eu também vou morrer de saudades sua e do tampinha. - ela falou rindo.

Jamie lhe mostrou a língua

– Vamos, Mel - Tio Trev dizia já dentro do carro.

– Adeus - nós nos abraçamos, um abraço de despedida.

Mel e Jamie entraram no carro e eu jamais imaginava que aquela seria a última vez que eu os havia visto.

–------------------------------------------------------------------------

Um ano e meio depois ...........

Encostei minha cabeça no vidro do carro, estava cansada dessa longa viagem. San Diego ficava muito longe de Albuquerque, mas papai cismava em sempre ir para lá, pelo menos eu havia reencontrado uma amiga de uma das minhas passagens pelo Mundo das Flores, Pétalas Abertas para a Lua, era como ela se chamava agora apelidada carinhosamente de Pet.

Eu havia reencontrado ela entorno de seis meses após Jamie e Mel não terem voltado da viagem para a casa do lago. Eu andava muito triste desde que eles foram embora, pelo menos com Pet eu conseguia ficar um pouco mais feliz.

Beatriz estava sentada ao meu lado e junto dela estava Connor Garden, seu namorado de anos, essa semana ela andava muito ansiosa pois sua SweetSixteen estava chegando. Duas semanas para o grande dia, já estava tudo certo : salão, convites, vestidos e entre outros. Bia não havia contado a ninguém mas eu sabia que ela deixara um convite guardado e um lindo vestido reservado para o caso de Melanie voltar, a esperança de que eles voltassem ainda continuava.

Assim que papai virou na nossa rua observei um movimento anormal na casa a que pertencia a Jamie, havia um carro na garagem. Meu peito se encheu de alegria. ELES VOLTARAM!

– Eles voltaram, Bia. ELES VOLTARAM!

– O que?

– Olhe - eu falo apontando para a movimentação na casa e ela me olha surpresa. Nem espero meu pai parar o carro e já corro para a casa, a saudade estava me matando.

– Me espere - gritava Bia mas eu não a escutava.

' Toc, toc' eu batia na porta.

Então ela se abriu e para a minha surpresa não era ninguém conhecido que abriu a porta, era uma garotinha de no máximo uns 7 anos. Ela tinha um rosto angelical, bochechas rosadas, boca gordinha, olhos esverdeados por baixo do prata que predominava seus olhos, ela era uma alma como eu, e possuía um cabelo liso na tonalidade loiro mel.

– Olá, meu nome é Mary, eu sou nova aqui. Quem é você?

– Oie sou a Julie, prazer em lhe conhecer Mary. Eu moro na casa ao lado.

– Então somos vizinhas! - seus olhos brilhavam entusiasmados. Vizinha, aquela palavra caiu em meu estômago e começou a embrulhá-lo, Mel e Jamie não haviam retornado. Havia outras pessoas morando em sua casa agora.

Não.

NÃO.

Eu gritava mentalmente, isso não podia estar acontecendo.

– É seremos vizinhas então - eu lhe respondi sorrindo por fora mas por dentro minha cabeça e minhas emoções estavam passando por um ciclone.

– Mary, quem esta ai? - ouvi uma voz masculina de dentro da casa.

– É Julie nossa vizinha, venha conhece-la.

Escutei passos vindo de dentro da casa e atrás de Mary apareceu um garoto loiro de rosto arrasadoramente lindo, daqueles de tirar o folego, ele tinha olhos verdes iguais aos da menina mas a diferença é que os deles pareciam me analisar como um enigma e não eram tão doces e gentis como o de Mary, ele vestia uma camiseta azul e calça jeans.

– Olá meu nome é Austin. Prazer em lhe conhecer, Julie.

– Oie - eu digo envergonhada, maldito corpo humano, maldita emoções.

– Ai Meu Deus você sumiu por tanto tempo temos muito que conversar, Melan.. - Beatriz travou assim que viu a situação, Bia segurava um convite rosa que facilmente pude reconhecer pois era o convite de seu aniversário. Ela olhou para mim procurando uma explicação.

– Mary e Austin essa é a minha irmã Beatriz.

– Olá - Austin e Mary disseram simultaneamente.

– Olá - disse Beatriz - é tão bom saber que terá gente nova nessa casa.

– É uma boa coisa, mas ela parecia abandonada, então papai achou que poderíamos ficar nela. - Mary falou.

– É uma ótima ideia mesmo - respondi.

– Bom, eu trouxe o convite do meu aniversário ele será daqui a duas semanas, espero que possa ir - Bia entregou o convite a Austin.

– Obrigado, iremos sim.

– Querem entra? - perguntou Mary

– Eu ate entraria mais tenho que resolver as coisas do aniversário - disse Beatriz.

– Eu entro - respondo. Entro na casa e deixo que eles me guiem apesar de já saber onde ficava cada cômodo.

– Que tal se assistirmos TV? - perguntou Austin

– Por mim tudo bem.

– Vou pegar algo para comer - escuto Mary dizer indo em direção a cozinha.

Aquela sala não me trazia boas lembranças.

– E ai Julie? O que há de bom para se fazer nessa cidade?

– Tem um cinema maravilhoso, belos jardins e parques.

– Parece divertido.

– E é mesmo.

– Quantos anos você tem?

– 10 anos e você?

– 12 anos.

Austin e Mary eram muito legais mas logo a noite chegou e eu tive que ir embora. Austin me acompanhou ate a porta.

– Ei Austin! - eu digo parada na porta

– Fale, Julie.

– Pode parecer estranho mas minha irmã quer que eu arranje um par para ir a festa dela. Você gostaria de me acompanhar?

– É claro vai ser uma honra!

– Que ótimo! Então até amanha, tenho que ir antes que mamãe sirva o jantar senão ela me mata.

– Algum dia venha jantar conosco - ele me disse

– Pode deixar!

Melanie e Jamie podem não ter voltado, mas uma hora eles voltariam. E enquanto isso seria ótimo fazer novas amizades, por mais que doesse quando eu pensava neles eu ainda tinha esperanças que eles voltassem.